terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O PAÍS CONTINUA A SER DILACERADO PELO CONFLITO MILITAR E POBREZA EXTREMA

LÁ SE FOI A SEGUNDA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

Por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
“Ter uma terra a que não defendemos, é como plantar uma árvore para, em seguida, deixá-la secar. É desprezar as obras e os sacrifícios das gerações que nos antecederam. É perder o sentido de História. É um acto anti-patriótico.” Extraído do texto do amigo N´kulu 
Um grupo de fazedores de opinião estava à espera que a segunda sessão extraordinária do partido Frelimo, realizada a 05 de Fevereiro do ano em curso, fosse o momento da viragem, fazendo acreditar aos moçambicanos que haveria mudanças “extraordinárias” no seio do “partido dos camaradas”, que afastaria o clima de medo e da pobreza que grassa um pouco por todo o país. Infelizmente, tal não aconteceu, o que lamento. Tão depressa quanto se esperava, “a montanha pariu um rato.” 
Diga-se em bom da verdade que a Frelimo não disse e nem agendara a sessão extraordinária para operar milagres, tal como foi propalado pelo grupo de choque da sociedade civil moçambicana, aumentando os apetites da população exaurida e vítima de um conflito militar abominável. Um velho amigo de infância disse-me amiúde que a antecipação da morte é pior do que a própria morte e que ninguém deve prometer aquilo que não pode cumprir, sobretudo quando essas promessas provêm da “catequese política”.

Muito antes da sua realização, a Frelimo disse que evocaria a segunda sessão extraordinária para substituir algumas figuras do partido (refiro-me a remodelação do secretariado do Comité Central) por incompatibilidade de funções, mas não por incompetência. Eu próprio escrevi, aqui nesta gazeta do Wamphula Fax, que a Frelimo jamais evocaria uma sessão extraordinária para a transformar em Inquisição, descomungando e chamuscando os seus camaradas, porque estes constituem uma memória institucional que o partido SEMPRE soube preservar. 
Estou em crer que o terá polarizado as crenças dos críticos foi a expressão “extraordinária”. Tomaram a palavra “extraordinária” como sendo o “Dia D”, isto é, o dia das grandes decisões. Era preciso ser ingénuo de sobra para aceitar que uma sessão extraordinária, como pontos de agenda previamente conhecidos, fosse suficiente para implementar uma vassourada. A Frelimo não costuma ser “tigre de papel”, a Frelimo mostra a sua tigritude, ou seja, não faz alaridos quando pretender empreender mudanças.
Cabe ainda pontuar que os actuais “mandões” da Frelimo são prolongamentos do poder do antigo presidente do partido, o poeta mor Armando Emílio Guebuza, e este não concordaria que os seus pupilos fossem “politicamente fuzilados”, na sua presença, diante de camaradas que reclamam mudanças no partido. Serão precisos muitos anos para que Guebuza, tal como Chissano, deixem de ter uma posição de comando no partido. 
Ademais, a Comissão Política do partido do batuque e maçaroca nem sequer chancelou a queda desses “mandões”, o que significa que pouca coisa vai mudar no país em termos de valorização do capital humano. É um facto indubitável que o país está a crescer do ponto de vista de infra-estrutura, mas terá uma população anémica nos anos que se avizinham. 
Posso concordar que a 2ª sessão extraordinária tenha lançado bases para uma nova dinâmica governativa, até porque o presidente da República Filipe Jacinto Nyusi tem consciência plena que está a perder muitas batalhas inseridas no seu discurso de tomada de posse. A corrupção, o crime, a pobreza são três tripés que estão na mó de cima no país. Como líder, acredito que Nyusi possui alguns triunfos na manga para a consecução das suas promessas eleitorais, mas não o fará sem criar fortes clivagens internas no partido. O politólogo João Pereira disse há dias na estação televisiva STV que “Antigamente a lealdade no partido Frelimo era feito pela causa social, hoje é feita pela lógica mercantilista e interesses económicos”. É verdade que “ficar atrás não significa perder a viagem”, dizia o meu saudoso amigo Alberto Viegas. O receio que tenho é de que a nossa chegada à meta aconteça quando já não esteja um único moçambicano vivo no país. 
O único problema é saber até quando o povo pode esperar por mudanças? Isto ocorre numa altura em que há gente a morrer de fome e de balas instigadas por querelas políticas. O país é um barril de pólvora, seja porque “As pessoas tornam-se cegas quando a fome fala mais alto (palavras do arcebispo D. Jaime Gonçalves), como por ameaças do líder máximo da Renamo Afonso Dhlakama. Março já não falta muito e as pessoas estão cheias de medo e desesperadas. Estou orgulhoso de ser moçambicano, mas tenho vergonha de ter alguns políticos que tenho. Zicomo (obrigado). 
WAMPHULA FAX – 08.02.2016

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