sábado, 20 de fevereiro de 2016

Após a morte dos meus avós, descobri um trágico segredo de família

Meu nome completo é Sara Kathryn, mas ele nunca significou muito para mim. Eu o recebi em homenagem a minhas bisavós, rostos em preto e branco que eu havia visto em fotos, mas cujas histórias eu não conhecia. Além de seus nomes, eu não sabia quase nada sobre a bisavó Sarah e a bisavó Katie, nem mesmo a respeito da sua origem.
Quando, ainda criança e recebia na escola a tarefa de traçar a minha árvore genealógica, sempre encontrava dificuldades. “De onde nós somos?” Eu perguntava aos meus avós maternos.
Meu avô, um dentista jovial que gostava de piadas bregas e gravatas de cowboy, costumava ser muito alegre, mas ao ouvir esta pergunta, endurecia: “Nós somos judeus,” ele respondia. Todas as vezes.
“Mas vovô,” eu insistia, “Isso não é um lugar. De onde nós viemos?”
Apesar dos meus protestos, ele nunca me deu outra resposta. Eu tinha que me contentar com aquela.
Ainda assim, eu queria saber mais sobre o histórico da minha família e as histórias das nossas raízes. Nunca imaginei que meus avós estivessem guardando segredos; eu simplesmente pensava que eles não conseguiam me contar sobre o histórico da nossa família porque não sabiam a verdade.
Com a morte dos meus avós, temi que a oportunidade de descobrir a nossa história tivesse se perdido para sempre – mas a vida costuma encontrar uma forma de revelar seus segredos quando você mais precisa deles.
Ao vasculhar as posses da minha avó após o seu funeral, meu tio fez uma descoberta: em um arquivo de documentos antigos, ele encontrou cópias das certidões de nascimento dos meus avós, com os nomes completos dos seus pais – incluindo a mãe do meu avô.
Todos nós sabíamos que a bisavó Katie havia emigrado de algum lugar da antiga União Soviética, mas isso era tudo que sabíamos. Ela não falava muito inglês, e ninguém, incluindo meu avô, sabia seu nome de solteira. Mas ali, em um pedaço de papel amarelado escondido em uma gaveta durante todos esses anos, estava seu nome completo: Katie Roskin.
Ocupação: Dona de casa
Local de nascimento: Rússia
A minha família se sentou em um silêncio surpreendente. Descobrir o sobrenome da bisavó Katie era como ter encontrado a peça inicial de um quebra-cabeça que nós sabíamos que jamais iríamos resolver. Eu tirei fotos das certidões de nascimento e voltei para casa e para o Google, buscando registros de imigração que pudessem indicar quando Katie e seu marido Joe chegaram ao país – ou, mais importante do que isso, deonde eles haviam vindo.
Infelizmente não tive sorte – mas rapidamente, em um ato de coincidência ou bênção, outro segredo se revelou. Uma semana após a morte da minha bisavó, um primo distante entrou em contato conosco para dizer que estava traçando a genealogia da nossa família como parte da sua tese de mestrado.
Esse primo havia traduzido uma carta escrita para a bisavó Katie por sua mãe, em 1935; até então, ela estava com um parente que não conseguia lê-la. A carta traduzida revelou muitos detalhes da vida de Katie. Ela contou que antes de emigrar seu sobrenome era Suraksi, e não Roskin. Ela contou que sua mãe, Chana, viveu na pobreza em uma pequena cidade polonesa chamada Knyszyn. Continha também nomes de outros parentes e revelou que antes da guerra o irmão de Katie havia imigrado para a Argentina.
E embora não tenha dito isso, implicitamente a carta contou que nossa família compartilhava o trágico histórico com o qual tantos judeus podem se relacionar: Chana e sua família, exceto Katie e seu irmão, provavelmente haviam morrido durante o Holocausto.
Um e-mail posterior enviado pelo primo recém-descoberto contou que ele havia falado com o sobrinho de Katie, hoje com 82 anos e vivendo em Buenos Aires, que confirmou que o resto da família estava entre os 2 mil judeus assassinados em Knyszyn.
Como uma judia norte-americana sem conhecimento em relação aos meus ancestrais, eu sempre me senti um passo distante do Holocausto. Eu conhecia a dor e a tristeza de ser descendente de pessoas que foram alvo de genocídio, e sem nenhum familiar conhecido, andei pelo Museu do Holocausto com lágrimas nos olhos. Eu sofri por aqueles que não deixaram ninguém para trás para lembrá-los. Entretanto, em alguns momentos, eu me sentia culpada pelo meu pesar: quem sou eu para sentir tanta tristeza se não tenho conexões pessoais?
Agora eu sei. A minha família também morreu no Holocausto. Entre aqueles rostos sem nome e aqueles números não identificados estavam meus parentes, cujo sangue eu carrego.
Isso não me mudou. Continuo conectada a todos aqueles que foram assassinados e continuo a sentir que sou parte da sua família também. Ter uma conexão individual com o Holocausto não me torna mais judia – e por outro lado, eu me sinto mais completa sabendo os detalhes do histórico da minha família, independentemente do quão horrível ele possa ser. Agora, quando eu ando pelo Museu do Holocausto ou assisto a filmes como “A Lista de Schindler”, sei conclusivamente que a minha própria carne e o meu próprio sangue também morreram lá. Esta história não é apenas teórica; é pessoal.
O meu pai faleceu quando eu era jovem, então não tenho conhecimento nenhum a respeito da sua família. Por isso, estas descobertas sobre a família da minha mãe foram o único pedaço de histórico familiar que consegui desvendar, o que o tornou ainda mais importante para mim.
Provavelmente nunca irei saber mais sobre a minha família, mas estes pedaços são suficientes para mim. O meu nome nunca havia significado muito – até agora. Eu espero ser digna de carregar os nomes das minhas bisavós e dar continuidade às suas linhagens.
Woman’s Day
Por Kate Bigam

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