Meu nome completo é Sara Kathryn, mas ele nunca significou muito para mim. Eu o recebi em homenagem a minhas bisavós, rostos em preto e branco que eu havia visto em fotos, mas cujas histórias eu não conhecia. Além de seus nomes, eu não sabia quase nada sobre a bisavó Sarah e a bisavó Katie, nem mesmo a respeito da sua origem.
Quando, ainda criança e recebia na escola a tarefa de traçar a minha árvore genealógica, sempre encontrava dificuldades. “De onde nós somos?” Eu perguntava aos meus avós maternos.
Meu avô, um dentista jovial que gostava de piadas bregas e gravatas de cowboy, costumava ser muito alegre, mas ao ouvir esta pergunta, endurecia: “Nós somos judeus,” ele respondia. Todas as vezes.
“Mas vovô,” eu insistia, “Isso não é um lugar. De onde nós viemos?”
Apesar dos meus protestos, ele nunca me deu outra resposta. Eu tinha que me contentar com aquela.
Ainda assim, eu queria saber mais sobre o histórico da minha família e as histórias das nossas raízes. Nunca imaginei que meus avós estivessem guardando segredos; eu simplesmente pensava que eles não conseguiam me contar sobre o histórico da nossa família porque não sabiam a verdade.
Com a morte dos meus avós, temi que a oportunidade de descobrir a nossa história tivesse se perdido para sempre – mas a vida costuma encontrar uma forma de revelar seus segredos quando você mais precisa deles.
Ao vasculhar as posses da minha avó após o seu funeral, meu tio fez uma descoberta: em um arquivo de documentos antigos, ele encontrou cópias das certidões de nascimento dos meus avós, com os nomes completos dos seus pais – incluindo a mãe do meu avô.
Todos nós sabíamos que a bisavó Katie havia emigrado de algum lugar da antiga União Soviética, mas isso era tudo que sabíamos. Ela não falava muito inglês, e ninguém, incluindo meu avô, sabia seu nome de solteira. Mas ali, em um pedaço de papel amarelado escondido em uma gaveta durante todos esses anos, estava seu nome completo: Katie Roskin.
Ocupação: Dona de casa
Local de nascimento: Rússia
A minha família se sentou em um silêncio surpreendente. Descobrir o sobrenome da bisavó Katie era como ter encontrado a peça inicial de um quebra-cabeça que nós sabíamos que jamais iríamos resolver. Eu tirei fotos das certidões de nascimento e voltei para casa e para o Google, buscando registros de imigração que pudessem indicar quando Katie e seu marido Joe chegaram ao país – ou, mais importante do que isso, deonde eles haviam vindo.
Infelizmente não tive sorte – mas rapidamente, em um ato de coincidência ou bênção, outro segredo se revelou. Uma semana após a morte da minha bisavó, um primo distante entrou em contato conosco para dizer que estava traçando a genealogia da nossa família como parte da sua tese de mestrado.
Esse primo havia traduzido uma carta escrita para a bisavó Katie por sua mãe, em 1935; até então, ela estava com um parente que não conseguia lê-la. A carta traduzida revelou muitos detalhes da vida de Katie. Ela contou que antes de emigrar seu sobrenome era Suraksi, e não Roskin. Ela contou que sua mãe, Chana, viveu na pobreza em uma pequena cidade polonesa chamada Knyszyn. Continha também nomes de outros parentes e revelou que antes da guerra o irmão de Katie havia imigrado para a Argentina.
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