Saturday, January 2, 2016

País está interessado em receber o museu africano da escravatura

24-02-2006


Moçambique está interessado em abrir no seu território um museu dedicado à escravatura criado em colaboração com outros países africanos, disse hoje em Paris a historiadora moçambicana Benigna Zimba.
O anúncio foi hoje avançado durante uma conferência de imprensa na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no final da primeira reunião do novo comité científico para a "Rota da escravatura", a que pertence Benigna Zimba.
"Queremos lançar um grande museu regional, instalado provavelmente em Moçambique ou na Tanzânia", acrescentou, indicando que vai começar em breve uma campanha de angariação de fundos.
Moçambique está empenhado em trazer este museu para o país, de forma a "dar um ênfase aos países lusófonos, porque até agora tem sido dado destaque aos países africanos anglófonos e francófonos", disse a historiadora à Agência Lusa.
Alguns dos locais possíveis para a sua instalação são a província de Inhambane, a Ilha de Moçambique ou Cabo Delgado, acrescentou Benigna Zimba, apesar de o projecto estar ainda num estado muito embrionário.
"Isto ainda vai demorar algum tempo, mas talvez em 2007 já haja algo de concreto", declarou a professora na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
O museu, que pretende ser "muito interactivo" terá em exposição "cartas de pessoas sobre o comércio de escravos, fotografias, vários objectos e filmes com testemunhos de familiares de antigos escravos", exemplificou.
Este espaço deverá centrar-se na divulgação de locais e rotas menos conhecidas do comércio de escravos, principalmente no Oceano Índico, e reunir obras literárias ligadas ao tema, acrescentou.
Por outro lado, lamentou que a criação do referido museu preencha um espaço deixado vazio pelo Museu da Escravatura em Angola, que "por motivos financeiros não se desenvolveu" e hoje "não tem a dinâmica desejável", A ideia de criar um museu na região sudeste do continente africano surge no seguimento de um projecto lançado em 2001, no âmbito da campanha sobre a escravatura lançada em 1994 pela UNESCO.
Este projecto deu origem a um livro, lançado no final de 2005 em língua inglesa, intitulado "Slaves Routes and Oral Tradition in Southeastern Africa", que reúne artigos de vários autores.
"Estamos a fazer um esforço para o traduzir para português e francês", disse a historiadora, organizadora da obra, em conjunto com Edward Alpern e Allen Isaacman.
Apesar da campanha sobre a escravatura ter culminado na comemoração, em 1994, do Ano Internacional da Luta contra a escravatura e a sua abolição, a UNESCO pretende agora "reactivar o comité científico e torná-lo mais operacional", explicou o director- geral, Koichiro Matsuura, na quarta-feira, na abertura da reunião.
Matsuura defendeu a necessidade de recordar o comércio de escravos e a escravatura pois "esta tragédia continua no centro das questões polémicas actuais", nomeadamente no que respeita à construção de identidades nacionais e novas cidadanias.
Durante a conferência de imprensa, os membros do comité comprometeram-se a impulsionar o estudo da escravatura e divulgá-lo junto das novas gerações, não só nos países onde ela existiu, como nos países ocidentais.
Criticando a "História estabelecida e estratificada" que é estudada na Europa, o francês Jean-Michel Deveau lamentou a ignorância que se mantém sobre outras culturas.
"Queremos quebrar o muro de silêncio", sublinhou.
O comité científico internacional sobre a Rota da Escravatura é composto por 20 académicos e especialistas de diferentes regiões do Mundo, entre os quais se encontra a portuguesa Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 24.02.2006

Adelino Chitofo Gwambe

Canal de Opinião por Luís Nhachote

Um desafio para os historiadores 

Na contramão da(s) verdade(s) que se instala(m), livros e/ou documentos tem a virtude sublime de resgatar das trevas da história – ainda que da idade moderna, ou pós-modernista – elementos escurecidos que podem servir como ponto de partida para a compreensão da maneira como se constrói essa mesma História que alguns dos seus protagonistas contam quase como que a seu bel-prazer além de a pretenderem eterna. É como se vai dizendo: “a história é escrita pelos vencedores”...
Entretanto vivem-se anos, décadas, e em alguns casos séculos, debaixo de mentiras, as tais que nem sempre têm pernas curtas.
“Se não sabes de onde vens, não sabes para onde vais” reza um velho adágio que pode servir de peça chave para os historiadores e/ou pretendentes, sobre a ímpar figura do moçambicano Adelino Chitofo Gwambe.
Era um jovem que aos 20 anos de idade, funda o primeiro movimento nacionalista moçambicano (UDENAMO-União Nacional Democrática de Moçambique) que já em 1960 apontava o caminho da libertação nacional com recurso à luta armada.

A «UDENAMO» antecedera assim à criação que viria a acontecer só em Junho de 1962, da Frente de Libertação de Moçambique. E antecipou-se 4 anos à proclamação da insurreição armada que os “sobreviventes da Frente de Libertação de Moçambique” só em Setembro de 1964 viriam a perceber que era o único caminho a seguir para convencer o governo colonial a ceder aos desejos de emancipação dos moçambicanos.
Será que Adelino Chitofo Gwambe não cabe nos manuais da história? Num país que se pretende virado para a reconciliação, rumo a um futuro isento de máculas do passado, por que razão não se reconhece essa ímpar figura? Será apenas porque não fazia parte do grupo dos auto-proclamados heróis nacionais?
Será apenas porque o nome de Adelino Gwambe não cativa os detentores das ferramentas da história? Ou é antes eles estarem militantemente inibidos de o fazer, pelas benesses de que necessitam e usufruem? Será que toda uma sociedade pode continuar a acreditar em historiadores viciados no vício da sobrevivência? Conhecerão eles toda as vertentes da História para que nos apresentem uma versão incompleta como o tempo vem provando que é? Não se apercebem disso? Como assim (?) se já todos perceberam...
Dos documentos disponíveis, o então jovem Gwambe é mesmo a primeira referência do movimento de libertação nacional. Nem ele nem Mondlane terminaram a história que começaram. Mas Guwambe começou primeiro a fazer essa história. Ele tinha os ideais bem definidos, sobre aquilo que viria a ser a realização das suas aspirações. Foi apelidado de traidor por defender um caminho com que os seus confrades da primeira hora do movimento de libertação nacional se diziam em desacordo. Mas os seus detractores acabaram, quatro anos mais tarde, por seguir as suas teses.

A via armada, como, aliás, bem teorizara, Franz Fanon sobre a descolonização como um processo violento, era já a tese dos que depois foram por aí e sempre esconderam aos moçambicanos a figura de Gwambe.
Deambula entre nós, ainda, o histórico Marcelino dos Santos, que à altura da formação do primeiro movimento de libertação nacional, a UDENAMO, tinha 36 anos. Foge à verdade, chegando mesmo a ameaçar com a violência, sempre que se fala do seu ex-chefe Adelino Gwambe que, tal como Uria Simango, viriam a ser abatidos extra-judicialmente naquilo que começa a ser tido pelos cidadãos deste País como um crime de Estado.
Uria Simango – qual outro eliminado – tal como dos Santos foi também subordinado desse cérebro moçambicano jovem que um dia teve a ousadia de chefiar “os mais velhos”.
Metendo a mão na consciência, Joaquim Chissano já reconheceu, por via de uma comunicação, que foi graças às conexões com Gwambe e de Gwambe, que ele próprio chegou pela primeira vez a Dar-Es-Salam, na Páscoa de 1962, ido de Paris.
Será que Marcelino dos Santos não é capaz de meter também a mão na consciência, deixar-se de ameaçar jornalistas e envergonhar o seu partido, e em nome da reconciliação com a própria história, decidir-se finalmente a contar – ainda que em memórias – as peripécias e o papel do seu primeiro chefe pela causa nacional?
Gwambe, que por Eduardo Mondlane e outros dos seus detractores ainda vivos neste «mundo cão», foi rotulado de “miúdo” e “aventureiro”, é, primeiro, pela idade que tinha, um “estudo de caso” para os historiadores deste país. Só assim os meninos de hoje poderão soletrar amanhã, as verdades.

Em nome da reconciliação com a História.
Armando Guebuza diz que não é juiz, para a atribuição do título de heroicidade a Gwambe, Feliciano Gundana não sabe se ele deve sê-lo,...e blá, blá, blá, enfim... o blá dos critérios.
Com este desafio de resgatar os feitos de Gwambe, os historiadores, iluminariam os sinuosos caminhos da génese da criação da Frelimo, que dados indicam que terá sido anunciada por Gwambe em Acra, Gana, antes de Mondlane e seus discípulos.
De facto, tal como sentenciara Henry Lefevre, num dia registado do século passado, a “história é uma sequência de factos sem encadeamento”.
Os “dois” lugares da morte de Mondlane espelham isso, embora qualquer homem só possa ter um lugar para morrer.
Estão preparados para o desafio caros historiadores?
A verdade dói, mas liberta. Não sei onde já li Isso!?(x)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 24.02.2006

21-02-2006

A verdade ainda poderá ser contada

Sobre o verdadeiro local da morte de Mondlane 

( Maputo) As autoridades da Educação aventam a hipótese de corrigir o local da morte de Eduardo Mondlane nos manuais de história, apurou o «Canal de Moçambique» junto do director do InstitutoNacional de Desenvolvimento Escaolar (INDE). Joaquim Chissano, ex-presidente da Frelimo e da República de Moçambique, Janet Mondlane, viúva do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique e Feliciano Gundana, actual ministro dos Assuntos dos Antigos Combatentes e também ele proeminente figura da luta de libertação nacional, todos eles confirmaram ao «Canal de Moçambique» que Eduardo Chivambo Mondlane não morreu no seu escritório em Dar-es-Salaam mas em casa da americana Betty King que era secretária de sua mulher.
O director do Instituto Nacional do Desenvolvimento de Educação (INDE), Abel Assis, organismo do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que tem por vocação elaborar os curricula escolares, disse ao «Canal de Moçambique» que não está posta de parte a hipótese de nos novos manuais de História, do ensino secundário, a vigorarem a partir de 2008, vir a “estar detalhado” o verdadeiro local da morte de Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique.
No entanto, o director do I.N.D.E., relativamente à supressão da inverdade relativa à morte de Mondlane que até hoje consta dos livros das 4.ª e 5.ª classes do ensino básico, foi evasivo. Isto porque, os livros deste grau de ensino, terem sido recentemente revistos e estarem a ser ainda distribuídos gradualmente, não se sabendo quando voltarão a sê-lo.
Apesar desse contratempo Assis adiantou que talvez venha a ser julgado improcedente o argumento de que a história está a ser ensinada de forma falsa aos alunos do ensino básico. Ainda vai carecer de discussão se será pertinente a correcção ou não, alega Abel Assis.
“Temos que nos perguntar até que ponto isso é relevante para alunos do ensino primário”, concluiu o director do INDE. Os actuais manuais escolares referem, evasivamente, que Mondlane morreu nos escritórios da então Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) em Dar-es-Salam, na Tanzânia em 3 de Fevereiro de 1969. Na verdade Mondlane não morreu naqueles escritórios, nem em qualquer outro escritório pois que, tanto quanto se sabe, o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane nunca teve um segundo escritório seja em que bar fosse.
O que se passou de facto foi que ele acabou sendo vítima de uma cabala numa casa/residencial/bar, particular, onde gostava de passar os seus momentos de lazer e era propriedade de uma senhora amiga da família, de nacionalidade americana e por sinal até secretária da viúva do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, Janet Mondlane.
A casa de Betty King, onde se deu o tragédia, situava-se em Oyster Bay (Baía das Ostras) também em Dar-es-Salam. Até hoje ainda não houve uma explicação pública por parte de quem de direito sobre os objectivos que nortearam os mentores da “mentira” que foi sendo propalada aos quatro ventos a ponto de constar nos curricula ao longo dos últimos anos no país. Pertinente ou não, o certo é que entre os escritórios da Frelimo em Dar-es-Salam e a casa de Betty King vai uma grande distância.
Celso Manguana - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 21.02.2006
NOTA:
Na realidade o local do incidente até poderá parecer irrelevante. Mas alguém lhe levou a correspondência. Quem? Os responsáveis da segurança não tinham a obrigação de verificar o correio que era dirigido a Mondlane? Quem não verificou? Sendo que até era um volume mais volumoso, que uma simples carta, não obrigava a cuidados redobrados? Na casa de Betty King só estava um empregado. Seria normal à hora em que se deu o incidente só estar um empregado? Quem contou a história que se tornou "oficial"? Há muito por esclarecer e quem o pode fazer ainda está vivo. Porque espera?
Fernando Gil

Quando os “Outros” também clamam pelos seus “Gwaza-Muthini”

por Noé Nhantumbo

Pelo que ouvi e observei, os moçambicanos estão aprendendo rapidamente a reclamar quando algo lhes parece menos justo. É por exemplo o facto de só se comemorarem e terem relevo na comunicação social pública datas e factos relativos aos heróis da luta anti-colonial de individualidades de uma maneira ou de outra afins ao «Império de Gaza». Após mais um Gwaza-Muthini não foram poucas as vozes discordantes que se fizeram ouvir na Beira sobre tal facto. As pessoas não discutem o mérito de Gungunhana ou de outro interveniente famoso na luta contra a invasão colonial, mas, sim, a exclusão dos outros moçambicanos do Centro e do Norte daquilo que é hoje Moçambique.
A unidade nacional e o sentido de Nação constroem-se com respeito pelos outros e isso se faz também dando proeminência àquilo que é dos outros. Unidade na diversidade é isso e não simplesmente palavras vãs pronunciadas quando convém a certas figuras.
As outras pessoas, ao mais uma vez serem confrontadas e praticamente obrigadas a engolirem o “sapo” de «Gwaza-Muthini», sem se importarem do que seus partidos digam, estão, à boca cheia, clamando por verem seus heróis, como Makombe, Kamba Simango e outros, também inscritos e celebrados com o mesmo peso que os do «Império de Gaza» o são. Foi e é interessante verificar que a moçambicanidade é construída no dia-a-dia pelos moçambicanos, conversando, discutindo, confrontando-se muitas vezes fora dos mecanismos partidários. O que de útil está acontecendo entre os actores, acontece fora das estruturas partidárias asfixiantes. Para todos os que querem ver Moçambique acontecendo no dia-a-dia é deveras interessante observar que os moçambicanos conseguem consumir artigos provenientes de fora dos quadrantes ou parâmetros partidários. E esta dos heróis anti-coloniais já tardava a aparecer.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 21.02.2006

Fórum provincial debate perfil de herói nacional

A Escola Nacional de Aeronáutica de Maputo acolhe, dia 23 do mês em curso, o fórum provincial para o debate do perfil de herói nacional.
O encontro será dirigido pela governadora da cidade, Rosa da Silva, e estarão presentes os membros da comissão executiva central encarregues de auscultar diversas sensibilidades sobre a matéria e representantes de diferentes sectores sociais.
A realização do fórum provincial é o culminar de um trabalho levado a cabo por diferentes brigadas da comissão executiva destacada para a cidade de Maputo, chefiada pelo director da educação e cultura, Dinis Mungói, junto de diversas sensibilidades, entre elas estudantes, confissões religiosas, partidos políticos e funcionários do Aparelho do Estado.
Ontem, a reportagem do `Notícias´ testemunhou o debate sobre o perfil de herói nacional na Escola Secundária da Polana.
A síntese apresentada na ocasião define um herói como sendo aquele que se revela pelos seus feitos gloriosos em várias áreas e em prol do país. Os participantes defenderam que só deve ser consagrado herói um indivíduo depois de morto que tenha reunido alguns requisitos definidos por uma legislação.
Foram consideradas duas categorias de heróis, nomeadamente local e nacional. Um herói nacional, segundo os participantes do debate, deve ser depositado na cripta. Um indivíduo que se destaca a nível local pelos seus feitos em prol da sua comunidade ou dum determinado grupo ou organização pode ser distinguido ou agraciado com uma medalha ou menção honrosa.
Uma vez titularizado herói nacional depois de morto, os familiares do indivíduo devem beneficiar de apoios do Estado.
NOTÍCIAS - 21.02.2006

20-02-2006

Mbuzini mexe com África do Sul

20 anos depois de Moçambique se preocupar
O «Sunday Independent», semanário da Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo, no início da década de 90”.
“Esta seria uma prova concludente do envolvimento do apartheid no caso” – sugere jornal.
(Maputo) Uma sondagem levada a cabo pela «News24», um serviço de notícias da África do Sul, revelou que 65% de um total de 1,500 pessoas inquiridas, opõe-se à reabertura do «dossier-Mbuzini» referente à tragédia que vitimou o fundador da primeira República em Moçambique. A sondagem foi efectuada na sequência das declarações feitas pelo presidente Thabo Mbeki, da África do Sul, segundo as quais o seu governo tenciona “desvendar o mistério” por detrás da morte de Samora. Para os inquiridos, “em vez de realizar o inquérito à morte do Presidente Machel, o governo devia solucionar os crimes ainda por resolver no nosso próprio país.” Apenas 6% dos inquiridos pela «News24» concordou que se devia reabrir o inquérito.
Nas investigações já efectuadas pela África do Sul, como Estado de ocorrência do desastre em que morreu Samora Machel, a tripulação do Tupolev presidencial foi responsabilizada pela ocorrência.
A imprensa sul-africana tem dado destaque ao anúncio feito pelo presidente Mbeki no início do corrente mês. O «Sunday Independent», semanário publicado na Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo no início da década de 90.”
“Esta seria uma prova concludente” – sugere o «Sunday Independent» – “do envolvimento do apartheid no caso”.
Só mecânico sobreviveu
Dados confirmados na altura do acidente, no entanto, referem que tanto os pilotos como o navegador do Tupolev presidencial pereceram. A tripulação soviética era composta de cinco membros. Apenas o mecânico de bordo, Vladimir Novoselov, sobreviveu.
O mesmo jornal afirma que “novos dados sugerem que agentes sul-africanos encontravam-se em Matsapha a proceder à instalação e testes de uma nova estação emissora VOR na noite em que ocorreu o desastre”.
Tanto Moçambique como a União Soviética, note-se, rejeitaram a hipótese do VOR de Matsapha ter estado na origem da volta prematura que o Tupolev transportanto Machel e a sua comitiva efectuou antes de colidir contra os Montes Libombos na região de Mbuzini, próximo da Namaacha. Num parecer apresentado à comissão de inquérito sul-africana, Moçambique alegou que o trajecto seguido pelo Tupolev presidencial não coincidia com o radial emitido pelo VOR de Matsapha. Já a União Soviética argumentou que o Tupolev não poderia ter sido capaz de interceptar tal sinal devido a obstruções causadas pela montanha de Bembegazi que faz parte da cadeia dos Libombos.
Desconhecem-se pormenores sobre a composição da nova comissão de inquérito ou se a mesma irá conduzir os seus trabalhos à porta-fechada, à semelhança do que aconteceu com as sessões da Comissão da Verdade e Renconciliação Nacional perante a qual depôs a ex-primeira dama moçambicana, Graça Machel.
É de prever que o antigo ministro da segurança de Moçambique, Sérgio Vieira, venha a ser convocado a prestar declarações perante a nova comissão de inquérito sul-africana para esclarecer a alegação por ele feita repetidas vezes de que os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra estavam em posse de informações de que o antigo regime do apartheid fora o responsável pelo desastre de Mbuzini. Segundo Vieira – actual director-geral do GPZ e tido por algumas sensibilidades como o futuro PCA da HCB – tanto os Estados Unidos como a Inglaterra preferiram não vir a público com uma revelação desse teor pois uma tal postura ser-lhes-ia favorável às disputas que mantinham com o bloco soviético no âmbito da chamada «Guerra Fria».
Numa edição recente, o «África Monitor» afirmou que a versão que apresenta o acidente como tendo sido resultado de uma conspiração “nunca mereceu aceitação da CIA ou do SIS (britânico).” Aquela publicação editada a partir de Lisboa por um analista de referência sobre assuntos relacionados com países africanos de língua oficial portuguesa, Xavier de Figueiredo, refere que “quanto às suspeitas de que a África do Sul através de sofisticados sistemas de intercepção, teria provocado interferências nos sistemas de comunicação do avião, dando-lhe uma rota errada, a análise da CIA é a de que Pretória não só não tinha nenhum interesse na queda do avião (nele viajavam alguns dos seus melhores interlocutores moçambicanos, como Fernando Honwana, Aquino de Bragança e até o próprio Samora Machel), como, em tal caso, evitaria sempre que o avião caísse no seu território.” (Redacção)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.02.2006

18-02-2006

Lançamento do livro 'Cabora Bassa - A Última Epopeia'

Palácio de Belém é «um espaço menor» para a «homenagem que tarda» aos heróis
Na zona exposicional do Café Santa Cruz - paredes-meias com a igreja onde está sepultado o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques - foi lançado na noite de quinta-feira passada o último livro do jornalista A. Santos Martins - 'Cabora Bassa - A Última Epopeia'.
Apresentou o livro o também historiador e vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. Mário Nunes, que fez o elogio do autor e confessou aos presentes ter-se interessado tão vivamente pela obra que a leu «de um só fôlego».
Para Mário Nunes, o trabalho daquele autor conimbricense desperta o que de melhor há no orgulho patriótico português, sublinhando que ficou bem vincado no livro que, mesmo no período anterior à descolonização de 1975, como aconteceu na região do Zambeze moçambicano, os Portugueses escreveram em África epopeias que não desmereceram das dos séculos das Descobertas e da Expansão.
De acordo com o autor, também este seu livro - fruto de quase quarenta anos de investigação histórica e de 'memórias' que trouxe do Vale do Zambeze, onde fez Jornalismo antes, durante e até à conclusão daquela que é uma das maiores barragens hidroeléctricas do mundo -, foi escrito «quase de um só fôlego», depois de o actual Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, ter visitado Portugal no início de Novembro de 2005 e o Governo de Lisboa assinar um protocolo para a entrega «ao desbarato» da posição portuguesa na «Hidroeléctrica de Cahora Bassa».
O lançamento do livro aconteceu precisamente no dia em que o Conselho de Ministros tomou decisões sobre as privatizações a fazer em 2006 e 2007 - e o autor sublinhou que metade do «perdão» do Governo de José Sócrates a Moçambique, no caso daquela monumental barragem, daria para evitar as privatizações a fazer na EDP, na Galp-Energia e na REN (Rede Eléctrica Nacional).
«Se o perdão servir apenas o Povo Moçambicano, tudo bem, mas se for para engordar a Geocapital de Stanley Ho e Almeida Santos ou outros grupos capitalistas internacionais, então... tudo mal» - disse o autor de 'Cabora Bassa - A Última Epopeia, antes de referir que a HCB começou a gerar lucros de exploração em 2004, depois de muitos anos de exigências aos contribuintes portugueses (fala-se em 15 milhões de euros por ano), devido à longa e sangrenta guerra civil (Renamo-Frelimo) que se travou no território após a entrega de Moçambique ao movimento guerrilheiro liderado por Samora Machel.
O autor lembrou também que o Vale do Zambeze moçambicano («onde Portugal cabe várias vezes»), foi o território ultramarino onde os portugueses penetraram mais profundamente, logo a partir do início do século XVI.
«O habitual era instalarem-se feitorias fortificadas junto ao Índico, como aconteceu em Sofala e na Ilha de Moçambique. Mas logo nos primódios do século XVI os portugueses subiram o rio Zambeze até 800 quilómetros da costa, erguendo povoações, igrejas, organizando feiras para o comércio. Sena, Tete, Chicoa e o Zumbo são testemunhos da coragem dos nossos sertanejos e missionários. Mas também nos derramámos, naquele século, pelo território que é hoje o Zimbabwe».
Santos Martins, depois de lembrar que há cem anos (1905), «o nosso almirante Gago Coutinho» foi o primeiro europeu a subir à montanha do Kassongo (onde se desenvolveu Cabora Bassa)», não foi «nada meigo» com o britânico David Livingston.
«Livingston foi, sem dúvida, um grande explorador na segunda metade do século XIX. Mas também um grande mentiroso, pois chamou a si descobertas que os Portugueses haviam feito... 300 anos antes»!
Depois de referir que Cabora Bassa foi erguida no meio de um território fortemente afectado pela subversão armada da Frelimo - «que para ali orientou todo o seu esforço de guerra» -, ainda assim a majestosa barragem foi erguida, até lá chegaram todos os grandes equipamentos para a sua central hidroeléctrica e «o enchimento do seu imenso lago artificial, com quase 300 quilómetros de extensão, começou na data prevista e sem qualquer interrupção».
Para que isso acontecesse, houve um «esforço sublime de milhares de civis e militares», muitos dos quais morreram ou ficaram estropiados «para que se consumasse a última epopeia dos portugueses em África».
Para o autor, o Palácio de Belém é «espaço menor» para «a condecoração que tarda». Se o novo Presidente da República decidir homenagear aqueles heróis anónimos, «pois que o faça no anfiteatro que existe no Monumento das Descobertas e da Expansão, junto à Torre de Belém».

17-02-2006

Gaza não é berço da resistência anti-portuguesa

Mais um “iceberg” da falsidade que é a história de Moçambique:
A batalha de Coolela, ou seja, de Gwaza Muthine, é tida como a mais emblemática e arrojada dos moçambicanos contra a dominação portuguesa, conforme o relevo que anualmente o Governo lhe tem conferido. Procurando entretecer as várias linhas e iluminando-as às zonas de penumbra, o Púnguè apurou que à escolha sobrepõe-se razões puramente tribais.
“O nacionalismo ( chamemos – lhe antes proto- nacionalismo ) brotou no Centro e Norte, antes do Sul.
Nunca vi esta tese defendida pelas oficinas de História oficiais”, segundo uma entrevista do falecido escritor moçambicano, Aníbal Aleluia, ao também escritor nacional Nelson Saúte, a qual consta no livro “Os Habitantes da Memória” (de Saúte).
Segundo Aleluia, esse escritor culto, “o berço da resistência antiportuguesa não é Gaza, como se convencionou oficialmente por razões que me parecem tribais, mas Angoche onde desde do tempo de Mogossurima, no século XVII, até ao sultanado de Farley, já no limiar deste século, os sultões cotis, de origem quiloana, puseram-se à Cruz”.
A personagem central é Mu bin- aufo- Suahib, Namuli de seu nome de guerra. Um Mcóti para as gentes da praia, o Mussa, conforme Aleluia.
“Muçá derrotado pelos Macololos e pelos Vaz – dos –Anjos aliados a muzungos Mpassue (João Bonifácio Alves da Silva), no regresso do noroeste saqueia aringas do Errive e Bajone do prazo do João Bonifácio, arrasando tudo. O Prazeiro, seis anos depois invade Angoche e encontra a morte durante a travessia da vau de Quíloa, mas Mussa perde a batalha”, disse Aleluia.
O comandante do exército Magangeiro, Mateus o Grande, aprisiona a esposa, quatro filhos e a irmã caçula do sultão e leva-os para a Ilha de Moçambique , cujo o governador os vende aos esclavagistas das ilhas indicas.
Há ainda, de acordo com os escriba de “M’belele e Outros Contos”, o facto de Muçáter ter aprisionado a guarnição portuguesa de Parapato para fazer reféns a fim de resgatar a família por ter confiado os prisioneiros aos filhos que, no entanto, os manda executar na ausência do pai o qual, ao regressar dando se conta da atitude do jovem submete-o julgamento que condena-o à pena capital “por desobediência”. Mas há mais incidentes.
Ele sustentou que “Muçá foi a principal barreira contra a ocupação da Macuana pelos portugueses, a única força que deteve e reteve no Ibo e na Ilha de Moçambique durante muitos anos”.
Sobre Gungunhana, há testemunhos que duvidam da sua estatura e heroísmo. Por exemplo, Raúl Bernardo Manuel Honwana, escreve que o rei vatswa tinha três mil soldados quando o aprisionaram em 1895.
Honwana regista a indiferença dos populares à sua detenção: “vai-te embora, seu abutre, que dizimavas as nossas galinhas”.
Enquanto oficialmente Gungunhana é tomado por herói, populares há que o repudiam, como atestaram há alguns anos as cenas de vandalismo ao lugar onde foi erguido um monumento seu em Marracuene, esse várias vezes apeado.
“Do mesmo modo se questiona que o nomeiem herói quando se sabe que este celebrou um acordo com os portugueses, ao qual Portugal lhe pagava dinheiro como militar do seu exército. Assim, se Gungunhana é herói, então Matsangaísse que teve sua retaguarda na Rodésia de Ian Smith há-de sê-lo também. De contrário, é tribalice”, conforme análise de um cidadão identificado por José Félix, professor primário numa escola algures na Beira.
“Numa relação de causa e efeito Matsangaísse seria herói mais por mérito próprio do que por conveniência ideológica ou tribal. Como se vê, a história acabou por atribuí-lo a devida razão, isto é, a Frelimo sujeitou-se a sentar com a Renamo à mesa das conversações que culminaram com o AGP em 1992”, palavras de Félix.
Conforme a nossa fonte, o Governo da Frelimo sonega a “Revolta do Báruè, que quanto a mim, é a mais relevante na fase derradeira de ocupação portuguesa a Moçambique”. (Redacção)
PUNGUÈ – 16.02.2006
NOTA:
Rebuscando a História do que é hoje Moçambique, verificamos que nenhuma revolta ou confrontação com os portugueses foi por Moçambique. Todos lutavam pelos seus interesses e pelo seu canto. Inclusive Gungunhana, este abertamente apoiado pela Inglaterra. Ainda não vi nenhum historiador, especialmente moçambicano, a colocar as consequências da vitória de Gungunhana sobre Mouzinho. Seria que hoje haveria Moçambique e se falasse o português? Aqui fica o desafio.
Fernando Gil

Nos alvores de um país novo

António Sopa
A recente publicação do álbum “Do Rovuma ao Maputo: A Marcha Triunfal de Samora Machel”, do tenente-coronel na reserva Raimundo Domingos Pachinuapa, celebra os 30 anos de independência moçambicana, homenageia o primeiro líder do país, Samora Moisés Machel, e, se se quiser, inaugura informalmente as celebrações que irão decorrer durante todo este ano, no âmbito do vigésimo aniversário da sua morte.
Há, após trinta anos de país independente, um claro défice de publicações sobre a “luta armada de libertação nacional” e os primeiros anos que se seguiram à proclamação da independência, em 25 de Junho de 1975. Há uma lacuna ainda mais grave de memórias dos próprios participantes que viveram esse período, apesar de promessas regularmente enunciadas e de projectos desenvolvidos em diversas instituições nacionais. O lançamento de livros, cujos autores tiveram uma participação relevante na saga independentista e na construção do projecto socialista, é, por isso mesmo, esperado com interesse e emoção pelo grande público, na perspectiva que novos dados e explicações sejam sugeridos, iluminando períodos ainda tão profundamente desconhecidos.
Assim, o livro do combatente, que viria posteriormente a ocupar importantes cargos governamentais no Moçambique independente, foi igualmente esperado com ansiedade. Mas aquilo que procurávamos encontrar ali, o que pensamos ser mais precioso, e que passa pelo registo pessoal do autor, a partir da vivência do acontecimento, pura e simplesmente não se encontra ainda nestas páginas. O leitor fica elucidado da sólida e profunda amizade que ligava Samora e Raimundo Pachinuapa, expressa na “nota pessoal” e em algumas das fotografias do livro, mas o que se segue é apenas a visão da imprensa da época, a partir de extractos publicados em obra antiga (“Datas e documentos da história da FRELIMO”, org. de João Reis e Armando Pedro Muiuane) e de imagens recolhidas nos diferentes arquivos do país.
Ora, o tenente-coronel Raimundo Pachinuapa foi um actor privilegiado da “viagem do Rovuma ao Maputo” e de muitas outras situações vividas no passado, não só pelo lugar que ocupava na estrutura do movimento independentista moçambicano mas até pelas relações de amizade que tinha com a liderança da FRELIMO, pelo que está em condições para fazer um relato diferente, mais pessoal, trazendo à superfície acontecimentos que possam ajudar a conhecer melhor a figura de Samora e a recepção do seu discurso nos vários cantos do país, em vésperas de alcançar a sua liberdade.
Parece-nos claro que a “viagem do Rovuma ao Maputo” serviu simultaneamente para mobilizar a população do país para os objectivos que se enunciavam e que se podem exprimir, de forma grosseira, na “sociedade nova”, sobretudo em áreas onde a influência da guerra libertadora não se tinha ainda feito sentir, ao mesmo tempo que uma parte da direcção da organização tinha um primeiro contacto directo com as populações, apesar das viagens regulares de informação do Primeiro-Ministro do então “Governo de Transição”, Joaquim Chissano, à Tanzânia. Mas é também uma “viagem” pelas emoções, de reencontros com pessoas (com o pai, Mandande Moisés Machel, por exemplo), rememorização de situações vividas e de tomada de decisões fundamentais (V Sessão do Comité Central, na praia do Tofo). Seria interessantíssimo saber dos preparativos da viagem, a despedida e o agradecimento à Tanzânia, a entrada em território nacional, a receptividade do discurso, já que sabemos que não foi o mesmo em todos os locais, os contactos com o povo miúdo e as personalidades locais, um interminável rol de grandes e pequenos acontecimentos, num hipotético diário a ser construído pelo autor.
Este comentário, que exprime a insatisfação dum leitor interessado, mais do que traduzir um desapontamento, serve igualmente para lançar um repto ao autor, que se traduz pela elaboração das suas próprias memórias pessoais, sabendo que elas terão uma importância excepcional para o conhecimento dos períodos referidos.
O livro é uma bonita peça bibliográfica, graficamente impecável, com um preço acessível.
Do Rovuma ao Maputo: A Marcha Triunfal de Samora Machel: Primeiro
Presidente de Moçambique
Raimundo Domingos Pachinuapa
Maputo, Edição do Autor, 2005, 63 p.
SAVANA – 17.02.2006

Distinção

Atalhe de Foice
Por Machado da Graça
Debate-se hoje no país a questão de saber quem deve ser considerado herói nacional.
Poder-se-ia perguntar se não há nada de mais importante para os moçambicanos debaterem, no nosso país empobrecido.
Mas a verdade é que, a propósito ou a despropósito, se debate quem é herói nacional.
Para definir tão complexa atribuição de título foi mesmo criada, pelo governo, uma comissão. Coisa séria.   A cobrar, decerto, mais uma fatia do bolo nacional.
Mas quais serão as razões deste súbito interesse por uma tal questão?
À primeira vista vejo duas:
A primeira é o número, cada vez mais reduzido, de gavetões no monumento da Praça dos Heróis.
Com o passar do tempo e o passar à história de quem vai morrendo, muitos andarão fazendo as contas ao número de gavetões ainda existentes e ao número de possíveis heróis, ainda vivos,  para tentar descobrir se ainda lhes sobra lugar para o repouso definitivo.  E as contas já devem ser bastante preocupantes para muitos, porque é cada dia mais claro que o espaço não vai chegar para todos.
A outra razão é de carácter político: Normalmente, quem decide quem são os heróis são os vencedores das guerras. Ora a guerra entre o governo e a Renamo e seus apoiantes externos, terminou por um empate. Como se diz muito, agora, terminou sem vencedores nem vencidos. E, portanto, é difícil determinar quem foi herói nessa guerra.
Daí que se vá definindo como herói, ou heroína, gente que se distinguiu na luta armada de libertação, em que o vencedor foi claro, mas ninguém se atreva a definir heróis desta outra guerra, de final negociado.
Só que a oposição se sente diminuída neste retrato da heroicidade nacional. Não tendo participado na luta armada de libertação nacional, não tem nenhum dos seus membros candidato a herói, por essa razão, ao passo que a Frelimo pode, à vontade, ir escolhendo os seus membros mais antigos, não pela sua actuação na guerra mais recente mas sim pela guerra mais antiga.
Porque, num país ainda traumaticamente dividido pelo que aconteceu na guerra de desestabilização, segundo uns, civil, segundo outros, os critérios estão a anos luz de ser os mesmos. Um determinado personagem histórico é, para uns, um herói que lutou, de armas na mão, pelo estabelecimento da democracia no país. Para outros, o mesmo personagem histórico é o chefe de bandos armados, de enorme selvajaria, a soldo do apartheid e do regime racista da Rodésia. Tarefa difícil, senão impossível. Pelo menos enquanto não passarem algumas gerações.
Mas mesmo entre os participantes da luta armada de libertação nacional, as coisas começam a não ser tão simples. Aqueles que cometeram actos heróicos e morreram ao cometê-los, ou morreram pouco depois, são casos que não levantam grandes dúvidas.
O pior são os casos daqueles que cometeram actos heróicos na sua juventude mas continuaram, incomodamente, vivos. E que, ao longo de vidas longas, tal como qualquer outra pessoa, foram cometendo actos sociais positivos e actos negativos. Muitas vezes actos muitíssimo negativos.
Continuaremos a considerar herói aquele que o foi, aos 25 anos, mas se transformou, depois,  num ricaço graças à corrupção e ao crime?
Difícil tarefa, a da tal comissão.
Mas penso que uma forma de descongestionar um bocado o problema seria reanimar o hábito de condecorar os cidadãos que se vão distinguindo nas mais variadas áreas da vida nacional.
Em muitos países a condecoração de cidadãos é uma actividade regular. Por vezes realizadas em datas nacionais importantes, outras vezes sem qualquer data associada, as condecorações permitem ir distinguindo aqueles que se destacam, sem ter que chegar à atribuição do título de herói.
Entre nós as condecorações foram sempre coisa muito rara, mais excepção do que regra e até, por vezes, a reboque de outros países que condecoraram cidadãos moçambicanos.
Um alargamento desse tipo de distinção iria aliviar, muito provavelmente, a pressão sobre o título de herói nacional, na prática a única distinção que Moçambique reserva hoje aos seus cidadãos.
SAVANA - 17.02.2006

HCB é segredo da Frelimo

Canal de Opinião por Prof. Dr. André Thomashausen *
Li com muito interesse o vosso artigo “«HCB É Nossa» - Quem Paga a Factura?” (Canal nr.3). Gostaria de acrescentar algumas informações a respeito dos preços de (re)venda da energia da HCB praticados presentemente pela Eskom da África do Sul.

Em resposta a uma série de perguntas que haviam sido levantadas, o ministro das empresas públicas, Alec Erwin, referiu, perante a Assembleia Nacional sul-africana, em Novembro de 2005, que a «Botswana Power Corporation» pagava 13,16c./Rand por kilowatt-hora (kWh) fornecido pela Eskom. 
A «Swaziland Electricity Board» pagava 11,59c./R; a «Zambia National Energy Corporation» 21,45c./R; e a «Zimbabwe Electricity Supply Authority» 21,17c./R kWh.
Erwin disse ainda que estas tarifas iriam ser aumentadas brevemente.
Aos consumidores industriais da África do Sul, a Eskom cobra entre 15c./R e 18c. por kWh.
Em contrapartida, o acordo firmado entre a Eskom e a HCB em 2004 indica que a empresa sul-africana estava a pagar pelos fornecimentos da hidroeléctrica do Songo o preço já por si ridículo de 3,6c.R/kWh (três ponto seis cêntimos do Rand por quilowatt/hora), reflectindo ainda a já muito ultrapassada “conspiração” dos governos do apartheid e do colonialismo português.
Entre a Eskom e a HCB ficou concordado, em 2004, que a tarifa seria aumentada para os 12,52 c.R/KWh, mas a vigorar somente a partir de 2007. Quer dizer que, mesmo depois da eventual entrada em vigor dessa nova tarifa, a África do Sul continua a comprar energia à HCB para depois vender essa mesma energia pelo dobro do preço, sem lhe acrescentar nem um mínimo de mais valia.
Significa isto que a viabilidade de uma “nacionalização” a favor de Moçambique ou, em termos gerais, uma privatização, mesmo que parcial, da HCB, continua a deparar com um obstáculo fundamental que é a falta de capacidade (ou será de vontade?) por parte da actual administração daquela hidroeléctrica em fazer valer os seus direitos e praticar preços de mercado realistas na venda da energia à África do Sul.
Acho estranho que o parlamento moçambicano – a Assembleia da República – como órgão supremo de soberania nacional, em nenhuma ocasião se tenha lembrado de exigir uma prestação e publicação das contas da HCB (uma empresa plenamente sujeita ao direito moçambicano), incluindo uma contabilização da “triste divida” e dos custos da gestão, que são considerados dos mais elevados do mundo (quando se faz a comparação a nível global com semelhantes empresas). Quantas outras empresas com o simples estatuto de “sociedade limitada” gozam do privilégio de não terem de publicar os relatórios de contas, seja em Moçambique ou em Portugal?
E, além da questão das contas secretas, há a questão da transparência nas negociações sobre o que se pode considerar a conclusão da descolonização de Moçambique, quer dizer a entrega de Cahora Bassa ao Estado moçambicano. Será que a democracia em Moçambique se encontra ainda de tal forma subdesenvolvida e enfraquecida, que a Assembleia da Republica não tem o direito de exigir a apresentação dos acordos firmados para aprovação e ratificação parlamentar? Estranho ainda que em Portugal também não haja um único deputado a exigir a prestação de contas, nem um debate tendo em vista a ratificação parlamentar dos acordos. Uma verdadeira teia de segredos que parece longe de encontrar o seu desfecho.
Com os meus melhores cumprimentos e felicitações pelo lançamento do “Canal de Moçambique”.
(*) Director do Instituto de Direito Internacional e Comparado, Universidade da África do Sul (UNISA)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 17.02.2006
NOTA: Estranha o Dr. André Thomashausen que "em Portugal também não haja um único deputado a exigir a prestação de contas, nem um debate tendo em vista a ratificação parlamentar dos acordos". Ora não podem os Srs. Deputados da Assembleia da República Portuguesa desconhecer o assunto, pois o mesmo lhes foi posto pelo signatário, pela segunda vez, no dia 9 do corrente mês.
Poderão ler e imprimir o texto em:
Fernando Gil

15-02-2006

Disputa por status foi "motor" da história, diz Fragoso

RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

João Fragoso defende, desde a sua tese de doutorado --"Homens de Grossa Aventura" (Civilização Brasileira)--, que a montagem da economia colonial brasileira não foi orientada pelas exigências de "acumulação de capital" das economias dos países europeus colonizadores --idéia que de alguma maneira unifica os trabalhos clássicos de Caio Prado Jr., Celso Furtado e Fernando Novais.

Contra a lógica desses autores, que tendiam a ver a sociedade brasileira como mera cópia imperfeita --e reflexo econômico-- da sociedade européia, Fragoso propõe que a sociedade que se criou no Brasil obedece a uma lógica própria.
Veja tudo em:

14-02-2006

Torre do Tombo assinala centenário do nascimento de Humberto Delgado

Lançamento de arquivo em suporte digital
O Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo vai assinalar esta quinta-feira o centenário do nascimento do general Humberto Delgado com o lançamento do seu arquivo em suporte digital, entre outras iniciativas.
De acordo com o instituto, a documentação existente na Torre do Tombo sobre o general estará disponível no endereço na Internet www.humbertodelgado.pt, incluindo o arquivo pessoal, parte do arquivo da Polícia Internacional e da Defesa do Estado (PIDE) e da Legião Portuguesa.
A apresentação, feita em colaboração com a Fundação Humberto Delgado, decorrerá a partir das 15h00, com uma conferência proferida pelo professor António Rebelo de Sousa e a exibição de um documentário sobre a vida do general.
"Meu Pai, Humberto Delgado", com guião da autoria da filha, Iva Delgado, foi realizado por Francisco Manso numa co-produção do canal 2, Take 2000 e Junta de Extremadura (Espanha), onde o general foi assassinado pela PIDE.
Na mesma altura será lançado o livro "Uma Brasileira contra Salazar", da autoria de Arajaryr Campos, secretária de Humberto Delgado, também assassinada pela PIDE em 13 de Fevereiro de 1965.
A obra, publicada pela editora Livros Horizonte, é o relato inédito na primeira pessoa sobre a entrada clandestina de Arajaryr Campos em Portugal, no final de 1961.
Nascido em Brogueira, Torres Novas, em 1906, Humberto Delgado foi assassinado em 1965 nos arredores de Olivença, perto da fronteira com Portugal.
Formado na Escola do Exército, participou na Revolução de 28 de Maio, foi adido militar em Washington e promovido a general das Forças Armadas, candidatando-se à Presidência da República em 1958, seguindo-se a sua suspensão e demissão das Forças Armadas.
Asilou-se no Brasil, mas em 1961 envolveu-se no assalto ao navio "Santa Maria", pelo qual foi julgado à revelia, e participou na Revolta de Beja, instalando-se depois na Argélia onde assumiu a chefia da Junta Patriótica de Libertação Nacional. Mais tarde fundou a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.
Em 1990 foi nomeado, a título póstumo, marechal da Força Aérea.
PÚBLICO - 14.02.2006

13-02-2006

Porque a FRELIMO não nacionalizou Cahora-Bassa

Cabora_bassa_capa_3Para quem julga que Salazar não era previdente e que não sabia que a independência das colónias haveria de chegar e não em tempo muito distante, leia os termos em que a adjudicação da obra foi feita.
Coma devida vénia, extraio do livro CABORA BASSA - A ÚLTIMA EPOPEIA, a ser lançado em Coimbra no próximo dia 16, as seguintes passagens do Capítulo VI:
.......
A 12 de Março, tal como programado, foram abertas as propostas para o«aproveitamento de Cabora Bassa». Na cerimónia, Arantes e Oliveira tinha a seu lado um outro futuro governador-geral de Moçambique (o Eng°. Manuel Pimentel dos Santos), precisamente aquele que viria a cessar funções na província - já então chamada Estado de Moçambique e com larga autonomia - por força do golpe militar de 25 de Abril de 1974.
Novamente três consórcios internacionais a concorrer, com a ZAMCO ('Zambeze Consórcio Hidro-Eléctrico'} a apresentar a proposta mais baixa: - 7.033.048.345 escudos!
Sete milhões de contos, à época, era uma importância que provocava 'tonturas'! Mas o projecto era por demais grandioso, os seus benefícios iriam derramar-se por toda a África Austral e daí o envolvimento - dizia a Imprensa - «dos mais categorizados meios técnicos e financeiros mundiais».
Na sala das sessões do Conselho Superior de Fomento Ultramarino, à mistura com técnicos e dirigentes empresariais de vários países, havia representantes de «agências noticiosas internacionais, dos órgãos de Informação estrangeiros, além dos jornalistas da Imprensa, Rádio, Televisão e Cinema nacionais».
...........
Dado o seu interesse histórico, aqui fica o programa então divulgado:
1 - Execução das obras principais de construção civil do aproveitamento hidroeléctrico, que compreende, na fase actual: construção da barragem; construção da central situada na margem sul (central subterrânea) com os respectivos circuitos hidráulicos (tomadas de água, condutas forçadas, chaminés de equilíbrio, difusores e galerias); tomadas de água para a futura e segunda central, que será situada na margem norte, também subterrânea; edifício de comando e subestação de emissão de energia; e subestação de recepção de energia na República da África do Sul. 
2 - Trabalhos de injecções nas obras de desvio provisório e nas obras principais de construção civil.
3   -   Fornecimento,   transporte,   montagem   e   ensaios   dos equipamentos electromecânicos e eléctricos correspondentes às obras de desvio provisório e às obras principais. Na fase actual serão instalados 3 grupos com a potência de 400.000 KW cada um.
4 - Sistema de transporte de energia desde o barramento da subestação do aproveitamento hidroeléctrico de Cabora Bassa até ao barramento da subestação receptora, na República da África do Sul (1). A capacidade de transporte do sistema é da ordem dos 2 milhões de KW e a linha terá uma extensão de 1.400 Km.
5 - O programa inclui ainda a execução da segunda fase das obras de desvio provisório do rio Zambeze, destinadas apor a seco a zona das fundações da barragem;
a) No concurso, cujas propostas foram recebidas no dia 10 de Janeiro p.p., o programa de trabalho consistia apenas na abertura dos acessos entre as bocas de cada uma das duas galerias de desvio, na execução das testas de montante e jusante das galerias e na construção dos encontros da ensecadeira de montante.
b) Na consecução das obras de desvio provisório, fazem parte deste concurso a abertura das galerias e as obras de fecho do rio, isto é, construção da pré-ensecadeira de jusante e, finalmente, execução das ensecadeiras de jusante e de montante.
6 - Execução das obras acessórias:
a) pavimentação da estrada entre Moatize (terminal de caminho de ferro) até Matundo (povoação localizada na margem oposta à cidade de Tete) e do troço da estrada Tete-Changara, desde aquela cidade até ao entroncamento com a estrada de acesso a Cabora Bassa;
b) construção do novo traçado, incluindo pavimentação, desde o entroncamento com a estrada Tete-Changara até à entrada do estaleiro das obras;
c) construção do bairro definitivo destinado ao alojamento do pessoal da exploração do aproveitamento hidroeléctrico e da subestação de emissão da linha de transporte, abrangendo o respectivo acesso e os arruamentos e ainda os sistemas de abastecimento de água e de esgotos e as redes de energia eléctrica e telefónica.
7 - Paralelamente com as obras do empreendimento de Cabora Bassa, e embora delas não façam parte, têm interesse, para os trabalhos correspondentes ao aproveitamento, as facilidades que resultam da programação observada para o plano rodoviário da Província de Moçambique. Com a melhor conexão serão, portanto, levadas a efeito a pavimentação da estrada Vanduzi-Changara-Tete, ficando desta forma ligada, em condições de boa utilização, a cidade de Tete ao porto da Beira. No troço Changara-Tete será construída a última obra de arte em falta, aponte sobre o rio Mazoe e para ligação Moatize-Tete será ainda construída a ponte sobre o rio Zambeze que ligará aquela cidade à outra margem do rio.
     As propostas sobre o grande empreendimento do Alto Zambeze moçambicano foram analisadas pêlos peritos dentro dos prazos previstos e, ainda na primeira quinzena de Julho de 1968, o Doutor Oliveira Salazar fez reunir o Conselho de Ministros, que decidiu «fazer a adjudicação provisória» ao consórcio ZAMCO.
     A entrega definitiva da obra ficava, porém, «dependente de ser dada satisfação, pela adjudicatária, a um certo número de condicionamentos de ordem legal, administrativa, técnica e financeira, a definir em negociações ulteriores, que deverão estar concluídas até ao final do corrente ano».
    Aqui, merece ser referido um pormenor importante, que terá condicionado a participação portuguesa na exploração de Cabora Bassa após a entrega - pelos chamados'capitães de Abril' e seus comparsas civis - de Moçambique ao grupo guerrilheiro Frelimo.
     Lê-se num documento de 1968, a que o autor teve acesso:
«O financiamento da obra será, por imposição do concurso, inteiramente assegurado pelo adjudicatário, ficando garantida a cobertura integral dos encargos de juro e amortização pelo produto da venda de energia,   retirada deste a parcela consignada à exploração    do    aproveitamento.    A    amortização    total   do financiamento estará completada dentro do prazo de 20 anos, contados a partir da data do início da exploração do aproveitamento (2). 
«A protecção das actividades nacionais interessadas no empreendimento é objecto de atenção especial». 
A 7 de Setembro de 1974, Mário Soares, Almeida Santos, Melo Antunes e os outros subscritores portugueses - e, por banda da Frelimo, Samora Machel - , seriam, também por força daquela «imposição do concurso» de Cabora Bassa, obrigados a firmar esta cláusula no chamado 'Acordo de Lusaka':
    «A Frente de Libertação de Moçambique declara-se disposta a aceitar   a   responsabilidade   decorrente   dos   compromissos financeiros  assumidos pelo  Estado Português  em  nome  de Moçambique,   desde que  tenham sido  assumidos  no efectivo interesse deste território».
Caso para dizer: - o Doutor Oliveira Salazar «não dava ponto sem nó»\ Mas será que aquela cláusula foi respeitada, em 2005, no protocolo assinado com Moçambique pelo governo socialista de José Sócrates, não obstante o estado calamitoso em que sucessivos executivos 'abrilistas' (tal como os da Primeira República) deixaram as finanças públicas portuguesas?
1 - A República da África do Sul garantiu ao Governo do Doutor Salazar que, se necessário, compraria até 2/3 da energia produzida em Cabora Bassa.
2 - Em 2001, o presidente do Conselho de Administração da HCB, Carlos Veiga Anjos, dizia ao 'Expresso': «Cahora Bassa é uma empresa muito rentável se o seu preço de energia (então a ser negociado com a África do Sul de Nelson Mandela) estiver de acordo com o que se pratica no mercado, criando-se as condições para o seu (da barragem)normal funcionamento e retomando assim o seu desígnio inicial».
E assim vemos que Cahora Bassa teria de pagar-se em 20 anos, o que não aconteceu. Foi o POVO PORTUGUÊS que, pagando cerca de 3 milhões de contos anuais, liquidou aos credores a dívida existente. E um dos principais credores era a Suécia, também apoiante da Frelimo. Um dos motivos da sua não nacionalização?
A partir de 2004 passou a Hidroeléctrica a dar lucro.
Ninguém ainda explicou concretamente como as contas foram feitas para a "reversão" de Cahora Bassa para Moçambique. E qunto é que isso custou a cada português.
Recomendo pois a leitura do livro de A. Santos Martins para se compreender como o "elefante branco", até agora existente, não foi obra de Salazar mas de outros, devidamente identificados.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

Morte de Mondlane e os livros escolares

(Maputo) “Existe uma comissão para prestar esclarecimentos” sobre as circunstâncias do assassínio do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, disse ao Canal de Moçambique o Ministro da Educação, Aires Aly.
“Tenho estado a acompanhar as notícias no vosso jornal”, disse o ministro momentos antes de embarcar por um périplo pelas províncias “em missão de serviço”.
Os curricula escolares apontam como local da morte de Mondlane os escritórios da sede da Frente de Libertação de Moçambique.
(L. Nhachote) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 13.02.2006
NOTA( Em repetição): É uma tristeza que a juventude moçambicana esteja a ser deliberadamente enganada acerca da verdadeira HISTÓRIA de Moçambique. É o caso de Mueda, do Chai, de Uria Simango, etc.etc.
E acrescento agora: guias de marcha, campos de reeducação, lei da chibatata, etc.etc. Quem se lembra?
Fernando Gil

12-02-2006

Cahora Bassa - "Processo complexo" atrasa acordo

O director de Energia de Moçambique considerou ontem que o atraso na
assinatura do acordo com Portugal sobre a Hidroeléctrica de Cahora
Bassa (HCB) "reflecte a complexidade do processo", ressalvando
a "grande preocupação" dos governos na sua resolução.
Em declarações à agência Lusa, Pascoal Bacela disse que os governos
de Portugal e Moçambique têm "uma grande preocupação" em ver
rubricado um acordo final sobre a reversão da HCB para Moçambique,
inicialmente previsto para 17 de Dezembro, mais tarde adiado para 31
de Janeiro último e actualmente sem data. "Mas", assinalou, "o
processo é complexo, pois quando é traduzido em acordo torna-se um
instrumento que deve ser articulado numa base legal a ser definida
pelos dois Estados".
O ministro moçambicano de Energia, Salvador Namburete, e o ministro
das Finanças de Portugal, Fernando Teixeira, assinaram a 2 de
Novembro último um memorando de entendimento que estabelece condições
para o controlo de 85 por cento das acções pelo governo moçambicano.
O memorando preconiza que Portugal reduza sua participação na HCB
para apenas 15 por cento, contra os actuais 82, mas tornando-se
num "accionista de referência e parceiro estratégico" de Moçambique.

PÚBLICO - 11.02.2006
NOTA: Então para que foi aquela pressa em assinar o "memorando de entendimento"? Quere-me parecer que "há gato escondido com o rabo de fora".

11-02-2006

Ao Encontro dos Mambos - Autoridades tradicionais vaNdau e Estado em Moçambique

Encontro_mambos_capa_1  Fernando Florêncio
O Estado moçambicano, à semelhança do Estado colonial, invoca as autoridades tradicionais vaNdau como veículo de penetracão, controlo da população rural, e de legitimação do próprio Estado. Processo esse que se institucionalizou em 2000. As autoridades tradicionais participam assim activamente no processo de formação do Estado distrital, que se constitui como uma arena política local, onde interagem diferentes actores. A tese desenvolvida nesta obra pretende sublinhar que as autoridades tradicionais vaNdau desempenham uma pluralidade de papeis sociais, políticos, administrativos, jurídicos, simbólicos. É nessa multidimensionalidade de papéis que se joga a legitimidade das autoridades tradicionais, face às populações que representam.
Data de Publicação: 01-11-2005
Nº de Páginas: 
298
ISBN: 
972-671-160-6
Pedidos em    http://www.ics.ul.pt/imprensa/det.asp?id_publica=147

10-02-2006

RSA: Entrevista com P.W. Botha

Pw_bothaSABC baniu transmissão
(Joanesburgo) O canal televisivo estatal, SABC, retirou da sua grelha de programas uma entrevista com o antigo presidente sul-africano, P.W. Botha, que em princípio deveria ter ido para o ar por ocasião do 90° aniversário natalício do antigo chefe do regime do “apartheid”, no dia 12 de Janeiro. A entrevista foi conduzida por Cliff Saunders, antigo jornalista do mesmo canal de televisão e conotado com o então governo sul africano de minoria branca. Saunders acusou a actual direcção da SABC de ter “anulado o
contrato que havia assinado com a empresa produtora da entrevista” e de ter “privado milhões de telespectadores de uma entrevista de grande importância histórica e política.”
Um porta-voz da estação emissora estatal declarou ao “Sunday Times” de Joanesburgo que a SABC apenas pretendia adquirir direitos sobre a entrevista para uso como “material de arquivo”.
O semanário sul-africano refere que, na entrevista, Botha negou ter sofrido um derrame cerebral tal como o seu sucessor, Frederick de Klerk e diversos membros do seu governo alegaram, na altura em que foi substituído na chefia do regime segregacionista a que o termo do “apartheid” pôs fim.
Na entrevista de 60 minutos, Botha afirma que “a África do Sul teria ido por água abaixo caso um governo de maioria tivesse tomado o poder nos anos 60 ou 70.”
Para Botha, a política de “acção afirmativa seguida pelo governo do ANC é uma forma de apartheid que tem feito com que o pessoal especializado sul-africano abandone o país.”
Ainda sobre a questão do “apartheid”, Botha é citado como tendo declarado a Saunders que “os ingleses
foram os que inventaram o sistema do apartheid” e que “os Afrikaners apenas o haviam ‘herdado’ de Lord Milner e Cecil Rhodes.”
Botha disse ainda que “pessoalmente nunca havia considerado os negros como uma raça inferior ou uma espécie subhumana”, frisando que “muitos negros e mestiços colaboraram connosco (o seu regime).”
Na entrevista, o antigo presidente sul-africano comenta o papel desempenhado por individualidades influentes tais como o antigo primeiro-ministro rodesiano, Ian Smith, o Presidente Samora Machel, Jonas Savimbi (UNITA) e Henry Kissinger, secretário de estado norte-americano durante as administrações Nixon e Ford.
No tocante a Angola, Botha afirma que a decisão da África do Sul em retirar as suas forças da antiga colónia portuguesa após a declaração da independência pelo MPLA em Novembro de 1975 foi devida ao facto “do Congresso dos Estados Unidos ter proibido o Presidente Ford de cumprir com o que havia
prometido.” De acordo com Botha, o antigo secretário de estado norte-americano Kissinger viria a apresentar desculpas à África do Sul pelo facto dos Estados Unidos “não terem cumprido com a promessa feita.”
(J.M.C.) – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 08.02.2006

Alguém tem que chamar atenção a Marcelino dos Santos

Tentou censurar o antigo PR em público?
A ser verdade o que acabo de ler esta manhã, o caso Marcelino dos Santos merece reflexão séria dos órgãos de soberania deste País.

Diz o número 1 do Canal de Moçambique, novo jornal por fax produzido em Maputo que quando esta publicação estava a entrevistar o antigo Presidente da República Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos interrompeu a entrevista e disse a Chissano “não responda”.

Isso aconteceu na Praça dos Heróis, portanto numa cerimónia pública e não privada e o assunto que estava em discussão entre o jornalista e o antigo estadista moçambicano é de interesse público.
O jornalista pretendia saber de Chissano se era verdade que Mondlane fora assassinado fora dos escritórios da Frelimo na capital tanzaniana e o antigo PR estava a confirmar que sim, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique fora morto na residencial de Betty King e não nos escritórios.
Achando que isso ( a confirmação de Chissano) bradava os céus, Marcelino dos Santos em tom arrogante gritou: “não responda” e acto contínuo, ordenou um segurança a agir, de maneira a impedir a normal continuação do trabalho.
Sendo que Joaquim Chissano é antigo Presidente deste País, independentemente dos laços de camaradagem que unem os dois, este gesto é de uma gravidade tal que a ser verídico, exige a intervenção de quem de direito, para que chame à atenção do velho camarada para que páre com os seus maus exemplos que começam a enjoar as pessoas civilizadas.
Estamos recordados todos do mau exemplo que deu em plena cerimónia na casa de todos (a Ponta Vermelha), com o seu famoso gesto indigno e mau para a reconciliação nacional.
E agora, acabamos de saber que em público interrompeu o antigo Chefe de Estado de falar à comunicação social, num gesto de autêntica censura a Chissano e ao jornal.
Repito aqui o que escrevi na semana passada: os dirigentes devem dar exemplo na sua conduta pública, sobretudo porque há gerações jovens que devem aprender do seu exemplo. As querelas internas na Frelimo, sobretudo em véspera de Congresso, não têm nada que nos perturbar cá fora, nós que não pertencemos ao grande partidão.
Se abundam por lá, anarquistas e indisciplinados, arrogantes e arruaceiros, isso não tem que se reflectir em actos de Estado, sob pena de banalizá-los e ir dar razão aos que boicotam tais actos de Estado.
Por outro lado, Marcelino dos Santos não pode continuar a dar exemplo de intocabilidade, sob pena de cair por terra a famosa música do Dr. Joaquim Madeira de que “ninguém está acima da Lei”.
Ora impedir uma entrevista ao antigo PR afigura-se uma violação da Lei, nomeadamente a Lei de Imprensa. Também afigura-se uma aguda falta de educação para quem o faz. E calha mal que seja Marcelino dos Santos, velho intelectual e libertador cujos pregaminhos de nacionalista reconheço e são inquestionáveis.
PS 1 e longo: No passado sábado, acabamos de ver mais uma lição de grandeza dos nossos presidentes. O antigo PR, recebendo os hóspedes também como anfitrião de Chaimite, perfilou durante largos minutos ao sol à espera da chegada do Presidente Armando Guebuza.
Com a humildade que lhe caracteriza, Joaquim Chissano cumprimentou Guebuza como seu chefe e acompanhou, no meio de outros sequazes, o actual PR nas cerimónias que se seguiram.
Na hora do almoço, foi bonito ver os dois líderes em animada cavaqueira, saboreando o ucanho em copo típico e tradicional, durante largos minutos.
E foi a pensar nisto que desde o oitavo Congresso eu venho escrevendo em público que bem precisávamos nós de termos um antigo presidente vivo, a cruzar connosco em cerimónias públicas ou privadas e a ser nosso património.
E depois da partida de Guebuza, em grande como PR, Chissano ficou alguns minutos em bate-papo com a gente e também partiu.
E devia ser assim de cima para baixo. Os cessantes conviverem com os que estão no activo e juntos e publicamente trocarem experiências. Infelizmente, há quem jura que não quer ver o seu antecessor nem morto. E a gente pergunta onde foram eles buscar tanto ódio, uma vez que os seus chefes não aparentam isso pelo menos publicamente?
PS2 e curto: Numa das raras vezes em que a Justiça actua de forma rápida, o juiz Dário Ossumane da 3ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo interditou a produção e distribuição em Moçambique da Revista “Nova Mais” por razões que o leitor encontrará expostas e fundamentadas noutro espaço desta edição.
Para além de tudo o que na deliberação vem dito, a medida dá um claro sinal de que apesar da lentidão normal, a porca está a acordar nestas terras e os moçambicanos tendem a despertar ante a ameaça do regresso dos antigos patrões.
O sinal foi bom sobretudo para o nosso Gabinete de Informação, na pessoa do Director Ricardo Malate, que afirmou por mais de uma vez que para eles, a revista Mais e a revista Nova Mais eram coisas diferentes.
Pensar é muito difícil senhor Director substituto do Gabinfo. Não custava nada, antes de se pronunciar nestes termos, ouvir a gente da praça ligada ao assunto. Ai compreenderia certamente que o público, ficava defraudado com a “Nova Mais” que então foi autorizada e que o tribunal, em boa hora, decidiu banir, por enquanto.
Assim, não se encorajarão futuras burlas nem com “renovadas” nem com “novas ou velhas”... 

Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 10.02.2006

Adelino Gwambe é herói nacional?

- “Eu não sou juiz” Armando Guebuza, PR
(Maputo) “Consta que Adelino Gwambe foi o fundador da Udenamo e um dos pioneiros da causa de libertação nacional. Merece ou não ser herói nacional?”, perguntou o repórter do Canal de Moçambique a Armando Guebuza. “Eu não sou juiz”, respondeu o presidente da República. Decorriam as cerimónias centrais do Dia dos Heróis, na cripta em Maputo. Estava assim acrescentado mais um dado ao debate sobre quem deve ou não ser considerado herói nacional ficando agora por se saber a quem caberá arbitrar as dezenas de cenários que o tempo tem vindo a desenhar à medida que o país parece virado para o supérflo num momento em que a sua economia parece estagnada e desesperadamente à procura de um rumo.
Adelino Gwambe foi fundador da UDENAMO, precisamente a primeira formação política a manifestar-se disposta a lutar pela Independência de Moçambique. A UDENAMO viria a juntar-se a outras duas UNAMO e MANU na simbiose que acabou por dar origem à “Frente de Libertação de Moçambique”, designação proposta por Fanuel Malhuza, a que Marcelino dos Santos acrescentaria o acrónimo FRELIMO.
O Canal perguntou ainda ao PR se o actual debate, em curso, não será uma futilidade. Armando Guebuza acha que “é um debate necessário”.
Quem é Adelino Gwambe?
Adelino Gwambe foi o percursor da União Democrática de Moçambique, o primeiro partido político moçambicano, em 1960, com apenas 20 anos de idade. Marcelino dos Santos, Fanuel Malhuza e Uria Simango – todos estes muito mais velhos, com acima de 35 anos, foram seus subalternos na Udenamo.
À altura da formação da Frelimo, resultante da fusão da Udenamo, Unami e Manu, Gwambe já tinha um passado de militância revolucionária, sob influência de revolucionários zimbabweanos.
Em meados de 1961, quando se radicou em Dar-Es-Salam, Gwambe era considerado uma figura com ideias pouco ortodoxas. Ele advogava a guerrilha imediata contra o colonialismo português muito antes de esse percurso vir a ser decido por Mondlane e seus continuadores.
A ligação de Adelino Gwambe com então governo do Gana, por via do seu amigo pessoal e presidente daquele país africano Kwame NKruma, não terá sido bem vista pela Tanzania, antogónico ao do Gana no que respeita ao pan-africanismo. Julius Nyerere, presidente da Tanzania, e Kwame Nkruma disputavam a partenidade da causa de libertação de Moçambique.
O governo de Nyerere acabaria por declarar mais tarde Adelino Gwambe “persona non grata” na Tanzania alegadamente porque nas vésperas da independência deste país declarou, numa conferência de imprensa, que a Udenamo já havia feito preparativos para o início da luta armada em Moçambique.
As suas notas biográficas referem que Adelino Gwambe nasceu na província de Inhambane, em 1940. Sabe-se igualmente que trabalhou no Buzi, então distrito de Manica e Sofala, antes de se refugiar em Bulawayo, segunda maior cidade da então Rhodesia do Sul, hoje Zimbabwe.
As rixas com Eduardo Mondlane
Quando se dá a eleição do presidente da Frente de Libertação de Moçambique de que viria a emanar, já depois da independência, uma ala que adoptaria o mesmo acrónimo – Frelimo – ao criar o partido hoje no poder, Adelino Gwambe não esteve presente. Decorria o 1.º Congresso da Frente e Adelino Gwambe estava na Índia.
No seu regresso, na contra-mão da unanimidade da eleição de Mondlane como lider do movimento, as rixas entre ambos agudizam-se. Gwambe acusava Mondlane de estar “sob vassalagem do imperialismo americano”.
As ligações de Eduardo Mondlane aos Estados Unidos da América estão hoje bem documentadas. A CIA, através da Fundação Ford, apoiou financeiramente a construção do Instituto Moçambicano para formar quadros moçambicanos no exilio. O jornal Freedom Fighter, na altura, publicou um artigo em relatava que Mondlane recebera 96 mil USD, naquele tempo uma quantia avultada.
Mais tarde, afastado da Frente de Libertação de Moçambique, Adelino Gwambe funda a Coremo, e embora ainda hoje não provado há dados que indiciam que possa ter sido também executado por decisão extrajucial, em M´telela, pelos seus pares de primeira hora. (Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 08.02.2006

'Cabora Bassa - A Última Epopeia' (2)

Cabora_bassa_capa_1CABORA BASSA - A ÚLTIMA EPOPEIA será lançado no próximo dia 16, em Coimbra, pelas 18 horas, no histórico Café Santa Cruz.
Veja:

09-02-2006

Assassinato de Mondlane

O Livro escolar da 5ª Classe
(Maputo) As circunstâncias em que morreu Eduardo Mondlane estão claras. Hoje, fala-se publicamente dos factos, sem qualquer tipo de preconceitos, apesar de temores ainda não esclarecidos denunciados pela atitude de Marcelino dos Santos (Canal nr.1) ao presenciar a tentativa de certificação de dados que o repórter do Canal possuía de várias fontes mas nunca anteriormente reveladas publicamente por qualquer alto dignatário da Frelimo na imprensa moçambicana. No entanto, nos livros em que a história se ensina às crianças nas escolas primárias a versão de que Mondlane pereceu no seu escritório continua a constar.
“O assassinato de Mondalene” deu-se “em 3 de Fevereiro de 1969, Mondlane estava a trabalhar na sede da Frelimo em Dar-Es-Salaam. Entre as encomendas que recebeu naquele dia vinha um livro. No livro havia uma bomba armadilhada. Quando Mondlane abriu o livro, ela explodiu e matou-o. Foi assim que os colonialistas, ajudados pelos traidores, assassinaram Mondlane, um dos homens que mais lutou pela unidade de todos os moçambicanos” (sic).
A SAPA reportou de Dar-es-Salam, no próprio dia da ocorrência, que Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, foi vítima de uma bomba em casa da americana Betty King.
O jornal “Notícias” do dia seguinte (ver Canal nr.2) reproduziu o despacho da agência. Vários documentos da época e posteriores, inclusive fontes em livro, referiram-se, mais tarde, ao sucedido, uns clarificando a identidade da amiga do defunto, outros fazendo apenas menção à “casa de uma amiga” sem revelar o seu nome. Joaquim Chissano, secretário de Eduardo Mondlane na circunstância, ex-presidente do partido Frelimo e ex-PR, confirmou o facto ao Canal de Moçambique (Canal nr.1).
Janet, viúva de Mondlane, falando ao Canal, também não escondeu que o seu marido morreu em casa da sua secretária, uma vivenda residencial/bar, em Oyster Bay. Tudo está muito claro. Mas o livro do ensino primário (5.ª Classe) “A história da minha pátria”, continua a esconder a verdade às crianças.
O livro de história da 5ª classe foi elaborado em 1986, durante a vigência do regime monopartidário. A viúva de Samora Machel, Graça Machel era então Ministra da Educação e Cultura.
A equipa que elaborou o livro foi dirigida por Luís Filipe Pereira. Do colectivo de autores constam os nomes de José Negrão (já falecido), Luís Palma Ramos, Narciso Hofisso e Lucas Sitói. Foi editado pelo Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação (INDE), e distribuido para todo o país, aquando da introdução do Novo Sistema de Educação (NSE), em substituição do Antigo Sistema (AS). (Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 09.02.206
NOTA: É uma tristeza que a juventude moçambicana esteja a ser deliberadamente enganada acerca da verdadeira ´HISTÓRIA de Moçambique. É o caso de Mueda, do Chai, de Uria Simango, etc.etc.
Fernando Gil

07-02-2006

Eduardo Mondlane morreu em casa de Betty King

A história “oficial” não é verdadeira
- O assassinato não teve lugar nos escritórios da Frelimo em Dar-es-Salam
- Joaquim Chissano e Janet Mondlane destapam a mentira perante Marcelino dos Santos
(Maputo) O Dr. Eduardo Chivambo Mondlane não foi assassinado no seu escritório em Dar-es-Salam. A história que há 37 anos se ensina oficialmente aos moçambicanos e faz parte dos curricula escolares é falsa.
É mentira. A verdade é outra. O primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique morreu num edifício da secretária da esposa, em Oyster Bay, na capital tanzaniana. Janet Mondlane encontrava-se na Suiça e só soube do crime, à noite. O caso registou-se às 9 horas da manhã de 3 de Fevereiro de 1969 na Residencial/Bar da americana Betty King.
Na Praça dos Heróis, nas cerimónias centrais do 37.º aniversário da morte de Mondlane, na última sexta-feira, Joaquim Chissano confirmou o facto ao repórter do “Canal de Moçambique”.
Marcelino dos Santos, outro histórico, estava presente. Ficou histérico. Muito nervoso por não ter ido a tempo de impedir que a verdade fosse finalmente confirmada a tão alto nível, tentou, chegou mesmo a ordenar a um agente da sua segurança para actuar contra o jornalista. E o jagunço actuou mesmo, a tal ponto de o diálogo com o ex-Presidente da República ter ficado por concluir.
“Reza a história oficial que Eduardo Mondlane morreu no seu escritório na sede da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), mas dados em nossa posse indicam que morreu em casa de Betty King, em Oyster Bay...”, pergunta o repórter do “Canal”, de chofre, a Joaquim Chissano.
“Sim. Confirmo que foi em casa de Betty King. Fui lá para ver o corpo”, respondeu Chissano que se encontrava ladeado pela sua esposa, por Marcelino dos Santos. A viúva, Janete Mondlane, e dois dos três filhos do casal, Edy e Nyelete Mondlane estavam atrás.
De recordar que Joaquim Chissano, quando se deu o assassinato, era o secretário particular do presidente da Frente de Libertação de Moçambique.
Ao confirmar que Mondlane foi assassinado numa residencial da americana Bettty King e não na sede da Frelimo, Chissano levantou o véu que cobriu uma mentira que durava há 37 anos, mais precisamente desde 3 de Fevereiro de 1969, cerca das 9 horas da manhã, quando Mondlane tombou.
Está por ser explicado aos moçambicanos e ao mundo porque razão a Frelimo e os sucessivos governos de Moçambique andaram, até hoje, a propalar uma falsidade crassa.
A versão “oficial” da história de Moçambique, escrita pelos “historiadores” que se têm vindo a julgar a si próprios indesmentíveis e a acusar os outros que a questionam de charlatães tem sido ensinada nas escolas a partir de livros oficiais aprovados pelo Ministério de Educação e Cultura de Moçambique.
Mondlane foi de facto assassinado por um livro-bomba, mas não no seu escritório. Antes, sim, na casa/restaurante de Betty King, que era secretária da esposa da vítima, Janet Mondlane, no Instituto Moçambicano, em Dal-es-Salam. O local onde pereceu era predilecto do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique nas horas de lazer.
Na fatídica segunda-feira em que se deu o atentado, a residencial que normalmente era muito movimentada, sobretudo devido ao restaurante, encontrava-se deserta. Nem Betty King, nem a maioria dos empregados, estavam lá. Apenas estava o cozinheiro que serviu um chá a Mondlane.
A casa residencial/bar tinha 12 empregados. Poucas horas depois do livro bomba explodir, Marcelino dos Santos, sua esposa Pamela dos Santos, Joaquim Chissano e Betty King, foram detidos pela Polícia tanzaniana para averiguações.
À margem das cerimónias do 37.º ano da morte de Mondlane, na Praça dos Heróis, onde anualmente a nata da Frelimo cumpre o seu ritual de deposição da coroa de flores aos seus heróis, o antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, apesar de ter confirmado a versão que o “Canal de Moçambique” lhe colocou, escusou-se a clarificar as razões da sua alegada detenção.
Marcelino dos Santos irritado
Marcelino dos Santos ficou nervosíssimo quando a pergunta do Canal foi dirigida a Chissano. “Não responde!” disse, dos Santos a Joaquim Chissano, ao mesmo tempo que, virado para o repórter, dizia repetidamente: “O senhor não brinca comigo!”. Depois fez sinal a um latagão e disse: “Actua!”. E ele pôs mesmo termo ao interessante diálogo com Joaquim Chissano que, apesar do incidente, acabou deixando, finalmente, a verdade abafar a mentira que perdurava há 37 anos.
Janet Mondlane
A viúva Janet, que se encontrava acompanhada de dois dos três filhos do casal, Eduardo Mondlane Jr. e Nyelete Mondlane, diz que soube da morte do marido, só à noite, no dia do crime.
Encontrava-se na Suiça.
“Eu estava em Genebra quando recebi a informação” contou ela ao “Canal de Moçambique”.
Janet disse ainda que chegou a Dar-Es-Salaam dois dias depois. Segundo ela circulavam muitos rumores sobre o assassinato do seu marido.
“A minha preocupação naqueles dias eram os meus filhos”.
Janet também confirma que Eduardo Mondlane não morreu no escritório da Frelimo como há 37 anos se propala. “Sim, ele morreu em casa da Betty King. Era lá onde ele ia passar os seus momentos de lazer”.
A casa de Eduardo Mondlane estava localizada em “Msasani Bay” (Baía Msassani) e não era muito distante da Residencial de Betty King, em Oyster Bay (Baía das Ostras).
A versão “oficial”, segundo a qual Mondlane encontrou a morte nos escritórios da Frelimo cai por terra, e encontra aconchego no pantanoso charco da história recente do país. Resta-nos aguardar o que irá fazer a partir de agora o Ministério da Educação para que a falsa história não continue a ser ensinada às crianças de Moçambique.(Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 07.02.2006
Veja

20 anos depois - África Sul quer divulgar este ano investigação à morte de Machel

O governo sul-africano vai tentar divulgar este ano as conclusões da investigação à morte de Samora Machel, o primeiro presidente moçambicano, ocorrida num acidente aéreo, em 1986, assegurou o ministro da Segurança sul-africano, Charles Nqakula.
A garantia foi dada no fim-de-semana, em Maputo, durante a cerimónia que marcou o 25º aniversário do assassínio de 12 membros do Congresso Nacional Africano (ANC), na cidade da Matola, durante um ataque realizado da força aérea sul-africana do regime do "apartheid". "O presidente sul-africano, Thabo Mbeki prometeu tentar resolver o assunto (sobre a morte de Samora Machel) durante o presente ano", disse Nqakula, que acrescentou ser necessário "descobrir quem é que cometeu este vil crime". "Esta é a dívida que temos com o povo moçambicano. É uma dívida que vamos pagar", sublinhou o governante.

Na sexta-feira, o presidente sul-africano Thabo Mbeki, fez inesperadas referências ao desastre aéreo de Mbuzini que matou Machel, durante o discurso que proferiu sobre o estado da nação, em Pretória. Na ocasião, Mbeki referiu-se à "misteriosa queda do avião" de Samora Machel, na zona de fronteira entre os dois países e reiterou que o caso "continua a exigir uma explicação satisfatória".
Machel morreu quando o avião em que seguia, transportando outras 33 pessoas da comitiva presidencial, embateu contra os montes Libombos, na região de Mbuzini, na África do Sul, no regresso de uma reunião na Zâmbia.

As causas do desastre foram atribuídas ao regime do "apartheid", mas resultados preliminares de um inquérito efectuado, à margem, por peritos russos, que cederam a aeronave ao governo moçambicano, indicam o envolvimento de moçambicanos na morte de Machel.

Graça Machel, viúva do ex-presidente moçambicano, também acusou, há anos, que "do lado de Moçambique, alguém facilitou o processo" que conduziu ao desastre do avião "Tupolev"-134A. Após a tomada de posse, no ano passado, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, que chefiou a comissão de inquérito da parte moçambicana, assegurou a publicação dos resultados, mas não avançou qualquer data.
LUSA - 07.02.2006

06-02-2006

Recama lança “História de Moçambique”

Um resumo de diferentes obras 
Um manual intitulado “História de Moçambique, de África Universal”, da autoria de Dionísio de Recama, licenciado em Administração pública pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), foi recentemente lançado em Maputo.

“História de Moçambique, de África e Universal” consiste em resumos de diferentes obras historiográficas, abrangendo temas abordados ao longo das classes com a disciplina de história nos currículos educacionais moçambicanos até 12ª classe. A obra é editada pela Plural Editores. 
ZAMBEZE - 05.02.2006

05-02-2006

No bicentenário da morte de Gonzaga

“O autor de Marília de Dirceu escreveu a coleção de poemas líricos mais popular da língua portuguesa, com um número de edições só superado por Os Lusíadas, de Camões”
ADELTO GONÇALVES - Especial para o Jornal Opção
TOMÁS GONZAGA: EM BUSCA DA MUSA CLIO, de Danyel Guerra. Porto, Armazém Literário, com apoio da Legião da Boa Vontade, de Portugal, 189 págs., 2004. E-mail: danyelguerra@hotmail.com
Daqui a quatro anos, entre 25 de janeiro e 1º de fevereiro, será assinalada a passagem do bicentenário da morte do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), nascido em Miragaia, no Porto, e falecido na Ilha de Moçambique, na costa oriental da África. Embora Gonzaga tenha sido um dos maiores poetas da língua portuguesa — capaz de se rivalizar em vida com Bocage (1765-1805) em citações na Gazeta de Lisboa, embora estivesse bem longe do Reino —, a levar-se em conta algumas experiências recentes, não se pode esperar grandes comemorações para a data.

Faz-se este aviso com tanto tempo de antecedência com a esperança de que as forças vivas da Invicta e, quem sabe, do Estado de Minas Gerais, onde fica a cidade de Ouro Preto, a antiga Vila Rica, da qual Gonzaga foi ouvidor antes de se envolver na conjuração mineira de 1789, deixem de lado a indiferença que tem marcado o seu relacionamento com a figura do autor de Marília de Dirceu, a coleção de poemas líricos mais popular da língua portuguesa, com um número de edições só superado por Os Lusíadas, de Camões, como assinalou o poeta Manuel Bandeira (1886-1968).

Só um fato dessa envergadura, estivesse em causa um poeta de língua inglesa ou espanhola, já seria suficientemente forte para que fossem realizadas festividades da maior repercussão em ambos os lados do Atlântico. Infelizmente...

Seja como for, da direção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, por ocasião do Colóquio Internacional Leituras de Bocage nos séculos XVIII-XXI, ao final de novembro, que marcou o bicentenário da morte do poeta, este historiador literário trouxe para o Brasil a promessa da realização de um congresso similar em 2010. Conhecendo-se a garra das docentes da faculdade, sob a direção da professora Maria de Fátima Marinho, pode-se confiar que pelo menos esse colóquio haverá de ser realizado.

Também se pode esperar da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto, que, por iniciativa do historiador Luiz Carlos Villalta, venha a dar a sua contribuição, promovendo colóquio e outros eventos em homenagem ao poeta.

Gonzaga no supermercado — No que respeita a este articulista, já dei a minha contribuição com o livro Gonzaga, um Poeta do Iluminismo, biografia do vate, a primeira desde que o professor M. Rodrigues Lapa publicou um ensaio biográfico há mais de meio de século. E que assinalou o meu doutoramento em letras na área de Literatura Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1997, sob a orientação do professor Massaud Moisés e com o apoio do professor Fernando Cristóvão, da Universidade de Lisboa.

Lançado em 1999, pela Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, pelo empenho do poeta Alberto da Costa e Silva, ex-embaixador do Brasil em Portugal e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, autor do prefácio, não se pode dizer que o livro tenha constituído um êxito de livrarias, embora tenha sido largamente citado em ensaios acadêmicos e resenhado em periódicos do Brasil e Portugal.

Nos últimos dias, talvez porque estivesse ocupando espaço em seu depósito, a Nova Fronteira vendeu o resto da primeira edição, com outros tantos livros encalhados, para a rede de supermercados Extra, do Grupo Pão de Açúcar. Assim, os exemplares, que inicialmente custavam 44 reais cada, estão sendo liquidados nestes primeiros dias de 2006 pela bagatela de 9,90 reais, em meio a beterrabas, chuchus, bananas, cocas-colas e bugigangas chinesas. Como as pilhas de livros decrescem a cada dia, conclui-se que a pouca cultura do povo brasileiro está diretamente ligada à falta de dinheiro no bolso.

Diante disso, parece claro que a Nova Fronteira não deve estar muito animada a discutir uma segunda edição. Mas, como detém os direitos exclusivos para a língua portuguesa, se alguma editora portuguesa quiser aventurar-se a uma edição terá de chegar a um acordo com a sua congênere carioca, o que, convenhamos, é sempre um obstáculo a mais.

Pouco ânimo — Aparentemente, porém, nem mesmo a proximidade do bicentenário da morte do poeta parece animar as editoras portuenses a colocar no mercado a biografia de um ilustre filho da cidade: pelo menos a Campo das Letras e a Edições Caixotim, ambas do Porto, já declinaram gentilmente o oferecimento, tendo em conta as atuais circunstâncias do mercado livreiro em Portugal, sobretudo nas áreas de ensaísmo, biografia literária etc. Pelo jeito, o bicentenário da morte de Gonzaga passará sem que sua nova biografia ganhe edição portuguesa.

Aliás, antes da assinatura do contrato com a Nova Fronteira, o original havia sido aprovado para publicação pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, de Lisboa. Depois, com o interesse da Nova Fronteira, houve até a possibilidade de uma edição conjunta, mas a oferta que partiu do Rio de Janeiro não animou a IN-CM, que desistiu de vez.

Em razão disso, em Portugal, quem quiser conhecer o livro terá de consultá-lo na Biblioteca Pública Municipal do Porto, na Biblioteca Nacional de Lisboa ou na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra — para onde enviei, à época, exemplares de minha cota de autor. No Porto, o interessado pode também passar pela Livraria Nova Fronteira, na Galeria Brasília, na Rotunda da Boavista, que lá, até dois meses atrás, havia alguns raros exemplares em exposição.

Em busca da Musa Clio — A outra alternativa, mais fácil porque em edição portuguesa, é adquirir o livro Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, de Danyel Guerra, em que Gonzaga, um Poeta do Iluminismo está fartamente citado e elogiado. Trata-se de um belíssimo ensaio de um jornalista brasileiro, nascido em Bangu, no Rio de Janeiro, radicado no Porto e licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O principal objetivo desse trabalho de divulgação histórica, segundo seu autor, é tornar conhecido (e reconhecido) o homem oculto sob o criptônimo Dirceu, antes de mais, na sua cidade natal. Com isso, por meio de Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, o autor procura iluminar a história pessoal e evocar a memória dessa figura tutelar da poesia neoclássica luso-brasileira, cujo estro antecipou o Pré-Romantismo.

Vivendo há mais de 20 anos no Porto, Guerra surpreendeu-se com o desconhecimento que o portuense dedica a seu conterrâneo, cuja memória está preservada numa ruela de Miragaia e numa placa afixada no prédio onde nasceu. “Muitos portuenses julgam-no nascido em Coimbra ou em Lisboa. (...) Alguns arriscam o Brasil como país natal. Hipótese que, ainda hoje, é aventada pela maioria dos brasileiros”, lamenta-se Guerra. Não é só. Como lembra Guerra, um autor brasileiro, Júlio José Chiavenato, no livro Inconfidência Mineira: As Várias Faces, publicado em 2000, teve a desfaçatez de admitir que Gonzaga nasceu em Moçambique.

Não é o caso de repetir aqui dados biográficos do poeta, mas apenas lembrar que, para Guerra, Gonzaga, um Poeta do Iluminismo é um sólido contributo para o que designa de “processo de dessacralização dos inconfidentes”, que, de certa maneira, foi iniciado pelo historiador inglês radicado nos Estados Unidos Kenneth Maxwell, autor de A Devassa da Devassa (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977).

Já que elogio em boca própria soa como vitupério, passamos ao leitor a incumbência de tirar as suas próprias conclusões, inteirando-se cada vez mais da história de vida e da obra do poeta que sonhou transformar-se no paladino daquela que teria sido a primeira república da América do Sul.

Sem assumir-se como uma ação investigativa, Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, segundo seu autor, constitui “um ensaio historizante, a vocação mágica de agir como um fósforo que, repentinamente aceso, “com’on baby and light my fire” está fadado para deflagrar um fogo intenso, duradouro e purificador”. Que ajude a despertar instituições públicas e privadas, editoras, universidades e, principalmente, estudantes para a importância da obra de Gonzaga é também o que esperamos. 2010 logo chega.

ADELTO GONÇALVES é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br
-Saiu hoje no Jornal Opção, de Goiânia (wwww.jornalopcao.com.br)

Os pais da mascote de guerra estão vivos

Sabadino1
Sabadino2
Com a ajuda dos fuzileiros e do CM, moçambicano concretiza sonho de 43 anos
João Sabadino Portugal estre­meceu. A notícia caiu como as bombas que ouviu há muitos anos em África, de onde foi trazido ainda criança por soldados portugueses. Tinha mais esperança em ganhar o Euromilhões do que em ouvir o que o amigo João Serra tinha para lhe dizer: "Encontraram os teus pais!" Sabadino ficou incré­dulo. "Não, não pode ser, isso é im­possível! Disseram que eu era ór­fão", diz ainda espantado, antes de arrancar a carta das mãos de João Serra. Tinha que ver com os pró­prios olhos para acreditar.
Não é para menos. Até ontem à noite João Serra, um antigo fuzileiro de guerra, anunciar a boa nova, João Sabadino Portugal julgava que os seus pais estavam mortos. Agora, aos 43 anos, a ex-mascote que os mi­litares portugueses trouxeram meni­no de África, recebeu a novidade que sempre sonhou ouvir. "É o dia mais lindo da minha vida", repetiu vezes em conta, invadido pela emoção.
A notícia chegou directamente de Moçambique, de onde João Sabadino é natural. Veio em forma de resposta a um apelo de João Serra ao Governo de Cabo Delgado e de uma reporta­gem da revistaDomingo do CM, na procura de algum familiar de Sabadi­no. Ontem, chegou a resposta. E logo que a recebeu, o antigo fuzileiro pre­parou uma surpresa ao amigo. Quando se encontraram, leu-lhe a carta em alto e bom som, fazendo nascer lágrimas contidas nos seus olhos. "Isto é melhor do que ganhar o Euromilhões", desabafou João Sa­badino, nervoso, surpreendido, feliz.
Agora, o seu maior desejo passa por poder legalizar-se e partir rumo a Moçambique ao encontro dos pais. Enquanto o sonho não se concretiza, olha embevecido para as fotografias que viajaram lá de longe, juntamen­te com a carta e brinca "a minha ve­lha, é mesmo velha", diz, já mais descontraído. "Este é mesmo o meu pai, tens a certeza?", questiona, ain­da desconfiado.
Com esta notícia, João Sabadino descobriu também o seu verdadeiro nome. Coincidentemente o João mantém-se, mas em vez de Sabadino Portugal - como foi baptizado pêlos fuzileiros portugueses - é Lourenço Gonçalves Muicumba. E ao contrá­rio do que pensava, também não nasceu a 24 de Junho de 1962, mas a 12 de Julho desse ano.
MENINO SEM IDENTIDADE
” A história de João Sabadino Portugal foi divulgada pela revista Do­mingo a 17 de Setembro de 2005. Na altura, esta antiga mascote do Destacamento de Fuzileiros Especiais portugueses em Moçambique lutava por conseguir a sua identidade. Capturado em pleno mato pelas tropas portuguesas, quando ainda era uma criança, foi adoptado pelos militares como mascote e, mais tarde, trazido para Portugal. Anos de­pois, já adulto, descobriu que estava ilegal devido a uma questão bu­rocrática. Apesar dos esforços, ainda hoje a situação não está resolvi­da. »
JANETE FRAZÃO CORREIO DA MANHÃ – 04.02.2006
Recorde em:

Inconfidentes e traficantes negreiros

Adelto Gonçalves
Adelto_gonalves_2De um tempo a esta parte, historiadores brasileiros e portugueses estão cada vez mais integrados no seu ofício com uma troca constante de experiências e visões que só têm contribuído para o crescimento dos estudos sobre a história comum dos países de língua portuguesa. Um exemplo disso é o livro Modos de Governar: idéias e práticas políticas no Império português — séculos XVI a XIX (São Paulo, Alameda Casa Editorial, 2005), organizado pelas professoras Maria Fernanda Bicalho e Vera Lúcia Amaral Ferlini.
A obra é produto dessa troca de experiências que vem desde Julho de 2001, quando foi organizado o grupo de trabalho “Modos de Governar: política, negócios e representações do Império Português ao Império do Brasil”, surgido no âmbito do XXI Simpósio Nacional de História da Associação Nacional de Professores Universitários de História (Anpuh), realizado na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, com a presença de historiadores brasileiros e portugueses. ...
Leia o texto completo em:

04-02-2006

Pachinuapa lança livro sobre Machel

Antigo combatente
Um livro sobre Samora Machel, Primeiro Presidente da República de Moçambique, é o tema da obra de estreia de Raimundo Pachinuapa.

O livro tem como título "Do Rovuma ao Maputo, a Marcha Triunfal de Samora" e é da autoria do antigo combatente e tenente general na reserva, Raimundo Pachinuapa.
ZAMBEZE - 01.02.2006

Dia dos heróis marcado pela polémica sobre atribuição do título

Praca_herois_maputoMoçambique assinala hoje o dia dos seus heróis, data em foi assassinado o primeiro presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, enquanto se intensifica a discussão sobre o critério de atribuição do título de herói nacional.

Passados 37 anos sobre a morte de Mondlane, atribuída à PIDE, a polícia política da ditadura portuguesa, o país que, entretanto se tornou independente e passou pelas experiências do regime de partido único, da guerra civil e do multipartidarismo, continua dividido sobre quem deve ter o estatuto de herói nacional.
Até agora, no panteão do regime apenas estão destacados dirigentes da FRELIMO, como os seus primeiros presidentes, Mondlane e Samora Machel, ou 'compagnons de route' do partido que lançou a luta anti-colonial contra Portugal, como o poeta José Craveirinha e o maestro Justino Chemane.
Da RENAMO, o principal partido da oposição que reclama que a guerra civil de 16 anos que lançou em 1976 resultou na actual situação de liberdade e democracia, não há nenhum representante no monumento aos heróis na capital moçambicana.
Recentemente, o governo criou uma comissão, presidida pelo ministro da Educação, Aires Aly, para apurar os critérios de atribuição do estatuto de herói nacional, que é da competência do Presidente da República.
Mas várias vozes criticam a partidarização dessa comissão, apontando o facto de não integrar nenhum representante dos partidos da oposição, nomeadamente da RENAMO.
O principal partido da oposição considerou errada a criação pelo governo da comissão, defendendo que essa responsabilidade deveria caber ao parlamento.
"A Assembleia da República é um órgão que representa o povo, por isso que deve caber a esta instituição estabelecer os critérios para o debate. Não se deve enveredar por um pseudo-debate público à semelhança do que, alegadamente, aconteceu com os símbolos nacionais", disse o porta-voz da RENAMO, referindo-se à discussão, no
último ano, sobre a bandeira e emblema nacionais, que acabou por deixar tudo na mesma.
"O título de herói não pode ser atribuído somente àqueles que pegaram em armas para lutar contra o colonialismo português, mas aos que lutaram e sofreram pela democracia", acrescentou Fernando Mazanga.
Há muito que a RENAMO pretende, sem êxito, que entre os "novos" heróis, esteja André Matsagaíssa, fundador do partido e morto em combate em 1979.
Mas o porta-voz do principal partido da oposição moçambicana acrescentou agora novos candidatos ao estatuto de "legítimos heróis", como o jornalista Carlos Cardoso, assassinado em 2000, e a ex-campeã mundial do atletismo Lurdes Mutola.
Estes terão mais hipóteses de serem consagrados do que nomes geralmente associados à oposição moçambicana, como Joana Simeão e Uria Simango que a FRELIMO continua a considerar traidores.
Intervindo no debate, que se arrasta desde meados de 2005, o reverendo Dinis Matsolo, do Conselho Cristão de Moçambique e o líder muçulmano de Maputo, xeque Abdul Carimo, defenderam que o estatuto de herói "tem de estar acima dos interesses partidários".
"Um herói é uma pessoa que contribuiu de forma significativa e singular para o desenvolvimento do país ou a sua acção é notória e reconhecida como tendo contribuído para o bem de todos", frisou Matsolo.
"O perfil e a dimensão do herói nacional não devem ser politizados", porque "os heróis não são somente aqueles que combateram de armas na mão", juntou Abdul Carimo.
Por seu lado, o escritor Mia Couto descreveu a discussão em curso como "uma tentativa de apropriação por parte de forças políticas" e defendeu "um debate aberto" sobre a questão.
O ministro da Educação e Cultura de Moçambique, que preside à comissão encarregue de receber propostas, reconheceu a pertinência de uma "discussão aberta sobre a matéria também a nível das localidades, distritos ao invés de se centrar nas cidades".
"Seria proveitoso também ouvir o parecer das instituições, tais como escolas, locais de trabalho, corporações da polícia e demais organizações", disse Aires Aly.
Enquanto não se chega a uma conclusão definitiva, permanece apenas a certeza de que as comemorações, hoje, do Dia dos Heróis, não vão contar com a presença do presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, à semelhança do que sempre aconteceu desde a assinatura dos Acordos de Paz, em 1992.
Dhlakama acusa a FRELIMO de usar a data de hoje "para tirar proveito", enquanto o partido no poder responde que a RENAMO "não tem heróis" para apresentar.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 03.02.2006

03-02-2006

'Cabora Bassa - A Última Epopeia'

Cabora_bassa_capa
Tal como Sofala - onde os Portugueses instalaram a sua primeira Capitania de Moçambique (em 1505) - Cabora Bassa mereceu novo livro de A. Santos Martins neste início de 2006, servindo-lhe de pretexto o facto de o Governo de Lisboa ter decidido entregar aquele majestoso empreendimento hidroeléctrico (um dos maiores do mundo) ao Governo de Maputo.
Para o autor, Sofala foi o 'Alfa' da presença portuguesa em Moçambique; e Cabora Bassa o 'Omega', donde lhe chamar«a última epopeia, o derradeiro esforço entre os actos mais sublimes dos Portugueses no meio milénio que passou desde as Descobertas marítimas que deram 'novos mundos ao mundo' até à chamada 'Revolução dos Cravos' (1974) e à política seguida pelos seus responsáveis, civis e militares, de entrega das Províncias Ultramarinas a movimentos ditos 'de libertação'».
Com o livro 'Cabora Bassa - a última epopeia' - que será lançado em Coimbra no decorrer do mês de Fevereiro -, o autor pretende homenagear todos aqueles que resistiram em Moçambique aos chamados 'ventos da História'. Mas com ele também se dirige às novas gerações de portugueses e moçambicanos, tratando do que foi o grandioso Plano do Zambeze, esse 'pinhal de naus por fazer' com que gente lusa, nas últimas décadas da sua presença naquele novo país do Índico, tentou fazer nascer «uma nova Civilização» que libertasse os povos da vasta região - e outras regiões da África Austral - do subdesenvolvimento que continua a fustigar, da forma mais atroz, os povos do Continente Negro.
Para que o Plano do Zambeze chegasse onde chegou e Cabora Bassa nascesse, milhares de portugueses e moçambicanos deram o melhor do seu esforço e muitas vidas se perderam, sobretudo depois de a Frelimo para ali dirigir o seu esforço de guerrilha, com o objectivo de impedir - o que não conseguiu! - a monumental barragem hidroeléctrica e a formação da sua imensa albufeira.
'Cabora Bassa - a última epopeia' é fruto do trabalho de um jornalista instalado em permanência naquela região moçambicana, durante alguns anos, precisamente para acompanhar o Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze. Mas há capítulos sobre a presença portuguesa ao longo de quase meio milénio, onde se revela um empenhado estudioso da História de Moçambique.
NOTA: Pedidos à Feira Permanente do Livro, com sede no Arco de Almedina, 33-35, 3000 COIMBRA (telefone 351.239 838 192)

'Sofala - O primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental Portuguesa'

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Mais um livro do jornalista e historiador conimbricense A. Santos Martins, desta vez um livro (lançado em finais de Novembro de 2005) contra o esquecimento a que foi votado, em Portugal, o Quinto Centenário (1505-2005) do estabelecimento da primeira Capitania portuguesa em Moçambique (a feitoria fortificada de Sofala) e do primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental. E sobre esse esquecimento o autor faz uma 'provocação' à hierarquia da Igreja, ao Poder Político e às autoridades académicas do seu país.
Porque foi, pura e simplesmente, ignorada a efeméride, o autor - que viveu 13 anos em Moçambique - passa a livro todo o seu trabalho de investigação histórica de muitos anos sobre a instalação dos portugueses em Sofala, a progressão de agentes do Estado, aventureiros, comerciantes e missionários para o Alto Zambeze moçambicano, o que se passou com o Islão - que «estava lá» - e tanto mais que ocorreu, ao longo de quase cinco séculos, desde aquela primeira Feitoria até a região do interior africano onde ficava a Corte do Monomotapa.
Breve biografia do Autor
Santos_martins_1Armando dos Santos Martins (A. Santos Martins) nasceu em Coimbra de família com fortes raízes nos contrafortes da Serra da Estrela e no Baixo Mondego. Depois dos seus estudos como Aluno Salesiano, ingressou na Força Aérea Portuguesa e partiu para Moçambique, com 19 anos de idade, integrado nas forças expedicionárias que foram combater a subversão armada naquela antiga Província Ultramarina. Ali nasceram três dos seus quatro filhos. Já como profissional da Imprensa (e Rádio), foi Correspondente de Guerra nos distritos flagelados pelo conflito. Deslocado em permanência, pelo 'Notícias' de Lourenço Marques, para a cidade de Tete, exerceu aqui também as funções de director do Emissor Regional do Rádio Clube de Moçambique. Acompanhou como jornalista os últimos anos do Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze e a construção da barragem hidroeléctrica de Cabora Bassa. Regressado a Portugal em 1976, nesse ano trabalhou como redactor no 'Diário de Coimbra'. Ingressou nos quadros de 'O Comércio do Porto' em 1977, onde permaneceu até 1999, com funções de chefia e direcção. Entretanto, fundou e dirigiu na sua cidade natal o semanário 'Jornal Vale do Mondego'. Estudioso da Epopeia lusa, tem numerosos trabalhos publicados sobre a Expansão Marítima e a presença dos Portugueses no Índico. Em 2005 foram editados os seus livros 'História da Casa do Minho' (2º. volume), 'Santa Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado' (já traduzido em Espanhol), 'Os 5 Papas que peregrinaram em Portugal''João Paulo II em Coimbra' e 'Sofala - o primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental Portuguesa'.
NOTA:
Pedidos à Feira Permanente do Livro, com sede no Arco de Almedina, 33-35, 3000 COIMBRA (telefone 351.239 838 192)

02-02-2006

PR “caça” voto nas cerimónias do Gwaza Muthini

PRESENTE, HOJE, EM MARRACUENE
Supostamente fazendo jus à teoria de Maquiavel de que os fins justificam os meios, o Presidente da República, Armando Guebuza, vai presenciar hoje, no distrito de Marracuene, Maputo, as cerimónias tradicionais de Gwaza Muthini, evento celebrado todos os anos a dois de Fevereiro, e que marca a revolta do povo moçambicano contra o jugo colonial português, ocorrido em mil oitocentos noventa e cinco.
A participação de Guebuza naquele evento (é a primeira vez como PR) é vista, por alguns renomados analistas políticos da praça, como uma “maneira antecipada de persuadir o eleitorado”, dado que nos anos que se avizinham haverá eleições das assembleias provinciais,
autárquicas e legislativas e presidenciais, sendo estas últimas as que vão fechar o ciclo em dois mil e nove. Sendo assim, este consitui o “momento oportuno para o partido pedir o voto”.
Aliás, durante a Quinta Sessão do Comité Central da FRELIMO, realizada a dezoito de Dezembro do ano findo, Armando Guebuza, presidente deste partido, teria dado aos filiados instruções claras sobre o que deviam fazer para se alcançar a vitória no ciclo eleitoral retrocitado.
Todavia, a presença de Guebuza no evento de hoje, além de outras tantas que se sucederão, é vista como “estratégica”, pois resume-se, única e exclusivamente, à conquista do eleitorado para que, no momento crucial, dedique o seu voto à FRELIMO.
Na mesma senda, explicam as nossas fontes, está o maior partido da oposição no País: a RENAMO, cujo líder visitou semana pretérita a província de Inhambane para se “inteirar” do quotidiano dos locais, bem como para “fiscalizar” as actividades desenvolvidas pelo novel executivo, desde a tomada de posse no ano passado.
Contudo, devassámos a batalha de Marracuene, ou Gwaza Muthini. Ela deu-se dez anos depois da Conferência de Berlim, a qual determinou a “ocupação” efectiva de África pelas potências colonizadoras. Os portugueses, comandados por Caldas Xavier, envolveram-se numa sangrenta
batalha com os guerreiros de Nwamatibyana.
De recordar que, anualmente, as celebrações do Gwaza Muthini são presididas por anciãos, e estes evocam os espíritos através do “kupahla”, e, para além de altos membros do Governo, têm acorrido ao evento numerosos populares vindos de diversos cantos do País.
Laurindos Macuácua – DIÁRIO DE NOTÍCIAS(Maputo) – 02.02.2006

Renamo distancia-se do dia 3 de Fevereiro

Oficialmente a Renamo não vai participar amanhã nas cerimónias de 3 de Fevereiro, dia dedicado aos heróis Moçambicanos. A data segundo Fernando Mazanga, porta-voz da organização peca por ser discriminatória, ou seja, por considerar a uns de heróis e outros não quando tanto uns como outros deram a si a bem deste país.
"Temos heróis que lutaram pela libertação Nacional. Mas também temos heróis que lutaram pela democracia. Temos heróis na cultura, na economia, no desporto e noutras esferas de actividades que não são consideradas como tal.
Logo, não faz sentido para a Renamo participar num acto discriminatório quanto este", disse Fernando Mazanga.
Instado de dar exemplos sobre quem são essas figuras, cujos feitos não são reconhecidos a fonte deu exemplo de figuras como o jornalista Carlos Cardoso, o economista Siba Siba Macuácua e a desportista Lurdes Mutola que tanto fizeram por este país mas cuja heroicidade não lhes é reconhecida.
Comentando tal ausência Edson Macuácua, Secretário do Comité central para a Mobilização e Propaganda do Partido Frelimo, disse que a auto-exclusão da Renamo só prejudica a ela própria, pois se marginaliza cada vez mais da vida política Nacional.
O secretário da Frelimo elucidou ainda que qualquer povo, em qualquer parte do mundo, tem a sua história, os seus valores, os seus heróis e suas referências sobre os quais se inspira toda sociedade.
NOTÍCIAS - 02.02.2006

01-02-2006

COMBATE de MARRACUENE

crónica ilustrada em texto de João Craveirinha
«…Fambane Pambene va-Landííí – Nhimpííí…»Tradução: - «para a frente gente da terra – guerra – ataque» (Em Guaza Muthine, voz de comando do jovem príncipe Ronga, nuã-Matidjuana caZixaxa iMpfumo, chefe da revolta contra as forças coloniais Portuguesas saídas da cidade de Lourenço Marques (caMpfumo), na Terra dos Rongas em Moçambique, actual Província de Maputo).
As forças coloniais (militares portugueses e praças “indígenas” de Angola e da ilha de Moçambique), entrincheiradas num “Quadrado militar clássico”, conseguiram rechaçar os assaltos dos revoltosos Rongas que por duas vezes romperam o “Quadrado” com...
Veja o texto completo em
Nota: Texto sem fotos
JEZEBELA:
MOÇAMBIQUE Feitiços, cobras e lagartos

31-01-2006

Reconhecido contributo negro para a nação francesa

10 de Maio «Dia em Memória da Escravatura»
O Presidente Jacques Chirac anunciou ontem que de agora em diante, todos os anos, a França invocará a «memória da escravatura, longamente abafada, honrará as vítimas deste comércio ignóbil» e celebrará a sua abolição a 10 de Maio. Em 2001, nesta data, a França tornou-se o primeiro pais do mundo a considerar a escravatura como um «crime contra a humanidade».
Numa mensagem à nação, Chirac convidou os franceses a «olhar para a história do seu país tal como ela aconteceu» e a «assumir tanto as páginas sombrias como as páginas gloriosas». Apelou, ainda, para que o período da escravatura ocupe um «justo lugar» nos programas de ensino público.
O Presidente francês anunciou, também, a criação de um Centro Nacional de Investigação sobre a Escravatura e o Comércio negreiro e prometeu apadrinhar uma iniciativa europeia e internacional na luta contra o trabalho forçado, forma moderna de escravatura.
Recorde-se que foi o próprio Chirac quem, por iniciativa pessoal, conseguiu eliminar um artigo de uma lei de 2005 que aconselhava os docentes a destacar «o papel positivo da presença francesa no Ultramar, nomeadamente na África do Norte».
Passados alguns meses desde a «crise des banlieues» e dos incêndios em automóveis e prédios degradados - que puseram em evidência os problemas de integração que enfrentam os franceses descendentes de imigrantes árabes e africanos - o presidente francês propõe agora o reconhecimento do «o contributo cultural considerável dos escravos e seus descendentes» para a formação da nação francesa.
Um dos representantes do CRAN foi recebido ontem no palácio presidencial. Segundo dados demográficos há cerca de cinco milhões de negros em França mas esta minoria é ainda menos representada politicamente que os magrebinos apesar de ser numericamente equivalente.
Chirac condenou o racismo, «crime do coração e da mente», que «suja e destrói». Uma tomada de posição importante face a subida do racismo e da xenofobia em França e na Europa. Segundo uma sondagem recente um francês em cada três se declara racista e seis em cada dez considera excessivo o número de estrangeiros.
AFRICAEXPRESSO - 31.01.2006

EFEMÉRIDES no Espaço GRAFITTI Multicultural (Portugal)

Sexta-feira, 03.02.2006, Início 18:30hs – Olival de Basto
INTERVENÇÃO MUSICAL E GASTRONOMIA AFRICANA
(organização Mick Trovoada – mick_trovoada@hotmail.com)
Rua ilha da Madeira nº 16 – Olival de Basto 2675 – Portugal
Telefone: 219371948 (Transportes: Metro Lisboa - Sr. Roubado – linha amarela Odivelas; próximo Teatro Malaposta, a descer – autocarro 7 – Mapas -http://www.metrolisboa.pt/sr_ai.htm 
MASSACRE de BATEPÁ - São TOMÉ  (e Príncipe), -  Efeméride de 3 de Fevereiro de 1953
Data em que proprietários coloniais portugueses reprimiram violentamente  uma manifestação da população africana contra as condições de vida na colónia africana de Portugal. Na Enciclopédia Wikipedia consta em mais de 1.000 (Mil) mortos as vítimas da violência nesta data.
(Alocução – Prof. Dra. Inocência Mata)
Dia dos HERÓIS MOÇAMBICANOS 3 Fevereiro 2006.
Data Comemorativa do Sacrifício dos Moçambicanos pela Independência de Moçambique.Efeméride do assassinato a 03.02.1969 em Tanzânia, do Doutor EDUARDO MONDLANE, Alto Funcionário da ONU e Professor Universitário.
(Alocução - João Craveirinha)

30-01-2006

O GENERAL CATEDRÁTICO A METER ÁGUA...

Na memória do General Catedrático Sérgio Vieira, parece que estou nos primeiros lugares.  É logo no primeiro bosquejo dos seus “Testemunhos da Memória”, publicado a 16 de Setembro de 2005, no “Boletim Informativo do Partido FRELIMO”, que ele se lembrou da minha humilde pessoa.  Será uma homenagem, que presta a virtude ao vício, ou o vício à virtude? 
Depois de muito matutar, assim espero que seja e, por isso, me senti com a responsabilidade moral de vir ajudar o General Catedrático, esta verdadeira “biblioteca viva” ambulante, “corrigindo, acrescentando”, afastando alguma “inverdade” indeliberada ou sem intuito, assim o espero também, porque não quero, aqui, arquitectar processos de intenções, só desejo lembrar factos. 
Queria só cingir-me à minha “parte limitada do todo”, até, porque uma velha camaradagem me liga ao General Catedrático.  Camaradagem que nasceu, no verão de 1963, quando, aos 18 anos de idade, desembarquei do cargueiro “África Ocidental” da CUF, em Casa-Branca, para pedir asilo político às autoridades marroquinas...
Veja o texto completo em
Artur Janeiro da Fonseca
23 de Janeiro de 2005
NOTA: Para compreender este texto não deixe de ler
             com o texto de Sérgio Vieira.

29-01-2006

ALFARRABISTAS E LIVREIROS ANTIQUÁRIOS EM PORTUGAL

Embora não exaustiva, junto uma listagem dos principais alfarrabistas de Portugal.
Veja em:

24-01-2006

MAAC e UP rubricam acordo de cooperação

O Ministério para os Assuntos dos Antigos Combatentes (MAAC) e a Universidade Pedagógica (UP) acabam de rubricar um formulário de cooperação com vista a investigação, tratamento, elaboração e divulgação  dos factos, fenómenos e processos da Luta de Libertação Nacional.
Assinado na passada segunda-feira, pelo Ministro do pelouro do  (MAAC), Feliciano Gundana e pelo reitor da UP, o Professor Doutor Carlos Machili, igualmente constitui objecto do presente protocolo, a realização de estudos, assessoria e/ ou consultoria sobre eventuais projectos económicos de enquadramento de Combatentes da Luta de Libertação de Moçambique.
Conforme a cláusula segunda do acordo, os elementos acima descritos serão realizados sob forma de projectos em que cada uma das partes, através do seu pessoal especializado, será competente para propor matérias passíveis de investigação, publicação, assessoria e consultoria.
O mesmo objecto será pesquisado por docentes/investigadores da UP e por investigadores do MAAC, onde serão privilegiados projectos de investigação que nas equipas de pesquisa incluam estudantes de cursos afins da UP.
O reitor da UP considerou que pouco mais de 50 por cento dos documentos são branqueados, dai a falsidade da história.   
O protocolo determina como obrigações do MAAC a entrega à UP da lista de assuntos e matérias que pretende ver pesquisados e publicados com cientificidade, assim como a colocação à disposição da UP os “dossiers” que directa ou indirectamente estejam ligados à luta de libertação.
Por outro lado, a MAAC terá como obrigação facilitar o acesso à recolha e tratamento de dados às equipas de pesquisa e, estar disponível a esclarecer dúvidas e fornecer dados complementares solicitados por equipas de investigação.
Relativamente aos fundos para a prossecução das pesquisas, caberá as partes diligenciar a criação dos fundos de pesquisa destinados a suportar os encargos com a investigação e publicação  da História de Libertação.
No que concerne a formação profissional, a UP vai realizar cursos de formação profissional de curta duração para os Combatentes da Luta de Libertação Nacional envolvidos  nos projectos económicos e sociais.
Conforme o documento em nosso poder, enquanto perdurar o presente protocolo, a UP reservará anualmente, em cada uma das suas delegações o mínimo de cinco vagas para frequência de cursos superiores de que serão beneficiários os combatentes da luta de libertação de Moçambique e seus descendentes.
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 11.01.2006

20-01-2006

A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (3)

Sergio_vieira01_2TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Gwambe aliou-se, ou vivia às expensas do Bureau, Mondlane com realismo e nisso apoiado por Ahmed Ben Bella e a Argélia, entendeu que o Tanganhica e a Rodésia do Norte (mais tarde Zâmbia), com o Niassalândia (depois Malawi), constituíam as retaguardas geográficas da causa da libertação da África Austral.
A decisão da OUA de fixar a sede do Comité de Libertação em Dar Es Salaam, encerrou um debate bem falso. George Magombe dirige o Comité de Libertação, no início dos anos 70 substituído por Hashim Mbita até ao final da existência útil do Comité, com a independ6encia da Namíbia e a queda do apartheid.
Em 1963 Mocumbi e Chissano são chamados para Dar Es Salaam e eu enviado para Marrocos.
Em Rabat estava a Amália (Maya) da Fonseca (PAIGC) e o seu esposo, o médico Africano Neto (MPLA) e Aquino de Bragança, com a Mariana sua mulher, a Maya e Aquino ligados à CONCP a quem me juntei no trabalho. Lá vivia, mas na UGEAN (União Geral dos Estudantes da África Negra Sob Domínio Colonial Português), encontrava-se o Belli Bello e dois companheiros da Guiné Bissau.
O Aquino, a Mariana e os filhos, pouco depois partem para a Argélia, para o Aquino trabalhar no semanário argelinoRévolution Africaine e a Mariana leccionar.
Mário de Andrade vivia em Rabat, assim como a primeira esposa de Amílcar e a filha mais velha. Connosco e em Rabat estavam ainda o João Mungwambe e o Joel Maduna, Ambos haviam sido expulsos da FRELIMO pelas manobras do agente Léo Aldridge Milas, desmascarado por Mondlane. Mondlane recupera os dois camaradas, que viviam no Cairo, e envia-os para Rabat.
O Jorge Rebelo junta-se a nós pouco depois. Mungwambe irá abrir a representação na Argélia, em 1964 e Maduna vai treinar na Argélia, é enviado para abrir a frente sul, onde a PIDE o assassinou na cadeia em Lourenço Marques, privando-o totalmente de comida e água, quando capturado. Rebelo segue para a Argélia e daí para Dar Es Salaam.
A saída dos caciques da MANU, da UDENAMO e da UNAMI, embora criando tensões diversas, libertou a FRELIMO das visões tribais e regionais e das expectativas vãs que a ONU ou a OUA nos trouxessem a independência numa salva de prata.
Diga-se de passagem, que o saudoso Diallo Telli, primeiro Secretário Executivo da OUA também entretinha esse mito e, formada a OUA pediu a Mondlane que se instalasse com a direcção da FRELIMO em Addis Abeba, pois a África libertariaMoçambique e nos instalaria no governo.
Mondlane respondeu que a tarefa dos moçambicanos era lutar e regar com sangue a libertação e a da OUA apoiarnos logisticamente.
Desde o início Mondlane leva a FRELIMO a agir em três direcções distintas:
Preparação da luta armada. Dois grupos seguem para a Argélia, o último dirigido por Samora, o primeiro creio encabeçado pelo Filipe Magaia. Um segue para o Egipto, dirigido pelo Lopes Tembe. Outro com Samuel Dlhakama e Sumbane para Israel, onde vão receber formação em enfermagem. Mais tarde José Moiane, Sebastião Mabote, Francisco Langa e mais camaradas vão treinar em Nanquim e Joaquim Chissano na URSS.
A organização clandestina, que Jaime Rivaz Sigaúke, dirige, coadjuvado por Mariano Matsinhe. Sigaúke que fazia demasiado confiança a elementos suspeitos de colaboradores da PIDE, é raptado e assassinado pela PIDE, substituindo-o o Mariano.
A formação escolar dos jovens, iniciada no Instituto Moçambicano, construído com o apoio da Fundação Ford. Numa primeira fase os alunos apenas viviam no Instituto e frequentavam as aulas no Kurasini International School, criado pelo African American Institute.
Curiosamente, a decisão de criarmos o nosso próprio sistema de ensino, com as aulas em português, com professores nossos, livros de ensino nossos torna-se, já na segunda parte dos anos 60, uma dos pretextos para o ataque contra a FRELIMO pelo grupo Gwenjere, Simango, Nkavandame.
Após o assassinato do Presidente Kennedy, a administração Johnson devido ao seu envolvimento no conflito do Vietname (o desfolhante Agente Laranja foi experimentado em Cabo Delgado) e aos compromissos com Israel aceita as pressões de Lisboa e leva a Fundação Ford a cortar os apoios ao Instituto Moçambicano.
Tentando prevenir o seu desaparecimento um grupo ligado aos velhos caciques da MANU assassinam um sacerdote estrangeiro em Cabo Delgado em Junho ou Julho de 64.
Continua...
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 173 – 28.11.2005

A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (2)

Sergio_vieira01_1TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Como moçambicano e em contacto com o país e os colegas que estavam em Poitiers, Joaquim Chissano e Pascoal Mocumbi, havendo já falado com Marcelino dos Santos, não partilhava da desconfiança dos colegas angolanos, em especial. Conhecia também o papel de Mondlane para a promoção da nossa fuga colectiva.
Eduardo Mondlane falou comigo à parte, levou-me a almoçar num restaurante, que embora sem luxos, sempre me libertava da rotina dos restaurantes universitários, frequentava então o Mabillon e o restaurante dos estudantes muçulmanos, em Saint Michel.
Contou-me a sua visita a Moçambique, deu pormenores sobre o Massacre de Mueda. Falou, depois do imperativo da unidade e das causas dos fracassos anteriores da luta pela independência, mencionou-me o dilaceramento de Angola, onde a UPA mais que combater os colonialistas, procurava aniquilar o MPLA.
Explicou-me, detalhadamente, a situação da UDENAMO e da MANU. Não me recordo de haver mencionado a UNAMI.
Sobre a UDENAMO e a MANU alertou-me sobre o facto de ambos movimentos lhe parecerem padecer de grandes tendências tribais, muito embora houvesse gente sã no seio deles.
Marcelino dos Santos já nos havia contado estas situações preocupantes.
Entre os poucos moçambicanos, ora em Poitiers onde estudavam Chissano e Mocumbi, ora em Paris, onde me encontrava, com o Ganhão, o Almeida Matos, a Elisabete Sequeira, o Américo e o Walter Leitão, o Rui Nogueira e a Isabel Brito (estes quatros últimos abandonaram-nos aos poucos), discutimos e decidimos fazer funcionar a UNEMO, criada pouco antes em Moçambique pelo Chissano e Mocumbi e alguns outros companheiros.
Em coordenação com o pequeno grupo que estudava na Suíça, o Valeriano Ferrão e a Ana Simeão Neto, e com os que estavam nos Estado Unidos decidimos, em bloco, não aderir a nenhum partido e exigir a unidade.
Não me recordo se o Mocumbi, se o Chissano, mas um deles deslocou-se a Dar-Es-Salaam e transmitiu a nossa posição a favor da unidade. A 25 de Junho de 62 todos nos tornamos membros da FRELIMO, como acordado.
Para o I Congresso da FRELIMO creio que foi o camarada Chissano.
Em Maio de 1962, através do Marcelino que estivera em Acra, tomámos nota do protocolo assinado entre a MANU e a UDENAMO, com a sequência no acordo de fusão, assinado a 25 de Junho em Dar-Es-Salaam e marcando o nascimento da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO-, com Mondlane na direcção. AUNAMI assinou posteriormente.
Considerámos que desde esse dia fazíamos parte da FRELIMO.
Aparentemente, durante o encontro de Acra, quando se tratou de discutir o nome da nova organização, Gwambe sugerira o nome, Frente de Libertação de Moçambique e a sigla FRELIMO. Durante toda a sua vida política pouco mais fez do que criar nomes de organizações e siglas, que tão depressa se formavam como se esvaíam. Assinou o Acordo, não secara a tinta e já criara uma NOVA UDENAMO, seguida duma FUNIPAMO, transformada em MORECO e depois COREMO, etc.No fundo almejava mais presidir do que fazer e, motivado pela ambição, estava pronto a toda e qualquer aliança e mesmotraição.
Pouco depois encontrei-me com Adelino Gwambe em Helsínquia, no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Rapidamente me explicou que não apoiava a FRELIMO porque dominada pelos imperialistas americanos e porque recusava a luta armada, o contrário da informação de que eu dispunha. Abstive-me de o contrariar.
Confesso que na conversa, deambulávamos pelas ruas de Helsínquia, fiquei estarrecido quando me confessou receber revelações do espírito de Lumumba e, por duas vezes, interrompe o que me dizia, fica hirto e diz-me que se está a comunicar com Lumumba! Este primeiro encontro foi o último, nunca mais o vi.
Durante este período inicial da vida da FRELIMO, Gwambe que gozava de apoios no Bureau for African Affairs, no Ghana, lança campanhas de imprensa muito violentas contra Mondlane e a sua esposa, Janet, acusados de agentes do imperialismo americano. O Spark e a sua edição em português A Faúlha são os grandes veículos da campanha anti FRELIMO e anti Mondlane. Lembro-me de na época haver escrito uma carta ao jornal denunciando as falsidades e calúnias propaladas.
Surgia uma certa rivalidade entre o Ghana e o Tanganhica, o Ghana querendo o papel de protagonista na causa da libertação, o Tanganhica, por força das circunstâncias geográficas impondo-se com um real protagonismo.
Continua...
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 172 – 16.11.2005

A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (1)

Sergio_vieira01TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Em princípios de 62, possivelmente finais de Janeiro, Mondlane vem a Paris.
Arranjou-me uma bolsa da CIMADE, organização do Conselho Ecuménico que apoiava os estudantes refugiados.
Em Sèvres, nos arredores de Paris, onde se encontrava o lar, estavam dois moçambicanos, o Américo e eu, numerosos angolanos, congoleses (k), argelinos que saiam das cadeias francesas e alguns húngaros que vieram para França na sequência dos eventos de Budapeste em 56. Em Poitiers estavam o Pascoal Mocumbi e o Joaquim Chissano, ambos estudando medicina. Na Suíca a Ana Simeão, nos Estados Unidos já se encontrava o João Nhambiu e o António Butsha Kashiputo, creio que no mesmo momento no Reino Unido estudava o Pastor Mabunda.
Dirigia o Lar da Cimade o Pastor ortodoxo, russo branco, Edvokimov e a sua esposa, uma franco-vietnamita, Therèse. Edvokimov, eminente teólogo, homem de coração grande e sabedoria, impunha a não discriminação entre todos que acolhia. Rezava no início das refeições, mas a ninguém obrigava a benzer-se ou com ele orar.
Quando o Presidente Mondlane chegou a Paris promoveu um encontro com os
estudantes das colónias que aí se encontravam. De Moçambique, nesse momento participaram no encontro apenas o Mocumbi e Chissano e eu, não me recordo se o Ganhão já havia chegado.
Porque estudara nos Estados Unidos e aí leccionara, muitos estudantes das restantes colónias olhavam para Eduardo Mondlane com alguma suspeita. A UPA,
ainda não se tornara FLNA, beneficiava dum grande apoio americano.
Os eventos do Congo (K), a guerra do Vietname, o anti cubanismo da administração Kennedy tornavam odiosa a política americana para uma juventude generosa, solidária com a causa da libertação. Qualquer associação com a América tornava-se suspeita.
Esta desconfiança se agravava pelo facto de que, no segundo semestre de 1961, a convite de Adriano Moreira, Mondlane visitara Moçambique, a imprensa local e portuguesa destacaram o evento. Adriano Moreira, homem de grande lucidez e visão que nesse momento dirigia o Ministério do Ultramar, procurava a todo o custo prevenir que a guerra se estendesse às demais colónias.
Por isso retirara a Comissão Administrativa da Casa dos Estudantes do Império, imposta pelo então Comissário Geral da Mocidade Portuguesa, Silva Cunha. Recebia os estudantes das colónias, multiplicando os gestos de apaziguamento.
Abolira o Estatuto do Indígena e o Código de Trabalho para o Indígena, actos na
sequência esvaziados de conteúdo, pela pressão dos colonos e das companhias
coloniais. Nomeara Sarmento Rodrigues para o governo de Moçambique. O Almirante, tal como Adriano Moreira, sentia-se próximos dos círculos das altas
patentes militares que haviam tentado, em Março de 61, o golpe palaciano falhado
contra Salazar e a guerra.
As ideias de Adriano Moreira não diferiam das de Marcello Caetano, já em rota de
colisão com Salazar. Portugal e o Futuro, do General Spínola, publicado nos
princípios de 1974, reflectiam essas perspectivas, mas com 13 anos de atraso,
com a guerra em três frentes e o exército saturado delas e mais que desmoralizado. Marcello Caetano no poder jamais se esforçou de aplicar o que sonhara e capitulou diante dos ultras, arrastando ainda mais o seu país para a guerra.
Com o seu convite a Mondlane Adriano Moreira prosseguia o duplo objectivo de,
forçar a evolução conducente à autonomia e independência e prevenir a guerra. Ele desejaria fazer de Mondlane o Secretário Geral dum governo colonial de Sarmento Rodrigues em Moçambique. Na sequência e face a delicada recusa de Eduardo Mondlane, buscou a participação de Domingos Arouca.
As lutas entre os grupos ultras e mais liberais do regime saldam-se com a derrota dos liberais e Domingos Arouca pagará com longos de ano de cadeia os sonhos de Adriano Moreira. A factura jamais poderia ser saldada por Sarmento, Moreira ou os liberais, mais do que as conspirações Salazar abominava os escândalos.
No final da história, Adriano Moreira fracassou pois que o regime não estava pronto a qualquer mudança ou sinal de mudança. Adriano Moreira foi afastado do Governo pouco depois, os ultras e colonos não o prezavam.
Mondlane aproveitou o convite para reforçar a ligação interna, escamoteando a manobra de Moreira. Mondlane avaliara correctamente a correlação de forças prevalecente em Portugal e estava mais que consciente de que na melhor das hipóteses lhe reservavam o papel de pretinho de alma branca e bem comportado.
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 171 – 04.11.2005

16-01-2006

MOGINCUAL, SUAS TERRAS E GENTES

Do Professor Dr. Carlos Bento que viveu vários anos em Moçambique, MACUA DE MOÇAMBIQUE e MOÇAMBIQUE PARA TODOS têm a honra de apresentar um estudo sobre o Mogincual, hoje pertencente à Provincia de Nampula, em Moçambique.
Veja e imprima:

15-01-2006

Ratos que detectam minas usados a partir de Março em Inhambane

Dezassete ratos treinados na detecção de engenhos explosivos serão usados a partir de Março para remoção de minas terrestres em Inhambane, sul de Moçambique, num projecto a desenvolver pela organização belga APOPO, até 2007.

O representante da APOPO, Frnak Weetjens, disse hoje que os ratos importados da Tanzânia têm a capacidade de iniciar a abertura de uma cova onde se encontre o engenho numa área de trabalho demarcado em cada 100 metros quadrados.
Também podem avaliar directamente 160 amostras de área suspeita de conter minas anti-pessoal em apenas 20 minutos, exercício que o homem necessita de um dia para fazer.
Comparativamente ao cão, os referidos ratos podem igualmente detectar explosivos plásticos e detectar mais rapidamente as minas anti-pessoais.
Esta é a primeira experiência do género no mundo, que arrancou há dois anos em Moçambique, permitiu a desminagem de várias áreas também na província de Gaza, sul, destacou.
O Governo moçambicano arrancou com o projecto de desminagem na década de 90 e nos últimos cinco anos gastou perto de 90 milhões de euros para destruir milhares de minas terrestres, numa extensão de mais de 50 milhões de metros quadrados.
Dados oficiais estimam que existem em mais de 790 aldeias afectadas por engenhos explosivos, facto que torna Moçambique um dos países mais afectados do mundo por este flagelo.
Segundo as Nações Unidas, as minas terrestres matam, anualmente, cerca de 25 mil pessoas. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 12.01.2006

13-01-2006

A ALMA LUSA - IMPÉRIO E CULTURA DA MESTIÇAGEM

Não deixe de ver o programa Prós e Contras com a intervenção do  Padre António Colimão, da Associação Fraternidade Damão e Diu, na próxima segunda-feira, 16 de Janeiro, na RTP1, pelas 22H25.
Neste Programa

Hoje o Futebol.
Antes o Império e a cultura de mestiçagem.
Outrora o conhecimento marítimo.
Como será que a nação projecta a sua imagem no mundo e como é que esses valores influenciam as nossas atitudes?
Que importância tem a representação da chefia do Estado e como tem sido concretizada?
No momento em que o país se prepara para escolher o novo presidente Nandim de Carvalho, José Adelino Maltês, Jacinto Lucas Pires, António Colimão, João Carlos Oliveira e Clara Pinto Correia vêm ao Prós e Contras debater a "Alma da Nação". Segunda-feira à noite na RTP.
Do site da RTP

11-01-2006

NO OUTRO LADO DO TEMPO - DVD

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Nesta colectânea de MOÇAMBIQUE - No outro lado do tempo(Parte I e II), poderá ver e rever as imagens de uma época que fez parte da vida de muitos portugueses.
Estas são algumas das imagens únicas, inéditas e inesquecíveis referentes ao início dos anos 70, imagens gravadas algures "No outro lado do Tempo".
Agora em DVD.
Contactos:
Telefone: 351.214348010    Email: geral@comsom.tv

06-01-2006

Animais voltam à Gorongosa

Parque Nacional está a ser reabilitado
Búffalos, elefantes, rinocerontes, gazelas e zebras estão a regressar em força ao Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, ao abrigo de um projecto internacional de reabilitação que envolve os esforços de americanos, portugueses e moçambicanos.
Agora, sob a coordenação da Carr Foundation - uma instituição criada em 1999, pelo milionário e filantropo norte-americano Gregory C. Carr - o Parque Nacional da Gorongosa está no bom caminho para voltar a ser uma das principais reservas naturais de protecção da vida selvagem em África.
O memorando de intenções assinado em Outubro de 2004, com o Ministério do Turismo moçambicano, sob a égide do então Presidente Joaquim Chissano, consagra o investimento global de 36 milhões de dólares (31 milhões de euros) no projecto de recuperação desta área de 3770 quilómetros quadrados, na Província de Sofala, em pleno centro de Moçambique.
Greg Carr frisa o carácter de longo prazo do seu compromisso de desenvolvimento do Parque Nacional da Gorongosa, nos próximos 30 anos. «Temos de planear a nossa intervenção em várias fases: conservação, sócio-económica e turística. Este projecto motivou-me, porque é uma combinação entre uma acção de protecção da natureza e um projecto de desenvolvimento económico. Trata-se de usar a beleza do ecossistema para combater a pobreza».
Prioridade ao repovoamento
Assim, a primeira fase passa pelo repovoamento dos animais dizimados por caçadores furtivos durante as duas décadas de guerra que se seguiram à independência do país. O filantropo americano reconhece que «houve algum esforço de restauração, logo a seguir à guerra, mas o parque precisava de uma nova injecção de dinheiro».
Com recurso aos fundos disponibilizados pela Carr Foundation, está já a ser construída uma vedação em torno de uma área com 5000 hectares, especialmente vocacionada para a reprodução de animais, nomeadamente, rinocerontes e búfalos que serão depois libertados no parque. «Os elefantes estão a regressar - existem cerca de 250 -, mas só temos uma manada de 35 búfalos e, apenas, sete leões», revela. Paralelamente, serão desenvolvidos estudos hidrológicos, da flora e da fauna, com recurso a meios de detecção por satélite, envolvendo cientistas americanos e moçambicanos da Universidade Eduardo Mondlane, do Museu de História Natural de Maputo e da empresa de consultoria ambiental Impacto, liderada pelo biólogo e escritor Mia Couto.
Os responsáveis por este projecto de recuperação também gostariam de ver a Serra da Gorongosa (onde nascem os rios que irrigam a reserva) incluída no perímetro do parque e estão a trabalhar na legislação que visa criar uma "zona tampão" de protecção nas zonas limítrofes, onde existem 12 aldeias tradicionais.
«Estamos muito envolvidos com as populações - assegura Greg Carr - essa é a nossa grande diferença em relação a outros parques, em que há autênticas batalhas para afastar os habitantes locais. Nós, pelo contrário, queremos incluir as pessoas no sucesso do parque, gerando empregos para elas mas, também, possibilitando-lhes a criação dos seus próprios negócios».
No futuro, 20% das receitas do parque reverterão para as comunidades locais, que serão objecto de um recenseamento com vista à determinação das suas necessidades mais prementes nos domínios da saúde, educação e abastecimento de água.
Ecoturismo
Greg Carr recorda que, no passado, «a Gorongosa apresentava a maior densidade de animais em África» e que as razões para isso estão nos diferentes ecossistemas da região. «Existe uma grande diversidade de ecossistemas, numa superfície relativamente pequena: planícies, savanas, rios, lagos e dois tipos de floresta húmida, que criam uma abundância de vida selvagem e cenários de grande beleza. Uma oportunidade para o turismo tremenda», comenta.
Na opinião do milionário americano, «a Gorongosa pode ser o motor económico de Moçambique, atraindo dezenas de milhares de turistas por ano, que vão ao parque, mas também, a outras regiões do país e gastam dinheiro nas viagens, no alojamento e no comércio e serviços». Numa fase inicial, Greg Carr aponta para«um total de 100 mil entradas, um número que considera realista quando comparado com os dois milhões de pessoas que visitam anualmente o Kruger Park, na vizinha África do Sul».
Além do vulgar turista, a promotores do Parque Nacional da Gorongosa querem reunir todas as condições para atrair cientistas e outros estudiosos do mundo animal. Para o efeito, «vai ser construído um centro permanente de Ciência para investigadores convidados», revela Vasco Galante, responsável pelo desenvolvimento turístico do empreendimento.
No próximo ano, será dado início à construção dos primeiros "lodges", mas só em 2007 o parque estará equipado para organizar safaris na rede de picadas, actualmente, em fase de preparação. Todavia, «o parque já está a receber visitas de turistas com um espírito mais aventureiro - revela Vasco Galante - são, normalmente, italianos, suíços e holandeses, que se deslocam nas suas próprias viaturas e com todo o equipamento de campismo. Dispomos de chuveiros e de um pequeno restaurante no Chitengo». O aldeamento construído pelos portugueses no tempo colonial será, posteriormente, transformado num campo educacional para crianças moçambicanas e dotado de um museu, acrescentou o mesmo responsável.
Portugal apoia recuperação
De passagem por Portugal, Greg Carr foi recebido pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Cravinho, a quem o milionário americano apresentou o projecto de recuperação do Parque Nacional da Gorongosa. À saída do encontro e satisfeito com a receptividade demonstrada, Carr revelou que o Governo Português vai facilitar os contactos e apoiar a recolha de documentação sobre o parque no Arquivo Histórico Ultramarino, na Cinemateca e na RTP.«Há muitos portugueses que conservam memórias e fotografias antigas da Gorongosa que gostaríamos de reunir. O Parque Nacional da Gorongosa é um espaço onde portugueses e moçambicanos poderão partilhar a sua história comum», concluiu.
Formado em Harvard, nos anos 80, Greg Carr fez fortuna nos primórdios da economia da informação, à frente de empresas como a Boston Technology e os servidores de Internet Prodigy e Africa Online. Em 1998, renunciou a todos os cargos e vendeu as suas participações para criar o Carr Center for Human Rights Policy, o Idaho Human Rights Education Center, o Market Theater e a fundação com o seu nome.
Conhecido pelas suas campanhas anti-racistas e em prol dos direitos humanos, Greg Carr concentra, aos 45 anos, as suas atenções no desenvolvimento social e na protecção da biodiversidade em África. «Este é o projecto mais belo da minha vida - confessa - sempre pensei que, se algum dia fosse rico, passaria a minha vida a fazer as coisas com que, realmente, me preocupo».
Alexandre Coutinho  - EXPRESSO AFRICA - 03.01.2006

27-12-2005

1895, 28 de Dezembro – Mouzinho de Albuquerque aprisiona Gungunhana em Chaimite, a aldeia sagrada dos angunes.

Passam amanhã, dia 28 de Dezembro, 110 anos sobre a prisão de Gungunhana por Mouzinho de Albuquerque.
Recordo a efeméride através de um texto publicado pela Grande Reportagem em 28 de Agosto de 2004.
Aqui apresento algumas fotos retiradas do livro de Maria da Conceição Vilhena "Gungunhana no seu reino":
Gungun01
Gungun06
Leia aqui
UM HERÓI PARA MOÇAMBIQUE

23-12-2005

Desastre de Mbuzini - Piloto quer que Sérgio Vieira seja ouvido pela PGR

por Azarias Mabunda
Está difícil, da parte da Frelimo, obter uma posição clara sobre as causas do desastre de Mbuzini. Julgava-se que com a publicação do livro, A Morte de Samora Machel, em que o autor apresenta todos os dados relacionados com o desastre, as autoridades deste país viessem a público rebater ponto por ponto. Em vez disso, fecharam-se em copas. Quem cala, consente, ou talvez não, se se tomar em linha de conta a posição sempre polémica de um Sérgio Vieira.
Contudente como sempre, reduziu a obra, A Morte de Samora Machel, a uma peça de ficção e a uma invenção da História, pese embora o facto de a não ter lido e de nem ter a certeza da sua existência. Pelo menos é o que se depreende quando afirma, às claras, não estar certo da existência do livro em questão. Transcrevo da lavra do próprio: “Parece que saiu um novo opúsculo em Maputo”, para logo a seguir alegar que a obra em referência contem a versão do apartheid e que se funda em especulações e camuflagens. Também meteu no mesmo saco a PIDE e a Rodésia.
O que há de “invenção da História” no livro, A Morte de Samora Machel?
O que tem a ver a PIDE com o acidente de aviação que vitimou o Presidente Samora Machel?
Se a Rodésia de Smith passou à história muito anos antes de Mbuzini, qual a relação entre uma coisa e outra?
Sou piloto profissional. Li o livro de João Cabrita, compreendi os pareceres de todas as partes tal como contidas em vários capítulos. Acompanhei o debate sobre Mbuzini organizado pela STV e tirei minhas conclusões objectivas. Ficou claro que a história do envolvimento dos sul-africanos e do VOR falso tem sido mal contada.
Foram não apenas sul-africanos, mas também moçambicanos e soviéticos que recolheram os factos sobre o desastre. São dados que revelam, de forma insofismável, que o avião presidencial estava a ser pilotado uma tripulação desleixada e descuidada. Uma tripulação que se abandalhou e baldou. Os tripulantes do Tupolev não efectuaram um plano de voo como mandam as leis da aviação em vigor no nosso país. Eles não abasteceram o avião convenientemente, não cumpriram com as regras basilares de descida e aproximação a uma pista, desrespeitaram as instruções dadas pelo AFIS de Maputo, ignoraram o sinal de alarme dado pelo GPWS do próprio avião e continuram a descer, às escuras, sem saber exactamente onde estavam. E por isso colidiram, causando a morte do Presidente Samora Machel e de muitos que o acompanhavam.
Pode-se varrer todos estes factos para debaixo da carpete para de seguida se lançarem as culpas sobre terceiros?
Todos esses factos foram extraídos das caixas negras do Tupolev. Pelos três países. Longe da África do Sul. Num país neutro (Suíça) e na própria União Soviética. Excluída está a hipótese dos sul-africanos terem viciado o conteúdo das caixa negras.
Sérgio Vieira afirma que há outros dados, outros relatórios, e pede ao estado moçambicano para que sejam “republicados”. Republicar significa publicar de novo. Em que data é que foram publicados pela primeira vez? Nunca os li antes. Apenas tomei conhecimento dos dados do acidente de Mbuzini e dos pareceres de Moçambique e da ex-União Soviética aravés do livro de João Cabrita. O que têm de diferente esses dados quando comparados com os dados recolhidos pelas três partes? Só Sérgio Vieira
pode explicar.
E porquê só falar agora desses novos dados e de novos relatórios?
Quem está, afinal, a proceder a uma “invenção da História”?
Vi, no debate da STV, o autor de A Morte de Samora Machel, a afirmar, sem rodeios, que a embaixada soviética em Maputo havia exercido pressões sobre o Comandante Sá Marques, piloto do voo TM 103 da LAM, que voava em direcção ao aeroporto do Maputo quando se deu o desastre do Tupolev presidencial, para que ele fosse mentir à comissão de inquérito, dizendo que o seu Boeing 737 também havia sido desviado da rota por acção do dito VOR falso.
Se os russos tinham tanta certeza de que houve um VOR falso porque necessitaram de recorrer à mentira para provar a sua existência?
O autor de A Morte de Samora Machel foi posteriormente citado como tendo dito que as pressões da embaixada da União Soviética sobre o Comandante Sá Marques haviam sido exercidas por intermédio do Ministério de Segurança moçambicano, e que pelo facto dele, Sá Marques, se ter recusado terminantemente a mentir à comissão de inquérito teve de abandonar Moçambique.
Sérgio Vieira era quem tutelava o Ministério da Segurança na altura. Terá sido ele o intermediário?
Seja como for, ele era o ministro e como tal deve ser solidário para com os actos praticados pelos seus subordinados.
Mentir a uma comissão de inquérito é tão grave como mentir a um tribunal. Constitui obstrução à justiça.  Segundo o Código de Direito Penal trata-se de um crime de perjúrio. É punível com prisão maior.
Como jurista que é, o antigo ministro da segurança moçambicano certamente que não desconhece tais preceitos legais. Pode não ter praticado tais actos, pode não ter tido conhecimento prévio das demarches da embaixada soviética, e pode não ter consentido que alguém sob sua jurisdição os praticasse. Mas em última instância deve responder pelas acções praticadas ao nível do seu ministério. Em abono da verdade e da transparência. É assim que funcionam as democracias. Os cidadãos deste país, sem excepção, têm de prestar contas. Nínguem pode estar acima da lei.
A Procuradoria Geral da República deve arrolar João Cabrita, o Comandante Sá Marques, Sérgio Vieira, a embaixada russa e demais testemunhas para que esclareçam exactamente o que se passou com essa questão da tentativa de prestação de falsas declarações a uma comissão de inquérito que investigava a morte de um chefe de estado moçambicano. Em última análise, deve-se apurar quem pretendeu fabricar provas e criar obstáculos ao curso normal da justiça, e com que objectivo. Teria sido apenas para ilibar o país que forneceu a tripulação ao estado moçambicano, como diz o autor de A Morte de Samor Machel? Parece haver algo ainda mais sinistro no meio de tudo isto.
Não à invenção da História, sim. Mas também não a obstruções à justiça. A democracia não se compadece com a mentira.
ZAMBEZE - Maputo, 15 de Dezembro de 2005 pág. 6

20-12-2005

Parlamento rejeita mudança da bandeira e do emblema nacionais

A bancada da FRELIMO, em maioria na Assembleia da República de Moçambique, chumbou hoje a proposta de alteração da bandeira e do emblema nacionais, permanecendo em vigor os actuais símbolos do Estado moçambicano.
A proposta de alteração da bandeira e emblema teve a oposição de 156 votos da FRELIMO, no poder, e 79 votos favoráveis da RENAMO-União Eleitoral, na oposição.
Defendendo a posição do partido no poder, o deputado Edson Macuácuá disse não existirem "razões sociais, históricas e políticas que justifiquem a mudança dos actuais símbolos nacionais".
"A bancada da FRELIMO votou a favor da soberania do povo e da história do país", disse Macuácuá, acusando a RENAMO de ter perdido "uma oportunidade de se reconciliar com o país".
Por seu turno, a RENAMO-União Eleitoral, através do deputado José Manteigas, defendeu que "Moçambique continua sem bandeira e emblema nacionais, pois os actuais são da FRELIMO".
"Esta bandeira não é do país, não é nacional, pois os milhões de moçambicanos não são todos da FRELIMO", vincou Manteigas, argumentando que "quem está interessado na mudança da bandeira é o país e o povo".
Os símbolos do Estado moçambicano, por cuja manutenção o parlamento votou hoje, são os que a FRELIMO adoptou logo após a proclamação da independência do país, em 1975, numa altura em que estava banida a existência de outros partidos políticos.
Nesses símbolos pontificam insígnias do marxismo- leninismo, que a FRELIMO havia abraçado como doutrina do Estado, antes da abertura multipartidária, em 1990. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 19.12.2005

19-12-2005

Ex-combatentes exigem definição de políticas de reintegração

A Conferência africana sobre ex-combatentes, realizada esta semana em Moçambique, apelou aos governos dos países de pós-conflito para adoptarem políticas de reintegração e exigiu o alargamento do estatuto de combatentes aos prisioneiros de guerra e presos políticos.
A reunião dos ex-combatentes da região austral de África, que terminou sexta-feira no distrito de Maringué, província de Sofala, centro de Moçambique, promovida pelo Instituto de Promoção da Paz de Moçambique (PROPAZ), exortou ainda aos governos a reconhecerem aquele grupo como "parceiros chave em processos de pacificação".
O encontro, que decorreu durante três dias, pretendia debater o estabelecimento de intercâmbios para fortalecer a paz nos países saídos da guerra e discutir formas e acelerar acordos com vista a repor a normalidade em países ainda em conflito armado.
A declaração final sugere que os governos "assegurem a reintegração efectiva do ex-combatente, em termos sociais, económicos, culturais e psicológicos, com particular enfoque na mulher, crianças e portadores de deficiência".
"Nós, ex-combatentes da região austral de África, exigimos que os governos tenham uma política de reintegração" e que "evitem e previnam a violência", sublinha o documento de duas páginas e com 67 assinaturas.
A declaração exorta ao reconhecimento do documento pelas instituições de tomada de decisâo, designadamente a União Africana, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e os governos dos países pós-conflito.
A reunião, que também pretendia harmonizar o conceito de ex-combatente a nível mundial, definiu como antigo militar "todos homens e mulheres que tenham participado em forças do tipo militar e que depois de qualquer forma de desmobilização voltaram à vida civil, incluindo menores de idade".
Estiveram presentes no encontro ex-combantentes de Moçambique, África do Sul, Zimbabué, Angola, Malaui, Suazilândia, Lesoto, Namíbia, Quénia, Zâmbia, Colômbia e Bósnia. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 17.12.2005

18-12-2005

Sérgio Vieira Considera “A MORTE DE SAMORA MACHEL” Livro Inspirado pela PIDE

Semanário Domingo (Maputo, 4 Dez 05 p. 8)
Carta a Muitos Amigos - por Sérgio Vieira
Na invenção da História, parece que saiu um novo opúsculo em Maputo com a versão do apartheid sobre o assassinato de Samora Machel e dos seus colegas. Funda-se na versão do apartheid e em especulações e camuflagens proporcionadas por elementos ligados no passado à PIDE e aos serviços rodesianos e sul-africanos. Veja-se, para comprovar, a lista dos agradecimentos que o autor endereça.
Penso que o estado Moçambicano, para que não se sufoquem os factos, deveria republicar o relatório moçambicano e o soviético assim como os dados das chamadas caixas negras. Igualmente, deveria publicar a comunicação que o presidente Chissano fez à II Legislatura da Assembleia da República.
Um abraço à verdade quando se trata de História e não de ficção.

Autor de  “A MORTE DE SAMORA MACHEL” Responde a Sérgio Vieira

Semanário Domingo (Maputo, 18 Dez 05 p. 9)

Ex.mo Senhor Jorge Matine
Ilmo Director do Semanário Domingo

j.domingo@tvcabo.co.mz
Na edição do dia 4 do corrente, o V/colaborador, Sr. Sérgio Vieira, proferiu
uma série de alegações francamente difamatórias, lesivas da minha dignidade,
e que merecem o seguinte reparo, no âmbito do direito de resposta consagrado
na Lei de Imprensa em vigor no país:
1. O livro, A Morte de Samora Machel, de minha autoria, não contém a "versão
do apartheid" sobre o acidente de aviação de Mbuzini, mas sim os pontos de
vista dos países que integraram a respectiva Comissão de Inquérito,
nomeadamente a África do Sul, Moçambique e a extinta União Soviética.
2. O livro fundamenta-se no relatório elaborado por aquela comissão, o qual
inclui, entre outros, dados comprovativos dos erros flagrantes cometidos
pela tripulação do Tupolev presidencial e que viriam a causar o acidente.
Tais dados foram recolhidos por investigadores dos três países acima
mencionados.
3. As individualidades a quem, no livro, agradeço o apoio prestado, apenas
me auxiliaram na interpretação de inúmeros pormenores técnicos constantes do
relatório em causa, para além de terem facilitado entrevistas com diversas
fontes, todas elas, aliás, devidamente identificadas.
4. A responsabilidade pelos pontos de vista e interpretação de determinados
factos mencionados no livro é inteiramente do autor, não reflectindo nenhuma
outra posição, tanto oficial, como particular.
5. É, portanto, gratuita, a insinuação feita pelo Sr. Sérgio Vieira de que o
livro, A Morte de Samora Machel, contou com o apoio de antigos agentes da
PIDE e das suas congéneres rodesiana e sul-africana, e isso é facilmente
comprovado pelo facto do V/colaborador, como lhe é peculiar, não ter
fundamentado a atoarda ora propalada e não o poderia ter feito pois nem
sequer havia lido o livro, conforme ele próprio admite.
Sem outro assunto a tratar, creia-me
De V.Exa
Atenciosamente
João M. Cabrita
Recorde em:

17-12-2005

E DEPOIS DO ADEUS...O MASSACRE DOS COMANDOS NEGROS DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Hugo Gonçalves
Não faz muita diferença quem tu és, nem quanto tempo treinaste, nem se és muito duro. Quando estás no lugar errado, à hora errada, vais  apanhar.
Em A Barreira Invisível, de Terrence Malick
Durante a guerra pisou uma mina. “Nem ouvi o barulho.” Havia trovões e chuva. O capim era alto. Uma emboscada. Os inimigos iniciaram os disparos após a explosão. “Tinha um buraco na minha perna. Via o osso. Rasguei o camuflado, apertei para não sair mais sangue. Continuei a fazer fogo. Fui evacuado uma hora depois.”
Na segunda vez que foi ferido, Sadjo Camara, nascido na Guiné, comando português, entrou no helicóptero e uma bala perfurou-lhe uma nádega.
Houve ainda um terceiro ferimento. “Era o comandante de grupo e, por isso, o primeiro a saltar do helicóptero – saltávamos de muito alto. Fui logo atingido.” Uma bala que lhe entrou de lado, acima da cintura, e que fugiu pelo outro. “Nem sabia onde estava. Lembro-me da enfermeira. Tiveram de coser-me as tripas.”
Leia em
REVISTA ATLÂNTICO - JUNHO DE 2005

15-12-2005

Porcalhices da Política

Porcalhices_capa
O autor, Adulcino Silva, e a Papiro Editora têm o prazer de convidar V. Exa. a estar presentes no lançamento do livro "Porcalhices da Política", que terá lugar no dia 20 de Dezembro de 2005, pelas 18h00, na Livraria Barata, sita na Avenida de Roma, 11 A, em Lisboa.
Papiro Editora: Tel.: 220103900

14-12-2005

Guebuza e Dhlakama em Maríngue?

ZOL - Quarta, 14 Dezembro 2005
O Presidente da República, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, deverão participar ainda esta semana em Maríngue, província de Sofala, numa conferênciados ex-combatentes da Àfrica Austral, promovida pela PROPAZ, Instituto de Promoção da Paz de Moçambique.

11-12-2005

Acordo militar continua no “segredo dos deuses”(2)

Pois é! Cahora Bassa está entregue. Bem ou mal isso não vem agora ao caso.
Não fora o anúncio por Mariano Matsinha da existência de um "acordo militar" paralelo ao Acordo de Lusaca, talvez as negociações sobre aquele empreendimento ainda prosseguissem...
Recordo:
"O Acordo de Lusaka é de domínio público, contrariamente ao Acordo Militar que se encontra nas mãos do governo do dia, e, sem ainda data para a sua publicação, de acordo com as parcas informações que diz ter.

A não publicação do referido documento até à data, é de acordo com palavras de Mariano Matsinha, fruto de compromissos assumidos entre as duas delegações que estiveram reunidas na “State House.

“Realmente trata-se de um documento importante para se compreender o processo em si, dos Acordos de Lusaka, mas o importante naquela altura era o reconhecimento por parte de Portugal que nós tínhamos direito à independência. Infelizmente não participei na discussão do “Acordo Militar”, e nem sei quais são as cláusulas plasmadas, mas acredito que os portugueses tinham as suas razões em pedir para que não fosse publicado, face à situação em que se encontravam."
Quando o Presidente Guebuza reafirma a premência da resolução deste contencioso, qual a melhor forma de a pressionar?
Anunciar a existência de algo desconhecido e só não publicado a pedido da parte portuguesa: Mário Soares, Almeida Santos, Melo Antunes e mais uns tantos "patriotas".
É pena que a nossa geração, a que viveu o 25 de Abril e a descolonização não venham a conhecer este documento.
Recorde em:
Fernando Gil

05-12-2005

A VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO

Um grupo de cidadãos empenhados em que se discuta "A VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" lança uma PETIÇÃO para a recolha de 4 000 assinaturas, ao abrigo do disposto na alínea a) ponto 1 do artigo 20 do Texto da Lei nº 43/90, publicado no Diário da República I Série n.º 184 de 10 de Agosto de 1990 com as alterações introduzidas pelas Leis nºs 6/93 e 15/2003, publicadas respectivamente  nos  Diários da República I Série A n.º 50 de 1 de Março de 1993 e n.º 129 de 4 de Junho de 2003.
Entre em (com o som ligado)
leia e subscreva a petição. E não deixe de a divulgar. Pela internet ou imprimindo para recolha de assinaturas.
O primitivo site em
foi descontinuado por motivos técnicos e legais. Agradece-se a visita dos que aqui assinaram ao novo endereço para actualização da sua inscrição.
Assim:
Exige-se tão-só
                                A REPARAÇÃO MORAL, AFINAL, A QUE TEMOS JUS
                                                                         com a
                                                     REPOSIÇÃO DA VERDADE
. pela revisão dos manuais escolares de História Contemporânea,
. pela abertura da radiodifusão áudio e audiovisual do Estado à revelação do modus vivendi das distintas comunidades no PERIODO ANTERIOR AO DO ABANDONO,
com a
REABILITAÇÃO de cada um e todos os que nados e criados ou só criados além-mar ergueram sob o signo do trabalho honesto verdadeiros IMPÉRIOS
. por um pedido formal de  escusas, pelos altos dignitários do Estado aos representantes eleitos dasassociações de espoliados.
E, à semelhança do que sucedeu noutras paragens, consagração de um
DIA NACIONAL DOS REFUGIADOS DO ULTRAMAR.
Daí que formulemos a PETIÇÃO que visa a veicular uma tal pretensão.
A memória de PORTUGAL ETERNO impõe-no, exige-o veementemente, numa revisão de processos, a que a História há-de proceder.
Assine e divulgue
Grato
Fernando Gil

03-12-2005

Medalhas e condecorações de Daniel Roxo entregues à família

As medalhas com que Daniel Roxo foi condecorado pelo Exército Sul-Africano deviam chegar às mãos dos seus familiares e é dessa entrega que vos vou falar agora e que encerra um dos capítulos da vida de Roxo com “chave de ouro”.
Era 17 de Novembro, mês passado. No 7º andar de um prédio na Rua António Sérgio, nas Caldas da Rainha em Portugal, viveram-se  outros momentos grandes. A porta daquele lar franqueou-se e na intimidade do mesmo misturam-se a alegria, o orgulho, a saudade, a emoção, esta vivida por todos, e tantos outros sentimentos que se sentem mas não se descrevem, porfundamente sentidos pelo casal Roxo, Alípio e Irene que ali moram. Ele irmão do Francisco Daniel. As medalhas que, com bravura e heroicamente, este recebera do Exército Sul Africano eram, ao fim de quase 30 anos, entregues à família.
Casal afável este, de cabelos branqueados não só pelo tempo, mas de uma brancura que só a saudade pinta. Saudade de um familiar tão querido, saudade da terra onde viveram tantos anos e que viu um deles nascer, a Irene, e forçados a abandonar. Quem não pode sentir saudades e mágoa por estar ausente daquele que foi solo português em África e não só. E somos tantos, de Angola, Moçambique, etc., etc.. Portugal pequeno no mapa era grande demais e teve necessidade de dar novos mundos ao mundo para se poder estender e, cantando e rindo, deu mundos novos ao mundo, sem dúvida chorando muito mais, mas… esqueceu-se daquela réstea de terra à beira mar plantada… Em África estávamos, sem dúvida, à frente daquele pedaço da nossa Pátria muitas dezenas de anos! Mas ventos contrários soprados por traidores, mentirosos que às crianças das escolas portugueses teimam, anos a fio, em contar uma história enganadora. Mas a mentira é sempre cozinhada em grande potes e a pressa de a cozinhar faz-lhes esquecer de por a tampa… e não percamos a esperança de que um dia a verdade será contada, embora muitos irão ainda morrer sem chegar a conhecê-la.
Traídos, abandonados outros de nós, fugimos da nossa África. Daniel Roxo fugiu, fugiu para este país, África do Sul. Não trazia nada consigo, senão, a bater dentro do peito, o coração de um grande soldado. Um dia tombou e para sempre o coração, que trouxe dentro do peito, deixou de bater. A alma, essa, que Deus a guarde.
Algumas palavras dedicadas às duas senhoras que tão felizes estavam por terem tido o privilégio (no dizer delas) de lhes ter sido pedido que se encarregassem de tão nobre missão, fazer chegar às mãos da família Roxo as condecorações sul africanas daquele nosso querido compatriota que há tantos anos nos deixou, deixando forte a marca dos seus passos nesta vida, donde foi levado tão prematuramente.
O orgulho espelhado nos rostos já envelhecidos daquele casal, a saudade do ente querido e toda a emoção, perdurarão na memória das duas senhoras que eram Carmo Ferreira ex membro das Forças Armadas Sul Africanas e a ex 1º Tenente da Força Aérea Sul Africana Maria José Ferreira.
Falou-se, forçosamente, do Francisco Daniel, contados episódios de família entre outros. Irene recorda então a última vez que falou com ele. O seu coração de mulher temia o pior, pediu ao cunhado que fosse para Portugal, mas a resposta dele foi simples, simples demais para ser rebatida e que a apavorou: “ Sou soldado… e hei-de morrer numa mina…”.  E foi assim que morreu!
Manuel Resende Ferreira
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Carmo Ferreira no acto de entrega das medalhas de Francisco Daniel Roxo
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Ex 1º Tenente da Força Aérea Sul Africana Maria José Ferreira com o casal Roxo

29-11-2005

A Morte de Samora Machel, na televisão moçambicana

Foi a 22 de Novembro à noite, que assisti na STV, um canal de televisão independente em Maputo, à transmissão de um debate sobre o desastre de Mbuzini. Conduzido por Felisberto Langa, o debate teve como participantes João Cabrita, autor do livro recentemente publicado, A Morte de Samora Machel, e Paul Fauvet, um jornalista britânico radicado em Moçambique desde os anos 80. Os erros da tripulação do Tupolev presidencial, que Fauvet pretendeu subestimar, dando realce ao factor destabilização movido pelo antigo regime de Pretória contra os Estados membros da SADC, foram defendidos por Cabrita como a causa do desastre que vitimou o Presidente Machel. A certo passo, Cabrita foi peremptório: “Os que defendem a tese de sabotagem têm de encontrar uma outra explicação porque a história do VOR falso não pega.” E para demonstrar o seu ponto de vista, Cabrita fez uma revelação: “A Embaixada da União Soviética aqui em Maputo exerceu pressões sobre o Comandante Sá Marques das LAM para que ele mentisse à comissão de inquérito, dizendo que a sua aeronave, um Boeing 737, que seguia da Beira para Maputo quando se de seu desastre, também havia sido desviada da rota por acção do alegado VOR falso. Por se ter recusado a mentir à comissão de inquérito, o Comandante Sá Marques teve de abandonar Moçambique em face das pressões de que foi alvo.” Cabrita disse-me mais tarde, quando me encontrei com ele no hotel onde eu estava hospedado, que as pressões sobre Sá Marques foram exercidas por intermédio do Ministério da Segurança, na altura chefiado por Sérgio Vieira.
Fernando Gil

Boletim Africanista

Boletim Africanista, Ano VI, n.º 11, Novembro 2005
Editado pelo Núcleo de Estudos Sobre África do
Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS)
Universidade de Évora (UE)
Palácio do Vimioso, Apartado 94 – 7002-554 Évora. 
E-mail: nesa@uevora.pt

Agenda africanista

-         17 e 18 de Novembro de 2005 - II Colóquio Internacional sobre Trabalho forçado africano ­ experiências coloniais comparadas. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Organização do CEA / FL / UP. O campo de estudos ...

Veja em

Download boletim_africanista11de2005.doc

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