Sunday, April 3, 2016

Nem Chissano nem Guebuza tiraram as armas na nossa posse!

- afirma Ossufo Momade, da Renamo, que quer entender porquê tem que ser o presidente Nyusi a fazê-lo
O antigo guerrilheiro da Renamo e chefe do Departamento de Defesa, Ossufo Momade, foi posto pelo nosso semanário esta semana perante a questão das armas encontradas na posse da sua organização que pretende seja política, nomeadamente na casa do seu líder e na delegação política do seu partido, tendo nos colhido com um finca-pé baseado no pretenso facto de que elas foram legitimadas pelo Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em 1992, no capítulo de garantias de específicas de protecção dos seus altos dirigentes no âmbito de cessar-fogo.
A dado passo da nossa conversa Ossufo Momade, questionou porque é que tem que ser o Presidente Filipe Nyusi a interessar-se pela retirada das armas na posse daquele partido da oposição armado, se é verdade que passaram pelas mesmas funções os presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza que não moveram palha nesse sentido.
“A Renamo está surpreendida, na medida em que não contava com o sucedido, porque tratando-se de uma busca a uma residência era necessário uma notificação e neste caso foi uma invasão a três instalações, designadamente, as duas casas do líder da Renamo e a sua sede nacional”,argumentou Ossufo Momade.
Segundo afirmou o armamento apreendido estava na residência do líder e na sede da perdiz desde o ano de 1993, quando Afonso Dhlakama muda de Gorongosa para a cidade de Maputo na companhia do então chefe da Missão de Observação do Cessar-fogo, Aldo Ajelo.
“As armas estavam guardadas num armazém e tinham os seus guardas, portanto, no âmbito do cumprimento do AGP que prevê que as instalações do partido Renamo bem como a sua liderança e alguns quadros do partido, precisam de ser guarnecidos, para dizer que para nós não são armas ilegais, mas recebidas no âmbito do acordo geral de paz”,disse Momade.
Questionado sobre se o AGP não previa a posse das armas até à realização das primeiras eleições em 1994, aquele deputado respondeu nos seguintes termos dizendo que Isso não corresponde a verdade. É o que a Frelimo diz porque lhe convêm, ignorando por completo o acordo. Porquê desde 1994 nunca solicitaram as armas? O presidente Chissano durante o seu mandato não as solicitou? Guebuza cessou as funções em 2015 e não as recolheu. Porquê só o presidente Nyusi tem essa ousadia?” 
Sobre que saída para resolver o diferendo, o general Momade afirmou que a opção passa pelo diálogo com a presença de mediadores internacionais, designadamente, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, a Comunidade Europeia e a igreja católica. “Todos queremos a paz, mas a condição para a retoma das conversações é a presença de mediadores internacionais na mesa, porque já basta de mentiras”, disse.
Na Renamo reina a cobardia
- deputado Hama Thai, pela bancada da Frelimo
Para o general na reserva e deputado da bancada da Frelimo  Hama Thai, a recolha das armas em mãos alheias é bem-vinda e as Forças de Defesa e Segurança ao escalar a casa e sede da Renamo para retirar os artefactos bélicos cumpriram a sua missão consagrada constitucionalmente perante a cobardia da liderança deste partido politico e dos seus deputados.
Para aquele político sendo a Renamo uma organização legitimada com deputados na Assembleia da República, nas Assembleias provinciais e noutros órgãos do Estado, não faz sentido continuar a contestar os resultados eleitorais de 2014 e a matar as pessoas ao longo do país.
“Não há fundamento! O recurso ao AGP hoje é inválido, pois, aquele documento estabelecia no seu quarto Protocolo que as partes entregassem as armas e os homens eram acantonados em quartéis, recebendo roupa civil e o kit de ferramentas para retomar a sua vida para além de que havia sido estabelecido um subsídio para essas pessoas durante 18 meses para a sua reinserção social”,disse o general Hama Thai.
Segundo afirmou, a justificação da Renamo é curiosa e revela um acto de cobardia da sua liderança porque foi ela que violou o acordo ao não entregar as suas armas e os homens às Nações Unidas para o seu acantonamento.
Para ele, se as armas estivessem para guarnição de Afonso Dhlakama deviam estar aonde ele se encontra e não em armazéns e nas diversas residências dele e em lugares como Nhamapadza, Ridbuene, Morrumbala, Tsangano entre outros lugares.   
Sublinhou que a Renamo nunca parou de recrutar e continua a fazê-lo em todo o país, sendo prova disso os jovens que têm sido vistos pelas imagens televisivas, os quais ainda não haviam nascido em 1992.
“Os homens não foram integrados porque a própria direcção da Renamo não colaborou, ou seja, não há nenhum expediente endereçado ao governo com a relação nominal dos tais homens para serem integrados ou enquadrados nas Forças de Defesa e Segurança. Ela teria fundamento para reclamar se um dia viesse a público apresentar a lista dos seus homens que eventualmente não tenham sido integrados no âmbito do AGP”,explicou.
Ainda de acordo com o General Hama Thai o comportamento da liderança da Renamo e dos seus deputados revela falta de coerência política. “Portanto, estamos a assistir a uma tentativa de fuga para frente. Ao em vez de eles assumirem responsabilidades com os seus eleitores e entrar para o verdadeiro jogo democrático, furtam-se à verdade”.
“Lembre-se que na primeira legislatura, saída das eleições de 1994, a Renamo apresentou um projecto de lei sobre a necessidade de se anular a Lei das Nacionalizações. O que estaria a acontecer se o parlamento tivesse anuído a essa proposta de lei? Será que seriam os moçambicanos a habitarem os prédios das nossas cidades?”Questionou Hama Thai.
Na sua óptica o processo de paz é irreversível tanto que o presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, diversas vezes já se prontificou a receber o líder da Renamo para discutir sem pré condições as inquietações deste.
“É convicção de todos nós que esse encontro vai contribuir não só para desanuviar a tensão político-militar mas sobretudo para restabelecer a paz efectiva no país. Os argumentos da Renamo de que pretende governar algumas províncias são uma transgressão à ordem política constitucional, a Lei-mae que ela própria aprovou por consenso em 2014 e a legislação eleitoral que regeu as eleições gerais de 15 de Outubro de 2014”,disse Hama Thai acrescentando que nessas eleições a Renamo arrebatou 89 assentos no parlamento contra 51 da ultima legislatura, sendo descabidas as suas reivindicações.
Estão à procura de assinar o 3º acordo
- Venâncio Mondlane, deputado do MDM 
Por seu turno, Venâncio Mondlane deputado da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique afirmou que o alarido que está sendo feito e a mediatização do assunto visa distrair os moçambicanos do cerne do problema que é a inclusão e o exercício livre da actividade política.
Segundo ele, os moçambicanos não se vão surpreender se nos próximos tempos os dois beligerantes rubricarem mais um acordo.
A Renamo já vai no segundo acordo com o governo e provavelmente a breve trecho irá para o terceiro, entretanto, é lógico que todos os acordos até então assinados têm grandes fragilidades e uma delas é o facto de não serem inclusivos, pelo que há alargar o diálogo para outros actores, sobretudo os partidos representados no parlamento e outras forças vivas da sociedade.
Num outro momento, Venâncio Mondlane disse não compreender as constantes contestações aos resultados eleitorais por parte da Renamo tendo em conta que o actual governo já vai no segundo ano e ela está representada em todos os órgãos saídos destas eleições.
Nem tudo correu a contento, mas chegado a esta parte a Renamo tem que partir para o jogo democrático. Ela está representada no parlamento, pelo que tem a possibilidade de continuar a insistir na apresentação de várias propostas de lei para a solução dos seus problemas, não obstante os “chumbos” da maioria parlamentar”,disse Venâncio Mondlane sublinhando que a sua formação política vai submeter ao parlamento uma proposta de lei sobre o referendo.
INTERESSE NACIONAL ACIMA DE TUDO
Ao recolher as armas na sede e na residência de Afonso Dhlakama, a Polícia diz que agiu no “interesse superior do país” tendo em vista a manutencao da ordem e tranquilidades públicas. “ A polícia agiu no interesse superior da tranquilidade e segurança dos moçambicanos, respondendo a uma denúncia de populares”, afirmou o porta-voz do Comando Geral da Polícia, Inácio Dina durante uma conferência de imprensa de balanço da actividade policial.
Segundo Inácio Dina, a acção se destinava a garantir segurança dos cidadãos moçambicanos uma vez haver indícios de que aqueles artefactos eram usados contra alvos civis nos diferentes bairros da cidade de Maputo.
“Não há nenhuma cláusula no AGP que defende que a Renamo deve usar armas contra civis”,referiu o porta-voz da polícia.
Entretanto, a Renamo no seu comunicado refere que o seu líder ficou surpreendido com a invasão e arrombamento de duas residências e sede do partido em Maputo, assinalando que na residência oficial onde vive a família de Dhlakama a polícia aprendeu 20 armas do tipo AK-47.
O mesmo documento avança ainda que durante a operação a polícia apreendeu mais 85 mil meticais que se destinavam a compra de víveres e que na sede do partido foram confiscadas duzentos mil meticais e mais de três mil euros, versão que é contrariada pela polícia que desmente a apreensão de valores monetários.





A entrevista com o médico Prassad Modcoicar, Director de Serviço de Gastroenterologia do Hospital Central de Maputo (HCM), adstrito ao Departamento das Medicinas, levou muitos dias para acontecer. E nem foi por mal. É que o trabalho exige muito dele e da equipa que lidera. Mas no fim foi gratificante.
Desaguamos na Enfermaria de Gastroenterologia numa manhã de quinta-feira. Os ponteiros do relógio marcavam exactamente 9.00 horas. Nem mais um segundo. Na sala de espera estavamais de uma dezena de pacientes, doentes e acompanhantes. Inspiramos fundo a ver se sentíamos aquele cheiro a hospital que lembra uma mistura de álcool e penicilina, tetraciclina, entre outros. Sniffff… sniffff… e nada. Por ali era tudo asseio.
Felizes, aproximamo-nos do guichet da enfermaria onde fomos profissionalmente atendidos. Minutos mais tarde éramos recebidos pelo médico Prassad. Encontrámo-lo como já o tínhamos visto várias vezes aquando do início dos contactos para este trabalho. Isto é, enérgico, alegre e irradiando confiança. O efeito da bata branca caiu-nos como um bombom para o que iríamos assistir horas depois.
Como nos acontece quase sempre ao longo de anos em todas as unidades sanitárias por onde passamos para fazer trabalhos do género, na Gastroenterologia também fomos convidados para assistir a um procedimento. Endoscopia. A intervenção cingiu-se ao estômago.
Vestidas as batas e com as máscaras tapando-nos o nariz e a boca entrámos para a sala do exame. Segundos depois constatávamos que a equipa do médico tratava a matéria por tu. Ali estava toda uma equipa completa. Médica anestesista, instrumentista, enfermeiras, médicos em pós-graduação e o cérebro de toda aquela técnica médica, Dr. Prassad. E… arrancou a cirurgia, pouco invasiva.
A cirurgia durou cerca de 45 minutos, e consistia na remoção de vários pequenos pólipos, e o diálogo era mais ou menos este: “primeiro devemos remover os mais pequenos. “Abre”. “Fecha”. “Abre”. “Fecha”. - E deste modo a enfermeira assistente acatava as ordens usando a pinça endoscópica. – “Com os pequenos, nunca se deve usar ansa de polipectomiasó para pólipos grandes. Se não tem pedículo, devemos criar o pedículo, injectando na base soro fisiológico misturado com adrenalina diluída. Veja este pedículo grande”, e contínua.
Todos estes procedimentos eram feitos com os olhos de toda a equipa postos no monitor enquanto Dr. Prassard manipulava os comandos daquilo que parecia ser um joy stick de Playstation.
Terminada a intervenção, o médico garantiu-nos que a paciente teria alta dentro de pouco mais de duas horas. Porém e para percebermos melhor o que tínhamos presenciado, pedimos-lhe que dissertasse sobre o assunto.
Tínhamos uma paciente com múltiplos pólipos (tumores) no estômago e fizemos aquilo que na nossa linguagem técnica chama-se polipectomia endoscópica, que faz parte da cirurgia endoscópica. Removemos alguns pólipos com pinça apropriada num tratamento minimamente invasivo que em outras circunstâncias teria de ser feito por cirurgia”.
Questionamos-lhes se caso a paciente não se tivesse submetido àquele procedimento que consequências poderiam advir. A resposta surgiu rápida. “maliglinização. Esses tumores se não são tratados depois de alguns anos podem acabar em cancroEste paciente terá de vir ao controlo dentro de três mesesAlguns pólipos não tinham pedículo, não tinham pé, então tínhamos de meter soro fisiológico e adrenalina diluída, um injectável no sentido de levantar e criar um pedículo de modo a facilitar na remoção.
 Com esse procedimento qual era ou é a ideia? Questionamos. “A ideia é de não sangrar. Provocar o pedículo para poder removê-lo facilmente. E nós temos a fonte electrocirúrgica que corta e coagula em simultâneo e isso é feito por via endoscópica e é uma maneira de ser minimamente invasivo aos pacientes”.
Fazemos-lhe notar que começou pela remoção dos polipos mais pequenos e posteriormente os maiores.
“Sim. Os polipos mais pequenos não precisam que se faça polipectomia. Temos que tirar com pinças de biopsia endoscópica”.
A anteceder a intervenção a que presenciamos, o Dr. Prassad tinha intervencionada uma criança de três anos de idade. “Vinha com problemas do cólon.”
“ O médico cirurgião transferiu-o para nós fazermos um exame. Pensava que o recto saia para fora. Fizemos uma colonoscopia. Tinha um tumor pequenino. E por via endoscópica tiramos. A mãe ficou toda feliz.”
Crescem casos
de gastrite
em crianças e jovens
Prassad Modcoidar, médico gastroenterologista
Feito o intróito na página anterior, passamos a transcrever a entrevista com este prestigiado médico. Vale a pena ler até ao fim.
Senhor doutor, que ramo é este da ciência médica denominada Gastrenterologia?
A Gastrenterologia é uma sub-especialidade do ramo de medicina interna, que estuda as doenças do trato gastro-intestinal (TGI), incluindo o fígado, vesícula biliar e o pâncreas, que são órgãos anexos do tubo digestivo.
Estes serviços estão disponíveis apenas no HCM?
Encontram-se disponíveis em três hospitais Centrais, ou seja no nosso Hospital, no HCBeira e no HCNampula. Nas restantes Províncias, o Médico de Clínica Geral ou o Médico Internista, geralmente gerem estas patologias e em caso de complicações, os pacientes são transferidos para os respectivos Hospitais Centrais.
As queixas relacionadas com o tubo digestivo são muito frequentes?
As queixas relacionadas com o TGI são frequentes no nosso meio, particularmente a gastrite, que na nossa experiência começamos a diagnosticar com mais frequência em crianças, em jovens, bem como nos adultos. Fazendo uma reflexão achamos que os hábitos alimentares, bem como ficar muitas horas sem se alimentar, o ambiente de vida stressante no quotidiano que os pacientes levam, podem traduzir para o aumento da frequência desta entidade nosológica.
Em termos estatísticos, quais as patologias mais comuns nos doentes que recorrem aos vossos Serviços no HCM?
Em termos estatísticos as patologias mais frequentes são a gastrite, a doença do refluxo gastro-esofagico, as dispepsias funcionais, esta última os pacientes podem ter como patologia de base quadros ansiosos depressivos do foro de neurologia. Temos também em seguimento nas nossas consultas e em regime de internamento, pacientes acometidos de doença hepática crónica. Relacionada com patologia oncológica temos o carcinoma hépato celular ou cancro do fígado, seguido de tumores do esófago. Dado que nestes pacientes quando acorrem aos nossos serviços, estão em estádios avançados da doença, o único tratamento que oferecemos é proporcionar tratamentos paliativos.
Um aspecto particular e que gostaríamos de realçar são as tentativas de suicídio, com ingestão de água de bateria, particularmente em jovens. Gostaria de realçar o fato de que estas atitudes vão em grande medida alterar a qualidade de vida dos mesmos, dado que as queimaduras internas, resultantes da ingestão podem ser tão severas que necessitam de cirurgias complexas.
O perfil epidemiológico é similar nas 11 províncias do País?
Não temos dados de outras províncias, mas cremos ser a mesma, da casuística do nosso Hospital. Pensamos que na bacia de Zambezia, o convívio em rios e riachos das populações, podem contribuir para as formas complicadas de bilharziose intestinal, com quadros de hipertensão portal, e formação de varizes esofágicas que ao romperem podem manifestar-se sob forma de  hemorragia digestiva alta (HDA)
SERVIÇO DE GASTRO
Fale-me sob o Serviço de Gastrenterologia, da qual o Dr. Prassad é o actual Director.
É um serviço que tem uma ala de internamento com 14 camas e a outra ala onde realizamos os procedimentos de especialidade, que além de puder fazer o diagnóstico, permite realizar gestos terapêuticos.
Que exames realizam?
Praticamente a maioria dos exames da nossa especialidade, ou seja as endoscopias digestivas alta (EDA), as endoscopias digestivas baixas (EDB ), as anuscopias, as retoscopias,as ecografias abdominais, as paracenteses de diagnostico e as evacuadoras, bem como as biópsias retais, para a pesquisa de ovos de schistosomamansoni, as punções aspirativas com agulhas finas sob controle ecográfico, para nódulos hepáticos,  em pacientes com suspeita de carcinoma hépato-celular, as drenagens de abcessos hepáticos ,  a esclerose e as laqueações  de varizes esofágicas, e as polipectomias ou seja remoção de pequenos tumores por via endoscópica.
Já agora o que é a EDA e EDB?
A vídeo endoscopia digestiva alta é um aparelho de fibras ópticas, de cerca de 8 mm de diâmetro acoplado ao vídeo, que permite visualizar o esófago, estômago e duodeno, até a IV porção que é a porção fixa do intestino delgado.
A EDB também designada de colonoscopia , é um aparelho maior com princípios similares ao do anterior, permitindo visualizar o cólon na sua totalidade, e parte do ileon terminal.
Que utilidade tem estes exames na pratica clínica?
Ao realizarmos  a EDA e a EDB, pudemos identificar vários tipos de lesões da camada interna a mucosa do TGI,  desde infecção,  inflamação,  erosões, úlceras, tumores  e outros, permitindo fazer biópsias endoscópicas, e em pacientes acometidos de varizes esofágicas, permite laquear(fechar) as mesmas , e deste modo o paciente fica com menor possibilidade de ressangrar (voltar a sangrar).
Em pacientes com úlceras sangrantes pudemos usar a adrenalina diluída para estancar o sangramento. Também por estes exames realizamos as polipectomais ou seja a remoção de pequenos tumores do TGI, não necessitando de ser submetidos a cirurgia convencional,  e nos pacientes acometidos de estenoses de esófago de natureza benigna, pudemos  dilatar o esófago, usando as velas apropriadas
Para o tratamento de doenças gastrointestinais recorrem muitas vezes a cirurgia ou optam por outras técnicas menos invasivas?
Com o leque de possibilidades de tratamento por via endoscópica, supra citadas, nós referenciamos os pacientes para a cirurgia em casos de complicações , no qual o Cirurgião tem mesmo de intervir, e quando os tumores são grandes , antecedida nestes última situação da opinião do Oncologista.
SEIS PRÓ-GRADUANDOS
No seu Serviço quantos Médicos Especialistas existem?
Neste momento estou eu o único Médico Nacional, a trabalhar no SNS, e no âmbito da colaboração Cubana, temos duas Colegas Cubanas, uma delas actualmente cedida de empréstimo para trabalhar no HCN, até chegada de outra gastrenterologista.
Quantos Pós-graduandos têm?
Temos seis pós-graduando, a fazerem a especialidade, em diferentes anos e constituem meu sonho, bem espero ver concretizado, para os próximos dez anos termos um especialista de gastro por provincia deste vasto Pais, de modo a  beneficiar essencialmente os pacientes que usam o Sistema Nacional de Saúde (SNS), que os que mais necessitam de nossos cuidados.
Quem pode aspirar a uma pós-graduação em Gastrenterologia ?
O aspirante a pós-graduação é um médico com o grau de licenciatura em Medicina geral. Antes da sua entrada, tem de fazer o exame de admissão e se aprovado, após um ano de tronco comum, faz a segunda avaliação, e se tiver aproveitamento inicia a sub-especialidade.
Do seu ponto de vista, a competência académica e profissional exibida pelos médicos recém-saídos das faculdades é satisfatória?
Isto é como em tudo, para mim as competências vão sendo adquiridas, refinadas e a experiencia e a dedicação individual, vão marcar a diferença. As competências a meu ver são directamente proporcionais ao factor dedicação, imperativo catalisador para se ser um bom profissional. E nós como sub-especialistas, temos de ter a noção, que ao realizarmos devidamente os procedimentos estamos a contribuir não só no aliviar do sofrimento do paciente, bem como a tentar resolver um puzzle complicado da equação que em última analise é de proporcionar o tratamento adequado ao paciente, tentando restaurar a sua qualidade de vida.
INVESTIGAÇÃO
Dentro daquilo que é a vossa metodologia de trabalho, há espaço para investigação nos seus Serviços?
 Um dos pilares do nosso Serviço tem a ver com a investigação e estamos a trabalhar em conjunto com instituições vocacionadas nessa área, para nos apoiar, no caso vertente Faculdade de Medicina, e o instituto Nacional de Saúde, de modo a criarmos sinergias, e dar resposta a questões que tem a ver com a melhoria da prestação de cuidados de saúde, deste modo esta actividade, não é meramente de natureza académica, mas sim no sentido de dar resposta a questões que nos apoquentam no nosso quotidiano de trabalho. Os pós-graduandos do nosso Serviço têm protocolos, que irão iniciar em breve, após as devidas aprovações. De referir que é obrigatório um pós-graduado, fazer e publicar ou apresentar  um trabalho de investigação, durante a sua residência.
Tem levado e apresentado trabalhos de investigação para Congressos de Gastro?
Sim. Quando temos levamos. Também temos o privilégio de apresentar em Conferencias Médicas no País.
Ao longo dos seus anos de pratica médica, o que mais lhe impressionou na sua relação com os pacientes?
 Foram vários episódios, mas francamente falando o apreço, a cortesia, a confiança que os pacientes me tem depositado, não tem preço. Também realçar, que não esqueço as minhas balizas profissionais de actuação, e sempre tudo que me transcende tento encaminhar, para centros melhor apetrechados, de modo que o paciente possa ter acesso a tratamentos da nossa sub-especialidade,  sofisticados , de um modo menos invasivo,  aquilo que esta e vai ser o futuro de Medicina. Por último destacar os contactos que tenho além fronteiras, nomeadamente na Índia, Portugal, Holanda, Estados Unidos e África do Sul, com Colegas da minha especialidade, que me permite interagir em caso de duvidas, de modo a ouvir a segunda opinião antes  de se iniciar o tratamento. Este fato criou condições que os meus pós-graduandos pudessem deslocar ao estrangeiro, a fim de estagiarem em Serviços de reconhecida competência idónea.
Algum comentário adicional?
Estamos empenhados na prestação de serviços de excelência para os utentes do SNS, porém este projecto para ter pernas para andar necessita de acessórios regulares, que  são bastante onerosos, pelo que lanço um apelo para os empresários e outras organizações com papel de responsabilidade social, no sentido de nos apoiarem nos mesmos.
Gostaria de agradecer os gestos de apoio em doações que o nosso Serviço tem recebido, e esperamos que no futuro esse leque se expanda, porque em última instancia pretendemos beneficiar os utentes do SNS, na nossa área, com sofisticação tecnológica, que  qualquer cidadão tem de  direito.
GASTRITE
A gastrite é uma inflamação da mucosa que é a parte mais interna do estômago.
Causas:
Vária podem ser as causas da inflamação a saber: A infecção pelo Helicobacter pylori, que é uma bateria que normalmente é um comensal, mas que em algumas circunstancias, pode agredir a camada mucosa. Certo tipos de medicamentos quando usados e abusados como anti-inflamatórios não esteroídeis, a aspirina, alguns antibióticos como a tetraciclina, a doxiclina e outros podem levar a gastrite. Pensa-se que  o stress, pessoas muito ansiosas e com depressão podem sofrer de gastrite
Sintomas
O paciente pode referir dores na boca do estômago, de variado padrão, que pode agravar após a ingestão de  certos tipos de alimentos, como citrinos, comidas ácidas, picantes com grande conteúdo oleoso, carnes vermelhas, enlatados e molhos. Estes sintomas podem estar associados a outros como náuseas, vómitos, arrotos, azias, sensação de barriga inchada, o paciente pode referir que ao comer pequena quantidade, fica sem vontade para comer, pode referir também ruídos intestinais anormais por produção excessiva de gazes intestinais. O padrão da dor é acompanhada de períodos de acalmia e de exacerbação, quer dizer que o paciente pode referir que há períodos de tempo, que está livre de sintomas e que pode ficar por um período de tempo em crise ou seja tem sintomas, supra-citados.
Diagnóstico
É essencialmente clínico, numa primeira fase o paciente pode ser observado por um clínico geral. Se não melhorar após tratamento instituído, o clinico geral deverá referir ao especialista. Pode se fazer a serologia ao Helicobacter pylori, e se positivo impõe-se o tratamento com antibióticos para a sua erradicação.
Tratamento
Fazer o aconselhamento dietético higiénico, faz parte da estratégia de tratamento, devendo fazer um regime a base de cozidos e grelhados.
Existem vários grupos de medicamentos desde os anti-ácidos aos antagonistas dos receptores de H2  e cada vez se usamos Inibidores da Bomba de Protões com bons resultados.
A duração do tratamento pode durar ate 2 meses em casos não complicados.
Prevenção
Através de um regime alimentar saudável, fazer refeições nos horários devidos, não ficar muitas horas consecutivas sem comer,  evitar  o tabaco, álcool,  enlatados e tudo que estimule a acidez.
Mini C.V.
1986- Concluiu a Licenciatura em Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo.
1999- Iniciou a pós-graduação em Gastroenterologia na Unidade de Endoscopia Digestiva e na Enfermaria das Medicinas do HCM
2002-Estagiou no Hospital Geral de Santo António,  no Porto, para  complementar as técnicas em gastroenterologia, no ultimo ano de especialização, como bolseiro da  OMS.
 2003־Concluiu com êxito o exame de especialidade de Gastroenterologia, promovido pelo MISAU, tendo ficado colocado no HCM- Departamento das Medicinas
 2004 ־É Professor Assistente de Semiologia Medica e Medicina Interna, na Faculdade de Medicina de UEM, do módulo de Gastroenterologia
 2009־Trabalha na Enfermaria de Gastroenterologia do HCM, realizando exames e todas as técnicas da especialidade, apoiando a parte assistencial, bem como o ensino pré  e pós-graduado
2014 -  Docente do módulo de Gastroenterologiana cadeira de Patologia II, no ISCTEM־
2015 ־Director do Serviço de Gastro no HCM, desde Dezembro
•Tem 11 artigos publicados sob forma de artigos originais, de revisão, casos clínicos, monografias, em colaboração com instituições nacionais e estrangeiras,
 9 comunicações orais e 20 posters apresentadas em  diferentes  Congressos Médicos .
Sociedades Médicas

1.     Membro Titular da Associação Médica de Moçambique
2.     Bolseiro da OMS, na Ordem dos Médicos de Portugal
3.     Membro Titular da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG)
4.     MembroTitular da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED)
5.     Membro Associado da South African Gastroenterology Society (SAGES)
6.     Membro Vitalício da Sociedade Indiana de Gastrenterologia (IGS)
7.     Membro Titular do Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais de Portugal
8.     Membro Titular da Ordem de Médicos de Moçambique (OrM)
9.     Membro Titular da Associação Portuguesa para o Estudo de Fígado (APEF)
10.   Membro Internacional do Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG)
11.   Membro Titular da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastro-Intestinal (ESGE)

André Matola
Fotos de Alfredo Mueche





A empresa Águas da Região de Maputo está a instalar condutas auditoras para os centros de distribuição de Machava, Tsalala e Matola-Rio, município da Matola e distrito de Boane, respectivamente.
Os trabalhos estão em curso desde Março passado e visam melhorar o abastecimento de água potável aos clientes do FIPAG distribuídos nos bairros de Malhampsene, Tchumene, Tsalala e Machava, no Município da Matola, assim como os bairros de Juba e Jonasse, no Posto Administrativo da Matola-Rio, distrito de Boane.
Numa primeira fase, os trabalhos prosseguem na conduta que alimenta o centro de distribuição da Machava. Posteriormente, estender-se-ão ao canal que abastece o reservatório da Matola-Rio.  
Actualmente, o abastecimento de água naqueles bairros é limitado, havendo clientes que passam uma semana, outros meses, até mesmo semestres sem nos seus quintais jorrar água.
Estas situações verificam-se com frequência nos bairros de Jonasse, no Posto da Matola-Rio,  Malhampsene e Tchumene II, no Município da Matola.
Naquelas bandas os clientes compram água em camiões cisternas, outros ainda recorrem à abertura de furos, mas esta nem sempre é apropriada ao consumo por ser salobra.
O director da Área Operacional da Matola, Fabião Guiuele, disse que a situação deve-se a capacidade limitada de certos centros de distribuição.Para minimizar o problema, a distribuição é feita em turnos.
Por exemplo, o centro de Malhampsene, com a capacidade de 5 mil metros cúbicos, foi concebido para alimentar os bairros de Malhampsene, Tchumene, Mussumbuluco e Bile. O mesmo leva para os seus clientes entre oito a 12 mil metros cúbicos, por dia, sendo quatro a 6 mil, no período da manhã e outra parte no período da tarde.
O director reconhece que a quantidade não é suficiente e referiu que a situação poderá melhorar a partir do final do presente semestre, com a conclusão da montagem da conduta para o centro da Machava.
“Neste momento, não abastecemos alguns quarteirões de Malhampsene como é o caso da zona do quartel. Temos outras zonas onde a água não chega porque estão na zona alta. Outras estão longe do centro distribuidor, mas acreditamos que brevemente será melhorado”,disse.
SUSPENSÃO DE FACTURAS
O director da Área Operacional da Matola, Fabião Guiuele, disse que a sua direcção tem vindo, nos últimos tempos, a suspender a facturação de alguns dos seus clientes.
Trata-se de clientes que mesmo com contrato em dia não se beneficiam do serviço de abastecimento de água nas suas casas.
Com efeito, nos últimos tempos a empresa suspendeu 1800 clientes residentes nos bairros de Tsalala, Mussumbuluco e Machava.
Para a efectivação desta medida, a empresa formou equipas que percorrem nos bairros para a recolha dos sentimentos dos seus clientes sobre o funcionamento daquela instituição.
“Caso o cliente diga que não jorra água num determinado tempo, avaliamos o sistema e se for verdade, suspendemos a facturação com a promessa de um dia voltar a abastecê-lo”,explicou Guiuele.
Entretanto, a empresa Águas da Região de Maputo interceptou nos últimos tempos cerca de 552 ligações clandestinas, dos quais 71 foram apanhados entre os meses de Janeiro e Fevereiro do ano corrente e 481 durante o ano passado.
Governo expande sistema
de abastecimento para Grande Maputo
O Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Carlos Bonete, dirige amanhã, segunda-feira, as cerimónias de lançamento da primeira pedra do projecto de expansão do sistema de abastecimento de água à região do Grande Maputo.
O projecto compreende na construção de uma captação na barragem de Corumana, uma estação de tratamento de água em Sábiè, para além de duas estações de bombagem.
De acordo com uma nota de Imprensa do Ministério das Obras Publicas Habitação e Recursos Hídricos, as obras fazem parte de um acordo de financiamento celebrado entre o Governo moçambicano e o Banco Mundial na ordem de 178 milhões de dólares para a execução de obras de expansão do sistema principal de abastecimento de água para área de grande Maputo.
O mesmo visa aumentar a taxa de cobertura, beneficiando adicionalmente cerca de 560 mil pessoas nos municípios da Matola, Maputo e distrito de Marracuene.  

Moçambique está a atravessar um momento turbulento causado pelos efeitos nefastos da seca, enxurradas, fortalecimento das principais moedas, tensão político militar e da queda dos preços das matérias-primas no mercado internacional. São solavancos atrás de solavancos que o governo tem a certeza de que serão superados. Por isso, apela à calma. “Nada de pânico”, diz o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário aos agentes económicos.
O nosso país pode ser assemelhado a uma aeronave de grande porte que levantou voo, alcançou a altitude de cruzeiro e os seus passageiros já reclinavam os assentos para disfrutar da viagem rumo à prosperidade.
A economia turbinava de forma espectacular, empregos a serem gerados todos os dias, investimentos estrangeiros chegavam às catadupas, enfim, o mundo olhava enciumado e embasbacado para o ritmo de crescimento estável e a inflação controlada há anos.
Entretanto, quis o diabo tecê-las e aquilo que até então era uma viagem tranquila mudou de figura. De forma súbita, a natureza começou a fazer das suas. Primeiro foram as cheias que destruíram vidas humanas e infraestruturas diversas na região centro e norte do país pouco depois da tomada de posse do actual governo, isto no começo do ano passado.
Os agentes económicos não conseguem se esquecer dos prejuízos que acumularam durante cerca de dois meses em que estiveram privados de energia eléctrica nas províncias da Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa.
Depois veio a Renamo fazer cara feia contra os resultados eleitorais e iniciou uma marcha desgastante para as matas, lugar de onde deu início a sessões infelizes de disparos contra pessoas e bens públicos e privados, com ameaças caipiras de tomar o poder nas seis províncias onde alardeia que obteve bons resultados eleitorais.
Para infelicidade geral, a moeda norte-americana começou a fortalecer a ponto de esmagar a todas as outras, facto que ocorreu em simultâneo com a queda dos preços das principais matérias-primas ou commodities (como os ingleses chamam), impedindo que países produtores de petróleo, gás, carvão mineral, madeira, entre outros perdessem competitividade no mercado global.
A cortejar este quadro, a China e o Brasil que fazem parte do conjunto de economias emergentes mais vigorosas no mundo, começaram a experimentar um certo abrandamento no crescimento e, para o caso do Brasil, a inflação está a começar a chegar a níveis de descontrolo, o desemprego volta a assustar, enfim.
Este conjunto de eventos naturais, políticos e económicos faz lembrar a travessia de um avião por uma área onde se formaram nuvens verticais conhecidas por cúmulo-nimbo, ou “cumulunimbus” (em latim) que dão origem a eventos meteorológicos extremos, tais como tempestades com trovoadas, relâmpagos, chuva volumosa que pode ser acompanhada de granizo e neve.
Não é por acaso que a liderança da Confederação das Associações Económicas (CTA), sentindo os safanões do rumo que o país está a tomar, afirma que “os desafios da nossa economia são muito grandes e estruturaisSomos da opinião de que nunca serão ultrapassados sem uma abordagem clara e pragmática”.
QUADRO DEVASTADOR
O presidente da CTA, Rogério Manuel disse ao Primeiro-ministro que aquela agremiação entende que as consequências dos fenómenos naturais e outros de natureza política são devastadores, uma vez que foram perdidos cerca de 174 mil hectares, dos 389 mil que tinham sido cultivados na primeira época deste ano na região sul do país e 973 mil hectares perdidos na região centro.
A CTA também aponta que os pecuaristas já contabilizam a morte de 4500 cabeças de bovinos por falta de água e pasto, para além de 43 500 bovinos que correm ao risco de morrer na zona sul porque prevalece os efeitos combinados de falta de pasto e de água.
O rumo dos negócios e investimentos continuam a ser abalados pela subida dos custos de produção devido à depreciação cambial que atingiu 73,2 por cento, acumulada até Novembro, embora tenha abrandado até 42,25 por cento, no final do ano”, disse Rogério Manuel.
Mas, o que deixa os empresários quase de rastos, neste momento de turbulência é a instabilidade político-militar que, segundo referem, afecta as zonas rurais, provoca a emigração da força produtiva e coloca em causa o curso normal das actividades produtivas.
Como se isso fosse pouco, a CTA aponta para a Balança de Pagamentos que, na sua óptica, está prenhe de desafios estruturais como a importação de cereais e óleo alimentar que atinge os 400 milhões de dólares por ano, importação de combustíveis que chega a 600 milhões de dólares e de energia que atinge 240 milhões de dólares.
A prioridade deve ser a produção de alimentos e combustíveis, que totalizam uma importação anual de um bilião de dólares. Também propomos que o Estado diminua os seus activos que estão no Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE) e em empresas públicas a favor do sector privado. Esta diminuição de activos deve ser, estrategicamente, para os activos em sectores com impacto na redução das importações”, disse.
NÃO ENTREMOS EM PÂNICO
Tal como acontece nos aviões quando atravessam áreas com alguma turbulência, a tripulação procura sossegar os passageiros, por via da difusão de informações úteis sobre o que se está a passar e o que cada um deve fazer para a sua própria segurança.
No caso vertente, o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário apelou ao sector privado para manter a calma. “Não entremos em pânico”, disse ao mesmo tempo que reconhecia que o presente ano, tal como o ano passado, está a ser marcado por factores conjunturais internos e externos.
Riscos e incertezas que ditam a perda de valor do metical face as principais moedas internacionais, causando a subida do custo de vida”, disse o Primeiro-ministro que lamenta o facto de o país continuar a consumir mais do que produz.
Para que se tenha clareza sobre este último ponto, Carlos Agostinho do Rosário foi buscar os números referentes ao que importamos e o que exportamos. “No ano passado a receita de exportação de bens foi de 3.372 mil milhões de dólares contra 6.648 mil milhões referentes às importações”.
Logo a seguir referiu que os agentes económicos, particularmente do sector cambial, devem ter um papel activo no combate a algumas práticas que estão a comprometer o curso normal do “voo”.
Para estes, apelou para que estimulem o uso do sector bancário para as operações com o exterior com vista a reduzir a aparente pressão da procura do dólar para pagar bens e serviços domésticos e procedam à facturação em meticais para ajudar a estabilizar a moeda nacional e favorecer a redução da taxa de câmbio.
Sobre os ataques que a Renamo tem estado a protagonizar aqui e ali, Carlos Agostinho do Rosário disse que o Chefe de Estado, Filipe Nyusi continua aberto para dialogar sem pré-requisitos com Afosno Dhlakama com vista a encontrar caminhos para uma paz efectiva. “Devemos todos dizer não à guerra”.
Para que o país possa abandonar a área de tempestade em segurança, o Primeiro-ministro afirma que será necessário apostar seriamente na produção interna, pois, “nenhuma economia pode viver e sustentar-se de empréstimos, importações e subsídios do Estado ao consumo”.
Assim sendo, o governo decidiu concentrar esforços e atenção especial em quatro sectores-chave que podem fazer a diferença e servir de catalisadores para a operacionalização do Programa Quinquenal de 2015 a 2019.
INVISTAM AQUI E ALI
Sem descurar de outros sectores, o governo aponta que gostaria de ver o sector privado orientar o seu capital para o sector da energia que tanta falta faz ao país pois, embora seja uma área relacionada com infraestruturas, decidiu-se conferir-lhe um certo destaque dado o seu potencial na geração de renda e emprego para ser distribuída no país.
Para o caso da agricultura, o governo entende que é preciso tornar mais produtiva toda a terra irrigável através da expansão da irrigação para a produção de hortícolas a par do aumento da produção e produtividade do milho e arroz, bem como o esforço da produção de carne bovina e de frangos.
No turismo queremos tornar Moçambique um destino turístico na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Índico, investindo massivamente nos produtos turísticos peculiares como o turismo de praia, turismo cultural, cinegético e de negócios”.
Para o efeito, deverão ser estimulados investimentos em polos turísticos como Ponta de Ouro, Cidade de Maputo, arco Vilankulo-Ilha de Moçambique, os quais irão dinamizar os destinos turísticos regionais e circundantes.
No domínio das infraestruturas, Carlos Agostinho do Rosário disse que a ideia é centrar-se na construção de estradas, pontes, linhas férreas, portos e aeroportos vitais ao desenvolvimento e, particularmente, a logística para a actividade produtiva no interior do território nacional e no interland.
A par destes investimentos, a aposta deve residir na construção de barragens necessárias para o abastecimento de água para as cidades em rápido crescimento, para a irrigação e gestão estratégica das cheias nas bacias mais problemáticas, com destaque para o Limpopo e o Lúrio.
Ainda no quadro das infraestruturas, o Primeiro-ministro referiu que o governo privilegia o desenvolvimento dos corredores internacionais sul, centro e norte, com destaque para a ligação de Niassa para o resto do país e com os países vizinhos. “A participação do sector privado pode ser feita através da modalidade Parceria-Público Privada inclusive em áreas como portos, caminhos-de-ferro e transporte de cabotagem”.
Jorge Rungo
fotos de Carlos Uqueio
Cinco nomes estão propostos para a nova designação do Estádio da Machava. Inaugurado oficialmente a 30 de Junho de 1968, o mítico recinto deverá ter nova designação a partir do dia 09 de Abril próximo, quando o Clube Ferroviário de Maputo reunir em Assembleia Geral ordinária.
O clube Ferroviário de Maputo vai reunir próximo dia 09 de Abril em Assembleia Geral ordinária para apreciar e aprovar vários assuntos, dos quais há a destacar a alteração da designação do nome do Estádio da Machava.
A propósito, domingo cruzou várias fontes “locomotivas” e está em condições de assegurar que há cinco propostas na mesa, das quais três serão apreciadas na reunião retromencionada. As propostas da nova designação do Estádio da Machava chegaram a atingir uma dezena, mas agora estão reduzidas a metade e apenas três vão chegar à fase final.
São os seguintes nomes em análise para substituir o Estádio da Machava:
- Estádio Nacional da Machava;
- Estádio dos Ferroviários;
- Estádio 25 de Junho;
- Estádio Samora Machel e
- Estádio da Independência.
Destas propostas, os proponentes da mudança do nome do recinto estão inclinados para adoptar o nome de Estádio da Independência, mas todas dúvidas serão eliminadas na reunião do dia 09 de Abril próximo.
A justificação dos proponentes é de adequar a designação do recinto à actualidade e enquadrar melhor a história da infra-estrutura.
UM ESTÁDIO HISTÓRICO
O Estádio da Machava conserva a história de Moçambique desde a sua existência, bastando assinalar que foi naquele recinto que o Presidente Samora Machel proclamou a independência do país a 25 de Junho de 1975.
A infra-estrutura foi erguida no vale do Infulene numa área de 31 hectares. À área inicial foi mais tarde adicionado um terreno contíguo de 23 hectares concedido ao clube pelas autoridades municipais da Matola, que visava a construção de parques para automóveis e um arranjo urbanístico mais conseguido da zona.
Em finais de 1962, ficaram concluídos os trabalhos de topografia necessários à elaboração do projecto definido para a implantação da obra e, em 29 de Junho de 1963, foi iniciada a terraplanagem do local.
Ao apoio financeiro dos Caminhos de Ferro, a massa associativa do clube contribuiu com uma quotização mensal suplementar, para além de organizar várias manifestações, nomeadamente, quermesses, churrascos, representações, serões musicais, festas, rifas e outras formas para a angariação de fundos.
Em meados de 1965, iniciou-se a construção das bancadas e foi lançada a relva sobre o espaço projectado para ser o rectângulo do jogo. O fecho simbólico das bancadas do 1°anel do estádio, as mesmas que permanecem até aos nossos dias, deu-se em 1967.
A 30 de Junho de 1968, a então cidade de Lourenço Marques foi a encruzilhada de todos os caminhos de Moçambique, e de gente dos países vizinhos.
Muitas foram as figuras que, de uma forma ou de outra, directa ou indirectamente, contribuíram para que se tornasse uma realidade o Estádio.
Dados históricos indicam que entre todos os ligados ao processo, surge de pronto o nome do Eng. Albano Augusto de Sousa Dias, o "homem do estádio", aquele que tornou o sonho realidade, mercê de um esforço gigantesco e de uma tenacidade de ferro.
Albano de Sousa Dias, que foi presidente do Ferroviário, faleceria 27 dias após a inauguração do estádio - a sua obra.
Custódio Mugabe
O péssimo estado das vias de acesso aos diferentes bairros da localidade de Mulotana, na província de Maputo, está a afugentar transportadores semi-colectivos de passageiros.

A localidade de Mulotana, no distrito de Boane, está a conhecer, nos últimos tempos, maior procura terrenos para habitação e edificação de infra-estruturas diversas sobretudo aos sectores comercial e turístico.
Contudo, a demanda não é acompanhada  por investimento em estradas terciárias, emergindo, desde logo, dificuldades de acesso aos diferentes bairros da localidade. A estrada que parte de Malhampsene para aquelas bandas é terraplanada e apresenta covas enormes, o que dificulta a circulação de pessoas e bens.
Resultado: em cada mês que passa, pelo menos, um transportador desiste daquela actividade.
A situação é descrita como mais complicada no período nocturno, pois os transportadores não querem circular, porque temem provocar acidentes, visto que nesse período não conseguem visualizar o tamanho das covas, para poderem esquivar-se.
Outros temem ser assaltados, pois há relatos que indicam que no ano passado houve o registo de três assaltos, protagonizados por indivíduos até hoje a monte.
Para concretizarem os seus intentos, os malfeitores aproveitavam-se dos locais onde o condutor abranda a velocidade para esquivar-se duma cova ou tronco na estrada.
Face à estas circunstâncias, o transporte é garantido por carrinhas de caixa aberta, vulgo “my love” das 5:00 horas até às 18:30 horas.
TRANSPORTADORES DESGASTADOS
Transportadores que ainda operam naquelas bandas lamentam a situação e referem que estão a acumular prejuízos económicos pois são forçados a fazer revisão das viaturas semanalmente.
Contam que, vezes sem conta, interrompem marcha no meio do percurso devido problemas mecânicos. Em consequência o passageiro abandona o carro sem pagar o transporte. 
João Bonifácio, transportador, disse à nossa Reportagem que em diferentes ocasiões pediu às estruturas administrativas da localidade para intervirem na melhoria daquele troço sem contudo lograr resultados até ao momento.
Somos obrigados a pagar 20 meticais, por dia, à associação dos transportadores e não estamos a ver o benefício dessa contribuição. A estrada está com covas que podem engolir uma carrinha de quatro toneladas. A situação está piorar nos últimos tempos porque partilhamos as vias com camiões que transportam areia e pedra, contou.
Salvador Simbine, outro transportador, disse que muitos colegas já abandonaram a actividade.“Eu prefiro continuar porque acho que não é mesmo ficar em casa. Mas isso não quer dizer que estamos satisfeitos, arriscamos todos os dias. A situação obriga-nos fazer revisão todas as semanas, imagine quanto é que gastamos, ressalvou.
Estudantes do curso de licenciatura em Teatro da Escola de Comunicação e Artes organizaram, por ocasião das celebrações do Dia Internacional de Teatro (27 de Março), um colóquio subordinado ao tema O Teatro em Nós integrando seminários, oficinas, debates e espectáculos teatrais.
A ideia central dos estudantes era com “O teatro em nós” juntar amantes e fazedores de teatro a dialogarem sobre a sua arte como forma de promover um intercâmbio de experiências entre diferentes agentes sociais, culturais e contribuir na reflexão sobre o teatro na sociedade moçambicana.
Com o lema “Por uma arte em constante recriação” o colóquio de cinco (5) dias contou com a participação massiva dos estudantes do curso de teatro assim como de actores de grupos amadores da cidade de Maputo e público no geral. O debate de abertura, A Construção da Personagem, teve como oradores três figuras que muito têm feito para o desenvolvimento do teatro no nosso país, como é o caso de Lucrécia Paco (actriz profissional com mais de 30 anos de carreira no Mutumbela Gogo), Victor Gonçalves (encenador português e professor de representação do curso de Teatro na ECA) e por último Angelina Chavango (actriz e professora de representação do curso de Teatro na ECA), sob moderação de dois estudantes Eunice Mandlate e Fernando Macamo.
Sobre A Construção da Personagem, os oradores foram unânimes em afirmar que o trabalho do actor visa procurar métodos ou fórmulas que lhe possibilitem a incorporação física e gestual da personagem ou agente da acção dramática. Alguns destes métodos apesar de terem sido sistematizados por autores como Stanislavski e Grotowski, ainda constituem um desafio para o actor, que muitas vezes se depara com o dilema de ter que despir-se de si mesmo e vestir o outro (a personagem).
Outro momento interessante foi o workshop sobre cenografia que durou duas horas e meia e foi orientado pela professora e cenógrafa Sara Machado. Todos presentes ficaram a saber mais sobre está arte de organizar ou ornamentar o espaço cénico, uma área muito importante no teatro. É através da cenografia que o espectáculo situa o espectador no que diz respeito ao espaço em que a cena se dá. Este espaço, naturalista ou onírico, determina a materialização que a representação pressupõe.
A importância da leitura também ocupou os estudantes e participantes no Colóquio, através de um exercício denominado Cadeira Quente. Uma conversa em torno da leitura e do seu impacto na vida dos estudantes e professores ganhou proporções interessantes dado que resultou num compromisso público assumido pelos estudantes de apostarem na leitura como forma de aprimorarem os seus conhecimentos.
Improvisação e Criação Colectiva, dirigida pela actriz Lucrécia Paco foi uma das oficinas mais concorridas. Os estudantes de todos os níveis entregaram-se de corpo e alma no exercício com resultados surpreendentes. O último dia foi dedicado ao debate sobre a Dramaturgia Moçambicana tendo como oradores os professores António Cabrita, Rogério Manjate, Victor Gonçalves e o animador cultural e director do Ntsindya, Eldorado Dabula.
Refira-se que em todas as oficinas e debates público foi convidado a intervir, e este não se fez de rogado. De forma interactiva deixou ficar os seus comentários e questões aos oradores. O que veio sublinhar o objectivo do colóquio, que se pretende regular, que consiste no intercâmbio de conhecimento entre todos intervenientes. Ficou evidente a necessidade deste tipo de espaço de reflexão não só no mês do teatro mas em várias ocasiões de modo a desenvolver e a disseminar a importância desta arte na construção da sociedade moçambicana.       
Colóquio bastante rico
– Josefina Massango, Directora do curso de Teatro da ECA
Estamos satisfeitos com a organização dos estudantes. Foi a primeira vez que dirigiram um evento desta natureza e mesmo assim fizeram-no muito bem. Foi positivo, educativo e rico. Entretanto, ainda não existe um teatro genuinamente moçambicano só há um conjunto de características e modos de faze-lo. Para que tal aconteça há necessidade de se escrever, investigar sobre o assunto, e buscar os elementos que compõe ou concorrem para o nosso teatro e depois criar uma estrutura que nos leve a identificar todas essas coisas como teatro moçambicano.
Para mim foi um renascer
- Lucrécia Paco, actriz e facilitadora
Senti-me uma pessoa renovada. Senti-me uma Fénix ressurgindo das cinzas. Modestamente esta foi uma oportunidade para eu partilhar um pouco da minha experiência de 30 anos no teatro. Foi também uma forma de homenagear aqueles que ao logo desses anos me ensinaram várias coisas. Sinto que também tenho essa missão de transmitir isso aos mais novos. A iniciativa dos estudantes foi fantástica e permitiu-me aprender outras tantas coisas.
Um espaço de libertação
– Venâncio António, estudante
Sentimo-nos orgulhosos por termos materializado esta ideia. E agora gostaríamos de realizar outros colóquios como forma de pôr as pessoas em constante contacto com o teatro e a reflectir sobre ele. Na verdade o evento foi um espaço para falar sobre quase tudo sem nenhuma hesitação. Os oradores trouxeram diversas novidades e isso leva-me a crer que este foi um espaço de libertação.
Discutimos vários aspectos                                          
– Yuki da Silva, estudante
O colóquio foi brilhante. Discutimos assuntos ligados a esta manifestação artística, trocamos experiências com diversos artistas. Não houve distinção entre actores amadores e profissionais afinal, somos todos iguais e abraçamos esta arte, então nada melhor que sentar para discutir teatro. Amo a representação e a construção de personagens. Mas também fiquei fascinado quando falamos sobre o tema “A personagem pode matar o actor”; pois muitas vezes o actor pode ser engolido pela personagem então há que saber como se livrar da personagem.
Unimos a teoria e prática
– Sabina Tembe, Estudante,
Aprendemos muito com este evento. O colóquio trouxe a unificação da terminologia e da prática do teatro. O tema “improvisação” foi muito importante para mim porque mostra como partir de uma simples palavra para uma peça.
Belmiro Adamugy e
Maria de Lurdes Cossa
- Nicolau de Sousa (Nico)
Na véspera do jogo do combinado da selecção moçambicana contra o Gana, em Accra, tivemos o privilégio de entrevistar na cidade sul-africana de Nelspruit o antigo internacional moçambicano Nicolau de Sousa, também conhecido por Nico ou Danger-Man (homem perigoso), como uma vez lhe alcunharam os malawianios.
A conversa é a que se segue. Ele aponta caminhos e soluções para o nosso futebol que não vai muito bem das pernas.
No seu tempo, qual era a mística da selecção?
Nós queríamos ganhar. Provar, sempre, que éramos capazes. Dávamos tudo o que tínhamos. Era o nosso segredo. Jogávamos até rebentar. Mais ainda quando o público puxava por nós. Era fantástico ouvir a alma do Estádio da Machava.
Os Mambas têm novo treinador. O que acha?
É bem-vindo. Precisamos de um departamento técnico muito profissional e muito exigente porque ganha-se dinheiro, mas tem que haver exigências. Precisamos rapidamente de ter uma selecção muito forte, porque estamos a ficar muito para trás na nossa zona. Da Zâmbia não falo. Agora Zimbabwe, Lesotho, Suazilândia, não me deixa satisfeito. No passado vencíamos essas equipas a nosso bel-prazer.
Por que é que estamos a ficar para trás?
Porque não acompanhamos o desenvolvimento do próprio futebol.
Mas temos escolas de jogadores?
Passar pela escola de jogadores é bom, mas tem que ser com um técnico com provas de que pode formar. É como um professor primário. Se o professor não for bom esse aluno está estragado. Não serve. Toda a carreira dele será medíocre. Tem que ser com um professor primário com qualidade e pago para fazer um trabalho de longo curso. Isso é o que a gente tem de fazer. E em Moçambique há antigos praticantes com essas qualidades. È só escolher acertadamente.
Em sua opinião, por que é que o futebol não está a conseguir grandes resultados tanto a nível de clubes como de selecção? É falta de talentos ou a qualidade futebolística dos outros países é que evoluiu?
Olha. Posso lhe dar um exemplo. Caímos muito em termos de futebol em contraposição com o basquetebol que está sempre a evoluir, porque trabalha-se muito nas camadas jovens. Há muitos torneiros para a juventude. O futebol é como o corpo humano. Tudo tem de crescer junto: cabeça, braço, perna, tronco, etc, etc.
Mas..
Depois, temos um vizinho que é potência em termos de infra-estruturas. Refiro-me a África do Sul. Porque é que não mandamos os nossos jovens para aqui? Educa-los. Responsabiliza-los. Aqui há grandes clubes e com bons investimentos. Eles já organizaram uma Copa do Mundo, mas não estamos a explorar este vizinho. Portugal está longe para nós.
Há quem diga que o nível futebolístico sul-africano comparativamente ao moçambicano também não é grande coisa.
Há muita gente que pensa assim. Mas em termos de infra-estruturas, eles estão no caminho certo. E dou-lhe exemplos. Todas escolas têm campos relvados. Eles têm condições de trabalho e nós organização. Se associarmos esses dois aspectos acredito que mais rapidamente podemos atingir os nossos propósitos. Infelizmente nós já não temos terrenos baldios onde muitos da minha geração aprendiam a jogar futebol. Mas temos de perceber. As coisas mudam. Agora há que é encontrar alternativas.
RADICADO
EM NELSPRUIT
Estás radicado em Nelspruit. consegue, de alguma forma, ser o olheiro para o futebol moçambicano? Sente-se aproveitado?
Penso que não. Conheço bem Nelspruit. Joguei futebol aqui e em vários locais da África do Sul. Vêm equipas moçambicanas para estágio e quando chegam não procuram por nós para dar uma dica. Só isso. Gostava que nos aproveitassem. Por exemplo, está aqui o Hassan que jogou no Águia de Ouro. Também sabe muito do futebol su-africano.
CHEGAR À UMA FINAL
DO CAN ERA DIFÍCIL
Fez parte dos seleccionados que tiveram a honra e o privilégio de disputar uma fase final de um campeonato africano no Egipto, por sinal o primeiro dos quatro que Moçambique já marcou presença. Como eram entanto que grupo?
Havia muita união, além de que que ansiávamos fazer história e conseguimos. Fomos os primeiros a chegar a uma Copa de África naquele tempo e não era como agora que é uma espécie de torneio, de mini-campeonato. No nosso tempo era bate fora. para chegar a fase final era um autêntico bico-de-obra.
Qual é a sua opinião sobre o alargamento das equipas no Moçambola? Temos agora, por exemplo, o Desportivo do Niassa.
É positivo desde que as equipas estejam profissionalmente estruturadas. Eu sobressaí de uma equipa da província. Mas jogar no Têxtil do Púnguè era um luxo. Não era para qualquer um, porque havia muita matéria-prima e com muitíssima qualidade. O que devemos pedir as novas equipas é que trabalhem a sério e profissionalizem os clubes sob pena de chegarem a Maputo e apanharem cabazadas, o que tornaria o Moçambola sofrível. Mas…
Sim?
Devo frisar que não tenho assistido muitos jogos do Moçambola, mas sempre que vou a Maputo faço questão de sentar e conversar com pessoas envolvidas no futebol. Muitos são técnicos, alguns são chefes de departamento e procuro saber o que está a acontecer, sendo que a Selecção Nacional é o espelho desse trabalho. Repare que a própria selecção não consegue lotar o estádio. Temos de tornar isso possível tal como no passado.
Em Moçambique agora para além da Taça de Honra, do Moçambola, da Taça Mcel temos a Taça BNI.
É o caminho certo. Um futebolista para atingir o píncaro da forma precisa de muitos jogos nos pés. Aqui na África do Sul existem pelo menos meia dúzia de competições a doer como a Cup ABSA, NEDBANK, o campeonato propriamente dito. Mas tudo isso terá de ter o suporte estrutural como nutrição, fisioterapia, disciplina, seriedade. Se formos sérios e profissionais acredito que dentro de três/quatro anos estaremos a dar o salto.
Uma palavra sobre o que espera do seleccionador Abel Xavier.
Desejo-lhe boa sorte. Que trabalhe. Ele tem experiência de jogar fora de Moçambique. É tirar a experiência dele e pôr em campo. E apoiemo-lo.
Mesmo para terminar. Quando praticante fazias muitos golos. Qual era o segredo?
Eu era um grande finalizador. O meu antigo técnico do Matchedje, Victor Bondarenko, dizia que eu tinha faro para golo. Eu adivinhava onde a bola ia cair, para além de que tinha um pique (arranque ou sprint) terrível. Aliás, no Matchedje para seres titular tinhas de suar as estopinhas.

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