sábado, 6 de fevereiro de 2016

Frelimo não mexe em lideranças do tempo de Guebuza

SG e secretariado do Comité Central mantêm-se.
Filipe NyusiFilipe Nyusi
A Frelimo reestruturou nesta sexta-feira o secretariado do seu Comité Central, mas manteve o secretário-geral e a Comissão Política deste Partido, que decorrem da presidência de Armando Guebuza.
A reunião aconteceu numa altura em que algumas correntes de opinião questionam a real liderança de Filipe Nyusi no partido.
Frelimo mantém lideranças do tempo de Guebuza - 1:29
Nyusi, inseriu esta reestruturação no contexto da desacumulação de tarefas dos membros do secretariado do Comité Central, de modo a que eles possam ter maior disponibilidade para as missões que lhes são inerentes.
O Comité Central da Frelimo esteve reunido hoje, em sessão extraordinária, apenas para eleger os novos membros do seu secretariado, em substituição dos anteriores que foram eleitos deputados da Assembleia da República.
Uma enorme expectativa gerou-se à volta da reunião porque em alguns círculos de opinião, acreditava-se que nela podia ser eleito um novo secretário-geral, em substituição de Eliseu Machava, que vem da liderança Armando Guebuza, o que não aconteceu.

Nyusi diz que é preciso "inovar a FRELIMO"

O Comité Central da FRELIMO fez uma reestruturação quase completa do seu secretariado. Analistas consideram que esta foi uma oportunidade para Filipe Nyusi reforçar a sua liderança no seio do partido no poder.
Presidente da FRELIMO durante reunião do Comité Central. Ao seu lado esquerdo, um dos membros mais influentes do partido, Alberto Chipande, e, à direita, o secretário-geral Eliseu Machava
O secretariado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi quase todo reestruturado, esta sexta-feira (05.02). Dos nove membros do secretariado mantiveram-se apenas três, incluindo o secretário-geral, Eliseu Machava. A sua sucessão não fez parte da agenda, ao contrário do que vinha sendo ventilado na imprensa moçambicana.
Num discurso durante a reunião do Comité Central da FRELIMO, o presidente do partido, Filipe Nyusi, afirmou que, com a presente reestruturação, pretende-se ter um secretariado a tempo inteiro, verdadeiramente executivo, mais ativo, dinâmico e adequado à realidade do país.
"O que está em causa neste momento histórico de crescimento do nosso país e da nossa economia é a capacidade de inovar a FRELIMO. Está em causa a nossa capacidade de saber estar, não só no contexto em que vivemos mas sobretudo perante os desafios que temos pela frente", afirmou Nyusi.
O líder da FRELIMO defendeu que o novo secretariado deve refletir o crescimento do partido: "Queremos um secretariado que, para além de consolidar as conquistas e experiências alcançadas desde a criação da FRELIMO, continue a promover a coesão e unidade entre os membros da família FRELIMO, em particular, e entre os moçambicanos, em geral."
Quem entra, quem sai
Quatro membros do secretariado da FRELIMO foram substituídos em cumprimento de uma diretiva do partido que considera incompatível aquele cargo com o de deputado. Foram abrangidos pela medida o porta-voz da FRELIMO, Damião José, o secretário para a Organização, Sérgio Pantie, o secretário para a Área Económica, Edson Macuácua, e o secretário para Organizações Sociais, Carlos Vasco.
Outros dois membros - Carmelita Namashulua, ministra da Administração Estatal e da Função Pública, e Amélia Nakhar, presidente da Autoridade Tributária - renunciaram aos seus cargos no partido, alegando a complexidade das suas atividades governativas.
Foram eleitos para ocupar os lugares deixados vagos Esperança Bias, Helena Muando e António Niquice, todos membros do Parlamento que vão ter de renunciar aos cargos naquele órgão, Agostinho Trinta, governador da província de Inhambane, e Chaquil Abubacar, administrador de Monapo, na província de Nampula, o maior círculo eleitoral do país.
Membros influentes da FRELIMO: Da esquerda para a direita, Graça Machel, Raimundo Pachinuapa, Aires Aly e Luísa Diogo
Oportunidade para Nyusi reforçar liderança
A sessão do Comité Central realizou-se numa altura em que o país completa um ano após o início do novo ciclo de governação. Para o analista Egídio Vaz, a reestruturação da FRELIMO constituiu uma oportunidade soberana para Filipe Nyusi reforçar a sua liderança no seio do partido:
"A FRELIMO encontra-se fraturada. Se não fosse o poder político que detém sobre o Estado, diríamos que o partido está em crise - uma crise administrativa e de liderança, na medida em que existe, até agora, um conjunto de focos de poder cuja manifestação põe em causa a coerência do discurso e a praxis do Governo atual."
Críticas a RENAMO
Em diversas mensagens apresentadas durante o encerramento da sessão, condenou-se a maior força da oposição, a RENAMO, responsabilizando-a pela tensão político-militar no país. Foi feito ainda um apelo a Nyusi para que se prossiga com o diálogo com vista à preservação da paz.
Analista Egídio Vaz
O analista Egídio Vaz considera que os resultados da reestruturação da FRELIMO podem influenciar positivamente na resolução da atual tensão: "O partido passaria a falar em uníssono, algo que não aconteceu nos últimos 14 meses, e o poder seria concentrado em órgãos apropriados, influenciados pelo presidente da FRELIMO."
Esta foi a primeira sessão do Comité Central da FRELIMO dirigida por Filipe Nyusi, desde que assumiu a presidência do partido no poder, em março de 2015. Nyusi anunciou a realização de uma sessão ordinária do partido em breve.

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