Monday, April 25, 2016

Libertadores de ontem, tiranos de hoje!

Na História, o ano de 1960 é comummente apontado como o «Ano de África». Tal consideração prende-se pelo facto de muitos países africanos terem conquistado as suas independências em relação ao Ocidente depois de tantos anos de combate que ceifou inúmeras vidas humanas.
E, importar referir que, no processo de luta armada de libertação, muitos jovens sacrificaram a sua juventude para libertarem as suas pátrias e o continente do jugo colonial, o que mais tarde veio a ser muito bem conseguido, o que criou muitas e boas expectativas entre os africanos em relação ao futuro.
Uma vez alcançadas as independências de suas respectivas pátrias, os povos africanos independentes estavam todos expectantes de que as oportunidades do contexto pós-independência seriam descentralizadas, que a riqueza que muito abunda pelo continente seria equitativamente distribuída.
Acreditavam, ainda, que construir-se-iam Estados de DIREITO e Democráticos, onde as aspirações, vontades ou necessidades da maioria (o povo) seriam amavelmente satisfeitas. Pensava-se em Estados que funcionariam por valores de cooperação, solidariedade, fraternidade, igualdade e TRANSPARÊNCIA.
1. Os libertadores, ontem!
Os libertadores do continente africano são aqueles que, no passado, estiveram nas frentes de batalha com vista a expulsar o colonizador, que oprimia o povo e pilhava os seus recursos em benefício da metrópole.
Os libertadores de ontem são, ainda, aqueles que sabidamente mobilizavam, organizavam, motivavam e conscientizavam ao povo sobre o papel crucial que a unidade e o patriotismo tinham para a libertação do continente e do homem africano.
Finalmente, os libertadores de ontem, alguns deles falecidos e considerados heróis, são aqueles que após a conquista da independência dos povos africanos, lançaram-se na (re)construção dos novos Estados africanos, ocuparam encargos públicos, educaram e instruíram cientifica e tecnicamente o povo.
2. De libertadores de ontem para tiranos de hoje!
No momento da conquista das independências dos povos africanos, muitas promessas foram realizadas e todos nós acreditamos nelas, até porque nem tempo para pensar na impossibilidade de sua materialização tínhamos, afinal, cientes de que éramos todos irmãos, depositamos toda a nossa confiança nos libertadores.
E, infelizmente, após escassas décadas, começámos a assistir ao surgimento de uma nova classe opressora: os endocolonialistas (colonizadores internos), nepotistas, narcocapitalistas, com ambições irracionais. A ambição desmedida começou a perturbar o bom senso dos nossos libertadores de ontem.
As classes governamentais formadas pelos antigos movimentos de libertação (agora transformados em partidos políticos), começaram a albergar elites que desfrutam egoisticamente da riqueza em prejuízo do povo, colocando-o esfomeado e em vias de esfomeatização maciça, defraudando suas expectativas.
Começamos a verificar a instrumentalização da história por parte das elites políticas. Começaram a usar da história de luta de libertação para legitimar, forçosamente, a sua permanência no poder. Começaram a viciar o processo eleitoral por forma a tornar suas lideranças vitalícias e procederam com a partidarização do Aparelho do Estado.
Assim, nota-se que os frutos da independência, incluindo o produto dos recursos naturais, começa a ser exclusivamente desfrutado por um grupo de pessoas seleccionadas pela história: os libertadores da pátria, que algumas vezes realizam dívidas em seu benefício de suas famílias, mas em nome do povo.
Ontem, a luta e o interesse foram os mesmos, mas hoje, os ‘libertadores’ hipotecam as expectativas do povo, humilhando-o com salários míseros, decisões ocultas, roubos aos cofres do Estado e outros crimes. E porque saem-se impunes, limitam a liberdade de expressão do povo quando este se insurge.
Aliás, os mesmos libertadores que muito exaltavam a implantação de Estados Plurais e Democráticos, hoje mostram-se hostis a qualquer posicionamento de crítica a sua governação, adulteram a história e diabolizam a oposição, criam falsos heróis, assassinam, perseguem e prendem jornalistas e académicos.
Os Ministérios Públicos foram estuprados sua independência e essência e passaram a funcionar como parceiras das infracções cometidas pelos titulares dos órgãos executivos do Estado. Estamos diante de Ministérios Públicos que funcionam como padrinhos dos homens do executivo, senão como vassalos.
Cientes das críticas que recebem, os libertadores de ontem, hoje tiranos, criam nomes para adjectivar seus críticos (apóstolos da desgraça, a título de exemplo) e usam do Poder Judicial para persegui-los. Usam das forças governamentais para bloquear qualquer tentativa de manifestação, ainda que realizada de forma pacífica e pelas razões mais óbvias.
E mais, para ludibriar as massas distraídas, muitas delas, iletradas e menos escolarizadas, fabricam grupos de analistas e comentadores políticos para bem-dizer seus governos. Deste modo, alguns jornais, rádios televisões, entre públicas e privadas, são regidos segundo os preceitos ideológicos dos ‘libertadores’.
Tal facto é consumado através da exibição de programas e reportagens que apenas bem-dizem os governantes. Esses tipos de órgãos de comunicação têm servido de instrumento para confundir e manipular o povo pacato que se compadece com o crescimento aparente de seus Estados.
3. Considerações finais:
Os libertadores de ontem precisam entender que a África e nem o povo que nela reside, não constituem sua pertença exclusiva. A África é dos africanos e os seus recursos, também. Se ontem a luta foi a mesma, é justo e razoável que os ganhos da liberdade em relação ao Ocidente sejam por todos gozados.
O princípio da transparência, consagrado nas tantas leis que regem os ordenamentos jurídicos dos Estados Africanos, deve constituir uma marca indelével dos actos realizados pelos órgãos de soberania, pelos governantes e por outros agentes do Estado. Atitudes justas e exemplares, precisam-se!
Os libertadores de ontem para evitarem ser conotados como tiranos de hoje, precisam urgentemente de respeitar os princípios democráticos constitucionalmente consagrados, aliás, devem também, parar de encarar as funções de deputado, governador, administrador como um prémio político-partidário pela participação na luta de libertação e passar a olhar com seriedade a COMPETÊNCIA de seu titular.
Por causa desse cenário, não podemos nos surpreender se, o resultado for um Parlamento deficiente, um Governo ineficaz, Tribunais paralíticos, bem como uma péssima administração da coisa pública que não respeita as suas devidas atribuições.
A continuar assim fica cada vez mais insustentável o propósito de termos uma nação guiada pelo espirito do patriotismo, amor e orgulho à pátria, bem como a construção da tão almejada unidade nacional. Enquanto uns usufruem gulosamente dos recursos, outros perecem de fome.
Muitos de nós somos fãs e admirados dos nossos hinos nacionais africanos, a começar pelo hino nacional de Moçambique, Pátria Amada, em que nas laudas de sua última estrofe reza que “(…) nós juramos por ti, ó Moçambique: nenhum TIRANO nos irá Escravizar”. As instituições devem trabalhar!
Portanto, a existerem, abaixo aos libertadores tiranos!
Bem-haja África, nossa terra-mãe, berço-da-humanidade!
12 comments
Comments
Boavida Mondlane da Is esse texto e longo boa ideia era .Grupo no watssap
Ariel Sonto Esta conta nao foi 'invadida por pessoas de ma-fe'?
Ivan Maússe Hahaha Ariel Sonto. Minha conta é inviolável.
Sambongo De Montesqueu Sambongo ((Os libertadores de ontem precisam entender que a África e nem o povo que nele reside, não constituem sua pertença exclusiva. A África é dos africanos e, os seus recursos também. Se ontem a luta foi a mesma, é justo que os ganhos da liberdade em relação ao Ocidente sejam por todos gozados)). Fim de citação
Grande texto. As minhas felicitações, caro amigo, Ivan.

Pedro Manguene "Oh... Africa, surge et ambula!"
Marlena Nina Por mim val apena ser escravizado pelo um colono do que pelo proprio Negro. O negro te usa e ainda te deixa com dividas
Mário Xavier Ah ah ah ah ....
Ivan Maússe Tese meio problemática complexa que tu colocaste acima, Marlena. O colonialismo Ocidental foi ainda MAIS brutal, querida!
Arnaldo Tivana Irmão Ivan Maússe, não venhas amanhã dizer que os hackers invadiram a sua conta e publicaram esse texto.
Proprio Ernest Vilanculos Vale mais apena falar o k não nos faz progredir pois tudo k acontece no nosso continente em particular em Moçambique é muito preocupante,olha estamos a ser usados e escravizados de tal maneira que ate cansamos de engolir tudo o que os nossos dirigentes fazem. O k fazem os partidos da oposição afinal?
Ivan Maússe Caro amigo Proprio Ernest Vilanculos, o que acontece no país e em África no seu todo, é falta de senso do conceito de democracia e de oposição.

Em África a uma fraca concepção de democracia, por um lado e, por outro, um conceito errado senão vicioso do que é ser um partido da oposição.

No caso do nosso país, qer a posição quer a oposição são tudo uma lástima. Uns aldrabam ao povo e outros matam a tiros ao povo. Ntlah.

Ivan Maússe Arnaldo Tivane, por que razão mesmo eu acusaria invasão à minha conta?
Arnaldo Tivana Já o fizeste em defesa de honra do amigo Bitone Viage, não passa muitos dias. Vocês quando escrevem sentimentos de povo dia seguinte aparecem com tretas do tipo que alguém invadiu as nossas contas
Ivan Maússe Ivan Maússe não é mesma pessoa que Bitone Viage. O posts que aqui faço são da minha autoria, e no dia em que um hacker invadir minha conta, tomarão conhecimento.

Se apareci em defesa ao Bitone, fi-lo porque citei algumas palavras pensando que fossem suas, nisto, senti-me na obrigação moral de restituir a veracidade dos factos, mesmo por uma questão de educação e "reparo" aos danos eventualmente causados!

Portanto, não saio para ai a defender as pessoas sem sustentáculo, ainda que sejam minhas amigas. Nada. Se defendo é porque certamente deve haver uma razão.

NB: eu não costumo apontar o dito por não-dito ou vice-versa. Estou sempre apto para responder em juízo pelas opiniões que faço!

1April 22 at 7:36amEdited

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