CABO VERDE
De acordo com o Afrobarómetro, os cidadãos africanos mostram pouca tolerância em relação à homossexualidade, apesar de aceitarem pessoas de outras etnias, religiões e até infetadas com HIV/SIDA.
Cabo Verde (74%) e Moçambique (56%) fazem parte dos quatro países que mais respeitam os direitos da comunidade Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT).
Os dados fazem parte do último relatório do Afrobarómetro que, depois de analisar 33 países africanos, chegou à conclusão que os cidadãos mostram pouca tolerância em relação à homossexualidade, apesar de serem bastante tolerantes em relação a pessoas de outras etnias, religiões e até mesmo infetadas com HIV/SIDA.
Sob o mote “Os direitos LGBT são direitos humanos”, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a campanha “Livres & Iguais”, pela promoção dos direitos da comunidade homossexual, bissexual e transgénero.
A cantora Mayra Andrade é a madrinha na campanha implementada em janeiro em Cabo Verde, o primeiro país africano a juntar-se à ONU na luta pela igualdade de direitos dos homossexuais.
Ao olhar para o panorama africano, a cantora afirma que “a discriminação é real, existe em todas as esferas da sociedade, quer a nível de bairros, quer a nível institucional”.
Apesar dos avanços e da abertura da mentalidade dos cabo-verdianos em relação à homossexualidade, sendo um dos países africanos que não a criminaliza, a cantora considera que ainda há um longo caminho a percorrer. "A não criminalização não significa que não existe discriminação”, afirma Mayra. “Nós somos uma sociedade bastante machista e existem vítimas de discriminação contra a homossexualidade em Cabo Verde, que sofrem o mesmo que em outros países, embora não se comparando a países onde a homossexualidade é criminalizada”.
Durante um ano, a ONU pretende organizar iniciativas nas escolas e bairros de Cabo Verde, de modo a, num curto prazo, poder registar avanços relativamente à conquista de direitos pela comunidade LGBT e na forma como a população cabo-verdiana encara a homossexualidade.
Educação como combate à discriminação
Rosto de um vídeo promocional da campanha “Livres & Iguais”, Mayra Andrade recorda uma pessoa que a abordou para lhe dizer que “se, quando eu estava na escola, houvesse artistas a transmitir a mensagem que tu estás a transmitir, provavelmente eu seria outra pessoa”.
Para a cantora, é necessário “continar a bater nesta tecla, mobilizar cada vez mais artistas e pessoas públicas para desdramatizar e explicar às pessoas que a homossexualidade não é um desvio de personalidade, não é uma patologia”.
O facto de Cabo Verde ter sido o primeiro país em África a abraçar esta campanha e a luta pelos direitos da comunidade LGBT é, para a cantora, bastante importante para o país. “Eu acho que, se pudermos ser líderes desta causa em África, será um grande passo para Cabo Verde”, sobretudo se tivermos em conta os “poucos recursos do país”, afirma. “Se pudermos ter uma voz à nossa escala para, entre aspas, contaminar África com esta ideia de tolerância e abertura, termos ganho esta aposta”.
Para Mayra Andrade, a educação tem um papel decisivo nesta luta. “A educação tem um papel decisivo em todas as mudanças positivas ou negativas nas sociedades”, diz, relembrando os passos que o país deu no combate à violência de género.
Quando se legislou a violência doméstica como crime público, “isso permitiu proteger muito mais as vítimas e fazer pensar duas vezes quem tivesse intenção de agredir alguém. E acho que se deve criminalizar, também, a discriminação contra a comunidade LGBTI. E a educação, sem dúvida”.
De acordo com as conclusões do relatório do Afrobarómetro, são as pessoas mais velhas e que vivem em comunidades rurais que mais tendem a discriminar. “A tolerância passa muito pela educação, pelo acesso à informação, pela convivência com outras pessoas”, afirma a cantora. “A violência que a discriminação gera vem muito da ignorância. Acho que quanto mais diversificada for a nossa sociedade, mais essas questões ficarão resolvidas. E para uma sociedade ser diversificada, um homossexual deve ter o direito de se assumir como tal”.
Mayra Andrade deixa ainda uma mensagem aos cabo-verdianos: "A vida é muito curta para estarmos a fazer mal uns aos outros, e às vezes a fazermos mal dentro das nossas famílias. Há pessoas que vão viver infelizes a vida toda porque não podem assumir o que são. Devemos poder olhar para o espelho e poder viver com o que nós somos, sem ter que ter medo".
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- Data 02.05.2016
- Autoria Vanessa Raminhos
- Palavras-chave Cabo Verde, Moçambique, LGBT, homossexualidade, ONU, Livres e Iguais, Mayra Andrade
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