17-05-2006
Retrospectiva sobre a execução de Joana e outros
“Nós não estamos arrependidos”
Marcelino dos Santos
Emílio Manhique, apresentador do programa “No Singular” na TV pública moçambicana (TVM), entrevistou, em 2005, o antigo membro da Frente de Libertação de Moçambique e mais tarde ministro de Samora Machel, presidente da Assembleia Popular, e membro do Bureau Político (mais tarde Comissão Política Permanente) do Comité Central do partido Frelimo marxista leninista.
Dos arquivos do «Canal de Moçambique» extraímos parte dessa entrevista relativa aos fundadores e combatentes da Luta de Libertação Nacional que defendiam um regime como o que hoje vigora em Moçambique e com a alegação de que por isso eram anti-patrióticos e “reaccionários” foram sumariamente abatidos no fim da década de 70, princípio de 80, já depois de Moçambique ser membro das Nações Unidas, sem que tenham sido observados os mais elementares princípios do Direito consagrado em sociedades civilizadas.
Emílio Manhique : “Lazaro Nkavandame, Gwenjere, Joana Semião foram mortos depois da independência, mas a Frelimo tinha dito que iam ser reeducados, que iam servir de exemplo. Porque é que foram mortos sem sequer nenhum julgamento?”
Marcelino dos Santos: “Naturalmente... primeiro porque consideramos que era justiça.”
Manhique: “Justiça popular?”
Marcelino dos Santos: “Altamente popular, exercida”...
Manhique:... “mas foi uma justiça de um movimento guerrilheiro, não de um partido”.
Marcelino dos Santos: “Justiça contra traidores porque qualquer um deles se aliou ao colonialismo português.”
Manhique: “Mas porque é que a Frelimo primeiro disse que iam servir de exemplo?”
Marcelino dos Santos: “Sim, e depois sobreveio a acção, a tentativa do inimigo de buscar elementos moçambicanos descontentes, em particular aqueles que pudessem ser-lhes bastante úteis. Então, aquela consciência que nós tínhamos inicialmente de que são traidores e que, portanto deveriam ser executados. Bom, numa certa medida podemos dizer que surgiram as condições que forçaram a implementação de uma preocupação e de um sentimento muito, muito, muito antigo porque é bom não esquecer que Lázaro Nkavandame...”.
Manhique: “E porque é que não se informou o povo?”
Marcelino dos Santos: “Porque aí é preciso ver o momento em que isso acontece e naturalmente embora nós sentíssemos a validade da justiça revolucionária, aquela construída, fecundada pela luta armada revolucionaria de libertação nacional, havia, no entanto, o facto de que já estávamos em Estado independente. Quer dizer, Moçambique se tinha ja constituído em Estado embora a Frelimo fosse realmente a força fundamental desse Estado. Então foi isso, talvez, que nos levou, sabendo precisamente ainda que muita gente não estava certamente apta a entender bem as coisas, que nós preferimos guardar no silêncio esta acção realizada. Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando a violência revolucionária contra os traidores e contra traidores do povo moçambicano”.
(TVM – 19.Set.2005 - Programa «No Singular»)
N.E.: De referir que Emílio Manhique é locutor da Rádio Moçambique e sobrinho do moçambicano que deu o nome de Frente de Libertação de Moçambique ao movimento que viria a negociar o país com o regime implantado em Lisboa depois do golpe de Estado do 25 de Abril em Portugal. O tio do jornalista, estava com Marcelino dos Santos em Acra, no Ghana, quando este último criou a partir da inspiração de Fanuel Malhuza o acrónimo Frelimo. Malhuza morreu o ano passado em Maputo sem merecer quaisquer honras se bem que foi o criador da designação que imortalizou o movimento pela Independência de Moçambique.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 17.05.2006
NOTA:
Na realidade, para quem confunda FRELIMO com POVO DE MOÇAMBIQUE não está mal explicado...
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
16-05-2006
ILHA DE MOÇAMBIQUE: FINALMENTE, NA ROTA DA SUA VOCAÇÃO TURÍSTICA !
Vasco Fenita
Desta vez parece que será mesmo de vez.
Ao contrário do que sucedeu no passado, com organizações que se proclamavam predispostas a desencalhar a Ilha de Moçambique do profundo marasmo em que, penosamente, se encontra mergulhado. E que, afinal, não eram senão meros simulacros.
Aliás, por inerência das funções que exercia, na altura , eu mesmo fui compelido a assumir o cargo de presidente do Conselho Fiscal da primeira dessas instituições, a Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique. De que, entretanto, me viria a resignar (lógicamente), pouco depois, quando me apercebi que, afinal, não passava de uma instituição fantoche e que nós, os membros dos diversos órgãos constituintes éramos, reflexamente, uns simples títeres. Porque da profusão dos donativos provenientes, principalmente, do exterior do país, apenas uma parte insignificante era drenada para a nossa gestão, na Ilha de Moçambique (destinatária legítima). A “parte de leão” era extraviada, sem qualquer explicação plausível, algures na capital do país.
À Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique, sucederam-se muitas outras agremiações congéneres, aparentemente imbuídas do mesmo espírito solidário (ou “altruísta”), que, naturalmente, acabaram, também, por soçobrar acossadas pelas mesmas deformidades.
Porém, as notícias chegadas, há dias de Lisboa, revestem-se de perspectivas bastante animadoras porquanto dão-nos conta de foi constituída uma parceria bastante consistente para resgatar a histórica cidade, constituída por representantes de Portugal, Moçambique, Suiça, Banco Africano e UNESCO, Os quais voltarão ainda a encontrar-se no final deste ano, já em território moçambicano (previsivelmente, na própria Ilha de Moçambique), com a finalidade de definir o plano estratégico destinado a pôr cobro à totalidade dos problemas que inibem a vetusta cidade de se adequar ao estatuto de Património Cultural da Humanidade, que lhe foi outorgado, em 1991, pela UNESCO.
A reunião da capital portuguesa, a que esteve presente o nosso ministro da Educação e Cultura, Aires
Aly, pressupõe, pois, que tudo se conjuga para que, desta feita, a Ilha de Moçambique seja contemplada com um manancial de requisitos que, finalmente, viabilizarão a assunção plena da sua vocação intrínseca para o turismo industrial.
Entretanto, está prevista para Agosto próximo a conclusão das obras de reabilitação da ponte longelínea
(de 3.800 metros) que estabelece o hífen entre a Ilha de Moçambique e o continente fronteiriço (Lumbo). Foram já substituídos cerca de 200 pilares dos 500 que se encontravam em avançado estado de degradação.
Observe-se que, inaugurada em 1967, aquela ponte nunca beneficiou do processo de manutenção recomendado pelo respectivo engenheiro, de nacionalidade portuguesa, Edgar Cardoso, aquando da sua deslocação a Moçambique, a convite de Samora Machel.
WAMPHULA FAX – 16.05.2006
15-05-2006
MORTOS COM OS «SAFANÕES» ORDENADOS POR SALAZAR E CAETANO
Retirado do Blog 25 de Abril - O antes e o agora
A guerra não é uma partida de xadrez ou damas calma e bucolicamente disputada à sombra dum imbondeiro, dum coqueiro ou duma azinheira.
Entre os mortos e outras vítimas há os «profissionais» da guerra e aqueles que lhe sofreram as consequências, por estarem livre ou conscientemente ou não dum dos lados em confronto, quaisquer que sejam as razões que assistam a cada um deles.
Não tenho e não sei se existe o balanço das vítimas do «corporativismo» português de Salazar e Caetano, designadamente dos civis ditos «portugueses» negros (sem direitos de cidadania no Portugal do Minho a Timor) que foram mortos pela polícia política (leia-se PIDE/DGS, Flechas e similares) e pelas Forças Armadas Portuguesas nos teatros de guerra ou não a partir de 1960. ... ... ...
Leia tudo em:
NOTA:
-Para melhor compreensão de alguns factos aqui descritos, aconselho a leitura dos seguintes textos, colocados no MOÇAMBIQUE PARA TODOS:
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
13-05-2006
Uma “revolução sem sangue...”?
Sol Português
Já o sabíamos. Já o tínhamos escrito. Agora, porém, é a toda poderosa RTP a dar o mote para, uma vez mais... mais políticos e mais altos militares, alguns ainda vivos, se cobrirem de vergonha. Talvez não tanto pelo que fizeram... mas pelo que deixaram fazer.
Com testemunhos insuspeitos, preto no branco, ficámos a saber que Portugal, enquanto Pátria, servida por uns quantos políticos de pacotilha e por algumas patentes militares de opereta... entregaram, na Guiné, às forças que em 75 passaram a dominar o País... os soldados que nos tinham sido fiéis. Entregaram-nos, pronto. Sem cuidar de saber o que lhes iria acontecer. Pois... umas quantas centenas foram fuziladas. Ou nos campos de futebol. Ou nas “fugas” inventadas dos terríveis campos de concentração. Que Portugal permitiu. Que Portugal “abençoou”, embora agora todos nós juremos a pés juntos que não. Pragmaticamente até somos capazes de dizer que... não havia mais nada a fazer.
O “25 de Abril”. Efeméride que, aos poucos, se vai perpetuando nos meandros da História. Com razões de glória. Com motivos de vergonha. Sobretudo quando os apaniguados que ainda existem teimam em atirar aos ares com atoardas que querem que fiquem na História. A falar (só) de heroismo e a querer apagar coisas que a História está a começar a alinhar. Neste caso, pelas mãos de quem menos pensaríamos, como foi o caso da RTP.
Soldados guineenses que serviram Portugal nas Unidades de Comandos. Entregues à morte por fuzilamento. Entregues, afinal, por quem assinou as chamadas “negociações” de Argel. Alguns dos poucos sobreviventes aos “massacres” ainda têm forças para gritar frente às câmaras televisivas o seu amor a Portugal. “Eu jurei bandeira... por Portugal”. “Sou leal a Portugal”. “Sou ainda... português”. Por sobre tudo, o bacoco do Nino Vieira a atirar mais umas quantas atoardas, ele que tem também as mãos cheias de sangue, a dizer que “sim... que Portugal tem o dever moral de ajudar aquelas famílias”.
Ouvimos. Pasmámos. E ainda temos dificuldade em entender ser possível ouvir dizer – e ainda agora aconteceu – que o “25 de Abril” foi uma revolução sem sangue. É que a Guiné foi apenas um exemplo. Angola e Moçambique também tem páginas... que nos deveriam cobrir de vergonha. Entregar soldados – que eram, tecnica e realmente soldados de Portugal – aos seus algozes não é mais do que “massacrar”.
O “25 de Abril” deu a Portugal algo de bom, sim. Mas a meditação não deveria toldar-nos a mente para não vermos que, de facto, a chamada “descolonização exemplar” nos cobriu, igualmente, de vergonha. Uma vergonha que há-de cair sobre a cabeça dos nossos filhos e netos. E mesmo que se diga que Portugal respondeu a crimes feitos pelos extremistas... que não tinha outra solução senão fazer o que fez... entendemos que não há forma de entender... a vergonha que é entregar à morte – todos deveriam saber que era a morte que os esperava – milhares de soldados guineenses, angolanos e moçambicanos, que serviram Portugal. Que tinha jurado bandeira por Portugal. Que tinham jurado fidelidade ao velho... Portugal.
Foi, então, uma “revolução sem sangue”? Com muitos cravos vermelhos, não é? Talvez que em Portugal... talvez que nas fileiras das Forças Armadas lá no “puto”. Talvez... Mas e os milhares que entregámos à morte? Não se contabilizam? Não são gente...? Não têm sangue, talvez!
Por mim... continuo envergonhado! Angustiado! Com a certeza de não saber explicar aos netos – se algum dia eles me perguntarem – porque é que os da minha geração atraiçoaram leais servidores de Portugal. E só não choro, porque de tanto amargor... as lágrimas de há muito me secaram nos olhos. Talvez seja uma meditação que muitos chamarão de “reaccionário” ou mesmo “fascista”. É possível. Mas como também já houve quem alinhasse, frente a mim, outros “istas” – mesmo esse que está a pensar... – não me apoquenta o epíetto. Apoquenta-me, isso sim, essa vergonha... que colectivamente me vai roendo as entranhas.
Fernando Cruz Gomes - Canadá
Veja:
12-05-2006
Petição "A VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO"
Relembro estar a decorrer a recolha de assinaturas. Não deixe de subscrever!
Um grupo de cidadãos empenhados em que se discuta "A VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" lança uma PETIÇÃO para a recolha de 4 000 assinaturas, ao abrigo do disposto na alínea a) ponto 1 do artigo 20 do Texto da Lei nº 43/90, publicado no Diário da República I Série n.º 184 de 10 de Agosto de 1990 com as alterações introduzidas pelas Leis nºs 6/93 e 15/2003, publicadas respectivamente nos Diários da República I Série A n.º 50 de 1 de Março de 1993 e n.º 129 de 4 de Junho de 2003.
Entre em (com o som ligado)
leia e subscreva (apenas cidadãos portugueses eleitores) a petição. E não deixe de a divulgar. Pela internet ou imprimindo para recolha de assinaturas a enviar para a morada indicada.
Assim:
Exige-se tão-só
A REPARAÇÃO MORAL, AFINAL, A QUE TEMOS JUS
com a
REPOSIÇÃO DA VERDADE
. pela revisão dos manuais escolares de História Contemporânea,
. pela abertura da radiodifusão áudio e audiovisual do Estado à revelação do modus vivendi das distintas comunidades no PERIODO ANTERIOR AO DO ABANDONO,
com a
REABILITAÇÃO de cada um e todos os que nados e criados ou só criados além-mar ergueram sob o signo do trabalho honesto verdadeiros IMPÉRIOS
. por um pedido formal de escusas, pelos altos dignitários do Estado aos representantes eleitos das associações de espoliados.
E, à semelhança do que sucedeu noutras paragens, a consagração de um
DIA NACIONAL DOS REFUGIADOS DO ULTRAMAR.
Daí que formulemos a PETIÇÃO que visa a veicular uma tal pretensão.
A memória de PORTUGAL ETERNO impõe-no, exige-o veementemente, numa revisão de processos, a que a História há-de proceder.
Assine e divulgue
Grato
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
11-05-2006
França comemora pela primeira vez abolição da escravatura
A abolição da escravatura será comemorada pela primeira vez em França quarta-feira, depois do anúncio feito pelo Presidente francês, Jacques Chirac, a 30 de Janeiro.
A comemoração da abolição da escravatura em França continental pretende levar o país a assumir tanto as "páginas gloriosas" como as épocas de "sombra", disse Jacques Chirac, quando anunciou a data oficial da celebração da data.
"A grandeza de um país é assumir toda a sua história. Com as suas páginas gloriosas, mas também com a sua parte de sombra", disse o chefe de Estado, num discurso solene no palácio do Eliseu.
O 10 de Maio de 2001 foi a data em que o Senado (câmara alta do sistema parlamentar francês) adoptou por unanimidade a lei que reconhece o tráfico e a escravatura como um crime contra a Humanidade, tendo sido a França o primeiro país no mundo a fazê-lo.
Christiane Taubira, deputada da Guiana e autora da proposta de lei para o "reconhecimento do tráfico e da escravatura como um crime contra a humanidade", felicitou-se com a comemoração.
"Já não estamos em conflito. É a história de França assumida por toda a comunidade nacional", afirmou a deputada.
A França tem uma população negra de cerca de cinco milhões de pessoas.
A escravatura foi abolida definitivamente em França a 27 de Abril de 1848, mas na memória persiste o sofrimento de muitas vítimas, habitantes das antigas colónias e dos territórios que hoje são províncias ultramarinas francesas.
Muitas destas províncias já têm datas oficiais de comemoração da abolição da escravatura, pelo que o 10 de Maio será apenas celebrado na França metropolitana, que inclui a ilha da Córsega.
Jacques Chirac sugeriu ainda que as celebrações sejam realizadas em locais de homenagem à escravatura e que o 10 de Maio seja também assinalado em território africano.
LUSA - 09.05.2006
“Viúvo” de Joana Semião diz porque exige divórcio
“Eu sei que ela foi executada”
- Francisco Joaquim Manuel
“Estou a ser injusto com a mulher de casa que me deu seis filhos. E já temos netos”
O “viúvo” de Joana Semião, explicou ontem ao «Canal de Moçambique», as motivações que o levaram a mover um processo de “Divórcio letigioso” contra a “falecida”.
“Eu sei que ela foi executada” afirmou Francisco Joaquim Manuel, candidato da Renamo União/Eleitoral às últimas eleições autárquicas da cidade de Inhambane.
“Os caminhos que eu segui para chegar a fase de pedir um divórcio litigioso foram longos e penosos”.
Francisco Joaquim Manuel diz que contraiu matrimónio Joana Semião, em 1974, e que a separação foi única e exclusivamente devido “a problemas políticos”.
“A nossa separação foi uma coisa forçada”.
Um novo matrimónio em vista com a sua companheira dos últimos anos é a razão da tentativa desesperada que está a empreender junto do Tribunal Judicial de Inhambane no sentido de finalmente conseguir divorciar-se daquela a que a Frelimo pôs termo à vida – tal como assumiu – sem que tenha providenciado o acento do óbito num cartório notarial o que teria evitado a Francisco Joaquim Manuel mais do que a separação forçada da mulher que era sua esposa agora mais esta de sendo viúvo ainda ter de andar a tentar separar-se judicialmente.
Estas cenas macabras alimentam as mais diversas interpretações mas a motivação parece ser tão simples quando um homem de idade querer voltar a casar-se.
“Estou a ser injusto com a mulher de casa que me deu seis filhos. E já temos netos”.
O “viúvo” diz que soube das morte de Joana Semião e outros “reaccionários”, por alturas da execução, por via de informação veiculada na imprensa mundial que divulgou o “massacre”.
“Houve conhecidos meus em Lichinga que me informaram”.
“Dai para frente até à introdução no país do multipartidarismo e com a nova Constituição, na busca das minhas pretensões invoquei na justiça as declarações de Sérgio Vieira, que indicavam que a Joana foi executada”.
“Tinha que ter um documento escrito e ninguém de direito se dignou a passar-me”, afirmou. Adiantou que, na Justiça, sempre lhe exigiram uma prova médica, dando conta do óbito.
“Isso não consegui, apesar de muito esforço”
O “viúvo” conta que o director nacional dos Registos e Notariado, Manuel Didier Malunga aconselhou-o assim pelo que “optei por pedir um divórcio litigioso evocando abandono de lar”. “Ele disse que era a única saída que eu tinha”.
Francisco Manuel, diz que tem a certeza absoluta de que Joana Semião “não vai comparecer em tribunal” porque “a falecida teve a sorte que teve e todo o mundo sabe, porque ouviu”.
Manuel diz que após a sentença, que certamente lhe será favorável, “quem quiser contestar que conteste”.
Um reputado jurista que está a seguir este “enredo” com muita atenção disse que os interessados em obter uma certidão de óbito de Joana Semião, no caso, o “viúvo”, a filha, e parentes de primeiro grau podem pedir uma “declaração de presunção de morte”. Essa declaração, é passada no caso de pessoas “em parte incerta” acima de dez anos.
“Ai juntado as declarações de Sérgio Viera, Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos, o documento de Jacinto Veloso, tenho a certeza que eles obteriam. É de lei” explicou.
A fonte acrescentou ainda que o juíz José Sampaio “não pode agir de outra forma. É assim em direito”.
“Não basta que todo o mundo saiba”, concluiu a fonte.
Luís Nhachote - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 11.05.2006
Samora Machel contra a execução de Uria Simango
CRÓNICA exotérica
por Yahia ben Yokhanon
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(Segundo texto apócrifo de Zoao Kraveirinya na era do Tsuname)
Nachingueia, Farm 17, sul de Tanzânia. Manhã de um dia diferente no mês de Janeiro de 1975. Alguns Homens e mulheres abatidos estão perfilados perante Samora Machel e o então 1º Ministro Joaquim Chissano, passando revista e verificando até que ponto a “sessão” da noite anterior no mato (até ao amanhecer), tinham causado danos físicos aos apresentados. O destino desses homens e mulheres estão em jogo.
Samora Machel dirige-se ao veterano nacionalista, Adelino Gwambe, com a saudação: - “kundjane uá li kaya?” (Como estás patrício da terra?).
- Adelino Gwambe responde com altivez de mãos nos bolsos: …”chauane mufana uá mina”…(olá meu miúdo) …
Leia em:
10-05-2006
ÓRFÃOS DE PÁTRIA do Jornalista António Mateus Nº 1
Sinopse da RTP:
Neste Programa
Uma história sobre o que aconteceu aos comandos africanos que combateram na Guiné durante a guerra colonial, integrados no Exército Português.
Todos os oficiais daquele corpo de comandos foram fuzilados depois da independência. As familias nunca beneficiaram de qualquer pensão de sangue
Os que tinham patentes abaixo de oficial e escaparam, vivem hoje situações de pobreza e descriminação.
Apresentado na RTP1 em 09.05.2006
Veja em:
Comentário:
Além de outros é de "agradecer" esta situação, que também ocorreu nos restantes territórios, à lei da Nacionalidade então promulgada na qual prevaleceu a vontade de Almeida Santos, segundo declarações do próprio. É sua opinião que mais de 2 milhões de naturais dos ex-territórios escolheriam a nacionalidade portuguesa, se a lei portuguesa o consentisse. Todos "eles" sabem porque nada foi perguntado aos respectivos povos.
Sobre este assunto escrevi em 1979:
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Registos Verbais
“A pena de morte é uma arma dos trabalhadores na dura luta de classes que travamos no nosso país.” – Dr. José Óscar Monteiro (Assembleia Popular 26 Junho 1979)
***
“A Lei dos Crimes Contra a Segurança do Povo e do Estado Popular tem por isso como objectivo prevenir e reprimir qualquer acto das classes capitalistas e seus agentes regionais e locais, internos ou externos, contra o nosso poder.” - idém
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 10.05.2006
NOTA:
Para quem se não lembra aqui se transcreve a "Lei da Chicotada", só revogada depois do Acordo Geral de Paz:
Se retomada nos dias de hoje, quem seriam os principais arguidos?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Joana Semião e “outras 16 pessoas”
“Primeiro mataram depois houve processo”
“O Dr. Sérgio Vieira foi enviado para formalizar e executar”, diz Máximo Dias e acrescenta: “Não sei onde está esse processo, se calhar está no SISE (antigo SNASP) a aguardar ainda o julgamento”.
“Não acredito que tenha sido ordem do ex-presidente Samora Machel”
(Maputo) Joana Semião primeiro foi morta e depois elaborou-se um processo, afirmou ontem ao «Canal de Moçambique» o jurista Máximo Dias, correligionário e contemporâneo dela, ambos então apelidados de “reaccionários”.
Leia em:
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 10.05.2006
09-05-2006
Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO!
CRÓNICA exotérica
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Reverendo URIA SIMANGO
segundo texto apócrifo rehausser de Zoao Kraveirinya publicado em Moçambique a 19 Outubro 2004
na era do Tsuname
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por Yahia ben Yokhanon
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Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO!
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” OS QUE ESQUECEM O PASSADO ESTÃO CONDENADOS A REPETÍ-LO” …escreveu George Santayana (1863 - 1952), filósofo espanhol / norte-americano...
Nas vésperas da Independência, de 11 a 12 de Maio 1975, Samora Machel Presidente da FRELIMO, recebia os Presidentes da Tanzânia Julius K. Nyerere e Keneth Kaunda da Zâmbia, em Nachingweia (Nachingu-eia); Quartel-general da Frente de Libertação na Tanzânia. Desse encontro ficariam registados para a História os discursos dos quais transcrevemos alguns excertos proferidos pelo Presidente do Movimento de Libertação moçambicano, Samora Moisés Machel, no dia 12 de Maio de 1975:
- ...”Antes de vocês falarem (camaradas Kaunda e Nyerere), gostava de vos mostrar um batalhão de agentes (...), quadros que se transformaram em agentes do inimigo”...
Leia em:
PÚNGUÈ - 09.05.2006
Frelimo mandou fuzilar Joana Semião e outros
“No espírito das tradições, usos e costumes da luta de libertação nacional, o Comité Político Permanente da Frelimo reuniu e condenou por fuzilamento os seguintes desertores e traidores do povo e da causa nacional, os quais já foram executados: Uria Simango; Lázaro Kavandame; Júlio Razão Nilia; Joana Semião e Paulo Gumane”, ministro da Segurança, Jacinto Veloso - Maputo, 29 de Julho 1980.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 09.05.2006
Leia em:
08-05-2006
Caso do “divórcio” de Joana Semião
Pelo seu interesse e porque muitas vezes passam despercebidos os comentários aqui colocados, anexo os que até esta data foram feitos ao "Caso do divórcio de Joana Simeão".
Veja em:
Caso do “divórcio” de Joana Semião
“Os que declararam a morte dela, que passem a certidão de óbito”, Dr. Domingos Arouca
“Não há ninguém neste país que não ouviu que a Joana Semião foi executada”, idém
(Maputo) Joana Semião, certamente não irá responder à convocatória do juiz presidente do Tribunal Judicial da província de Inhambane no processo de divórcio litigioso que foi movido pelo seu ex-marido (Vsff «Canal de Moçambique» n.º 60). Ela, a acreditar-se em declarações públicas de três destacadas figuras do partido Frelimo que governa o país desde a Independência em 1975, foi executada, “foi morta”. O Tribunal, por princípio soberano, julgará de acordo com os factos. E os factos são os do processo. Se Joana não se apresentar “será julgada à revelia”. E tudo leva a crer que o juiz, com base nas peças do processo, concederá o “divórcio” ao seu ex-marido, Francisco Joaquim Manuel. O caricato, no entanto, é que com base no Direito o Tribunal de Inhambane vai dar o divórcio a um reconhecido viúvo.
Leia tudo em
Veja e os comentários:
06-05-2006
Para encerrar o dossier HCB - Primeiro-Ministro português em Maputo
O Primeiro-Ministro de Portugal, José Sócrates, deverá escalar Maputo ainda na primeira quinzena de Maio corrente, para selar definitivamente o dossier sobre HCB, relativo á transferência da maioria do capital social do empreendimento para Moçambique.
Ao que apuramos de fonte previlegiada, a última data que havia sido acordada para a assinatura do acordo final era entre 17 e 22 de Abril, mas tal não aconteceu porque Lisboa não tinha ainda recebido o parecer do Eurostat, a entidade da União Europeia (UE) que valida as contas públicas dos Estados membros.
Fontes bem abalizadas na matéria indicam que o Eurostat tem estado a acompanhar com muito interesse as negociações entre Moçambique e Portugal á volta de Cahora Bassa, tendo como objectivo inteirar-se das implicações que a transacção poderá ter nas contas públicas de Portugal.
Ao abrigo do memorando de entendimento assinado no dia 2 de Novembro em Lisboa, Moçambique deverá pagar ao tesouro português um total de 700 milhões de dólares para passar a accionista maioritário da HCB, com 85 por cento das acções. Ainda ao abrigo do memorando de entendimento, em tanto que empresa, a HCB deverá remeter ao Estado português 250 milhões de dólares.
Entretanto, em declarações ao parlamento, a Primeira-Ministra, Luísa Diogo garantiu que Moçambique já tinha encontrado um financiador que garante o pagamento dos 700 milhões de dólares ao Estado português.
O SAVANA apurou que esse financiador será o Banco Chinês para as Exportações e Importações (China Eximbank), entidade que se comprometeu a suportar os encargos da construção da Barragem de Mpanda Mkwua, bem como alguns projectos de desenvolvimento do Gabinete do Vale do Zambeze.
SAVANA - 05.05.2006
03-05-2006
MOÇAMBIQUE : - CRÓNICAS DE ONTEM E DE HOJE
Apresentação exclusiva em Vídeo de aspectos inéditos da História de Moçambique, em Maqueta para Televisão (1998/2000), de Projecto-piloto de João Craveirinha (JC).
Algumas das pessoas entrevistadas na peça, faleceram após as filmagens, como Dona Emília Simango em 2002, sobrinha – neta de nuáMatidjuana Zixaxa (chefe ronga do Combate de Marracuene em 2 de Fevereiro de 1895). Outra figura falecida (2001) é Henrique Albasine (alcunhado pelo Poeta José Craveirinha, de Brandão – nome de crack do futebol brasileiro dos anos 1940). Henrique Albasine era neto de João Albasine fundador do Grémio Africano (1905) e trineto do caudilho luso – italiano João (Luiz) Albasine (1813 – 1888), fundador da Colónia portuguesa de São “Luiz”, situado no actual Kruger National Park no Transval.
O guião desta maqueta de JC inspirou o mesmo autor no seu livro “Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos” – Crónicas Romanceadas editado em 2001, simultaneamente, em Moçambique e Portugal.
Base para apresentação do vídeo
MOÇAMBIQUE
CRÓNICAS DE ONTEM E DE HOJE
Projecto para Série de Televisão
AUTORIA e PINTURA – JOÃO CRAVEIRINHA
PROIBIDA A REPRODUÇÃO COMERCIAL
Um ex-marido de Joana Semião quer divorciar-se dela
Tribunal Judicial de Inhambane prepara-se para considera-la “em parte incerta”
Será desta que a verdadeira história daquela proeminente “reaccionária” vai ser desvendada ou o juiz José Sampaio vai fazer tropeçar a Justiça?
Joana Semião (Joana Francisco Fonseca Simeão), uma incontornável figura da história política moçambicana, para uns “reaccionária” para outros “heroína”, volta a ser notícia. Desta vez por motivo de uma notificação assinada pelo juiz presidente do Tribunal Judicial da Província de Inhambane, José António Cândido Sampaio e respectivo escrivão de Direito, Gulamussene Nurmamade Mamade Cane.
Um anúncio daquele Tribunal, cujo fac-simile reproduzimos a ilustrar este artigo, considera Joana Semião como sendo “residente em parte incerta” e concede-lhe um prazo de “VINTE DIAS, que começa a contar depois de finda a dilação de TRINTA DIAS, contada da data da segunda e última publicação deste anúncio, com a advertência de que a falta de contestação importa o prosseguimento dos autos os ulteriores termos à sua revelia”. (N.R.: vsff cópia do anúncio em caixa anexa)
Leia em:
NOTA:
Será que Joana Simeão e outros não aparecerão nos pesadelos de Victor Crespo e seus "compadres"?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
02-05-2006
O lado oculto do 25 de Abril – 32 anos depois
A ‘JIHAD QUE A PIDE DESEJAVA
Serafim Lobato
(Jornalista, Licenciado em História, Mestre em estudos Portugueses pela Universidade Aberta)
Os anos passam e uma nova história é escrita. Numa altura em que se comemora 32 anos sobre a ‘Revolução dos Cravos’, que pôs fim a 48 anos de uma ditadura obscurantista, continuam a descobrir-se dados novos sobre uma época recheada de acontecimentos que, por um ou outro motivo, permanecem nas brumas do esquecimento.
Uma das áreas menos conhecidas dos últimos tempos do ‘Estado novo’ é a da política ultramarina. Dizia-se que, ao contrário de Salazar, Marcelo Caetano, o último Presidente do concelho do ‘tempo da outra senhora’, estaria disposto a negociar a autonomias das ex-colónias com os movimentos independentistas. Dados mais recentes, porém, revelam uma outra face da política africana, em que o governo de Lisboa parecia disposto a tudo para pôr cobro às pretensões de quantos perseguiam a independência. Inclusivamente ao apoio de uma autêntica ‘guerra santa’, em que colocaria as populações muçulmanas contra ao principais movimentos que lutavam pela independência.
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NOTA:
Que mais surpresas nos dará o futuro?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Educação de Adultos em Moçambique: Uma Cronologia de Factos, de 1964 a 2002
Débora Nandja
Departamento de Educação de Adultos
Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique
Introdução
“Olhar para trás” é uma atitude apropriada para se iniciar o processo de compreender o presente.
A compreensão dos caminhos percorridos numa determinada área científica auxilia-nos a examinar as actuais práticas, o significado contextual de alguns conceitos, a extensão e a dispersão das actividades existentes, os programas implementados. A Educação de Adultos não foge a esta regra. O estudo da história ajuda-nos a compreender melhor as forças culturais, sociais, políticas e económicas que influenciam a aprendizagem de adultos. Estas forças determinam não apenas o que os adultos aprendem, mas também como e onde eles aprendem. A aprendizagem de adultos acontece com várias intenções (alfabetização, desenvolvimento profissional, diversão, desenvolvimento das comunidades), sob várias abordagens (formal, não formal e informal), em vários lugares (sob uma árvore, numa escola, nos campos agrícolas, nas igrejas, teatros, etc.) e ao longo da vida adulta (15 anos em diante) (Torres, 2003).
Em Moçambique, a Educação de Adultos tem sido caracterizada como um ... ...
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30-04-2006
“A Política Educativa do Colonialismo Português em África - Da I República ao Estado Novo (1910-1974)”
A África Debate tem o prazer de convidar V. Exa para o evento abaixo mencionado:
A África Debate (www.africadebate.iscte.pt)associação de investigadores na área de Estudos sobre África, vai apoiar o laçamento, na RDP África, do livro “A Política Educativa do Colonialismo Português em África - Da I República ao Estado Novo (1910-1974)”, da autoria do associado José Guimarães, editado pela Profedições / Jornal A Página.
O lançamento será realizado na próxima 4ª feira, 3 de Maio, às 18.00 horas.
A apresentação da obra será da responsabilidade da Presidente da África Debate, Isabel Lopes Ferreira.
Do livro em apreço extrai-se o seguinte texto:
“A política educativa do colonialismo português em África manifestou uma coerência de propósitos que nunca foi alterada em função da natureza do regime que, em cada momento, a traçou e aplicou.
É assim que, apesar das profundas diferenças entre a I República e o Estado Novo, não se verificou qualquer alteração do rumo da política educativa levada à prática por aqueles regimes nas colónias portuguesas de África. A sua continuidade traduziu-se, antes, no reforço de uma prática obscurantista ao serviço da dominação colonial. É dessa política educativa que aqui se trata”.
Reflexões sobre a História e os diferentes ângulos de visão
Por Victor Nogueira
Hoje pode dizer-se mal livremente do 25 de Abril, pode louvar-se o Salazar, pode divagar-se sobre a descolonização ou a pretensa entrega de Portugal em África a Russos e Cubanos e de Timor à Indonésia, embora o petróleo e os diamantes, por exemplo, nunca tenham saído das mãos dos americanos e associados, mas no Estado Novo não se podia dizer mal do Salazar nem expressar ideias divergentes. Até o industrial Champalimaud teve um discurso «abafado» porque defendia o fim do «condicionamento industrial» e a «independência» de Angola.
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Achegas para a chamada "Herança Salazarista"
Temo que, de facto, as ideias "fascisantes" continuem a campear por aí. Há coisas que não se perdem nunca nos meandro mais sombrios e secretos da alma humana - o "Lado Negro da Força" ‹ como falava a "Guerra das Estrelas".
Quem de alguma forma sentiu na carne o que foi a perda de décadas de trabalho, certamente estará receptivo a aceitar argumentos que, de alguma forma, lhe tragam algum consolo para a sua amargura. Não compreender isto é uma grave demonstração de intolerância e depois taxar de "porcos fascistas" quem sofreu os embates da descolonização vai fazer com que essas camadas de portugueses se identificam de forma mais enraizada ainda com o Antigo Regime.
Apelidá-lo de "Fascista", parece-me um exagero. Fascismo (como o praticaram os italianos e os nazis e um bocado até, os espanhóis, nunca nós tivemos). Quem folhear uma obra que considero isenta, como o é a Enciclopédia Larousse( edição dos princípios de 1960 )vai lá ver designado o regime que então vigorava em Portugal como " Ditadura Paternalista".
Mas, claro, se por "Fascismo" tivermos todos os regimes de partido único, sem liberdades formais, controlo da imprensa e polícia política, termos entre as mãos um "Pacotão Gigante", pois houve, há e continua a haver muitas nações e regimes que caberão nesta mesma designação. Portugal, era sim, uma Ditadura. E isto está loge de ser uma designação "macia". Eu vivi 38 anos debaixo da Ditadura. Sinto-me, por isso, habilitado a analisar desapaixonadamente o facto. E devo dizer, para ser honesto, que não gostava. Não gostava mesmo nada. Haver alguém que mandava na Nação sem que para isso tivesse sido legalmente mandatado pela maioria dos seus concidadãos, era uma coisa que me indignava. Mas o pior de tudo, a causa de todos os males, a coisa que eu mais abominava na Ditadura, essa coisa era a Censura!
Os senhores do antigo regime, com Salazar à cabeça, estavam longe da natureza dos chefes nazi/fascistas que dominaram a Itália e a Alemanha. Dirigiam o País em Ditadura e quem julgar que uma Ditadura é uma "brincadeira", está redondamente enganado. O regime perseguia, sim, os membros de organizações políticas como o Partido Comunista, e quem militasse, consequentemente, nestas organizações, garanto que se caisse nas mãos da PIDE, estava metido num sarilho e dos grandes.
Lembro-me, certa vez, em fins dos anos sessenta, na minha empresa apareceram elementos da Polícia Política e detiveram algumas pessoas, uma dessas uma jovem bem enérgica chamada Diana Adringa (não sei se conhecem). Mas mais ninguém foi incomodado. Eu até, nessa altura eu tinha subscrito uma petição para libertar um membro do PC, julgo, que se encontrava gravemente enfermo. Mas nunca fui abordado por ninguém da Polícia Política do Estado. Estive a recolher fundos para a campanha de Humberto Delgado, na empresa onde trabalhava na altura e não fui incomodado. Nos anos setenta, já no consulado de Caetano, eu fazia parte do staff de Artur Portela Filho quando ele publicou as "Fundas", que foram bastante mal recebidas pelo Regime ‹ ninguém apareceu a incomodar fosse quem fosse. Pouco tempo depois, o nosso staff dava curso ao livro de Spínola "Portugal e o Futuro" ‹ que deu uma bronca "desse tamanho" e ninguém apareceu a incomodar-nos nem sequer com atitudes intimidatórias. Disto eu fui protagonista e testemunha.Os comunistas, esses, sabia eu, sofriam e sofriam a sério nas mãos da polícia para que "falassem". Uns falaram outros não ‹ ninguém nasce para ser duro ou para ser mártir e herói; ou se é ou se não é!
Mas então o que é que faziam os Regimes Comunistas aos seus adversários políticos? Ali também havia Partido Único. Faltavam Liberdades Formais. Havia Censura à Imprensa. Polícia Política ‹ também eles eram "Fascistas?"
Fascismo, que eu saiba, tinha o nome baseado nos antigos símbolos judiciais romanos, representados por um molho de varas, que incluiam um machado, e cuja coesão era mantida por "faixas" (fascio) que significavam" a união faz a força"
Benito Mussolini ‹ que foi o inventor do Fascismo ‹ aproveitou isto para designar o seu Partido como o fascio (a força que mantinha a coesão) da União Nacional. União Nacional, respeito pela Ordem e trabalho em prol da Nação não são nem nunca foram motivo para censuras. O pior, claro, foi o aproveitamento que Mussolini e depois Adolf Hitler fizeram destes sentimentos nobres e patrióticos. Por isso houve tanta gente, na altura, para quem o Fascismo era um motivo de esperança, como o foram os movimentos comunistas e socialistas para outros. Sob as piores realizações estão sempre Ideais Nobres que merecem entusiasmo e aprovação. A Ditadura do Estado Novo foi um erro. Era destestável. Abominável. Não é possível encará-la de outra forma. Mas o seu derrube representou também uma onda de arbitrariedades, de violência e de tudo aquilo que o espírito humano é capaz de fazer ‹ a coberto das melhores das intenções!
E houve quem se visse, de um dia para o outro, submerso nessa onda de violência e visse vidas e fazendas destruídas da forma mais bábara e impiedosa. Como não sentir comiseração e solidariedade com esses infelizes portugueses? De que serve agora denegrir quem sofreu e se queixa, com epítetos de "bafientos salazaristas", "fascistas" e outros mimos? Porque é fácil? Então antigamente, quem reprimia quem falasse contra o regime, era "fascista". E agora quem se queixa e sabe "onde lhe aperta a bota" é ele quem vê a sua liberdade de se lamentar coarctada e passa a ser acoimado de "fascista"? Então quem reprime as liberdades alheias o que é, afinal? Voltámos a ter uma "verdade única"? Que não se pode contestar? Que é proíbido pôr em causa? Então agora que nome vamos nós dar a quem se sente "autorizado" a reprimir quem abrir a boca (se calhar de forma menos correcta, é verdade) para protestar contra possíveis injustiças de que foi vítima? Fascista? Em que ficamos? Vamos lá a ter um pouco de tolerância e compreensão para com quem ainda tem chagas abertas no corpo e na alma. Valeu? Paz e compreensão, são coisas que continuam a fazer falta a nós, portugueses. Muita falta, mesmo!
Com amizade
José Pires
25-04-2006
«Cooperação Portuguesa» salva Arquivo Histórico de Moçambique
Os fundos disponibilizados por Portugal para se enfrentar os problemas de degradação do «Arquivo Histórico» são insuficientes, mas podem salvar de imediato a difícil situação por que passa o Arquivo Histórico de Moçambique.
Fomos ouvir o doador. A verba não dá para se proceder a uma construção de raiz ou seja de novas instalações, começou por dizer ao «Canal de Moçambique», José Guedes de Sousa representante da Cooperação lusa em Moçambique. Dão para se providenciarem algumas soluções e perspectivar outras, mas não resolvem todo o problema do eficiente e bem afamado «Arquivo Histórico de Moçambique» que peca pelas precárias infraestrutras de que hoje dispõe.
A verba existente é de cerca de “600 mil Euros” e esse valor está sob gestão da «Cooperação Portuguesa» de acordo com Guedes. Segundo ele o valor será aplicado em reabilitação de novas instalações onde passará a funcionar o «Arquivo Histórico» e ainda na reabilitação do depósito de documentos e fotografias no «Campus Universitário» da UEM (Universidade Eduardo Mondlane).
As novas instalações provisórias do «Arquivo Histórico» irão ser em edifícios que serão reabilitados com parte da verba de 600 mil Euros, mas ainda não começaram as obras. Uma notícia dada pela Lusa há um ano atrás dizia que por esta altura certas instalações novas deveriam já estar prontas. Ainda não começaram as obras em algumas, mas já terminaram noutras.
Uma parte dos 600 mil Euros “já foi aplicada” na reabilitação (concluida) do «Centro de Conservação e Preservação de documentos e serviços de digitalização e microfilmagem de imagens, num edifício localizado, na Av. 25 de Setembro, entre a Biblioteca Nacional e a Imprensa Nacional.
De acordo com Guedes com outra parte da mesma verba já se produziu só o projecto arquitectónico do que poderão vir a ser as futuras instalações de raiz do «Arquivo Histórico», se houver um dia dinheiro para isso. Nunca esteve previsto mais do que o projecto na tranche existente.
Os 600 mil Euros, segundo Guedes de Sousa, foram disponibilizados, em Fevereiro de 2005, pelo «Instituto Português de Acção e Desenvolvimento» (IPAD), «Instituto Português» (IP), «Instituto Português do Património Arquitectónico» (IPPAR), «Universidade Eduardo Mondlane» (UEM) – esta moçambicana – e pela «Torre do Tombo». “A gestão foi confiada à «Cooperação Portuguesa»”.
“Nós neste momento atingimos a primeira fase que era a reabilitação do edifício da Avenida 25 de Setembro onde vão funcionar as futuras instalações do Centro de conservação e preservação de documentos e serviços de digitalização e microfilmagem do Arquivo Histórico de Moçambique”, disse Sousa. Acrescentou que com parte da mesma verba de 600 mil Euros, vai-se dar seguimento a outras obras de reabilitação e remodelação de um edifício da “Travessa de Varietá” na Rua do Bagamoio, nas proximidades do Cinema Matchedge, em Maputo, onde vão funcionar as novas instalações-sede do Arquivo Histórico de Moçambique em substituição do actual na Av. Filipe Samuel Magaia.
Segundo de Sousa a segunda fase do projecto inclui a reabilitação da “Travessa Varietá” e o depósito do Campus da UEM. Nenhuma começou. “Estimativas indicam que (depois de iniciadas) vão durar aproximadamente quatro meses, arrastando-se até Dezembro”.
O «Canal» quis saber de Guedes de Sousa se haverá algum dia fundos portugueses para um novo edifício de raiz para o Arquivo Histórico de Moçambique. Ele disse existir, neste momento, apenas o projecto arquitectónico já desenhado, mas não há verba para construção.
O chefe da Cooperação Portuguesa em Moçambique esclarece que a prioridade foi fazer-se o que se descreveu. Agora vão seguir-se os trabalhos de reabilitação do futuro depósito do Arquivo Histórico de Moçambique no campus da Universidade Eduardo Mondlane, (UEM) e na “Travessa de Varietá”.
A Cooperação Portuguesa vai transformar e apetrechar o edifício localizado no campus da UEM para futuro depósito do Arquivo Histórico de Moçambique de modo a guardarem-se fotografias.
Sousa disse também que neste momento o Instituto Português do Património Arquitectonico, (IPPAR) está a trabalhar na programação da construção do edifício de raiz para futuras instalações do «Arquivo Histórico» conforme o plano arquitectónico já produzido.
Entretanto, o director-adjunto do «Arquivo Histórico», Eugénio Monteiro, disse ao «Canal», que ao nível da sua instituição decorrem contactos com entidades externas com vista a aquisição de equipamentos para o apetrechamento do futuro centro de conservação e preservação de documentos e serviços de digitalização e microfilmagem. Como via alternativa acabarão por usar o equipamento obsoleto, o existente no actual «Arquivo Histórico».
Conceição Vitorino - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 25.04.2006
Veja:
24-04-2006
O GOLPE DE ESTADO de 25 de ABRIL
De: JVerdasca O 25 de A B R I L
Muitos confundem o GOLPE de ESTADO efectuado a 25 de Abril de 1974, com a Revolução que se lhe seguiu, acentuada e agravada com a renúncia de Spínola, e, principalmente, com o Golpe do 11 de Março de 1975, que levou Portugal à anarquia, à indisciplina nas Forças Armadas na cidade e no campo, e a violências de toda a ordem, abusos e injustiças, que só terminariam com o 25 de Novembro do mesmo ano, chefiado pelo legalista Eanes, coadjuvado por Tomé Pinto e apoiado por Jaime Neves. Só quem lá estava pode aquilatar o ... ...
Leia em:
25 de Abril – reflexão e alguns dados
Do Massacre dos judeus em Lisboa ao Estado Novo
Neste ano de 2006 celebram-se 500 anos sobre o massacre de judeus em Lisboa, judeus que em resultado da política de alianças para a unificação das coroas de Castela e Portugal levou à conversão forçada ou à expulsão dos judeus de Portugal (1498), entre os quais se encontravam sábios, médicos, cientistas e banqueiros. A instauração da Inquisição em Portugal (1536) foi uma arma para perpetuar a permanência no poder duma classe «nobre» cada vez mais parasitária e o Tratado de Methween (1703) transformou Portugal numa colónia Britânica, impedindo o desenvolvimento da industrialização portuguesa.
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Leia tudo em:
Vitor Nogueira
Estamos hoje a 24 de Abril, véspera da comemoração dos 32 anos do 25 de Abril de 1974
MOÇAMBIQUE PARA TODOS oferece aos seus visitantes uma retrospectiva de situações, factos e comentários de vários textos editados pelo prestigiado Jornal Português de Economia e Finanças, no seu número de Dezembro de 1983, de que reproduzimos os temas, quer políticos, económicos ou de História, preferencialmente relacionados com Portugal e o ex-Ultramar, que a uns reavivará a memória e a outros (especialmente os mais novos) dará a conhecer factos e situações de que ninguém fala.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Veja em:
NOTA: Devido à extensão do documento aconselhamos a sua impressão
23-04-2006
O Caso do Navio ANGOCHE - Faz hoje 35 anos que aconteceu
Uma versão:
ÓSCAR CARDOSO- CRIADOR DOS FLECHAS
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"Ingressei em miúdo na Mocidade Portuguesa, quando tive de ingressar. Fi-lo, curiosamente, quando estudava no Colégio Moderno, do Dr. João Soares. Mais tarde entrei para a Legião Portuguesa e frequentei o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Interrompi o curso para fazer o serviço militar na Índia. Depois fui para a Guarda Nacional Republicana até que, em 1965, entrei para a PIDE. Na estrutura da PIDE, Barbieri Cardoso era inspector superior. Mas depois apareceu São José Lopes, um homem com grande influência em Angola, e era necessário dar-lhe outra situação para compensar o bom serviço que tinha feito. Então, nomearam-no inspector superior do Ultramar. Entretanto, havia na PIDE um indivíduo muito mais antigo do que o Dr. São José Lopes, o inspector Coelho Dias, que era subdirector, e que também queria ser inspector superior. Criaram-se assim os lugares de subdirector-geral para Barbieri Cardoso, de inspector superior do Ultramar para São José Lopes e de inspector superior do Continente para Coelho Dias. Havia uma divisão de tarefas entre os três. A PIDE tinha muito boas relações com todas as polícias e serviços secretos do seu género na Europa e no mundo. É conhecida a ligação de Barbieri Cardoso aos serviços secretos franceses, dirigidos pelo conde Alexandre de Marenches. Mas dávamo-nos bem com todas as polícias congéneres e também com os americanos da Central Intelligence Agency (CIA). Operávamos muito em África, através de informadores, sobretudo nos países vizinhos de Angola, Moçambique e Guiné. Por exemplo, havia informadores na Tanzânia em ligação a Oscar Kambona, o chefe da oposição a Julius Nyerere. Mas o controlo era feito através de Lisboa, pela secção central na António Maria Cardoso, chefiada por Álvaro Pereira de Carvalho. Tínhamos de facto bons informadores em África, onde os nossos serviços faziam um trabalho sobretudo de intelligence, em colaboração estreita com os militares.
Foi precisamente através da nossa rede na Tanzânia que soubemos o que se tinha passado com o navio Angoche. O navio Angoche levava material para a nossa Força Aérea, material sofisticado, essencialmente material explosivo, bombas para os aviões, etc., e creio que ia para Porto Amélia. Soubemos que o Angoche foi abordado em 23 de Abril de 1971 por um submarino da União Soviética e que os seus tripulantes foram levados para a Tanzânia, para a base central da Frelimo, Nachingwea. Foi uma operação executada por soviéticos, o que nos foi possível confirmar pelas análises que fizemos dos vestígios encontrados no barco. A primeira pessoa que fez a investigação a bordo do Angoche foi o inspector Casimiro Monteiro. Verificou que as armas não estavam lá. A tripulação foi levada para Nachingwea e depois, penso eu, terá sido aniquilada. Penso que iam no Angoche à volta de vinte e três pessoas. Mais de metade eram africanos, de Moçambique, e os outros europeus. O navio não era de passageiros mas levava um passageiro a bordo, a quem se deu uma boleia, o que era estranho. Houve uma outra coisa curiosa: a mudança, à última hora, do radiotelegrafista. O radiotelegrafista que era para ir resolveu não ir. Pode ter sido uma mera coincidência, mas é curioso que assim tenha sido. Na nossa opinião, tratou-se de uma operação soviética, feita em colaboração com o Partido Comunista Português. Fala-se que houve oficiais da Marinha, hoje oficiais generais, que estariam envolvidos nisso. Houve também o estranho caso de uma rapariga que foi "suicidada" na cidade da Beira e que estava ligada aos meios esquerdistas da Marinha portuguesa. Esta versão dos factos constou dos nossos relatórios na altura. Tínhamos um relatório secreto sobre o Angoche que desapareceu da sede da DGS, na Rua António Maria Cardoso, depois do 25 de Abril. Foi um dos processos que desapareceram. O caso estava a ser investigado....
Bruno Oliveira Santos, Histórias secretas da PIDE/DGS (p. 401-402)
NOTA:
A última notícia relacionada com o navio "Angoche" tive-a de Fernando Taborda, o último administrador português de Quionga:
"Saiba o povo português que, em Março de 1974, foi descoberta, na foz do Rovuma, uma baleeira do navio "Angoche", com insígnias começadas por NA confirmada pelo cabo de mar de Palma e que, sobre ela, nunca me foi dada resposta à circular que mandei para a Capitania de Porto Amélia."
In Quionga, meu amor
UMA ACHEGA:
NAVIO “ANGOCHE”
No dia 23 de Abril de 1971 - faz hoje 35 anos - o navio "Angoche" foi assaltado em alto mar, na costa de Moçambique, quando ia em viagem para o Norte.
Os 22 tripulantes foram levados para a Tanzânia e assassinados em Nachingwea, uma base da Frelimo.
Supõe-se que o assalto tenha sido feito por meios navais soviéticos, talvêz um submarino e foram encontradas manchas de sangue no navio, o que prova que foi usada violência contra os tripulantes.
O jornal "Notícias" de Lourenço Marques foi impedido pela Comissão de Censura de divulgar qualquer informação, o mesmo acontecendo com os jornais de Lisboa.
O jornal "Star" de Joanesburgo, que era vendido na esquina do "Continental", em Lourenço Marques, começou a referir-se ao assunto a partir da última semana desse mês de Abril de 1971. As informações eram poucas e as suposições eram muitas. "Diz-se", "fala-se", "supõe-se"...
O mesmo acontecia com a Rádio Brazaville e a Rádio RSA de Joanesburgo, que transmitiam em português. Ou com as emissões em inglês da BBC e da Voz da América. Todas escutadas por mim em Onda Curta.
Nunca ouvi a Rádio Moscovo e a "Voz da Frelimo" (através da Rádio Tanzânia) referirem-se ao assunto em Abril/Maio de 1971, apesar de eu as escutar todos os dias para o efeito.
Ainda hoje permanece o mistério sobre o que teria contecido aos tripulantes e a um provável passageiro, que viajavam a bordo do navio "Angoche".
Só 3 dias depois, a 26 de Abril de 1971, o navio foi abordado pelas autoridades coloniais portuguesas, pelo que houve quem se interrogasse em Moçambique se não teria sido tempo demais para dar pela falta de um navio daquele tamanho e com uma carga daquela natureza.
Usou-se o clásico raciocínio do "Motivo, Meios e Oportunidade" para tentar peceber o que se tinha passado:
- Motivo e Oportunidade: a Frelimo e a União Soviética, porque o "Angoche" transportava material de guerra;
- Meios: apenas a União Soviética, porque a Frelimo não tinha meios navais para um assalto em alto-mar.
Por motivos óbvios estratégicos e porque um acto de pirataria contra um navio mercante civil não honra particularmente quem o pratica, a URSS nunca falou no assunto.
Quatro anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril em Lisboa, desapareceu o relatório secreto sobre o assunto.
Assim se passaram 35 anos sem que a opinião pública tivesse tido o direito de saber o que se passou.
Haverá pessoas daquele tempo que sabem o que aconteceu ou que tiveram acesso ao relatório.
É tempo de quebrarem o silêncio!
SW
21-04-2006
Banco chinês financia construção segunda hidroeléctrica no Zambeze
Maputo, 21 Abr (Lusa) - O governo moçambicano assinou em Maputo um memorando de entendimento com o banco chinês China Exim, destinado ao financiamento em cerca de 1,9 mil milhões de euros da construção da hidroeléctrica de Mpanda Nkua, no rio Zambeze.
A construção de Mpanda Nkua, a 70 quilómetros a jusante da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), é um sonho antigo do governo moçambicano, que quer elevar a capacidade de aproveitamento do potencial energético do rio Zambeze e capitalizar uma previsível crise no sector eléctrico na África Austral, a partir de 2007.
O memorando de entendimento para o financiamento daquela infra- estrutura foi rubricado, quinta-feira, pelo ministro moçambicano da Energia, Salvador Namburete, e pelo presidente do banco China Exim, Li Ruogu.
"O memorando abre perspectivas, não posso precisar para quando, para que as equipas técnicas possam trabalhar nos detalhes, por forma a assegurarem as condições necessárias que permitam a disponibilização dos fundos", sublinhou Namburete.
O arranque do projecto vai depender da conclusão do acordo de financiamento com o China Exim Bank, uma etapa que deve ser antecedida por estudos detalhados sobre o modelo do projecto, acrescentou Namburete.
O ministro moçambicano da Energia afirmou que a primeira turbina de Mpanda Nkua estará em funcionamento num prazo de seis anos a contar a partir da construção da barragem.
Sobre os receios de graves prejuízos ambientais com a edificação de mais uma hidroeléctrica no vale do Zambeze, manifestados por diversos ambientalistas, Salvador Namburete disse que estudos sobre o impacto ambiental do projecto asseguram que o mesmo não provocará quaisquer danos.
"Não há qualquer associação negativa entre a construção destas infra-estruturas e a ocorrência de sismos ou quaisquer outros tipos de perturbações. Em 2002, realizámos um estudo em que gastámos cerca de 14 milhões de euros, que foi actualizado em 2005. As conclusões destes estudos confirmam que não riscos nenhuns", sublinhou Salvador Namburete.
O acordo de reversão da HCB entre Moçambique e Portugal contém uma cláusula de direito de preferência para empresas portuguesas em futuros projectos eléctricos em Moçambique.
"O governo moçambicano e o accionista Estado moçambicano (na HCB) reconhecem o direito de preferência, em condições de igualdade, às empresas portuguesas em futuros projectos do sector de energia a detalhar em futura ronda negocial", sublinha o memorando de entendimento assinado em Outubro de 2005.
Ao abrigo do referido acordo, Portugal deve reduzir de 82 para 15 por cento a sua participação na HCB, ascendendo Moçambique à qualidade de accionista maioritário, com 85 por cento, face aos actuais 12 por cento.
Moçambique tem de pagar uma dívida de 785 milhões de euros a Portugal, em compensação pela construção e manutenção da hidroeléctrica, ainda no quadro do mesmo entendimento.
PMA.
Veja:
HCB - Acordo final ainda sem data
A cerimónia formal da assinatura dos documentos finais do acordo de reversão da HCB, entre o Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza e o Primeiro-Ministro português, José Sócrates, continua sem data.
Em Março, delegações de Moçambique e Portugal concluíram, em Maputo, a negociação de aspectos práticos sobre o processo de reversão e transferência do controlo do empreendimento, ao abrigo de um memorando de entendimento rubricado a 2 de Novembro de 2005 em Lisboa.
Finalizado este processo, as partes acordaram que o passo seguinte seria a assinatura formal dos documentos finais do acordo, em cerimónia a realizar-se no nosso país em data a acordar entre o presidente Guebuza, e o primeiro-ministro José Sócrates.
Entretanto, informações postas a circular davam conta de que as duas partes se iriam encontrar ontem, 20 de Abril, mas tal não sucedeu devido à indisponibilidade do chefe do Governo português.
Em Maputo, o Ministro da Energia, Salvador Namburete, que aliás, em Março último testemunhou, juntamente com o Secretário de Estado Português para o Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina, a conclusão das negociações técnicas e validaram a acta da última ronda de negociações iniciadas logo a seguir á cerimónia do memorando de Lisboa, envolvendo técnicos de ambos os países. Namburete negou que se tenha aventado o dia 20 de Abril como data provável do encontro entre o chefe do Estado moçambicano e o chefe do Governo português. `Desconheço qualquer data que tenha sido aventada para o referido encontro´.
Ante uma insistência sobre as razões que estariam por detrás da não marcação, até hoje, da data para a referida cerimónia, Namburete disse que neste momento está tudo dependente das partes envolvidas neste processo, nomeadamente o Chefe do Estado, Armando Guebuza e o Primeiro-Ministro português, José Sócrates.
NOTÍCIAS - 21.04.2006
NOTA:
Era claro que o Governo Português dilataria a assinatura até que Moçambique tivesse financiador firme...
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Governo diz que já encontrou financiador
Para a reversão da HCB
O governo moçambicano já encontrou um financiador para o pagamento dos 785 milhões de euros a Portugal, permitindo a Moçambique deter 85 por cento da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), anunciou a primeira-ministra Luísa Diogo.
Ao abrigo do memorando de entendimento assinado em Outubro último em Portugal, Moçambique deve pagar o equivalente a 785 milhões de euros, para adquirir 73 dos 88 por cento do capital detido por Portugal naquele empreendimento.
A primeira prestação, no valor de cerca de 203 milhões de euros, devia ter sido paga em Janeiro deste ano, mas a falta de um acordo final entre os dois países inviabilizou a entrega do dinheiro.
Falando quinta-feira na Assembleia da República de Moçambique, Luísa Diogo garantiu que «já há uma clareza em relação ao nome do financiador» da verba que Moçambique deve pagar a Portugal.
«Agora está mais chegado ao fim o processo (de reversão da HCB), mas ainda não podemos revelar o nome do financiador», sublinhou Luísa Diogo.
Logo após serem conhecidos os termos do acordo que coloca Moçambique na posição de accionista maioritário da HCB, vários círculos de opinião em Moçambique colocaram a questão de saber quem irá pagar a verba acordada por Portugal, dada a manifesta incapacidade do Governo moçambicano de suportar tal encargo.
EXPRESSO AFRICA - 21.04.2006
NOTA: Não quero fazer futurologia mas a "mão" de Almeida Santos deve estar aí metida. Ainda vai ser um dos acionistas da HCB...
Moçambique já tem financiador... diz a 1ª Ministra.
Então Moçambique fica a dever. E vai ter de pagar.
E o financiador vai certamente cobrar juros.
Além do aumento do número de "administradores", que é que o povo de Moçambique vai beneficiar.
Exactamente ainda ninguém disse nada. Só se ouve falar de investimentos de brasileiros, chineses e portugueses.
Afinal como é?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
20-04-2006
O Turismo em Moçambique
Pretende o Governo Moçambicano dinamizar o Turismo em Moçambique, e muito bem.
Mas como? O Património Histórico está destruído. Até o Museu da Revolução está como está. Como, volto a perguntar?
Vejam o exemplo de Macau.
Visitem:
Quanto a Moçambique é ver, entre outros:
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
19-04-2006
Graça Machel ia perdendo a vida nas vésperas do Acidente de Mbuzini
Tupolev presidencial de Samora Machel
Poucos dias antes do desastre de Mbuzini, a então primeira-dama, Graça Machel, por um triz não perdeu a vida quando o avião em que viajava se despistou ao tentar aterrar na aeroporto de Mocimboa da Praia. O avião em causa era o Tupolev presidencial pilotado na altura pela mesma tripulação que viria a envolver-se no desastre em que perdeu a vida o primeiro chefe de Estado moçambicano.
Graça Machel integrava uma delegação de alto nível que incluía funcionários das Nações Unidas, membros do governo central e da província de Cabo Delgado.
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18-04-2006
Historiador moçambicano distancia-se da Linha Oficial
por João Cabrita
Título: Escapar aos Dentes do Crocodilo e Cair na Boca do Leopardo
Autor: Yussuf Adam
Editora: Promedia (Maputo, 2006), 478 pp ; 150,000MT
A tese de doutoramento do historiador moçambicano Yussuf Adam, defendida na Universidade de Roskilde, Dinamarca, acaba de ser publicada em livro, com o título, Escapar aos Dentes do Crocodilo e Cair na Boca do Leopardo. É um trabalho originalmente publicado em inglês em 1996, e que trata da "evolução do quadro sócio-económico em Moçambique após a independência”. Adam apoia-se em três factores distintos, designadamente as estratégias de desenvolvimento e políticas complementares seguidas pelo governo da Frelimo, a ajuda externa prestada ao país, e a chamada "desestabilização".
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Degradação de património histórico-cultural
Governo não tem dinheiro
– diz vice-ministro da Educação e Cultura
“«Museu da Revolução» não é do Estado, é do partido Frelimo”
(Maputo) Neste momento o Governo não possui dinheiro para investir na preservação do património cultural nacional, nem sequer para reabilitar ou reparar os museus, monumentos, arquivos, e outras infra-estruturas de natureza histórico-cultural, disse ontem ao «Canal de Moçambique», o vice-ministro da Educação e Cultura, Luís Covane. Mas a grande novidade é que o «Museu da Revolução» não é do Estado mas sim do partido Frelimo.
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17-04-2006
Almeida Santos escreve livro
O ex-presidente da Assembleia da República e presidente do PS, Almeida Santos, anunciou ontem em Maputo o lançamento para breve de um livro sobre as suas memórias da “vivência da era colonial” e da descolonização.
“O livro já está escrito, espero que a verdade seja reposta”, disse Almeida Santos, referindo-se à imagem negativa da descolonização que admitiu existir em “muitos portugueses”.
CORREIO DA MANHÃ - 16.04.2006
16-04-2006
Colocando as “idiotices” de Sérgio Vieira no seu contexto!
O colunista do semanário “domingo”, Sérgio Vieira, disserta, a 9 de Abril corrente, sobre “escrever idiotices”, onde, entre vários tiros disparados no escuro contra a classe jornalística, desagua numa posição de ataque frontal a um pensamento nosso veiculado em editorial há semanas atrás.
Escreve o colunista, a dado passo, o seguinte:
“ Um colega desse articulista na ignorância ou apenas na precipitação de escrever e agradar a alguém lá fora, a propósito do assassinato, a todos os títulos, condenável do deputado Mascarenhas, especula e brinda-nos com esta estultíci : Parece que estamos a voltar aos tempos do SNASP, aos tempos de grave limitação das liberdades fundamentais dos cidadãos, incluindo a liberdade de viver tranquila e livremente”.
Continuando, Sérgio Vieira, que já foi ministro do SNASP, acrescenta:
“Esse jornalista, no passado afastado de uma escola, docente, por comportamento indevido, o que sabe do SNASP? As vidas salvas pelo SNASP? A neutralização de tentativas de crimes pelos serviços rodesianos? A descoberta das provas da cumplicidade de Banda com os crimes cometidos contra as populações de Moçambique? As intervenções que bloquearam tráfico de armas para desmobilizar países vizinhos e amigos? O resgate de reféns? O desmascarar as violações da DMI sul-africana de acordos firmados visando abaixar o nível de confrontação militar no sub-continente? O haver provado se dotava de armas nucleares para atacar Moçambique e Angola? O que pretende atingir esse jornalista?....”
Vamos olhar, de perto, os arrazoados deste ilustre colunista da praça.
Começa por dizer que o nosso escrito ou foi “por ignorância ou por precipitação de escrever para agradar a alguém lá fora”.
Nem uma coisa nem outra. Não somos ignorantes sobre o que dizemos e escrevemos. Somos moçambicanos atentos e contribuintes do processo de desenvolvimento do País, muito antes da criação do SNASP. A nossa vida não começa com o SNASP, pelo que possuímos elementos de comparação entre os períodos anterior, durante e depois do SNASP. Também nunca escrevemos para agradar a “alguém de lá fora”, pois o nosso público-alvo está cá dentro de Moçambique, o nosso público-alvo são leitores residentes em Moçambique. É por isso que temos bancas de revenda do jornal em todas as províncias do País e ainda não conseguimos ter nenhuma banca lá fora. Portanto, se conseguimos agradar a alguém, esse alguém é o nosso leitor principal e ficamos satisfeitos com isso. Mas, também desagradamos alguns leitores, como o demonstra a raiva escrita do colunista Sérgio Vieira.
Vieira escreve, logo a seguir, uma lamentável mentira, insinuando coisas que a termos que debatê-las abertamente iríamos, tristemente, lembrar em público o racismo e outras coisas feias envolvendo a pessoa da falecida Dra. Luisa Vieira (Paz à sua alma!), esposa do colunista.
São processos históricos que o colunista Vieira não possui capacidade nem serenidade para debatê-las com a isenção necessária porque não os viveu, pelo que, a não ser que nos peça, nós preferimos ser superiores a intrigas de pessoas habituadas a “lixar” os outros.
Em nosso modesto entender, Sérgio Vieira labora em vários equívocos, sendo o principal deles o de continuar a pensar que ainda detém os poderes que detinha como chefe do SNASP, incluindo o poder de mandar calar e matar as pessoas que tinham uma opinião contrária à sua.
Felizmente, hoje as coisas mudaram e não mudaram graças a pessoas como Sérgio Vieira, pois para essas pessoas, felizmente poucas, o tempo do SNASP era o áuge do bem-estar das populações e, sobretudo, deles próprios que tanto podiam enganar, como chicotear e/ou fuzilar, pública e impunemente, parte dessas populações.
Portanto, temos a plena consciência de que estamos a discutir com um homem parado no tempo do SNASP e que até lhe convém uma defesa acérrima dessa instituição, de trsite memória, da qual foi chefe máximo durante uma parte da sua vida.
Se o SNASP possui todas as glórias e virtudes acima evocadas por Sérgio Vieira, qual foi a razão do seu desmantelamento? Ou seja, se o SNASP fazia tão bem ao povo moçambicano por que é que foi desmantelado? Ou por que é que o Senhor Sérgio Vieira, que foi parlamentar durante uma infinidade, nunca propôs a sua recuperação, só o fazendo como colunista de jornais?
Nós, que nunca colaboramos com organizações repressivas do povo, estamos muito à-vontade ao falarmos deste assunto e desafiamos o ex-ministro do SNASP a provar que alguma vez fizemos algo similar com uma colaboração com o SNASP.
Enquanto Sérgio Vieira só vê coisas floreadas sobre o SNASP, Samora Machel, digníssimo tribuno desta nação, via o SNASP como o povo o via, isto é, como uma organização demasiado infiltrada por pessoas de conduta duvidosa e que se serviam dela para reprimir, torturar e assassinar o povo, razão pela qual Samora convocou um comício popular no dia 5 de Novembro de 1982, no qual disse o seguinte sobre as Forças de Defesa e Segurança, em particular sobre a “dama” do colunista Sérgio Vieira:
· “Elementos infiltrados nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) espancam e torturam o povo sob vários pretextos. A agressão e tortura são usadas como um meio de punição de erros, muitas vezes imaginários; como um meio de fazer as pessoas confessar crimes, cometidos ou não, como um meio de intimidação, de impedir que a população denuncie crimes cometidos por esses infiltrados; para extorquir bens da população e como forma de vingança pessoal.
· Elementos infiltrados nas FDS fazem prisões arbitrárias nas seguintes circunstâncias: como forma de resolver querelas pessoais, como vingança contra pessoas que apresentam queixas de abusos cometidos por eles, para intimidar a população, para roubar os bens dos detidos, para ficar com as casas dos detidos, para abusar das esposas e filhas dos prisioneiros, para abusar das mulheres detidas.
· Infiltrados nas FDS também abusam das mulheres em outras circunstâncias tais como: violação sexual usando a força física ou ameaçando com arma; violação sexual de menores tanto usando a força ou usando o prestígio do uniforme ou da estrutura a que estão infiltrados; seduzindo e engravidando raparigas depois de promessas de casamento que não são cumpridas; sedução de mulheres casadas usando prestígio do uniforme ou das estruturas; ofensas contra o pudor forçando mulheres a despirem-se sob ameaças ou falsos pretextos.
· Infiltrados nas FDS roubam da população, particularmente nas seguintes circunstâncias: ataques armados, extorsão na estrada e nos pontos de controle fronteiriço, usando o pretexto de que confiscam os bens para o Estado; arrombamentos de casas nos arredores dos quartéis em que os ladrões escondem-se dentro dos próprios quartéis.
· Infiltrados nas FDS recrutam seus familiares e amigos para estas forças na base do nepotismo criando assim uma rede de compromissos que muitas vezes transformam-se em cumplicidade nos desvios e crimes cometidos.
· Infiltrados nas FDS, em particular no SNASP, reproduzem o estilo e métodos de trabalho da polícia secreta capitalista na tentativa de intimidar e aterrorizar a população”.(In “The Enemy Within”, Colecção Bulding a Nation, 1982, Maputo).
É a isto, caro colunista Sérgio Vieira, que nós não queremos regressar mais. É a isto que nos referimos quando alertamos que não devemos aceitar voltar ao período de grave limitação das liberdades dos cidadãos, como acima está descrito.
À pergunta do colunista Vieira sobre “o que pretende atingir esse jornalista”, respondemos que pretendemos atingir um estágio democrático em que jamais seja possível voltar ao tempo do SNASP.
Não queremos, jamais, que esse período sinistro da História Nacional se repita!
Salomão Moyana - ZAMBEZE - 13.04.2006
13-04-2006
A MULHER MOÇAMBICANA E SUAS FASES DE TRANSFORMAÇÃO 1975-2005
Por: Linette Olofsson
Dedicação as mulheres moçambicanas nascidas na década 70
“Tudo no homem depende da civilização. É portanto, sobre o Estado social que se apoia o edifício da sua grandeza”
-D’ Olivet Antonie-França- 1767-1825
Ainda na esteira do 7 de Abril, urge olhar para a mulher como uma das importantes forças motrizes para um desenvolvimento humano a partir da base da sua primária socialização. Numa sociedade de exclusão como a nossa, seria de certa forma muito vago se se pretendesse penetrar na questão “mulher” descurando-se as fases pelas quais ela passou. Tal como na pretérita reflexão, continuo afirmando que não pretendo fazer um estudo profundo sobre a matéria, pois o assunto “mulher” é multifacetado. É matéria de estudos em diversos ângulos. Aqui importa apenas reflectir sobre a “dor” da mulher; sobre aquilo que a minha visão, de cidadã, me mostra ao longo destes anos todos de “independência”. Para tal, vou dividir este texto em duas etapas, tal como se segue:
Veja tudo em:
12-04-2006
A Propósito do 7 de Abril - Dia da Mulher Moçambicana
Uma Reabilitação importante da História:
CELINA MUHLANGA SIMANGO
Uma Mártir paradigmática, ignorada em Moçambique. (Muhlanga, lê-se aproximadamente Mux.Lhanga – (Muchanga)
Ensaio
A Propósito do 7 de Abril - Dia da Mulher Moçambicana
por João Craveirinha
PREÂMBULO ETNO-HISTÓRICO XINDAO / INGUNI:
Excerto de saudação laudatória (de louvor) muito antiga – mais de 100 anos. Xithopo / xithoko – zelo: «Davuka! Muhlanga! Duva!... Va Ka Muhlanga Va Huma Musapa i Vandau». (Acorda Muchanga! Zebra!... Os Muchangas saiem de Mussapa são vaNdao) …«xa ku remero ra re kure, bare» (nascidos de algo pesado que veio de longe).
Segundo a História o Clã Muchanga veio de muito de longe. Originário para lá do Sul de Moçambique (Cordilheira dos Libombos - Suazilândia). De uma origem muito antiga iNduanduê (iNguni), derrotados em guerras com os Muthétuas – Zulos da era de Tchaca Senzagakhona iZulo (1816 / 1828). Alguns são integrados nos Zulos. Um dos generais vaNguni convertidos do Imperador Tchaca Zulo (n.1787 / m.1828), era Muhlanga. Outros Muhlangas (Muchangas), fogem mais para Norte (Zimbabué e Manica), integrados nas hordas vaNguni (dos Grandes). Em 1825, iNgunis reconquistam Mussapa e Mossurize chefiados pelo iNkôssi Soshangana, General do derrotado Zuide, Rei iNduanduê. Soshangana, mais tarde avô de Mundungazi (alcunhado inGungunhane), segundo filho de uMuzila na linha de sucessão do Império da velha Gaza em Manica (e Sofala). (O nome Mundungazi provém de Mundu = pessoa – iNgazi = sangue (real). Palavras de origem shona / indao). O verdadeiro nome de inGungunhane era iNdao e isto nunca havia sido dito antes.
Na invasão do Sul do Save (1889), o Imperador Mundungazi, de alcunha inGungunhane o iNgonhamo (leão), marcha com cerca de 100 mil vaNdao (despovoando Mussapa e Mossurize), rumo a Mandlha – inKaze (Mandlakaze - Mandjacaze), massacrando os vaLengue (chopes) em maioria –, do rio Limpopo ao rio Save. Um dos dois principais tiNduna – chefes de inGungunhane era o todo poderoso General Simango e outro de nome muTazabano, veteranos do tempo de seu pai uMuzila, sepultado em Udengo – Manica (Sofala), onde permanece. Outros Muhlangas (Muchangas) fixam-se no Sul do Save na Nova Gaza, depois da conquista.
Os Muchangas, anteriormente (1820/30), ocupam Mussapa – Manica (dos dois lados de Moçambique e de Zimbabué), zona dos Shonas, conquistando-os. Surge o fenómeno de aculturação mútua – vencedores iNgunis Muchangas com Shonas derrotados. Mais tarde os Shonas de Moçambique são denonimados – iNdao. (Vide livro de Crónicas Históricas, 2ª edição: - Moçambique, Feitiços, Cobras e Lagartos, pag. 45, último parágrafo).
A saudação laudatória final dos Muchangas entoada em xiNguni é elucidativa: «Hlambasi wa Mafukuthe, wa Ucenga. Yebo!». Indicação de que na realidade o Clã Muchanga é vaNguni e veio do Sul, o mesmo se aplicando aos Dhlakamas (De – lha – kamas).
Na origem de Mamã CELINA MUHLANGA (n.1937? / m.1981?), esposa do reverendo Uria SIMANGO (antigo vice - Presidente da FRELIMO), correm genes (ADN) de lendários guerreiros Muhlangas (Muchangas) e na descendência de seu casamento (filhos), se misturam ainda genes de avós Tivanes dos iMpfumos (rongas de Maputso) e Shonas de Zimbabué da parte do pai Uria Simango (n.1926/m.1981?); outro grande mártir do Nacionalismo Africano e de Moçambique. (ADN = ácido desoxirribonucleico).
Mas que crime terá cometido Mamã Celina? O “Crime” de ser MULHER, ESPOSA e MÃE MOÇAMBICANA?! Ou na realidade, Celina Muhlanga Simango, terá sido uma Mártir da Independência e da Liberdade simbolizando todas as outras MULHERES MÁRTIRES ignoradas que a Luta pela Independência gerou?
“Mama” Celina foi Presidenta da LIFEMO – LIga FEminina MOçambicana que daria origem ao D.E.F (1968) e à OMM a 16 Março 1973. Ao citarem a OMM sem dúvida um dia na História, o nome de Celina Muhlanga Simango, terá de ser lembrado como uma das pioneiras na organização política feminina na Luta anti-colonial em Moçambique e em África.
A 4 Março 1968, é extinta a LIFEMO e criado o D.E.F – Destacamento Feminino da FRELIMO do qual Josina Muthemba viria a participar como dirigente. Josina Abiatar Muthemba (mais tarde Machel), nasce em 1945. É mãe a 23 de Novembro 1969. Morre em 7 de Abril 1971, em Dar-es-Salaam (Hospital Chinês de Kurassine). Sucumbe ao esforço físico de acompanhar a situação das crianças afectadas pela guerra, no interior de Moçambique – Cabo Delgado e Niassa. Daí o 7 de Abril, Dia da Mulher Moçambicana.
No entanto, Celina Muhlanga Simango, sofreria no corpo e na alma rasgada de dor o destino cruel de todas as mártires de uma Luta de Libertação. Fiel ao lado de seu marido cumprindo a jura celebrada no casamento cristão: “até que a morte nos separe” – na realidade nem na morte separados. Estariam unidos para sempre na entrega total pela causa de uma Independência de Moçambique para outros a desfrutarem sem a merecerem. “Os primeiros serão os últimos” –, reza a Bíblia que seu marido, Uria Simango, tão bem conhecia assim como os Cânticos dos Salmos de que se serviu para atenuar a dor física das bastonadas a oito mãos que recebia na tortura em 1975 no campo de Nachingueia em Tanzania.
No dia das Mulheres Moçambicanas, resgato a memória de Mamã Celina Muhlanga Simango, humilhada, torturada, somente por não renegar seu marido Reverendo Uria Simango – Presidente interino da Frelimo após a morte de Eduardo Mondlane, em 3 Fevereiro 1969. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO.
Na figura dessa Mulher – Esposa – Mãe, Celina, se resgatam todas as MULHERES Moçambicanas ou Moçambicanizadas que foram caluniadas, presas e enviadas a fatídicos campos da morte por Moçambique fora e em Niassa, nas diversas operações produção desde 1975. MULHERES violentadas na condição humana, e, outras, na fuga, devoradas por leões ou mortas por metralhadoras kalashenikove.
In Memoriam a essas MULHERES MÁRTIRES, este Dialogando de hoje, sem diálogo, chora lágrimas de silêncio!
(João Craveirinha)
Tanzânia – Nachingueia – Janeiro 1975 – Apresentação dos ditos “reaccionários” depois de uma noite de tortura. Da esquerda para a direita: pintor João Craveirinha (autor desta crónica); estudante José Francisco, 1º Comdt. de mísseis Pedro Simango; Dr João Unhai (médico); Prof. Dr. Faustino Kambeu (Direito Internacional); professora Celina Muchanga Simango (esposa do Rev. Uria Simango). Todos dissidentes da FRELIMO. (Foto arquivo de J.Craveirinha).
Publicado em O AUTARCA e CANAL DE MOÇAMBIQUE - 12.04.2006
11-04-2006
A jóia dos “históricos” está a apodrecer aos bocados
Museu da Revolução
“Desde 1984 que não é reabilitado” - director Adriano Mariquele
O Museu da Revolução, paragem obrigatória de todas as delegações no tempo do «socialismo científico» implantado na Av. 24 de Julho em Maputo – mesmo ao lado do hoje esplendoroso e bem conservado edifício ismaelita de «Sua Alteza Aka Khan» e da «Igreja Universal do Reino de Deus» – encontra-se praticamente “abandonado” e a apodrecer aos bocados. A degradação vai tomando conta do seu edifício à medida que os dias vão passando sem que alguém se preocupe em locar verba para a sua reabilitação.
O seu director, Adriano Mariquele, diz mesmo que desde 1984 que não há um metical para a manutenção do templo que guarda a herança viva dos heróis da Luta Armada de Libertação Nacional.
O edifício possui quatro pisos. As escadas apresentam os corrimãos danificados. Quase todos os vidros das suas janelas estão partidos. As casas de banhos estão danificadas. As paredes das salas apresentam fissuras. Há infiltração de água. E o mais sintomático, conforme testemunhámos, quando passam viaturas pesadas pela avenida a que dá a fachada, o edifício treme.
O director do Museu, Adriano Mariquele, em entrevista ao «Canal de Moçambique» diz que aquele património cultural desde 1984 que não é reabilitado, razão pela qual apresenta o actual estado miserável.
Aquele edifício que contém parte da história da «Frente de Libertação de Moçambique» e da própria luta anti-colonial. Ninguém liga àquilo. Está a deteriorar-se dia após dia.
O director afirma que o edifício precisa de uma reabilitação de raiz. Quanto muito o governo devia prestar mais atenção a trabalhos de manutenção de rotina às estruturas físicas do «Museu da Revolução». Mas nada disso acontece desde 1984. Dois anos depois morreu Samora Machel.
A degradação não afecta apenas a estrutura do edifício como também atinge os materiais expostos.
Mariquele disse ainda ao «Canal» que a estrutura das vitrinas que protegem as fotografias, brochuras, fardamentos e armamento militar expostos, também não se encontra em bom estado de conservação, “razão pela qual o material nele contido está deteriorar-se”.
Segundo o director do Museu as obras expostas estão a ser conservadas de uma maneira não convencional, ou seja, grosso modo, “ao jeito da imaginação dos funcionários porque os produtos que deveriam ser aplicados quer no papel, pau e tecidos não existem”.
No rol dos problemas que o museu está atravessar Mariquele vincou ainda a falta de condições de trabalho, equipamento e segurança dos funcionários. Segundo ele existem vezes que estes ao fazerem limpeza das vitrinas ficam intoxicados com poeiras devido à antiguidade do material exposto. Mais grave ainda, sem o tratamento adequado.
Para Mariquele, caso o actual cenário persista o museu vai deixar de existir. “Assim com essas dificuldades todas corremos o risco de fechar os museus”.
De acordo com a nossa fonte, o problema existente no «Museu da Revolução» não afecta unicamente aquela instituição mas, sim, a todos os outros museus do país.
“O nosso País está atravessar problemas graves com relação a manutenção e reabilitação de raiz do património cultural existente nos nossos museus”.
“Os nossos museus têm problemas graves de manutenção e reabilitação”, realçou.
“O governo deve injectar dinheiro para pelo menos conservarem-se de uma melhor forma as obras do Museu da Revolução”.
Não obstante a situação, o director do Museu da Revolução mostrou-se ainda mais preocupado com os problemas referentes ao edifício, mais concretamente, às fissuras nas paredes, infiltração de água, casas de banho danificadas, vidros partidos, paredes a escamar das salas de exposição de obras e alguns corrimões das escadas partidos.
Enquanto isso
O director do Museu de História Natural, Luís Cabral, disse num outro desenvolvimento que os museus, incluindo o que dirige, têm muitos problemas que disse acreditar não vão ser resolvidos a curto prazo porque “o dinheiro desembolsado não dá para custear” os trabalho de manutenção, reparação rotineira e reabilitação.
(Conceição Vitorino) – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 11.04.2006
10-04-2006
Entrevista de Manuel Monge -1995
Manuel Monge, General na Reserva, é hoje Governador Civil de Beja. Em 1995 concedeu uma importante entrevista a Maria João Avilez que recordo integralmente. Realço, no entanto, as seguintes passagens:
P. - Entretanto, acompanha, a Londres, Mário Soares, então ministro dos Negócios Estrangeiros, para a primeira negociação do cessar-fogo na Guiné. Que descolonização pensavam fazer os militares que rodeavam Spínola? Que "instruções" havia?
R. - Fomos a Londres e, depois, a Argel negociar o cessar-fogo com o PAIGC. A situação militar no terreno era muito difícil e, no campo político, a independência da Guiné, proclamada unilateralmente em 1973, fora já reconhecida por dezenas de países. Apesar disto, o povo da Guiné bem precisaria que não tivéssemos saído com a pressa com que o fizemos... Em Londres, o PAIGC propôs-nos um prazo largo para a nossa saída da Guiné. Só que a situação na Guiné foi pressionada para se reflectir em Moçambique e, principalmente, em Angola, onde não havia problemas militares. Sentimos essa pressão e vislumbrámos essa estratégia, inspirada pela União Soviética e conduzida pela OUA. E que, em Portugal, tinha como grandes aliados a ala radical do MFA e o PCP.
P. - Mas não me respondeu sobre se havia ou não algum tipo de "instruções" para a condução das negociações...
R. - Na véspera de partir para Londres, em 26 ou 27 de Maio de 1974, houve, à noite, uma assembleia do MFA na Manutenção Militar...
P. - O MFA continuava a reunir, a deliberar...
R. - Naquela altura, havia decisões que era difícil serem tomadas por outra instância. Perguntei aos meus camaradas se, nas negociações onde ia tomar parte, devíamos mostrar firmeza no sentido de acautelar os nossos interesses - ainda que nos pudesse acarretar dificuldades militares no terreno - ou se devíamos, como o Otelo defendia (e veio, aliás, a fazer com o Samora Machel!), considerar os movimentos emancipalistas credores de total apoio e confiança. Numa acalorada discussão, a maioria da assembleia concordou com a minha posição. Com essa disposição segui para Londres. Mas os líderes radicais do MFA faziam o jogo da parte negociadora adversa (chegando a encontrar-se às escondidas com os líderes africanos...), inviabilizando assim, totalmente, os esforços dos negociadores portugueses, nomeadamente dos ministros Mário Soares e Almeida Santos.
P. - Quem se encontrou às escondidas com quem? Quem fazia o jogo da parte adversa?
R. - O marechal Spínola conta tudo isso em pormenor no seu livro "País sem Rumo". Os nomes estão lá todos!
P. - Estou a entrevistá-lo a si e não ao marechal Spínola... A sua ideia da descolonização é negra! Não é vulgar ouvir um militar com responsabilidades no 25 de Abril acusar outros militares de forma tão frontal...
R. - Só para a descolonização era preciso uma entrevista! Apesar de feita tardiamente (reconheço isso), deveria ter sido conduzida doutro modo. Na altura, o MFA radical e os seus aliados políticos chamaram-lhe descolonização exemplar; agora dizem que foi a descolonização possível. É falso. Foi a descolonização que os líderes do MFA quiseram, inclusive curto-circuitando, secundarizando, ultrapassando os ministros civis do Governo que tomaram parte nas mesmas. Perseguindo e prendendo, e deixando levar à morte em África e Timor - como Joana Simeão, Magiolo Gouveia e tantos outros -, aqueles que tentaram opor-se. Começou a sua série de entrevistas com o tenente-coronel Melo Antunes, que nos acusou - a nós, o grupo próximo do general Spínola - de lhe termos dificultado os seus projectos descolonizadores. Foi óptima essa confissão de Melo Antunes. É que não me revejo nessa descolonização exemplar que provocou a terrível guerra civil de Angola, o genocídio do povo de Timor e a mais horrorosa miséria em Moçambique. Mas, em Macau, provou-se que poderia ter ocorrido uma descolonização diferente...
P. - Porquê?
R. - Também ali havia uma célula do MFA radical a desestabilizar... E o governador Garcia Leandro teve a clarividência e a coragem de a expulsar de Macau... Recordo-me de que um deles, o Quitério de Brito, quando cá chegou, foi logo nomeado pelo Vasco Gonçalves para o V Governo! Gostaria de acrescentar que, há pouco tempo, o ex-Presidente Aristides Pereira disse aquilo que muitos de nós bem sabíamos... O povo de Cabo Verde teria preferido ficar a fazer parte de Portugal, obviamente com um estatuto autonómico, que depois se definiria. E assim teria sido se se tivesse cumprido o estabelecido no Programa do MFA. Vou contar-lhe um episódio da descolonização de Cabo Verde: poucos dias depois do 11 de Março, estava eu preso em Caxias, ao passar por um corredor vi uma cela cheia de indivíduos de cor. Soube pouco depois que se tratava dos líderes dos dois partidos cabo-verdianos que, após o 25 de Abril, se organizaram em Cabo Verde... Um belo dia, foram presos e enviados para Caxias. E soube também que as segundas figuras desses partidos foram mandadas para o Tarrafal... Algum tempo depois, o PAIGC conseguia implantar-se em Cabo Verde. Mas quando, anos depois, houve eleições livres, foi o que se viu...
Leia a entrevista completa:
NOTA:
Não deixe também de ler:
09-04-2006
30 anos como médico em Moçambique
Contribuições para a História de Moçambique por Aires Sartro Fernandes
30 anos como médico em Moçambique
Intervenção do autor no Dia dos Médicos, de 2006
Quero começar por agradecer à Direcção da AMM (Associação dos Médicos de Moçambique) o honroso convite que me fiz para falar sobre a minha experiência como médico do grupo dos mais velhos. Vou vos falar essencialmente sobre o que vivi e o que senti e o que penso como médico de medicina curativa nos últimos 30 anos:
Uma semana depois de concluir o meu curso na Faculdade de Medicina da «Universidade de Lausanne», na Suiça, nos finais de 1975, voltei para Moçambique, para cumprir um dever patriótico como moçambicano e membro da Frelimo. Comecei a trabalhar logo no dia seguinte à chegada, no actual Hospital Central de Maputo.
Leia tudo em:
06-04-2006
EM MEMÓRIA DE JOANA SIMEÃO
Por: Linette Olofsson
A Mulher é a guardiania da espiritualidade humana. É a matriz da vida. É a personificação da grande Deusa. É a que acolhe, cria e desenvolve os processos de vida. É a perfeição mais perfeita e completa do Universo. Contudo, todos estes atributos podem não passar de poesia quando olhamos para o passado e presente da mulher no nosso país.
Esta reflexão vem a propósito de mais um 7 de Abril, dia consagrada pela Frelimo como sendo o dia da mulher moçambicana.
Veja tudo em:
Para recordar como era, e o que ainda não foi feito
UNIVERSITY OF PENNSYLVANIA - AFRICAN STUDIES CENTER
Noticias de Mocambique 68, (11/08/'95)
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NotMoc - Noticias de Mocambique
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No 68 8 de Novembro de 1995 Maputo ================================================================
PARLAMENTO: A AVENTURA
Reportar o parlamento atraves dos dados que aparecem nos jornais, na radio e na TV eh uma autentica
aventura. Convidamos a seguirem-nos neste exercicio de navegacao a vista.
Informe do Procurador Geral da Republica:
Sinai Nhatitima apresentou o seu relatorio de prestacao de contas no dia 2/11. Foram 60 paginas
distribuidas com atraso. (Savana 3/11) Este relatorio foi debatido nos dias 6 e 7 de Novembro. Debate
politicamente polarizado.
Das varias intervencoes do Procurador Geral da Republica, extraimos os seguintes pontos:
(Not.7/11)
- Intensificacao das inspeccoes aas unidades prisionais para verificar a legalidade;
- A luta contra a corrupcao serah feita na observancia da lei; "Vamos agir,independentemente da
posicao social e politica do agente. Sabemos que alguns dirigentes e ateh mesmo deputados gozam de
imunidades, mas isso nao significa a irresponsabilizacao. Vamos seguir o processo ateh ao fim."
- Ha casos que jah estao esclarecidos. Outros vao levar tempo. Kennedy foi assassinado em 1963
mas as investigacoes continuam.
- Trafico de droga esta a ser investigado. A legislacao mocambicana atribui a exclusividade da
investigacao a PIC. Esta estah a ser feita.
As perguntas e comentarios da Assembleia:
- Em Mocambique continua a vigorar a pena de morte por fuzilamento apesar de ser inconstitucional.
Dois casos ocorreram na Zambezia: um em Quelimane e outro na Maganja da Costa.
- Policia inviabiliza visitas a instituicoes policiais e prisionais.
- Reclusos morrem nas cadeias sem que se deh conta do facto; - O Procurador da Republica nao deve
fazer os deputados de parvos porque apresenta um documento sem indicar casos concretos de combate aa
corrupcao e criminalidade;
- Que se faca tudo para que nenhum criminoso saia impune do pais;
- Combate a corrupcao passa pela identificacao dos cabecas;
- Abertura dos dossiers sobre:
desaparecimento de Joana Simeao, Uria Simango e outros; mortes de Samora Machel, Eduardo Mondlane e Shafurdin Khan. (Not 7/11)
......................................................................
Este numero de NotMoc - Noticias de Mocambique foi feito por: Yussuf Adam
(yussuf@adam.uem.mz) - redaccao Wenke Adam (wenke@adam.uem.mz) - edicao ----
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Pedidos de assinatura: wenke@adam.uem.mz Qualquer correspondencia sobre o conteudo deste
jornal deve ser dirigida aos autores ou ao endereco wenke@adam.uem.mz ---------------
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Date: Wed, 8 Nov 1995 16:35:11
Subject: NotMoc 68
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Editor: Ali B. Ali-Dinar
GUERRAS DE ÁFRICA - MOÇAMBIQUE, da Academia de História de Portugal
Com a chancela da Academia de História de Portugal, está o jornal Correio da Manhã a distribuir a colecção BATALHAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL.
É o nº 20 da colecção dedicado à GUERRA DE ÁFRICA - MOÇAMBIQUE.
Quando anunciada a edição desta colecção, sempre pensei ser obra profunda, correcta na descrição dos factos, enfim preocupada com a Verdade. Foi uma desilusão que tive. É leve e com erros de palmatória.
Por ainda ser recente o período histórico em causa (das Guerras de África) existem ainda felizmente vivas muitas pessoas que, para além dos relatórios, muitas vezes tendenciosos e até contraditórios consoante o lado que os difundia, poderiam, se consultadas, trazer clareza a muitas situações.
Pelos vistos isso não aconteceu. Como a causalidade de muitos factos e situações também não foi escalpelizada.
Para além dos erros, há omissões de factos essenciais para a compreensão de determinadas situações, algumas das mais marcantes em todo este processo.
Provando a leveza dos textos, diz-se que Pimentel dos Santos, Engenheiro e Governador Geral de Moçambique, era "Major". Onde é que o autor descobriu que a "banja" de Mueda foi por causa do algodão? Etc, etc,...
Enfim, quem nada souber do que na realidade se passou, ao chegar ao fim da leitura deste volume dedicado a Moçambique, chegará inevitavelmente à conclusão de que a FRELIMO nunca fez nada de errado.
Certamente que houveram atitudes menos correctas de ambas as partes.
E, ou se vai ao âmago das questões, ou é melhor ficar quieto. A não ser que as motivações não sejam as da procura da VERDADE.
Em próximas intervenções procurarei chamar a atenção para os mais importantes erros e omissões.
É evidente serem benvindas todas as contribuições e testemunhos para o esclarecimento da VERDADE.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
05-04-2006
Nove milhões de metros quadrados livres de minas no centro do país
Cerca de nove milhões de metros quadrados, quase dez vezes a área de Portugal, foram desminados em 2005 nas províncias de Sofala, Manica e Tete, no centro de Moçambique, anunciou hoje o Instituto Nacional de Desminagem (IND).
A grande quantidade de minas colocadas ao longo dos 16 anos de guerra civil moçambicana, que terminou com o acordo de paz de 1992, tem impedido a população do centro do país de retomar em pleno as suas actividades produtivas, sobretudo a agricultura.
Segundo o delegado do Instituto Nacional de Desminagem no centro do país, Juma Caneiras, três operadores internacionais estiveram envolvidos na limpeza dos nove milhões de metros quadrados na região: a Norwegian People Aid, da Noruega, a Ronco, dos Estados Unidos, e a Handicap International.
A Ronco, envolvida na chamada desminagem comercial, removeu 46 minas anti-pessoal, 413 munições e 53 engenhos por explodir em cinco distritos, numa área de mais de oito milhões de metros quadrados.
Por sua vez, a Norwegian People Aid, com actividade sem fins lucrativos, limpou mais de 570 mil metros quadrados em quatro distritos, desactivando 51 minas anti-pessoal, sete munições e 264 engenhos por explodir, ainda de acordo com o balanço do Instituto.
A Handicap International, que também trabalha na desminagem humanitária, limpou nove distritos numa área de 111 mil metros quadrados, neutralizando 18 minas anti-pessoal, 48 munições e 214 engenhos por explodir.
O centro de Moçambique foi a região mais atingida pelo violento conflito civil moçambicano, por ser ali que se situavam as principais bases da antiga guerrilha da RENAMO.
Para a zona centro foram igualmente destacadas forças de alguns países vizinhos, com o objectivo de protecção do corredor da Beira, que permite o escoamento de mercadorias para os países da África Austral sem acesso a rotas marítimas, como o Zimbabué e Zâmbia.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 05.04.2006
03-04-2006
José Sócrates instado a acabar com a guerra no território
Partido independentista de Cabinda lança apelo
O presidente de uma das facções dos independentistas de Cabinda apelou ao primeiro-ministro português, José Sócrates, para interceder junto do Governo angolano no sentido de acabar com a guerra neste território, durante a sua visita oficial de quatro dias a Angola, que se inicia na próxima terça-feira.
Em comunicado, o presidente da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - Conselho Superior Alargado (FLEC-CSA), José Liberal Nuno, fez este apelo a José Sócrates para que se crie «um clima político propício ao diálogo e negociações» para o fim da guerra em Cabinda.
«Em nome do martirizado povo de Cabinda solicito encarecidamente o empenho pessoal de vossa excelência para que durante o período em que estiver em Angola se empenhe no sentido de envidar esforços de modo a apelar às autoridades angolanas a enveredarem, com coragem e determinação políticas, na via do diálogo», escreveu o presidente da FLEC-CSA.
A FLEC surgiu em 1963 para defender a independência de Cabinda mas o movimento tem-se caracterizado por várias disputas internas pela liderança, o que tem servido de argumento para o Governo angolano alegar que fala apenas com um interlocutor.
Além da FLEC-CSA, a FLEC/Forças Armadas de Cabinda, de Nzita Tiago, e a FLEC-Renovada, liderada por António Bento Bembe, fundiram-se, criando um governo no exílio (França), mas os dois líderes também já se desentenderam depois do afastamento de Bento Bembe da direcção do Fórum Cabindês para o Diálogo.
Cabinda, responsável por cerca de 90 por cento da produção petrolífera de Angola, é palco desde 1975 de uma luta armada, com os independentistas a alegarem que o território é ainda um protectorado português, como ficou estabelecido no tratado de Simulambuco, em 1885.
José Sócrates inicia terça-feira uma visita oficial de quatro dias a Angola.
O primeiro-ministro angolano, Fernando Dias Piedade dos Santos «Nandó», admitiu terça-feira passada, numa sessão de perguntas ao Governo, no parlamento angolano, a possibilidade de ser atribuído um «estatuto especial» ao enclave de Cabinda e considerou que a situação evoluiu de forma «francamente positiva»
EXPRESSO AFRICA - 03.04.2006
30-03-2006
Arquivo Histórico de Moçambique
Degradação do edifício põe em risco arquivos
Infra-estruturas destruídas, casas de banho avariadas, inundações decorrentes de esgotos entupidos, documentos danificados, águas negras dentro das instalações, paredes do edifício húmidas, passagem de corrente eléctrica deficitária e funcionários debilitados completam o quadro negro do iminente desastre à vista nas instalações do «Arquivo Histórico de Moçambique» disse o respectivo director Joel das Neves Tembe em entrevista ao «Canal de Moçambique». Mas tudo indica que em Dezembro possa haver solução que se estima venha a custar cerca de 700 mil Euros, sensivelmente 1 milhão de USD. Até lá muito da História poderá perder-se. Uma nova morada poderá ser a solução.
Joel das Neves Tembe, disse ao «Canal» que o edifício do Arquivo Histórico de Moçambique está “doente” quanto às infra-estruturas físicas, mas o mais grave ainda é que a conservação de vários documentos ali depositados e de valor inestimável corre o risco de não poder ser feita e tudo aquilo se perder.
“Os problemas de deterioração do edifício como também de documentos acentuam-se cada vez mais”, disse.
O apelo do director do «Arquivo Histórico de Moçambique» não é novo, como também não é nova a indiferença. Só as sucessivas promessas de vontade política, repetidamente apregoada, de se combater o «deixa andar», nos impele a associar o «Canal» àquela instituição que, tanto de valor tem feito pelo futuro conhecimento do passado.
Segundo Tembe, como alternativa à degradação, paulatinamente crescente, optou-se por arranjar-se um espaço dentro daquele edifício que ainda apresentava boas condições; relativas boas condições. No entanto, ainda conforme Tembe, aquilo que era o tal espaço alternativo começa também a ficar afectado e já, daqui a algum tempo esse espaço também vai deixar de ser útil.
O cenário das instalações do «Arquivo Histórico» está tão negro que as paredes das diversas salas apresentam-se com rachas, fungos e tinta a escamar-se. Algumas salas já não têm soalho e há águas negras a correrem para além do próprio tecto apresentar fissuras. O grande problema é que as instalações do «Arquivo Histórico» situam-se no rés-do-chão e na cave dum prédio que por sinal tem deficiências de manutenção, e, consequentemente, todo o sistema de canalização de água para consumo e de esgoto, em geral de todos os andares acima, desagua nelas.
Segundo o director do Arquivo Histórico de Moçambique, devido à situação que estão a passar de momento, viram-se na obrigação de desenhar dois cenários transitórios de remoção do pessoal do edifício e de transferência da documentação importante, até Dezembro do ano em curso, para outras instalações, na baixa da cidade.
“A iminente situação no Arquivo Histórico de Moçambique obrigou-nos a desenhar dois cenários transitórios de remoção do nosso pessoal do edifício e de transferência de documentação importante, até Dezembro próximo, para futuras instalações na baixa da cidade”, garantiu.
Neves adiantou a dado passo que estão em vista planos futuros no sentido de transferir as instalações do Arquivo Histórico de Moçambique para a baixa da cidade, mais precisamente para a Rua de Timor Leste, ao lado das instalações onde funcionam as «Alfândegas».
Segundo Neves a transferência do «Arquivo Histórico de Moçambique» para a nova morada atrás referida acontecerá na base de um protocolo entre Moçambique e Portugal e em parceria com o Instituto Português de Acção e Desenvolvimento (IPAD) e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), processo orçado, numa primeira fase, em 700 mil euros, cerca de 1 milhão de usd.
Num outro desenvolvimento, Joel das Neves disse ao «Canal» que os funcionários, investigadores e leitores do Arquivo Histórico de Moçambique estão expostos a péssimas condições de trabalho derivadas não só da degradação atrás referida, mas também pelo facto de não existirem gabinetes para que aqueles possam exercer as suas actividades.
“As condições de trabalho que o Arquivo Histórico de Moçambique oferece aos funcionários, investigadores e até leitores são péssimas”, desabafou.
A fonte disse ainda que “os cerca de dois mil milhões de meticais, que a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) injecta anualmente como bolo orçamental, é irrisório, porque não dá para fazer face às necessidades da casa”. “Temos enormes necessidades e o bolo orçamental é irrisório de tal forma que não dá para cobrir as nossas despesas”, concluiu Joel Tembe.
Conceição Vitorino - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 30.03.2006
NOTA:
Antes de comentar transcrevo a notícia abaixo e que o MOÇAMBIQUE PARA TODOS transcreveu em 14 de Fevereiro de 2005:
Portugal apoia com 600 mil euros reabilitação de Arquivo Histórico de Moçambique
Portugal vai apoiar com mais de 600 mil euros a reabilitação do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), num projecto que visa a adaptação de um edifício a oficinas de micrografia e restauro de três depósitos históricos do país.
Um acordo de parceria entre a cooperação portuguesa - através dos institutos de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), do Livro e das Bibliotecas (IPLB), dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT) e do Património Arquitectónico (IPPAR) - e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) será quarta-feira assinado em Maputo.
O acordo tem em vista o apoio à revitalização do maior depósito histórico de Moçambique, numa extensão de 26 quilómetros de estantaria de documentos nos três edifícios contemplados.
O director do Arquivo Histórico de Moçambique, Joel Tembe, disse hoje à Agência Lusa que o valor destina-se a execução de um projecto de arquitectura, de especialidade, fiscalização e adaptação de um edifício a oficinas de micrografia.
No âmbito da reabilitação do AHM, a UEM decidiu desactivar o edifício sede por não oferecer condições para o restauro e englobá-lo num dos três estabelecimentos a serem reabilitados com fundos portugueses e que passarão a funcionar como centro de investigação científica, referiu Joel Tembe.
Aquele responsável disse ainda que a UEM pretende informatizar as bibliotecas e instalar um programa de computador, avaliado em 200 mil euros, que permitirá a digitalização de todo AHM, numa iniciativa que se enquadra num outro projecto que contará com o apoio do governo do Japão.
"Pretendemos combinar as tecnologias, o que se traduz na aquisição de novas técnicas de informação digital combinadas com a microfilmagem, que é uma mais valia por poder conservar os filmes, em média, durante 500 anos", sublinhou.
Durante a sua presença em Moçambique, o IPLB e o IPPAR irão oferecer equipamento informático à Casa Museu José Craveirinha, em Maputo.
Agência Lusa - 14.02.2005
Assim, resta-me lançar um desafio ao CANAL DE MOÇAMBIQUE: Saber se Portugal não honrou este compromisso ou, se o honrou, saber onde está o dinheiro e desde quando. Será que está a render juros durante um ano ou dois até que seja disponibilizado?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Carta de demissão do primeiro vice-governador do BM
Contribuições para a História de Moçambique
Após a independência de Moçambique foi criado um banco central sobre os alicerces do então Banco Nacional Ultramarino (BNU). Alberto Cassimo viria a ser o primeiro governador do novo banco emissor - o Banco de Moçambique. Carlos Adrião Rodrigues, advogado com cartório na capital moçambicana e ligado ao sector progressista da burguesia colonial, ascendeu à posição de vice-governador daquela instituição bancária.
Membro do grupo de pressão denominado «Democratas de Moçambique», Adrião Rodrigues havia-se evidenciado, conjuntamente com João Afonso dos Santos, Pereira Leite e William Gerard Pott, num famoso processo jurídico conhecido pelo «Caso dos Padres do Macúti» em que dois prelados católicos, detidos na Beira pela PIDE/DGS no âmbito duma conspiração engendrada por Jorge Jardim, eram acusados da prática do “crime contra a harmonia racial”, algo não contemplado no Código Processual então em vigor na colónia portuguesa do Índico. Desiludido com a política seguida pelo regime da Frelimo, mormente no tocante à perseguição movida contra as minorias étnicas do país, Carlos Adrião Rodrigues optou por se demitir do cargo para o qual havia sido nomeado pelo governo de Samora Machel. Idênticos passos viriam a ser dados por outros membros daquele grupo de pressão, como Pereira Leite, Sérgio Espadas, entre outros. William Gerard Pott, causídico moçambicano oriundo da Zambézia, viria a ser detido pelo SNASP.
Como consequência dos maus tratos e sevícias de que fora alvo por parte da polícia política, Pott viria a falecer poucas semanas depois, vítima de colapso cardíaco.
A seguir se transcreve o texto integral da carta de demissão que Carlos Adrião Rodrigues endereçou ao Presidente Samora Machel:
Carlos Adrião Rodrigues
Rua de Infantaria 16, n° 103 2° Dto.
LISBOA
Exmo. Sr.
Presidente da República Popular de Moçambique
Excelência,
Venho apresentar a V.Exa a minha demissão do cargo de Vice-governador do Banco de Moçambique.
Em resumo as razões que me levam a tomar esta decisão, são as seguintes:
1. - A política de afastamento das minorias étnicas residentes em Moçambique. Esta política - cuja determinação voluntária por parte do governo não me oferece dúvidas e é facilmente demonstrável - além de pôr em causa a existência de uma sociedade pluriracial em Moçambique, em que eu pessoal-mente apostara, empurrou o país para o caos económico e social.
Por virtude de uma injustiça decorrente da situação colonial, mas que ao governo revolucionário seria fácil corrigir, parte importante dos conhecimentos necessários ao país estavam concentrados nessa gama populacional (brancos, indianos, chineses e mulatos).
Ora, grande parte dessas minorias étnicas ficaria no país, caso lhes fossem dadas determinadas garantias básicas (direito a não ser preso excepto nos casos permitidos por lei, respeito pela sua propriedade pessoal, garantias de julgamento rápido e de defesa em caso de prisão legal, respeito da sua identidade cultural própria.
Em troca destas garantias fundamentais (que não seriam uma excepção porque se deveriam aplicar a toda a população) elas dariam ao país o seu trabalho, que enquadrado numa economia socialista, era essencial para o arranque económico.
Em vez de se aproveitar essa parte da população, preferiu-se acossá-la. Multiplicaram-se as prisões arbitrárias, as violências verbais, o des-respeito pelos bens pessoais. Procurou-se substituir essa população pelos cooperantes e por uma apressada formação de quadros, mais apregoada que executada.
Escorraçou-se do país para fora homens que eram absolutamente insubstituíveis, para já, e que num outro contexto teriam ficado. Lembro só para exemplo os quadros agrícolas e veterinários escassos mas extremamente impor-tantes, apostados em ficar mas que um a um se foram embora, bem contra vontade; os quadros de geologia e minas, falsamente acusados de desvio de ouro, nas primeiras páginas dos jornais locais, e que depois de se ter constatado a sua inocência jamais mereceram uma reparação.
Os Zecas Russos, os Macamos e outros marginais ainda em circulação foram promovidos a autênticos heróis nacionais, só porque espoliavam as pessoas de seus teres e haveres o que, parece, era considerado altamente patriótico e revolucionário. Verdade que eles espoliavam as maiorias e as minorias, o que resulta em fraco consolo para umas e outras.
E, neste caminho, acabou-se na pequena truculência anti-branco ou anti-mulato, como foram os casos da expulsão dos agricultores brancos do Vale do Limpopo - gente pobre que trabalhava a terra - e a expulsão dos chamados “comerciantes de nacionalidade” isto é, de pessoas que ao abrigo de uma lei ridícula e que devia ser revogada, mas que existia e tinha sido publicada pelo governo da República Popular de Moçam-bique, tinham mudado de naciona-lidade, para se garantirem um pouco mais contra as arbitrariedades que apontei. Ora, esta expulsão veio afectar a economia do país, na medida em que afastou os últimos operários com alguma especialização e de capacidade de direcção que não fossem negros. E quanto a estes últimos ainda está por fazer o balanço dos que fugiram. Mas segundo me consta, a zona do Rand, na África do Sul, está cheia de carpinteiros, mecânicos, electricistas, operários da construção civil, fugidos de Moçambique.
Durante muito tempo conven-ci-me que esta política era, não uma política mas sim erros, próprios do processo. Ou tentei convencer-me. Mas a constância dos erros e sobretudo o reforço da posição das pessoas que eram o esteio desta política, surgido do 3° Congresso, convenceu-me que se tratava de uma política sistematicamente prosseguida. Ora eu tinha apostado noutra: a manutenção das minorias étnicas, o respeito pelos seus direitos, mas contrariando severamente todos os privilégios que, indiscutivelmente os beneficiava.
E Moçambique, porque um país onde tais minorias étnicas eram em número reduzido, podia ser o laboratório experimental de uma política que me parecia poder ser exemplo extremamente importante para a África Austral.
Por outro lado a força e o prestígio da FRELIMO permitiam-lhe fazer a experiência. Não se fez e o resultado está à vista: o fracasso económico, e a redução quase a zero das possibilidades de recuperação; um profundo desengajamento do povo, tanto no trabalho da construção do país como na actividade política; uma cada vez maior dependência da África do Sul que hoje, mais que no tempo colonial é a grande fonte das nossas disponibilidades externas e o grande fornecedor dos bens de consumo essenciais que a nossa produção reduzida torna vitais.
2 - Convencido como fiquei de que a sobrevivência das minorias étnicas e o projecto de uma sociedade pluri-racial estavam condenados em Moçambique em virtude da política prática seguida - que contrariava a linha política anunciada - cheguei à conclusão que eu, como branco e ainda por cima não nascido em Moçambique, não tinha lugar nessa sociedade, pelo menos enquanto não mudar a sua praxis e não se decidir a assumir como sua toda a população (que era escassa) habitante do território. Portanto saio. Creia que não lhe minto se lhe disser que o faço com a morte na alma.
E saio já porque também devo pensar um pouco mais em mim e que os meus anos se vão passando para iniciar vida nova utilmente noutro país.
3 - A pressão sobre as minorias não resultou em qualquer benefício para a maioria. Antes pelo contrário - a quebra na produção e a incapacidade de recuperação que se nota em quase todos os sectores da economia, fazem prever um acentuado decréscimo no nível de vida da população.
Postas as razões convém-me ainda esclarecer que considero V.Exa ainda hoje, apesar das reservas expostas à política seguida, como o mais autêntico representante do povo moçambicano, o verdadeiro líder nacionalista de que Moçambique precisa.
Por outro lado, e como vacina contra boatos, quero afirmar que nas minhas actuações sempre procurei defender com toda a honestidade os interesses que me foram confiados por Moçambique. Mas a corrupção a alto nível dentro do aparelho de estado existe, e dela tive confirmação em Lisboa.
Pelas razões que exponho para a minha saída, acho ser meu direito, e também meu dever, pedir a V.Exa que autorize a saída dos meus bens pessoais que me fazem mais falta e que só com dificuldade poderia substituir: mobílias, electrodomésticos, livros, discos e um carro Simca 08-75, com 5 anos de uso. Caso V.Exa autorize, pessoa amiga, que indico ao Cassimo, tratará das demarches necessárias. Mas se V.Exa achar que não deve autorizar, também passarei sem elas. Aceite V.Exa os cumprimentos meus e de minha mulher e os nossos desejos das maiores prosperidades para o Povo Moçambicano.
(Carlos Adrião Rodrigues)
18-03-2006
RECORDANDO: Cahora Bassa Inicia Pagamento a Portugal
A dívida
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa começou a pagar a Portugal a sua dívida de 2,5 mil milhões de dólares (2,57 mil milhões de euros), tendo já entregue uma tranche de 15 milhões de dólares ((15,4 milhões de euros), o que ocorre pela primeira vez em 30 anos de história da empresa luso-moçambicana. Hoje, o fornecimento de energia à República do Zimbabwe surge como a principal fonte de receitas da barragem hidroeléctrica, cujo principal cliente é a África do Sul.
A iniciativa de entregar 15 milhões de dólares ao Estado português, a título de amortização da dívida, assume carácter simbólico, na medida em que é a primeira vez que Cahora Bassa - que ficou operacional para vender energia em 1977 - está em condições de "honrar" os seus compromissos financeiros, desde que recomeçou a funcionar há cinco anos. A dívida total contraída junto de Portugal ronda 2,5 mil milhões de dólares e foi assumida durante a guerra em Moçambique, entre a Renamo e a Frelimo, que obrigou a sucessivas obras de recuperação, assim como à paralisação da actividade, impedindo a sua viabilização económica. Durante este período, Portugal, por via do seu orçamento de Estado, suportou as despesas internas, os juros da divida, bem como os trabalhos de recuperação do empreendimento.
Nesta fase, a República do Zimbabwe aparece como a principal fonte de receitas anual de Cahora Bassa, apesar da África do Sul ser o país que mais importa energia de Moçambique - o Zimbabwe paga à empresa luso-moçambicana cerca de nove vezes mais do que a África do Sul. De acordo com a administração da Hidroelétrica de Cahora Bassa, presidida por Carlos Veiga Anjos, os pagamentos a Portugal podem manter-se regulares desde que as relações comerciais com o Zimbabwe se mantenham estáveis e desde que ultrapassado o diferendo com Pretória, quanto aos termos financeiros do contrato de fornecimento de electricidade à África do Sul, nomeadamente, o preço das tarifas de energia.
Cahora Bassa, tem a sua sede no Songo, e é detida em 82 por cento pelo Estado português e em 18 por cento pelo moçambicano - construída numa "garganta" (parte do vale mais apertada) do rio Zambeze, a barragem é formada por uma parede de betão com 160 metros de altura e 303 de comprimento. Apresenta 450 mil metros cúbicos de betão e uma albufeira com 270 quilómetros quadrados com capacidade para receber 52 mil milhões de metros cúbicos de água. A construção de Cahora Bassa foi posta a concurso em 1967.
PÚBLICO - 07.07.2002
17-03-2006
Lisboa e Maputo estão empenhados no desenvolvimento sector energético
O ministério das Finanças assegurou hoje que os governos português e moçambicano estão empenhados no desenvolvimento do sector energético de Moçambique, tal como prova o acordo hoje alcançado da transferência do controlo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para Moçambique.
Num comunicado conjunto hoje emitido em Lisboa, o ministério das Finanças confirma que Portugal e Moçambique concluíram as negociações técnicas que permitirão a assinatura do acordo final para reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para Moçambique em data a fixar, de acordo com o comunicado conjunto entre as delegações dos dois países.
Moçambique passa de uma posição de 18 para 85 do capital da HCB e Portugal reduz dos actuais 82 para 15 por cento.
O executivo de Maputo deverá pagar uma dívida de 787,4 milhões de euros a Portugal em compensação pela construção e manutenção da barragem construída durante o período de colonização portuguesa a Moçambique, terminado em 1975, ano da independência do país.
Em 2005, o ministério das Finanças tinha dito à agência Lusa que esta operação teria um impacto nulo no défice público português, porque seria tratada como uma privatização.
O Governo português deve recorrer a uma excepção nas regras do Eurostat (SEC 95) que prevê que um Estado possa anular ou assumir dívida de uma empresa pública num processo de privatização, sem que isto seja contabilizado no défice.
Esta é uma excepção à regra que determina que quando um Estado anula dívida, a operação deve ser registada nas contas públicas, porque é uma transferência de capital, ou seja, corresponde a reconhecer que o Estado abdica de receber a dívida a que tinha direito, pelo que tem reflexos negativos no défice público.
A agência Lusa tentou confirmar se o registo contabilístico da operação está acordado desta forma, mas até ao momento, o Ministério das Finanças não respondeu.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 17.03.2006
NOTA:
Resta saber então quem financiou Moçambique.
O Ministro Fernando Teixeira dos Santos afirmou em Novembro passado "...que (não) se esteja perante um perdão de dívida, mas sim face a uma situação de custos irrecuperáveis, associados à situação de guerra vivida por Moçambique. Em termos técnicos pode considerar-se estar perante um tipo de operação harmónio, ou seja, redução de capital com diminuição de posição accionista." Ora se o estado Português abdica de "receber a dívida", há ou não perdão?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
16-03-2006
Quem são os heróis?
Contribuições para a História de Moçambique por Marcelino Síthole
É uma pergunta, que vem ao espírito de quem acaba de ler o relatório de Fanuel Guidion MAHLUZA, que o «Canal de Moçambique» publicou há dias.
Mahluza apressou-se a escrever (em inglês) e enviar para «Amnesty International» (Amnistia Internacional) este relatório, pouco depois de chegar a Nairobi, em proveniência do campo de "reeducação" de «Ruarua», planalto de Mueda de onde se tinha evadido, a 27 de Agosto de 1977, com Artur Janeiro da Fonseca, Atanásio Filipe Muhate e Lumbela.
Cansado pela viagem e traumatizado pelas privações e a perda de dois dos companheiros de evasão, a principal preocupação de Mahluza era a sorte dos numerosos combatentes da liberdade, estudantes e intelectuais, que a FRELIMO tinha internado nos seus campos de concentração, oficialmente designados por campos de "reeducação". Como se sabe, também o governo de Hitler, na Alemanha, tinha designado os seus campos de concentração e exterminação por campos de "trabalho": Die Arbeií machlfrei! (O trabalho liberta!), era a divisa destes campos.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 16.03.2006
Leia tudo em:
Veja a Sétima Parte NA MÃO DOS ALGOZES de URIA SIMANGO - UM HOMEM UMA CAUSA em:
Conheça em:
Recorde em:
15-03-2006
Ilha: Capela da Nossa Senhora do Baluarte
A pequena capela de Nossa Senhora do Baluarte é a primeira instalação cristã na Ilha de Moçambique e, portanto, em todo o Moçambique. Singela é certo, é o primeiro (e único, diz-se) exemplar do estilo manuelino na África Oriental. Está lá bem na ponta da ilha, até para além da fortaleza, pequeno promontório. Olhando/orando (a)o mar.
Acompanhando a degradação da cidade de "pedra-e-cal" a capela foi-se deteriorando. Há cerca de 10 anos foi recuperada, um financimento da Comissão dos Descobrimentos portugueses, como antes informava uma placa, entretanto retirada (eu sorrio. Se tivesse sido um qualquer financiamento "sueco" e ninguém se lembraria de arrancar a placa, mas isso são outras histórias). De meu conhecimento as instituições portuguesas financiaram até hoje esta recuperação (por via da importância do manuelino, creio; e do simbólico, a primeira igreja em Moçambique, o extremo norte da ilha) e uma intervenção no Palácio de S. Paulo, actual Museu da Ilha. Pouco, muito pouco, para um Estado e uma sociedade tão ligados a este património mundial.
Quanto à capelinha não posso deixar de resmungar. O pobre coitado que teve a ideia de a recuperar (por catolicismo? por lirismo?) esqueceu-se de prever o seu futuro acompanhamento, de o desenhar, de o associar a um enquadramento institucional. Deve ter sido arranjar o financiamento, cortar a fita e ficar contente, ufano ... Saberia ele, não teria ele obrigação de saber?, da necessidade de caiar a capela todos os anos (pelo menos, correcto, correcto, será duas vezes por ano)? E de acompanhar o seu estado?
Como chega essa gente aqui?
Bem, templo vandalizado é templo importante, isso é universal. Este apontamento não está como denúncia, mas como sinal da vida da zona. Foi quebrada na crença de se encontrar ouro. Como tal não aconteceu as outras sepulturas ficaram intactas. Já o mesmo não poderei dizer do desaparecimento das ossadas que habitavam a sacristia, em caixa aberta. Os que recuperaram, os que acompanharam a recuperação, terão eles achado por bem deixar ossos "à mão de semear"?]
Releia:
14-03-2006
Contribuições para a história de Moçambique
A carta que mais abaixo ides ler é prova mais que provada que o conluíu MFA (Melo Antunes/Mário Soares/Almeida Santos) com a FRELIMO já há muito existia.
Sempre pelos descolonizadores portugueses foi referida apenas a existência de um único movimento armado em Moçambique quando existiam dois: a FRELIMO e a COREMO.
Eis agora a explicação de como a COREMO foi silenciada, com a ajuda da Zambia e da Tanzânia.
Já faleceu o autor da carta e está sepultado em Moçambique.
Quanto ao destino de muitos dos nomes referidos, sabemos o que lhes aconteceu no campo de Mtelela e em outros locais: FORAM ASSASSINADOS SEM JULGAMENTO.
Leia a carta publicada hoje no CANAL DE MOÇAMBIQUE em:
NOTA:
A foto da esquerda é de Mahluza na Gorongoza e a da direita de Irene Buque
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
08-03-2006
Quem se lembra da Praça 7 de Março de Lourenço Marques?
Denomina-se hoje, em Maputo, como Praça 25 de Junho.
Mas porquê 7 de Março?
Socorrendo-me do livro de João Craveirinha "MOÇAMBIQUE FEITIÇOS, COBRAS E LAGARTOS!", ficamos a saber que:
"A povoação de Lourenço Marques passa a ter estatuto de vila em 1876.
No dia 7 de Março de 1877 um corpo expedicionário de engenharia das Obras Públicas portuguesas desembarca em Lourenço Marques, vindo a bordo do navio África (o mesmo que anos mais tarde transportaria Gungunhana). Este famoso corpo voluntário de engenheiros era chefiado pelo engenheiro militar coronel Joaquim José Machado (mais tarde chegaria a general e a governador geral); veio com a missão de planificar e edificar a futura cidade. O nome da vila de Machadodorp, no Transval, foi dado em sua homenagem. Joaquim Machado foi o responsável pela conclusão do Caminho de Ferro de Lourenço Marques que fez a ligação com Pretória, "resultando num autêntico êxito da engenharia portuguesa". Esta expedição foi enviada de Lisboa por João de Andrade Corvo, grande visionário colonial. Foi ministro da Marinha, do Ultramar e dos Negócios Estrangeiros de 1867 a 1886 "intercaladamente".
Em 6 de Setembro de 1877 toma posse o primeiro presidente da Câmara Municipal de Lourenço Marques, almirante Augusto Vidal de Castilho Barreto e Noronha, também governador. Foi activo na resolução do diferendo luso-inglês sobre a Baía de Lourenço Marques, que culminou com a sentença favorável a Portugal, proferida em Versalhes a 24 de Julho de 1875 pelo presidente francês marechal Mac-Mahon, duque de Magenta. Augusto de Castilho, no conflito dos caminhos-de-ferro (CFLM), teve um grande tacto político-diplomático."
NOTA:
Embora a efeméride tenha sido ontem, só hoje tive tempo de a ela me referir. Na foto a Praça 7 de Março em 1929, num trabalho de Santos Rufino.
Desenvolvimento Integrado de Moatize
“Companhia Vale do Rio Doce” beneficia de várias isenções
(Maputo) A “Companhia Vale do Rio Doce” que tem como projecto âncora a exploração de minas de carvão em Moatize, na província de Tete, goza de vários incentivos fiscais e cambiais que o Governo de Moçambique acaba de conceder-lhe. Eles estão estampados no Decreto nr.51/2005 de 20 de Dezembro em BR que acaba de ser publicado pela Imprensa Nacional.
O projecto consiste em trabalhos de prospecção e pesquisa de carvão e desenvolvimento das respectivas infra-estruturas bem como a realização de estudos com vista à instalação de outras actividades, nomeadamente, fundição de alumínio, central eléctrica, fábrica de ferro-ligas, siderurgia, fábrica de cimento, fábrica de coque, fábrica de carvão vegetal e produção de bio-diesel.
A referida companhia brasileira vai também beneficiar de incentivos fiscais na realização de projectos de carácter social.
A primeira fase do projecto tem o seu término fixado para Novembro de 2006. Em caso de ocorrer qualquer prorrogação ao prazo dos trabalhos será também, igualmente, prorrogado o prazo da validade dessa fase do projecto em que vigoram os incentivos fiscais, refere o decreto.
O projecto será implementado pela empresa “Rio Doce Moçambique, limitada” registada em Moçambique e associada do grupo brasileiro CVRD – Companhia Vale do Rio Doce.
Foram aprovadas as seguintes isenções fiscais ao “projecto “Rio Doce Moçambique – Desenvolvimento Integrado de Moatize”:
Isenção do pagamento de direitos aduaneiros devidos na - importação de equipamentos, aparelhos, materiais, sobressalentes e viaturas para a prospecção e pesquisa ou exploração mineira.
Ainda nesta operação de importação dos referidos bens, a empresa estará isenta do pagamento do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) e do Imposto sobre Consumos Específicos.
O decreto autoriza também a importação temporária de bens de equipamentos, aparelhos, utensílios, ferramentas e máquinas mediante a prestação de garantias, nomeadamente Termo de Responsabilidade.
A empresa está isenta de Imposto sobre Rendimentos resultantes da aplicação de capitais (taxa liberatória), a título de financiamento de terceiros.
Vai também ter direito a redução da taxa de retenção na fonte estabelecida no Código sobre rendimentos das pessoas Colectivas (IRPC), para 5%, aplicável sobre o rendimento concernente aos serviços adquiridos a fornecedores estrangeiros destinadas ao projecto.
Fica ainda isenta do pagamento do SISA na transmissão de propriedade do Estado a favor da companhia, assim como beneficiará da redução em 50% da taxa de SISA na aquisição de imóveis quando estes destinarem-se exclusivamente à implementação do projecto.
Projectos sociais
Na realização de projectos sociais, a Companhia Vale do Rio Doce terá isenção do pagamento de direitos aduaneiros devidos na importação de equipamentos, aparelhos, materiais, sobressalentes e viaturas, estando isenta de pagar o IVA e o Imposto sobre Consumos Específicos (ICE) em “conformidade com as disposições dos códigos do IVA e do ICE”.
Regime cambial
O projecto vai gozar também de um regime cambial especial para abertura e movimentação no exterior de contas que tenham apenas por finalidade “proceder ao pagamento de despesas de investimento, incluindo os empreiteiros; garantir o pagamento de empréstimos e juros e custos operacionais, bem como efectuar pagamentos a empresas seguradoras ou seus agentes”. (J.C.)
07-03-2006
Linha d'água: Aplausos a quem os merece
Por Luís Loforte
TREMOR DE TERRA
Como muitos cidadãos, também abandonei os aposentos e me postei na rua quando há dias a terra sentiu arrepios. Entre toda a sorte de episódios que cada um tinha para contar sobre a forma como percepcionou o fenómeno, lá via os citadinos aguardando de ouvido colado ao “transístor” por vozes mais autorizadas para lhes falarem um pouco mais acima dos seus conhecimentos. Debalde. À hora daquele acontecimento, os que mais sabem dormiam ou viviam o desespero com os leigos. Pior ainda, os que deveriam indagar, ... também dormiam.
O rádio também me não saía do ouvido, mas devo assinalar que pouco dele me servi, à excepção de alguns assomos de informação proporcionados por um locutor da RM um pouco antes da uma hora da madrugada, mas apenas para nos dizer que a todo o momento teríamos notícias mais elaboradas sobre o tremor de terra. E pouco mais.
De regresso à casa resolvi mesmo desligar o receptor de rádio e lá fui fazendo alguns “zappings” pelos canais disponíveis na televisão. Surpreendeu-me positivamente encontrar a STV com as emissões retomadas, tentando informar e informar-se, quando à minha saída precipitada a deixara em simultâneo com a BBC World, como é seu hábito. À hora em que as coisas se passaram, não se esperavam grandes primores por parte da STV e muito menos o ideal, mas ao menos tentava o melhor. A pública, essa, ressonava ao som das diáfanas barras policromáticas.
Fechara e pronto, nem que o céu desabasse sobre nós. E foi então que me deu a pensar que vinte e cinco anos não só podem mudar gerações de homens, como também mudar mentalidades de gerações de jornalistas. Veja-se apenas um exemplo neste mesmo nosso solo pátrio:
Em 1980, Moçambique vivia no silêncio a pior seca depois da sua Independência. No silêncio porque em tempo de lançamento das bases ideológicas em nada interessava dizer que centenas de pessoas morriam à míngua de água e de comida. Afinal, todos deveríamos saber que o socialismo era a panaceia de todos os males. O que diria o mundo expectante das nossas capacidades?
Era o tempo em que as coisas só aconteciam depois que o chefe as visse e dissesse que as viu e como as viu. Depois disso, sim, todos as viram. Tal como em certa medida hoje, o problema é que todos ficamos à espera que o chefe não só diga, como também nos dê a dose e a forma em que as coisas devem ser informadas. Exemplo recente foi com o imbróglio das caricaturas, onde todos, sem excepção, foram ao reboque do governo, inclusive por parte do próprio sindicato de jornalistas. Mas eu falava da seca de 1980.
Naquele ano, todos os estudantes universitários foram chamados a envolver-se no primeiro recenseamento geral da população depois da proclamação da Independência. Marcelino Alves, também colega na Rádio Moçambique, foi destacado, ao que julgo, para integrar as brigadas de Inhambane, zona fortemente afectada pela seca e onde, como mais tarde viríamos a saber, as pessoas morriam às centenas.
Perante o infortúnio, Marcelino mandou às urtigas o censo e começou a mandar “despachos” por todos os meios ao seu dispor sobre os dramas da estiagem.
Ouvia-o eu estando na longínqua Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado. E foi assim que a dramática seca de 80 passou a fazer parte do quotidiano da informação nacional, os governantes começaram a fazer “briefings” e o país despertou para o desastre social que os “responsáveis” sabiam, mas esperavam por “orientações superiores”.
Para os que não sabem, naqueles anos falar ao telefone era um autêntico sortilégio. Hoje, apesar de toda a parafernália de meios de comunicações ao nosso dispor, onde avultam os celulares, os quais até os vendedores de amendoim nas esquinas os têm de sobra, poucos são os jornalistas que conseguem pôr em tempo útil uma notícia de que o público está necessitado. E isto faz com que nos recordemos do preceito primordial de um jornalista perante um acontecimento: antes de mais, tomar uma atitude.
Atitude essa, afinal, que faltou até nos que a isso eram obrigados, mas que sobrou naqueles que a isso não eram obrigados, designadamente a STV, que foi, a todos os títulos, credora dos nossos maiores encómios.
Aplausos, pois, a quem os merece. Mas aqui a lembrança de que é assim que uns perdem e outros fixam as audiências. Tomara: se uns têm-no garantido todos os meses (e até por via compulsiva), os outros têm que fazer de tripas coração para tê-lo!
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 07.03.2006
ILHA DE MOÇAMBIQUE - Onde está o dinheiro?
Como todos sabem sou natural da Ilha de Moçambique, único lugar do mundo onde todos os habitantes eram amigos. Amigos sem distinção de cor ou credo. Esta é a verdade!
Visitei-a em Novembro passado (agora resido em Portugal) e os amigos que lá tinha continuaram a ser os amigos que lá tenho. Isto é, os poucos que lá ficaram.
Foi com tristeza que verifiquei que pouco ou nada ainda se havia feito para a reabilitação de tão ímpar lugar. Reabilitação física e humana, continuando a suportar uma carga excessiva de população residente.
E lembrei-me desta notícia aqui publicada em 16 de Junho de 2004:
"A fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, vai ser recuperada graças a um projecto da UNESCO financiado pela cooperação japonesa e pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA).
A fortaleza foi construída para defender o caminho marítimo para a Índia.
O projecto está orçado em 1,6 milhões de dólares, sendo um milhão financiado pela cooperação japonesa e 600 mil (500 mil euros) pela UCCLA que assina hoje, em Lisboa, o contrato com a UNESCO."
Foi-me garantido que até hoje nem um metical ali havia chegado.
Será que alguém o tem a render? Que afinal não foi doado? Quem explicará?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
05-03-2006
A HISTÓRIA SECRETA DO IMPERADOR VÁTUA: GUNGUNHANA
Gungunhana "era filho do rei de Portugal!".
Assim foi apresentado o dono do vasto império vátua - que no século XIX englobava grande parte do território de Moçambique - na cerimónia que assinalou os 110 anos da batalha de Chaimite, decorrida no passado dia 28 de Dezembro, no Museu Militar, em Lisboa.
O que aconteceu então para que este "filho do rei de Portugal", admirado e respeitado tanto pelas tribos nativas como pelas potências estrangeiras da altura, tenha sido capturado e enviado para Lisboa onde foi humilhado e vergonhosamente exposto à população após a sua chegada?
Texto de Sílvia Fernandes
Fotos de Gil Garcia e Arquivo Pessoal
A resposta surgiria no decorrer da própria cerimónia no Museu Militar, através do orador, coronel Américo José Henriques. Entre a assistência, sentados lado a lado, os descendentes de Gungunhana e de Mouzinho de Albuquerque, o imperador africano detido e o oficial português que o deteve. Um cenário que muitos defendem ser possível apenas entre os portugueses, cujos laços amigáveis criados com os povos em tempos colonizados prescindem de teorias, estudos e discursos políticos, podendo ser facilmente testemunhados em momentos como este. ... ... ...
Leia tudo em
In Magazine - Grande Informação de Fevereiro de 2006
Veja também
02-03-2006
Heróis de ontem, de Hoje e do Amanhã
Será este debate um tema para a ordem do dia?
Se quisermos ter resultados mais apalpáveis, a comissão criada pelo Governo deveria incluir a participação da Renamo como maior partido da oposição representado na Assembleia da Republica, partidos extra parlamentares sociedade civil e religiosa; pois apesar dos pesares o debate seria mais transparente e credível.
Moçambicanos de todos os quadrantes, foram surpreendidos ao serem chamados numa altura em que Pais se debate com as fúrias das águas, a contribuir para este debate que só hoje a Frelimo entendeu por em cima da mesa.
Está na hora de forte união, regada pelo sentimento nativista, para darmos um basta a toda a espoliação e miséria de todas as formas que atingem o Pais, com o sentimento traduzido pelo mais puro nacionalismo, o nacionalismo aberto, aquele que é derivado do Amor à Pátria, eivado do mais profundo sentimento da Moçambicanidade e que coloca, em primeiro lugar, os interesses nacionais e não partidários; onde não se admitem exclusões de ordem politica, social económica, tribal, religiosa, e racial.
Povo é o único pelo seu peculiar caldeamento... ... ...
Leia o texto completo em
Linette Olofsson
Deputada Suplente
Circulo Eleitoral Zambézia
28-02-2006
CAMPO DE INSTRUÇÃO MILITAR DE BOANE
Fomos e ainda são milhares os "passantes" do Campo Militar de Boane: portugueses e moçambicanos. Eu fui um deles. E considero aquele local como o primeiro "cadinho" da formação de um novo espírito de ser moçambicano.
Conheça a sua história, contada pelo Cor. Abranches Pinto, em:
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Contribuições para a história de Moçambique por Uria Simango (Novembro, 1974)(2)
Após ler o artigo com o título acima (verhttp://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/02/contribuies_par.html) mais uma vez confirmo que Mário Soares, Almeida Santos e outros nunca disseram a verdade sobre a descolonização de Moçambique.
A quase totalidade dos portugueses e moçambicanos julga que o único movimento armado em Moçambique era a Frelimo, o que não é verdade, pois a COREMO, especialmente em Tete estava activa há já bastante tempo. Não fossem os conluíos com a Frelimo e com a Zambia,também com este movimento armado se teria que dialogar em pé de igualdade com a Frelimo. Em Angola tiveram os descolonizadores que aceitar 3 movimentos. Não fora a ajuda da Zâmbia e assim teria sido em Moçambique com 2 movimentos armados.
Muito me admira também que todos os historiadores portugueses, para já não falar dos moçambicanos, tenham escamoteado esta verdade. Custa-me dizê-lo: estarão todos vendidos?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
MOÇAMBIQUE ACOLHE PRIMEIRO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TURISMO CULTURAL
Moçambique vai acolher o Primeiro Festival Internacional de Turismo Cultural de 28 de Agosto a 10 de Setembro deste ano. A iniciativa denominada "Avante Moçambique" visa continuar a colocar o país no mapa turístico mundial.
O lançamento do Primeiro Festival Internacional aconteceu ontem num dos hoteis da cidade de Maputo.
O evento, considerado espectacular e histórico, vai celebrar a paz que já dura há mais de dez anos no país e, ainda, celebrar a harmonia social e solidariedade internacional, expor a variedade de culturas em diversos pontos identificados como destinos turísticos.
Pretende-se igualmente apresentar e promover as potencialidades culturais de Moçambique, envolvendo vários grupos étnicos, através da sua cultura.
O festival vai ser marcado por várias realizações, desde concerto musical internacional, que vai juntar artistas moçambicanos da velha e nova gerações, de africanos, e do resto do mundo, bem como prestar tributo aos heróis e campeões a vários níveis, celebrar a arte tradicional e cultura das dez províncias de Moçambique, exposição de artes visuais e apresentação de cinema moçambicano e seminários.
O Ministro do Turismo considera que o evento se reveste de grande importância para o Governo de Moçambique, uma vez que, vai criar maior visibilidade projectando o país além fronteiras e estreitando mais a amizade com parceiros internacionais na área de turismo.
O primeiro festival internacional de turismo cultural vai coincidir com o período da Feira Internacional de Maputo, FACIM, momento considerado de mais valia para o país sob ponto de vista turístico.
A realização do festival já tem comité de organização que integra Egas Mussanhane, António Maló, Leonardo Simão, Salomão Manhiça, Reverendo Arão Litsuri, Américo Magaia e Renato Matusse.
O Presidente da República, Armando Guebuza, é o patrono do evento que conta com o patrocínio dos Estados Unidos da América
STOP - 28.02.2006
Cahora Bassa - A "reversão"
A dar fe ao que aqui se diz, confirma-se o meu cepticismo em relacao a esta "segunda independencia do povo mocambicano". Nao percebo como uma operacao visando a reversao da posicao accionista de 82 para 18; para 15 e 85%, de accoes detidas por Portugal e Mocambique, respectivamente. Pior ainda se tomarmos em consideracao que se trata de um empreendimento que:
a) E o maior que Portugal jamais realizou, no "ëxterior";
b) Desde a sua construcao, Portugal nao produziu o retorno que seria de esperar do volume de investimentos (a estabilidade politica actualmente prevalescente em Mocambique, cria alguma expecativa de que o cenario mude), mesmo tendo em linha de conta que a HCB nao perseguia objectivos meramente economicos, mas principalmente estrategicos, como forma de estancar a luta de libertacao nacional da FRELIMO, nao so sob o ponto de vista militar como tambem no diplomatico no concerto das nacoes ( a guerrilha deixaria de ter "sentido", etc. ect.....).Alias, Marcelo Caetano, se a minha memoria nao me atraicoa no seu livro "O meu compromisso", escrito e editado durante o seu exilio no Brasil, apos o 15 de Abril, que deu origem a chamada Revolucao dos Cravos.
Por conseguimte, ou os ilustres dignatarios das partes "estavam distraidos" ou a "reversao"nao passou de uma operacao de charme para o ou os eleitorados.
Queira Deus que esteja redondamente errado. A ver vamos.
Santos Chitsungo
In Moçambique Online
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/02/eurostat_acompa_1.html
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/02/cahora_bassa_st.html
Contribuições para a história de Moçambique por Uria Simango (Novembro, 1974)
Um alerta que o mundo desconheceu
Situação actual em Moçambique
De modo a informar todos aqueles que se interessam pelos acontecimentos em Moçambique, decidi escrever estas breves linhas na esperança de que elas possam vir dar uma visão geral da situação.
O golpe de estado de 25 de Abril em Portugal, foi seguido de promessas dadas pela junta militar dirigida pelo General Spínola de que às colónias iria ser conferida a liberdade de escolherem o seu futuro. Deste modo, a independência seria concedida após eleições gerais, nos princípios de 1975, em que todos os partidos políticos poderiam participar. Com efeito, foi concedida uma amnistia a todos os políticos e aos movimentos de libertação, autorizando-se o seu regresso aos seus respectivos países de forma a terem a oportunidade de expressar os seus ideais antes das eleições.
Leia tudo:
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.02.2006
25-02-2006
Cahora Bassa still stalled
MOZAMBIQUE/PORTUGAL
In spite of pressure from the Mozambican government, the matter of handing back to Mozambique the majority of the equity of Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB, the firm operating the dam of the same name) was not settled before the presidential election in Portugal last month. The government of Maputo will therefore have to continue negotiating this matter with the new President of Portugal, Anibal Cavaco Silva, who is to take up his functions at the beginning of March. President Armando Guebuza of Mozambique has already informed his Portuguese opposite number that he is concerned about the delays being built up in completing this issue, which should have been closed by December 2005. The Mozambican authorities are all the more disquiet since certain people close to Cavaco Sliva could now find themselves in jobs of advisor and blow hot and cold on this subject. Hence, the Portuguese former Minister of Finance, Manuela Ferreira Leite is in favour of “complete and full settlement of the Mozambican debt” concerning Cahora Bassa. But on the other hand, Ambassador Martins da Cruz, a former Minister for Foreign Affairs and Cavaco Silva’s diplomatic advisor for ten years, defends a more flexible and diplomatic approach to this question. The reason is that he has in mind holding a Euro-African summit in Lisbon when Portugal holds the rotating Presidency of the European Union (EU) next year.
Indian Ocean Letter - 25.02.2006
NOTA:
- Afinal para que foi todo aquele "show off"? Estavam com medo de Cavaco Silva? Cavaco Silva não está metido em negócios de "compadres".
24-02-2006
País está interessado em receber o museu africano da escravatura
Moçambique está interessado em abrir no seu território um museu dedicado à escravatura criado em colaboração com outros países africanos, disse hoje em Paris a historiadora moçambicana Benigna Zimba.
O anúncio foi hoje avançado durante uma conferência de imprensa na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no final da primeira reunião do novo comité científico para a "Rota da escravatura", a que pertence Benigna Zimba.
"Queremos lançar um grande museu regional, instalado provavelmente em Moçambique ou na Tanzânia", acrescentou, indicando que vai começar em breve uma campanha de angariação de fundos.
Moçambique está empenhado em trazer este museu para o país, de forma a "dar um ênfase aos países lusófonos, porque até agora tem sido dado destaque aos países africanos anglófonos e francófonos", disse a historiadora à Agência Lusa.
Alguns dos locais possíveis para a sua instalação são a província de Inhambane, a Ilha de Moçambique ou Cabo Delgado, acrescentou Benigna Zimba, apesar de o projecto estar ainda num estado muito embrionário.
"Isto ainda vai demorar algum tempo, mas talvez em 2007 já haja algo de concreto", declarou a professora na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
O museu, que pretende ser "muito interactivo" terá em exposição "cartas de pessoas sobre o comércio de escravos, fotografias, vários objectos e filmes com testemunhos de familiares de antigos escravos", exemplificou.
Este espaço deverá centrar-se na divulgação de locais e rotas menos conhecidas do comércio de escravos, principalmente no Oceano Índico, e reunir obras literárias ligadas ao tema, acrescentou.
Por outro lado, lamentou que a criação do referido museu preencha um espaço deixado vazio pelo Museu da Escravatura em Angola, que "por motivos financeiros não se desenvolveu" e hoje "não tem a dinâmica desejável", A ideia de criar um museu na região sudeste do continente africano surge no seguimento de um projecto lançado em 2001, no âmbito da campanha sobre a escravatura lançada em 1994 pela UNESCO.
Este projecto deu origem a um livro, lançado no final de 2005 em língua inglesa, intitulado "Slaves Routes and Oral Tradition in Southeastern Africa", que reúne artigos de vários autores.
"Estamos a fazer um esforço para o traduzir para português e francês", disse a historiadora, organizadora da obra, em conjunto com Edward Alpern e Allen Isaacman.
Apesar da campanha sobre a escravatura ter culminado na comemoração, em 1994, do Ano Internacional da Luta contra a escravatura e a sua abolição, a UNESCO pretende agora "reactivar o comité científico e torná-lo mais operacional", explicou o director- geral, Koichiro Matsuura, na quarta-feira, na abertura da reunião.
Matsuura defendeu a necessidade de recordar o comércio de escravos e a escravatura pois "esta tragédia continua no centro das questões polémicas actuais", nomeadamente no que respeita à construção de identidades nacionais e novas cidadanias.
Durante a conferência de imprensa, os membros do comité comprometeram-se a impulsionar o estudo da escravatura e divulgá-lo junto das novas gerações, não só nos países onde ela existiu, como nos países ocidentais.
Criticando a "História estabelecida e estratificada" que é estudada na Europa, o francês Jean-Michel Deveau lamentou a ignorância que se mantém sobre outras culturas.
"Queremos quebrar o muro de silêncio", sublinhou.
O comité científico internacional sobre a Rota da Escravatura é composto por 20 académicos e especialistas de diferentes regiões do Mundo, entre os quais se encontra a portuguesa Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 24.02.2006
Adelino Chitofo Gwambe
Canal de Opinião por Luís Nhachote
Um desafio para os historiadores
Na contramão da(s) verdade(s) que se instala(m), livros e/ou documentos tem a virtude sublime de resgatar das trevas da história – ainda que da idade moderna, ou pós-modernista – elementos escurecidos que podem servir como ponto de partida para a compreensão da maneira como se constrói essa mesma História que alguns dos seus protagonistas contam quase como que a seu bel-prazer além de a pretenderem eterna. É como se vai dizendo: “a história é escrita pelos vencedores”...
Entretanto vivem-se anos, décadas, e em alguns casos séculos, debaixo de mentiras, as tais que nem sempre têm pernas curtas.
“Se não sabes de onde vens, não sabes para onde vais” reza um velho adágio que pode servir de peça chave para os historiadores e/ou pretendentes, sobre a ímpar figura do moçambicano Adelino Chitofo Gwambe.
Era um jovem que aos 20 anos de idade, funda o primeiro movimento nacionalista moçambicano (UDENAMO-União Nacional Democrática de Moçambique) que já em 1960 apontava o caminho da libertação nacional com recurso à luta armada.
A «UDENAMO» antecedera assim à criação que viria a acontecer só em Junho de 1962, da Frente de Libertação de Moçambique. E antecipou-se 4 anos à proclamação da insurreição armada que os “sobreviventes da Frente de Libertação de Moçambique” só em Setembro de 1964 viriam a perceber que era o único caminho a seguir para convencer o governo colonial a ceder aos desejos de emancipação dos moçambicanos.
Será que Adelino Chitofo Gwambe não cabe nos manuais da história? Num país que se pretende virado para a reconciliação, rumo a um futuro isento de máculas do passado, por que razão não se reconhece essa ímpar figura? Será apenas porque não fazia parte do grupo dos auto-proclamados heróis nacionais?
Será apenas porque o nome de Adelino Gwambe não cativa os detentores das ferramentas da história? Ou é antes eles estarem militantemente inibidos de o fazer, pelas benesses de que necessitam e usufruem? Será que toda uma sociedade pode continuar a acreditar em historiadores viciados no vício da sobrevivência? Conhecerão eles toda as vertentes da História para que nos apresentem uma versão incompleta como o tempo vem provando que é? Não se apercebem disso? Como assim (?) se já todos perceberam...
Dos documentos disponíveis, o então jovem Gwambe é mesmo a primeira referência do movimento de libertação nacional. Nem ele nem Mondlane terminaram a história que começaram. Mas Guwambe começou primeiro a fazer essa história. Ele tinha os ideais bem definidos, sobre aquilo que viria a ser a realização das suas aspirações. Foi apelidado de traidor por defender um caminho com que os seus confrades da primeira hora do movimento de libertação nacional se diziam em desacordo. Mas os seus detractores acabaram, quatro anos mais tarde, por seguir as suas teses.
A via armada, como, aliás, bem teorizara, Franz Fanon sobre a descolonização como um processo violento, era já a tese dos que depois foram por aí e sempre esconderam aos moçambicanos a figura de Gwambe.
Deambula entre nós, ainda, o histórico Marcelino dos Santos, que à altura da formação do primeiro movimento de libertação nacional, a UDENAMO, tinha 36 anos. Foge à verdade, chegando mesmo a ameaçar com a violência, sempre que se fala do seu ex-chefe Adelino Gwambe que, tal como Uria Simango, viriam a ser abatidos extra-judicialmente naquilo que começa a ser tido pelos cidadãos deste País como um crime de Estado.
Uria Simango – qual outro eliminado – tal como dos Santos foi também subordinado desse cérebro moçambicano jovem que um dia teve a ousadia de chefiar “os mais velhos”.
Metendo a mão na consciência, Joaquim Chissano já reconheceu, por via de uma comunicação, que foi graças às conexões com Gwambe e de Gwambe, que ele próprio chegou pela primeira vez a Dar-Es-Salam, na Páscoa de 1962, ido de Paris.
Será que Marcelino dos Santos não é capaz de meter também a mão na consciência, deixar-se de ameaçar jornalistas e envergonhar o seu partido, e em nome da reconciliação com a própria história, decidir-se finalmente a contar – ainda que em memórias – as peripécias e o papel do seu primeiro chefe pela causa nacional?
Gwambe, que por Eduardo Mondlane e outros dos seus detractores ainda vivos neste «mundo cão», foi rotulado de “miúdo” e “aventureiro”, é, primeiro, pela idade que tinha, um “estudo de caso” para os historiadores deste país. Só assim os meninos de hoje poderão soletrar amanhã, as verdades.
Em nome da reconciliação com a História.
Armando Guebuza diz que não é juiz, para a atribuição do título de heroicidade a Gwambe, Feliciano Gundana não sabe se ele deve sê-lo,...e blá, blá, blá, enfim... o blá dos critérios.
Com este desafio de resgatar os feitos de Gwambe, os historiadores, iluminariam os sinuosos caminhos da génese da criação da Frelimo, que dados indicam que terá sido anunciada por Gwambe em Acra, Gana, antes de Mondlane e seus discípulos.
De facto, tal como sentenciara Henry Lefevre, num dia registado do século passado, a “história é uma sequência de factos sem encadeamento”.
Os “dois” lugares da morte de Mondlane espelham isso, embora qualquer homem só possa ter um lugar para morrer.
Estão preparados para o desafio caros historiadores?
A verdade dói, mas liberta. Não sei onde já li Isso!?(x)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 24.02.2006
21-02-2006
A verdade ainda poderá ser contada
Sobre o verdadeiro local da morte de Mondlane
( Maputo) As autoridades da Educação aventam a hipótese de corrigir o local da morte de Eduardo Mondlane nos manuais de história, apurou o «Canal de Moçambique» junto do director do InstitutoNacional de Desenvolvimento Escaolar (INDE). Joaquim Chissano, ex-presidente da Frelimo e da República de Moçambique, Janet Mondlane, viúva do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique e Feliciano Gundana, actual ministro dos Assuntos dos Antigos Combatentes e também ele proeminente figura da luta de libertação nacional, todos eles confirmaram ao «Canal de Moçambique» que Eduardo Chivambo Mondlane não morreu no seu escritório em Dar-es-Salaam mas em casa da americana Betty King que era secretária de sua mulher.
O director do Instituto Nacional do Desenvolvimento de Educação (INDE), Abel Assis, organismo do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que tem por vocação elaborar os curricula escolares, disse ao «Canal de Moçambique» que não está posta de parte a hipótese de nos novos manuais de História, do ensino secundário, a vigorarem a partir de 2008, vir a “estar detalhado” o verdadeiro local da morte de Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique.
No entanto, o director do I.N.D.E., relativamente à supressão da inverdade relativa à morte de Mondlane que até hoje consta dos livros das 4.ª e 5.ª classes do ensino básico, foi evasivo. Isto porque, os livros deste grau de ensino, terem sido recentemente revistos e estarem a ser ainda distribuídos gradualmente, não se sabendo quando voltarão a sê-lo.
Apesar desse contratempo Assis adiantou que talvez venha a ser julgado improcedente o argumento de que a história está a ser ensinada de forma falsa aos alunos do ensino básico. Ainda vai carecer de discussão se será pertinente a correcção ou não, alega Abel Assis.
“Temos que nos perguntar até que ponto isso é relevante para alunos do ensino primário”, concluiu o director do INDE. Os actuais manuais escolares referem, evasivamente, que Mondlane morreu nos escritórios da então Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) em Dar-es-Salam, na Tanzânia em 3 de Fevereiro de 1969. Na verdade Mondlane não morreu naqueles escritórios, nem em qualquer outro escritório pois que, tanto quanto se sabe, o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane nunca teve um segundo escritório seja em que bar fosse.
O que se passou de facto foi que ele acabou sendo vítima de uma cabala numa casa/residencial/bar, particular, onde gostava de passar os seus momentos de lazer e era propriedade de uma senhora amiga da família, de nacionalidade americana e por sinal até secretária da viúva do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, Janet Mondlane.
A casa de Betty King, onde se deu o tragédia, situava-se em Oyster Bay (Baía das Ostras) também em Dar-es-Salam. Até hoje ainda não houve uma explicação pública por parte de quem de direito sobre os objectivos que nortearam os mentores da “mentira” que foi sendo propalada aos quatro ventos a ponto de constar nos curricula ao longo dos últimos anos no país. Pertinente ou não, o certo é que entre os escritórios da Frelimo em Dar-es-Salam e a casa de Betty King vai uma grande distância.
Celso Manguana - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 21.02.2006
NOTA:
Na realidade o local do incidente até poderá parecer irrelevante. Mas alguém lhe levou a correspondência. Quem? Os responsáveis da segurança não tinham a obrigação de verificar o correio que era dirigido a Mondlane? Quem não verificou? Sendo que até era um volume mais volumoso, que uma simples carta, não obrigava a cuidados redobrados? Na casa de Betty King só estava um empregado. Seria normal à hora em que se deu o incidente só estar um empregado? Quem contou a história que se tornou "oficial"? Há muito por esclarecer e quem o pode fazer ainda está vivo. Porque espera?
Fernando Gil
Quando os “Outros” também clamam pelos seus “Gwaza-Muthini”
por Noé Nhantumbo
Pelo que ouvi e observei, os moçambicanos estão aprendendo rapidamente a reclamar quando algo lhes parece menos justo. É por exemplo o facto de só se comemorarem e terem relevo na comunicação social pública datas e factos relativos aos heróis da luta anti-colonial de individualidades de uma maneira ou de outra afins ao «Império de Gaza». Após mais um Gwaza-Muthini não foram poucas as vozes discordantes que se fizeram ouvir na Beira sobre tal facto. As pessoas não discutem o mérito de Gungunhana ou de outro interveniente famoso na luta contra a invasão colonial, mas, sim, a exclusão dos outros moçambicanos do Centro e do Norte daquilo que é hoje Moçambique.
A unidade nacional e o sentido de Nação constroem-se com respeito pelos outros e isso se faz também dando proeminência àquilo que é dos outros. Unidade na diversidade é isso e não simplesmente palavras vãs pronunciadas quando convém a certas figuras.
As outras pessoas, ao mais uma vez serem confrontadas e praticamente obrigadas a engolirem o “sapo” de «Gwaza-Muthini», sem se importarem do que seus partidos digam, estão, à boca cheia, clamando por verem seus heróis, como Makombe, Kamba Simango e outros, também inscritos e celebrados com o mesmo peso que os do «Império de Gaza» o são. Foi e é interessante verificar que a moçambicanidade é construída no dia-a-dia pelos moçambicanos, conversando, discutindo, confrontando-se muitas vezes fora dos mecanismos partidários. O que de útil está acontecendo entre os actores, acontece fora das estruturas partidárias asfixiantes. Para todos os que querem ver Moçambique acontecendo no dia-a-dia é deveras interessante observar que os moçambicanos conseguem consumir artigos provenientes de fora dos quadrantes ou parâmetros partidários. E esta dos heróis anti-coloniais já tardava a aparecer.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 21.02.2006
Fórum provincial debate perfil de herói nacional
A Escola Nacional de Aeronáutica de Maputo acolhe, dia 23 do mês em curso, o fórum provincial para o debate do perfil de herói nacional.
O encontro será dirigido pela governadora da cidade, Rosa da Silva, e estarão presentes os membros da comissão executiva central encarregues de auscultar diversas sensibilidades sobre a matéria e representantes de diferentes sectores sociais.
A realização do fórum provincial é o culminar de um trabalho levado a cabo por diferentes brigadas da comissão executiva destacada para a cidade de Maputo, chefiada pelo director da educação e cultura, Dinis Mungói, junto de diversas sensibilidades, entre elas estudantes, confissões religiosas, partidos políticos e funcionários do Aparelho do Estado.
Ontem, a reportagem do `Notícias´ testemunhou o debate sobre o perfil de herói nacional na Escola Secundária da Polana.
A síntese apresentada na ocasião define um herói como sendo aquele que se revela pelos seus feitos gloriosos em várias áreas e em prol do país. Os participantes defenderam que só deve ser consagrado herói um indivíduo depois de morto que tenha reunido alguns requisitos definidos por uma legislação.
Foram consideradas duas categorias de heróis, nomeadamente local e nacional. Um herói nacional, segundo os participantes do debate, deve ser depositado na cripta. Um indivíduo que se destaca a nível local pelos seus feitos em prol da sua comunidade ou dum determinado grupo ou organização pode ser distinguido ou agraciado com uma medalha ou menção honrosa.
Uma vez titularizado herói nacional depois de morto, os familiares do indivíduo devem beneficiar de apoios do Estado.
NOTÍCIAS - 21.02.2006
20-02-2006
Mbuzini mexe com África do Sul
20 anos depois de Moçambique se preocupar
O «Sunday Independent», semanário da Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo, no início da década de 90”.
“Esta seria uma prova concludente do envolvimento do apartheid no caso” – sugere jornal.
(Maputo) Uma sondagem levada a cabo pela «News24», um serviço de notícias da África do Sul, revelou que 65% de um total de 1,500 pessoas inquiridas, opõe-se à reabertura do «dossier-Mbuzini» referente à tragédia que vitimou o fundador da primeira República em Moçambique. A sondagem foi efectuada na sequência das declarações feitas pelo presidente Thabo Mbeki, da África do Sul, segundo as quais o seu governo tenciona “desvendar o mistério” por detrás da morte de Samora. Para os inquiridos, “em vez de realizar o inquérito à morte do Presidente Machel, o governo devia solucionar os crimes ainda por resolver no nosso próprio país.” Apenas 6% dos inquiridos pela «News24» concordou que se devia reabrir o inquérito.
Nas investigações já efectuadas pela África do Sul, como Estado de ocorrência do desastre em que morreu Samora Machel, a tripulação do Tupolev presidencial foi responsabilizada pela ocorrência.
A imprensa sul-africana tem dado destaque ao anúncio feito pelo presidente Mbeki no início do corrente mês. O «Sunday Independent», semanário publicado na Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo no início da década de 90.”
“Esta seria uma prova concludente” – sugere o «Sunday Independent» – “do envolvimento do apartheid no caso”.
Só mecânico sobreviveu
Dados confirmados na altura do acidente, no entanto, referem que tanto os pilotos como o navegador do Tupolev presidencial pereceram. A tripulação soviética era composta de cinco membros. Apenas o mecânico de bordo, Vladimir Novoselov, sobreviveu.
O mesmo jornal afirma que “novos dados sugerem que agentes sul-africanos encontravam-se em Matsapha a proceder à instalação e testes de uma nova estação emissora VOR na noite em que ocorreu o desastre”.
Tanto Moçambique como a União Soviética, note-se, rejeitaram a hipótese do VOR de Matsapha ter estado na origem da volta prematura que o Tupolev transportanto Machel e a sua comitiva efectuou antes de colidir contra os Montes Libombos na região de Mbuzini, próximo da Namaacha. Num parecer apresentado à comissão de inquérito sul-africana, Moçambique alegou que o trajecto seguido pelo Tupolev presidencial não coincidia com o radial emitido pelo VOR de Matsapha. Já a União Soviética argumentou que o Tupolev não poderia ter sido capaz de interceptar tal sinal devido a obstruções causadas pela montanha de Bembegazi que faz parte da cadeia dos Libombos.
Desconhecem-se pormenores sobre a composição da nova comissão de inquérito ou se a mesma irá conduzir os seus trabalhos à porta-fechada, à semelhança do que aconteceu com as sessões da Comissão da Verdade e Renconciliação Nacional perante a qual depôs a ex-primeira dama moçambicana, Graça Machel.
É de prever que o antigo ministro da segurança de Moçambique, Sérgio Vieira, venha a ser convocado a prestar declarações perante a nova comissão de inquérito sul-africana para esclarecer a alegação por ele feita repetidas vezes de que os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra estavam em posse de informações de que o antigo regime do apartheid fora o responsável pelo desastre de Mbuzini. Segundo Vieira – actual director-geral do GPZ e tido por algumas sensibilidades como o futuro PCA da HCB – tanto os Estados Unidos como a Inglaterra preferiram não vir a público com uma revelação desse teor pois uma tal postura ser-lhes-ia favorável às disputas que mantinham com o bloco soviético no âmbito da chamada «Guerra Fria».
Numa edição recente, o «África Monitor» afirmou que a versão que apresenta o acidente como tendo sido resultado de uma conspiração “nunca mereceu aceitação da CIA ou do SIS (britânico).” Aquela publicação editada a partir de Lisboa por um analista de referência sobre assuntos relacionados com países africanos de língua oficial portuguesa, Xavier de Figueiredo, refere que “quanto às suspeitas de que a África do Sul através de sofisticados sistemas de intercepção, teria provocado interferências nos sistemas de comunicação do avião, dando-lhe uma rota errada, a análise da CIA é a de que Pretória não só não tinha nenhum interesse na queda do avião (nele viajavam alguns dos seus melhores interlocutores moçambicanos, como Fernando Honwana, Aquino de Bragança e até o próprio Samora Machel), como, em tal caso, evitaria sempre que o avião caísse no seu território.” (Redacção)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.02.2006
18-02-2006
Lançamento do livro 'Cabora Bassa - A Última Epopeia'
Palácio de Belém é «um espaço menor» para a «homenagem que tarda» aos heróis
Na zona exposicional do Café Santa Cruz - paredes-meias com a igreja onde está sepultado o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques - foi lançado na noite de quinta-feira passada o último livro do jornalista A. Santos Martins - 'Cabora Bassa - A Última Epopeia'.
Apresentou o livro o também historiador e vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. Mário Nunes, que fez o elogio do autor e confessou aos presentes ter-se interessado tão vivamente pela obra que a leu «de um só fôlego».
Para Mário Nunes, o trabalho daquele autor conimbricense desperta o que de melhor há no orgulho patriótico português, sublinhando que ficou bem vincado no livro que, mesmo no período anterior à descolonização de 1975, como aconteceu na região do Zambeze moçambicano, os Portugueses escreveram em África epopeias que não desmereceram das dos séculos das Descobertas e da Expansão.
De acordo com o autor, também este seu livro - fruto de quase quarenta anos de investigação histórica e de 'memórias' que trouxe do Vale do Zambeze, onde fez Jornalismo antes, durante e até à conclusão daquela que é uma das maiores barragens hidroeléctricas do mundo -, foi escrito «quase de um só fôlego», depois de o actual Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, ter visitado Portugal no início de Novembro de 2005 e o Governo de Lisboa assinar um protocolo para a entrega «ao desbarato» da posição portuguesa na «Hidroeléctrica de Cahora Bassa».
O lançamento do livro aconteceu precisamente no dia em que o Conselho de Ministros tomou decisões sobre as privatizações a fazer em 2006 e 2007 - e o autor sublinhou que metade do «perdão» do Governo de José Sócrates a Moçambique, no caso daquela monumental barragem, daria para evitar as privatizações a fazer na EDP, na Galp-Energia e na REN (Rede Eléctrica Nacional).
«Se o perdão servir apenas o Povo Moçambicano, tudo bem, mas se for para engordar a Geocapital de Stanley Ho e Almeida Santos ou outros grupos capitalistas internacionais, então... tudo mal» - disse o autor de 'Cabora Bassa - A Última Epopeia, antes de referir que a HCB começou a gerar lucros de exploração em 2004, depois de muitos anos de exigências aos contribuintes portugueses (fala-se em 15 milhões de euros por ano), devido à longa e sangrenta guerra civil (Renamo-Frelimo) que se travou no território após a entrega de Moçambique ao movimento guerrilheiro liderado por Samora Machel.
O autor lembrou também que o Vale do Zambeze moçambicano («onde Portugal cabe várias vezes»), foi o território ultramarino onde os portugueses penetraram mais profundamente, logo a partir do início do século XVI.
«O habitual era instalarem-se feitorias fortificadas junto ao Índico, como aconteceu em Sofala e na Ilha de Moçambique. Mas logo nos primódios do século XVI os portugueses subiram o rio Zambeze até 800 quilómetros da costa, erguendo povoações, igrejas, organizando feiras para o comércio. Sena, Tete, Chicoa e o Zumbo são testemunhos da coragem dos nossos sertanejos e missionários. Mas também nos derramámos, naquele século, pelo território que é hoje o Zimbabwe».
Santos Martins, depois de lembrar que há cem anos (1905), «o nosso almirante Gago Coutinho» foi o primeiro europeu a subir à montanha do Kassongo (onde se desenvolveu Cabora Bassa)», não foi «nada meigo» com o britânico David Livingston.
«Livingston foi, sem dúvida, um grande explorador na segunda metade do século XIX. Mas também um grande mentiroso, pois chamou a si descobertas que os Portugueses haviam feito... 300 anos antes»!
Depois de referir que Cabora Bassa foi erguida no meio de um território fortemente afectado pela subversão armada da Frelimo - «que para ali orientou todo o seu esforço de guerra» -, ainda assim a majestosa barragem foi erguida, até lá chegaram todos os grandes equipamentos para a sua central hidroeléctrica e «o enchimento do seu imenso lago artificial, com quase 300 quilómetros de extensão, começou na data prevista e sem qualquer interrupção».
Para que isso acontecesse, houve um «esforço sublime de milhares de civis e militares», muitos dos quais morreram ou ficaram estropiados «para que se consumasse a última epopeia dos portugueses em África».
Para o autor, o Palácio de Belém é «espaço menor» para «a condecoração que tarda». Se o novo Presidente da República decidir homenagear aqueles heróis anónimos, «pois que o faça no anfiteatro que existe no Monumento das Descobertas e da Expansão, junto à Torre de Belém».
17-02-2006
Gaza não é berço da resistência anti-portuguesa
Mais um “iceberg” da falsidade que é a história de Moçambique:
A batalha de Coolela, ou seja, de Gwaza Muthine, é tida como a mais emblemática e arrojada dos moçambicanos contra a dominação portuguesa, conforme o relevo que anualmente o Governo lhe tem conferido. Procurando entretecer as várias linhas e iluminando-as às zonas de penumbra, o Púnguè apurou que à escolha sobrepõe-se razões puramente tribais.
“O nacionalismo ( chamemos – lhe antes proto- nacionalismo ) brotou no Centro e Norte, antes do Sul.
Nunca vi esta tese defendida pelas oficinas de História oficiais”, segundo uma entrevista do falecido escritor moçambicano, Aníbal Aleluia, ao também escritor nacional Nelson Saúte, a qual consta no livro “Os Habitantes da Memória” (de Saúte).
Segundo Aleluia, esse escritor culto, “o berço da resistência antiportuguesa não é Gaza, como se convencionou oficialmente por razões que me parecem tribais, mas Angoche onde desde do tempo de Mogossurima, no século XVII, até ao sultanado de Farley, já no limiar deste século, os sultões cotis, de origem quiloana, puseram-se à Cruz”.
A personagem central é Mu bin- aufo- Suahib, Namuli de seu nome de guerra. Um Mcóti para as gentes da praia, o Mussa, conforme Aleluia.
“Muçá derrotado pelos Macololos e pelos Vaz – dos –Anjos aliados a muzungos Mpassue (João Bonifácio Alves da Silva), no regresso do noroeste saqueia aringas do Errive e Bajone do prazo do João Bonifácio, arrasando tudo. O Prazeiro, seis anos depois invade Angoche e encontra a morte durante a travessia da vau de Quíloa, mas Mussa perde a batalha”, disse Aleluia.
O comandante do exército Magangeiro, Mateus o Grande, aprisiona a esposa, quatro filhos e a irmã caçula do sultão e leva-os para a Ilha de Moçambique , cujo o governador os vende aos esclavagistas das ilhas indicas.
Há ainda, de acordo com os escriba de “M’belele e Outros Contos”, o facto de Muçáter ter aprisionado a guarnição portuguesa de Parapato para fazer reféns a fim de resgatar a família por ter confiado os prisioneiros aos filhos que, no entanto, os manda executar na ausência do pai o qual, ao regressar dando se conta da atitude do jovem submete-o julgamento que condena-o à pena capital “por desobediência”. Mas há mais incidentes.
Ele sustentou que “Muçá foi a principal barreira contra a ocupação da Macuana pelos portugueses, a única força que deteve e reteve no Ibo e na Ilha de Moçambique durante muitos anos”.
Sobre Gungunhana, há testemunhos que duvidam da sua estatura e heroísmo. Por exemplo, Raúl Bernardo Manuel Honwana, escreve que o rei vatswa tinha três mil soldados quando o aprisionaram em 1895.
Honwana regista a indiferença dos populares à sua detenção: “vai-te embora, seu abutre, que dizimavas as nossas galinhas”.
Enquanto oficialmente Gungunhana é tomado por herói, populares há que o repudiam, como atestaram há alguns anos as cenas de vandalismo ao lugar onde foi erguido um monumento seu em Marracuene, esse várias vezes apeado.
“Do mesmo modo se questiona que o nomeiem herói quando se sabe que este celebrou um acordo com os portugueses, ao qual Portugal lhe pagava dinheiro como militar do seu exército. Assim, se Gungunhana é herói, então Matsangaísse que teve sua retaguarda na Rodésia de Ian Smith há-de sê-lo também. De contrário, é tribalice”, conforme análise de um cidadão identificado por José Félix, professor primário numa escola algures na Beira.
“Numa relação de causa e efeito Matsangaísse seria herói mais por mérito próprio do que por conveniência ideológica ou tribal. Como se vê, a história acabou por atribuí-lo a devida razão, isto é, a Frelimo sujeitou-se a sentar com a Renamo à mesa das conversações que culminaram com o AGP em 1992”, palavras de Félix.
Conforme a nossa fonte, o Governo da Frelimo sonega a “Revolta do Báruè, que quanto a mim, é a mais relevante na fase derradeira de ocupação portuguesa a Moçambique”. (Redacção)
PUNGUÈ – 16.02.2006
NOTA:
Rebuscando a História do que é hoje Moçambique, verificamos que nenhuma revolta ou confrontação com os portugueses foi por Moçambique. Todos lutavam pelos seus interesses e pelo seu canto. Inclusive Gungunhana, este abertamente apoiado pela Inglaterra. Ainda não vi nenhum historiador, especialmente moçambicano, a colocar as consequências da vitória de Gungunhana sobre Mouzinho. Seria que hoje haveria Moçambique e se falasse o português? Aqui fica o desafio.
Fernando Gil
Nos alvores de um país novo
António Sopa
A recente publicação do álbum “Do Rovuma ao Maputo: A Marcha Triunfal de Samora Machel”, do tenente-coronel na reserva Raimundo Domingos Pachinuapa, celebra os 30 anos de independência moçambicana, homenageia o primeiro líder do país, Samora Moisés Machel, e, se se quiser, inaugura informalmente as celebrações que irão decorrer durante todo este ano, no âmbito do vigésimo aniversário da sua morte.
Há, após trinta anos de país independente, um claro défice de publicações sobre a “luta armada de libertação nacional” e os primeiros anos que se seguiram à proclamação da independência, em 25 de Junho de 1975. Há uma lacuna ainda mais grave de memórias dos próprios participantes que viveram esse período, apesar de promessas regularmente enunciadas e de projectos desenvolvidos em diversas instituições nacionais. O lançamento de livros, cujos autores tiveram uma participação relevante na saga independentista e na construção do projecto socialista, é, por isso mesmo, esperado com interesse e emoção pelo grande público, na perspectiva que novos dados e explicações sejam sugeridos, iluminando períodos ainda tão profundamente desconhecidos.
Assim, o livro do combatente, que viria posteriormente a ocupar importantes cargos governamentais no Moçambique independente, foi igualmente esperado com ansiedade. Mas aquilo que procurávamos encontrar ali, o que pensamos ser mais precioso, e que passa pelo registo pessoal do autor, a partir da vivência do acontecimento, pura e simplesmente não se encontra ainda nestas páginas. O leitor fica elucidado da sólida e profunda amizade que ligava Samora e Raimundo Pachinuapa, expressa na “nota pessoal” e em algumas das fotografias do livro, mas o que se segue é apenas a visão da imprensa da época, a partir de extractos publicados em obra antiga (“Datas e documentos da história da FRELIMO”, org. de João Reis e Armando Pedro Muiuane) e de imagens recolhidas nos diferentes arquivos do país.
Ora, o tenente-coronel Raimundo Pachinuapa foi um actor privilegiado da “viagem do Rovuma ao Maputo” e de muitas outras situações vividas no passado, não só pelo lugar que ocupava na estrutura do movimento independentista moçambicano mas até pelas relações de amizade que tinha com a liderança da FRELIMO, pelo que está em condições para fazer um relato diferente, mais pessoal, trazendo à superfície acontecimentos que possam ajudar a conhecer melhor a figura de Samora e a recepção do seu discurso nos vários cantos do país, em vésperas de alcançar a sua liberdade.
Parece-nos claro que a “viagem do Rovuma ao Maputo” serviu simultaneamente para mobilizar a população do país para os objectivos que se enunciavam e que se podem exprimir, de forma grosseira, na “sociedade nova”, sobretudo em áreas onde a influência da guerra libertadora não se tinha ainda feito sentir, ao mesmo tempo que uma parte da direcção da organização tinha um primeiro contacto directo com as populações, apesar das viagens regulares de informação do Primeiro-Ministro do então “Governo de Transição”, Joaquim Chissano, à Tanzânia. Mas é também uma “viagem” pelas emoções, de reencontros com pessoas (com o pai, Mandande Moisés Machel, por exemplo), rememorização de situações vividas e de tomada de decisões fundamentais (V Sessão do Comité Central, na praia do Tofo). Seria interessantíssimo saber dos preparativos da viagem, a despedida e o agradecimento à Tanzânia, a entrada em território nacional, a receptividade do discurso, já que sabemos que não foi o mesmo em todos os locais, os contactos com o povo miúdo e as personalidades locais, um interminável rol de grandes e pequenos acontecimentos, num hipotético diário a ser construído pelo autor.
Este comentário, que exprime a insatisfação dum leitor interessado, mais do que traduzir um desapontamento, serve igualmente para lançar um repto ao autor, que se traduz pela elaboração das suas próprias memórias pessoais, sabendo que elas terão uma importância excepcional para o conhecimento dos períodos referidos.
O livro é uma bonita peça bibliográfica, graficamente impecável, com um preço acessível.
Do Rovuma ao Maputo: A Marcha Triunfal de Samora Machel: Primeiro
Presidente de Moçambique
Raimundo Domingos Pachinuapa
Maputo, Edição do Autor, 2005, 63 p.
SAVANA – 17.02.2006
Distinção
Atalhe de Foice
Por Machado da Graça
Debate-se hoje no país a questão de saber quem deve ser considerado herói nacional.
Poder-se-ia perguntar se não há nada de mais importante para os moçambicanos debaterem, no nosso país empobrecido.
Mas a verdade é que, a propósito ou a despropósito, se debate quem é herói nacional.
Para definir tão complexa atribuição de título foi mesmo criada, pelo governo, uma comissão. Coisa séria. A cobrar, decerto, mais uma fatia do bolo nacional.
Mas quais serão as razões deste súbito interesse por uma tal questão?
À primeira vista vejo duas:
A primeira é o número, cada vez mais reduzido, de gavetões no monumento da Praça dos Heróis.
Com o passar do tempo e o passar à história de quem vai morrendo, muitos andarão fazendo as contas ao número de gavetões ainda existentes e ao número de possíveis heróis, ainda vivos, para tentar descobrir se ainda lhes sobra lugar para o repouso definitivo. E as contas já devem ser bastante preocupantes para muitos, porque é cada dia mais claro que o espaço não vai chegar para todos.
A outra razão é de carácter político: Normalmente, quem decide quem são os heróis são os vencedores das guerras. Ora a guerra entre o governo e a Renamo e seus apoiantes externos, terminou por um empate. Como se diz muito, agora, terminou sem vencedores nem vencidos. E, portanto, é difícil determinar quem foi herói nessa guerra.
Daí que se vá definindo como herói, ou heroína, gente que se distinguiu na luta armada de libertação, em que o vencedor foi claro, mas ninguém se atreva a definir heróis desta outra guerra, de final negociado.
Só que a oposição se sente diminuída neste retrato da heroicidade nacional. Não tendo participado na luta armada de libertação nacional, não tem nenhum dos seus membros candidato a herói, por essa razão, ao passo que a Frelimo pode, à vontade, ir escolhendo os seus membros mais antigos, não pela sua actuação na guerra mais recente mas sim pela guerra mais antiga.
Porque, num país ainda traumaticamente dividido pelo que aconteceu na guerra de desestabilização, segundo uns, civil, segundo outros, os critérios estão a anos luz de ser os mesmos. Um determinado personagem histórico é, para uns, um herói que lutou, de armas na mão, pelo estabelecimento da democracia no país. Para outros, o mesmo personagem histórico é o chefe de bandos armados, de enorme selvajaria, a soldo do apartheid e do regime racista da Rodésia. Tarefa difícil, senão impossível. Pelo menos enquanto não passarem algumas gerações.
Mas mesmo entre os participantes da luta armada de libertação nacional, as coisas começam a não ser tão simples. Aqueles que cometeram actos heróicos e morreram ao cometê-los, ou morreram pouco depois, são casos que não levantam grandes dúvidas.
O pior são os casos daqueles que cometeram actos heróicos na sua juventude mas continuaram, incomodamente, vivos. E que, ao longo de vidas longas, tal como qualquer outra pessoa, foram cometendo actos sociais positivos e actos negativos. Muitas vezes actos muitíssimo negativos.
Continuaremos a considerar herói aquele que o foi, aos 25 anos, mas se transformou, depois, num ricaço graças à corrupção e ao crime?
Difícil tarefa, a da tal comissão.
Mas penso que uma forma de descongestionar um bocado o problema seria reanimar o hábito de condecorar os cidadãos que se vão distinguindo nas mais variadas áreas da vida nacional.
Em muitos países a condecoração de cidadãos é uma actividade regular. Por vezes realizadas em datas nacionais importantes, outras vezes sem qualquer data associada, as condecorações permitem ir distinguindo aqueles que se destacam, sem ter que chegar à atribuição do título de herói.
Entre nós as condecorações foram sempre coisa muito rara, mais excepção do que regra e até, por vezes, a reboque de outros países que condecoraram cidadãos moçambicanos.
Um alargamento desse tipo de distinção iria aliviar, muito provavelmente, a pressão sobre o título de herói nacional, na prática a única distinção que Moçambique reserva hoje aos seus cidadãos.
SAVANA - 17.02.2006
HCB é segredo da Frelimo
Canal de Opinião por Prof. Dr. André Thomashausen *
Li com muito interesse o vosso artigo “«HCB É Nossa» - Quem Paga a Factura?” (Canal nr.3). Gostaria de acrescentar algumas informações a respeito dos preços de (re)venda da energia da HCB praticados presentemente pela Eskom da África do Sul.
Em resposta a uma série de perguntas que haviam sido levantadas, o ministro das empresas públicas, Alec Erwin, referiu, perante a Assembleia Nacional sul-africana, em Novembro de 2005, que a «Botswana Power Corporation» pagava 13,16c./Rand por kilowatt-hora (kWh) fornecido pela Eskom. A «Swaziland Electricity Board» pagava 11,59c./R; a «Zambia National Energy Corporation» 21,45c./R; e a «Zimbabwe Electricity Supply Authority» 21,17c./R kWh.
Erwin disse ainda que estas tarifas iriam ser aumentadas brevemente.
Aos consumidores industriais da África do Sul, a Eskom cobra entre 15c./R e 18c. por kWh.
Em contrapartida, o acordo firmado entre a Eskom e a HCB em 2004 indica que a empresa sul-africana estava a pagar pelos fornecimentos da hidroeléctrica do Songo o preço já por si ridículo de 3,6c.R/kWh (três ponto seis cêntimos do Rand por quilowatt/hora), reflectindo ainda a já muito ultrapassada “conspiração” dos governos do apartheid e do colonialismo português.
Entre a Eskom e a HCB ficou concordado, em 2004, que a tarifa seria aumentada para os 12,52 c.R/KWh, mas a vigorar somente a partir de 2007. Quer dizer que, mesmo depois da eventual entrada em vigor dessa nova tarifa, a África do Sul continua a comprar energia à HCB para depois vender essa mesma energia pelo dobro do preço, sem lhe acrescentar nem um mínimo de mais valia.
Significa isto que a viabilidade de uma “nacionalização” a favor de Moçambique ou, em termos gerais, uma privatização, mesmo que parcial, da HCB, continua a deparar com um obstáculo fundamental que é a falta de capacidade (ou será de vontade?) por parte da actual administração daquela hidroeléctrica em fazer valer os seus direitos e praticar preços de mercado realistas na venda da energia à África do Sul.
Acho estranho que o parlamento moçambicano – a Assembleia da República – como órgão supremo de soberania nacional, em nenhuma ocasião se tenha lembrado de exigir uma prestação e publicação das contas da HCB (uma empresa plenamente sujeita ao direito moçambicano), incluindo uma contabilização da “triste divida” e dos custos da gestão, que são considerados dos mais elevados do mundo (quando se faz a comparação a nível global com semelhantes empresas). Quantas outras empresas com o simples estatuto de “sociedade limitada” gozam do privilégio de não terem de publicar os relatórios de contas, seja em Moçambique ou em Portugal?
E, além da questão das contas secretas, há a questão da transparência nas negociações sobre o que se pode considerar a conclusão da descolonização de Moçambique, quer dizer a entrega de Cahora Bassa ao Estado moçambicano. Será que a democracia em Moçambique se encontra ainda de tal forma subdesenvolvida e enfraquecida, que a Assembleia da Republica não tem o direito de exigir a apresentação dos acordos firmados para aprovação e ratificação parlamentar? Estranho ainda que em Portugal também não haja um único deputado a exigir a prestação de contas, nem um debate tendo em vista a ratificação parlamentar dos acordos. Uma verdadeira teia de segredos que parece longe de encontrar o seu desfecho.
Com os meus melhores cumprimentos e felicitações pelo lançamento do “Canal de Moçambique”.
(*) Director do Instituto de Direito Internacional e Comparado, Universidade da África do Sul (UNISA)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 17.02.2006
NOTA: Estranha o Dr. André Thomashausen que "em Portugal também não haja um único deputado a exigir a prestação de contas, nem um debate tendo em vista a ratificação parlamentar dos acordos". Ora não podem os Srs. Deputados da Assembleia da República Portuguesa desconhecer o assunto, pois o mesmo lhes foi posto pelo signatário, pela segunda vez, no dia 9 do corrente mês.Poderão ler e imprimir o texto em:Fernando Gil
15-02-2006
Disputa por status foi "motor" da história, diz Fragoso
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo
João Fragoso defende, desde a sua tese de doutorado --"Homens de Grossa Aventura" (Civilização Brasileira)--, que a montagem da economia colonial brasileira não foi orientada pelas exigências de "acumulação de capital" das economias dos países europeus colonizadores --idéia que de alguma maneira unifica os trabalhos clássicos de Caio Prado Jr., Celso Furtado e Fernando Novais.
Contra a lógica desses autores, que tendiam a ver a sociedade brasileira como mera cópia imperfeita --e reflexo econômico-- da sociedade européia, Fragoso propõe que a sociedade que se criou no Brasil obedece a uma lógica própria.
Veja tudo em:
14-02-2006
Torre do Tombo assinala centenário do nascimento de Humberto Delgado
Lançamento de arquivo em suporte digital
O Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo vai assinalar esta quinta-feira o centenário do nascimento do general Humberto Delgado com o lançamento do seu arquivo em suporte digital, entre outras iniciativas.
De acordo com o instituto, a documentação existente na Torre do Tombo sobre o general estará disponível no endereço na Internet www.humbertodelgado.pt, incluindo o arquivo pessoal, parte do arquivo da Polícia Internacional e da Defesa do Estado (PIDE) e da Legião Portuguesa.
A apresentação, feita em colaboração com a Fundação Humberto Delgado, decorrerá a partir das 15h00, com uma conferência proferida pelo professor António Rebelo de Sousa e a exibição de um documentário sobre a vida do general.
"Meu Pai, Humberto Delgado", com guião da autoria da filha, Iva Delgado, foi realizado por Francisco Manso numa co-produção do canal 2, Take 2000 e Junta de Extremadura (Espanha), onde o general foi assassinado pela PIDE.
Na mesma altura será lançado o livro "Uma Brasileira contra Salazar", da autoria de Arajaryr Campos, secretária de Humberto Delgado, também assassinada pela PIDE em 13 de Fevereiro de 1965.
A obra, publicada pela editora Livros Horizonte, é o relato inédito na primeira pessoa sobre a entrada clandestina de Arajaryr Campos em Portugal, no final de 1961.
Nascido em Brogueira, Torres Novas, em 1906, Humberto Delgado foi assassinado em 1965 nos arredores de Olivença, perto da fronteira com Portugal.
Formado na Escola do Exército, participou na Revolução de 28 de Maio, foi adido militar em Washington e promovido a general das Forças Armadas, candidatando-se à Presidência da República em 1958, seguindo-se a sua suspensão e demissão das Forças Armadas.
Asilou-se no Brasil, mas em 1961 envolveu-se no assalto ao navio "Santa Maria", pelo qual foi julgado à revelia, e participou na Revolta de Beja, instalando-se depois na Argélia onde assumiu a chefia da Junta Patriótica de Libertação Nacional. Mais tarde fundou a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.
Em 1990 foi nomeado, a título póstumo, marechal da Força Aérea.
PÚBLICO - 14.02.2006
13-02-2006
Porque a FRELIMO não nacionalizou Cahora-Bassa
Para quem julga que Salazar não era previdente e que não sabia que a independência das colónias haveria de chegar e não em tempo muito distante, leia os termos em que a adjudicação da obra foi feita.
Coma devida vénia, extraio do livro CABORA BASSA - A ÚLTIMA EPOPEIA, a ser lançado em Coimbra no próximo dia 16, as seguintes passagens do Capítulo VI:
.......
A 12 de Março, tal como programado, foram abertas as propostas para o«aproveitamento de Cabora Bassa». Na cerimónia, Arantes e Oliveira tinha a seu lado um outro futuro governador-geral de Moçambique (o Eng°. Manuel Pimentel dos Santos), precisamente aquele que viria a cessar funções na província - já então chamada Estado de Moçambique e com larga autonomia - por força do golpe militar de 25 de Abril de 1974.
Novamente três consórcios internacionais a concorrer, com a ZAMCO ('Zambeze Consórcio Hidro-Eléctrico'} a apresentar a proposta mais baixa: - 7.033.048.345 escudos!
Sete milhões de contos, à época, era uma importância que provocava 'tonturas'! Mas o projecto era por demais grandioso, os seus benefícios iriam derramar-se por toda a África Austral e daí o envolvimento - dizia a Imprensa - «dos mais categorizados meios técnicos e financeiros mundiais».
Na sala das sessões do Conselho Superior de Fomento Ultramarino, à mistura com técnicos e dirigentes empresariais de vários países, havia representantes de «agências noticiosas internacionais, dos órgãos de Informação estrangeiros, além dos jornalistas da Imprensa, Rádio, Televisão e Cinema nacionais».
...........
Dado o seu interesse histórico, aqui fica o programa então divulgado:
1 - Execução das obras principais de construção civil do aproveitamento hidroeléctrico, que compreende, na fase actual: construção da barragem; construção da central situada na margem sul (central subterrânea) com os respectivos circuitos hidráulicos (tomadas de água, condutas forçadas, chaminés de equilíbrio, difusores e galerias); tomadas de água para a futura e segunda central, que será situada na margem norte, também subterrânea; edifício de comando e subestação de emissão de energia; e subestação de recepção de energia na República da África do Sul.
2 - Trabalhos de injecções nas obras de desvio provisório e nas obras principais de construção civil.
3 - Fornecimento, transporte, montagem e ensaios dos equipamentos electromecânicos e eléctricos correspondentes às obras de desvio provisório e às obras principais. Na fase actual serão instalados 3 grupos com a potência de 400.000 KW cada um.
4 - Sistema de transporte de energia desde o barramento da subestação do aproveitamento hidroeléctrico de Cabora Bassa até ao barramento da subestação receptora, na República da África do Sul (1). A capacidade de transporte do sistema é da ordem dos 2 milhões de KW e a linha terá uma extensão de 1.400 Km.
5 - O programa inclui ainda a execução da segunda fase das obras de desvio provisório do rio Zambeze, destinadas apor a seco a zona das fundações da barragem;
a) No concurso, cujas propostas foram recebidas no dia 10 de Janeiro p.p., o programa de trabalho consistia apenas na abertura dos acessos entre as bocas de cada uma das duas galerias de desvio, na execução das testas de montante e jusante das galerias e na construção dos encontros da ensecadeira de montante.
b) Na consecução das obras de desvio provisório, fazem parte deste concurso a abertura das galerias e as obras de fecho do rio, isto é, construção da pré-ensecadeira de jusante e, finalmente, execução das ensecadeiras de jusante e de montante.
6 - Execução das obras acessórias:
a) pavimentação da estrada entre Moatize (terminal de caminho de ferro) até Matundo (povoação localizada na margem oposta à cidade de Tete) e do troço da estrada Tete-Changara, desde aquela cidade até ao entroncamento com a estrada de acesso a Cabora Bassa;
b) construção do novo traçado, incluindo pavimentação, desde o entroncamento com a estrada Tete-Changara até à entrada do estaleiro das obras;
c) construção do bairro definitivo destinado ao alojamento do pessoal da exploração do aproveitamento hidroeléctrico e da subestação de emissão da linha de transporte, abrangendo o respectivo acesso e os arruamentos e ainda os sistemas de abastecimento de água e de esgotos e as redes de energia eléctrica e telefónica.
7 - Paralelamente com as obras do empreendimento de Cabora Bassa, e embora delas não façam parte, têm interesse, para os trabalhos correspondentes ao aproveitamento, as facilidades que resultam da programação observada para o plano rodoviário da Província de Moçambique. Com a melhor conexão serão, portanto, levadas a efeito a pavimentação da estrada Vanduzi-Changara-Tete, ficando desta forma ligada, em condições de boa utilização, a cidade de Tete ao porto da Beira. No troço Changara-Tete será construída a última obra de arte em falta, aponte sobre o rio Mazoe e para ligação Moatize-Tete será ainda construída a ponte sobre o rio Zambeze que ligará aquela cidade à outra margem do rio.
As propostas sobre o grande empreendimento do Alto Zambeze moçambicano foram analisadas pêlos peritos dentro dos prazos previstos e, ainda na primeira quinzena de Julho de 1968, o Doutor Oliveira Salazar fez reunir o Conselho de Ministros, que decidiu «fazer a adjudicação provisória» ao consórcio ZAMCO.
A entrega definitiva da obra ficava, porém, «dependente de ser dada satisfação, pela adjudicatária, a um certo número de condicionamentos de ordem legal, administrativa, técnica e financeira, a definir em negociações ulteriores, que deverão estar concluídas até ao final do corrente ano».
Aqui, merece ser referido um pormenor importante, que terá condicionado a participação portuguesa na exploração de Cabora Bassa após a entrega - pelos chamados'capitães de Abril' e seus comparsas civis - de Moçambique ao grupo guerrilheiro Frelimo.
Lê-se num documento de 1968, a que o autor teve acesso:
«O financiamento da obra será, por imposição do concurso, inteiramente assegurado pelo adjudicatário, ficando garantida a cobertura integral dos encargos de juro e amortização pelo produto da venda de energia, retirada deste a parcela consignada à exploração do aproveitamento. A amortização total do financiamento estará completada dentro do prazo de 20 anos, contados a partir da data do início da exploração do aproveitamento (2).
«A protecção das actividades nacionais interessadas no empreendimento é objecto de atenção especial».
A 7 de Setembro de 1974, Mário Soares, Almeida Santos, Melo Antunes e os outros subscritores portugueses - e, por banda da Frelimo, Samora Machel - , seriam, também por força daquela «imposição do concurso» de Cabora Bassa, obrigados a firmar esta cláusula no chamado 'Acordo de Lusaka':
«A Frente de Libertação de Moçambique declara-se disposta a aceitar a responsabilidade decorrente dos compromissos financeiros assumidos pelo Estado Português em nome de Moçambique, desde que tenham sido assumidos no efectivo interesse deste território».
Caso para dizer: - o Doutor Oliveira Salazar «não dava ponto sem nó»\ Mas será que aquela cláusula foi respeitada, em 2005, no protocolo assinado com Moçambique pelo governo socialista de José Sócrates, não obstante o estado calamitoso em que sucessivos executivos 'abrilistas' (tal como os da Primeira República) deixaram as finanças públicas portuguesas?
1 - A República da África do Sul garantiu ao Governo do Doutor Salazar que, se necessário, compraria até 2/3 da energia produzida em Cabora Bassa.
2 - Em 2001, o presidente do Conselho de Administração da HCB, Carlos Veiga Anjos, dizia ao 'Expresso': «Cahora Bassa é uma empresa muito rentável se o seu preço de energia (então a ser negociado com a África do Sul de Nelson Mandela) estiver de acordo com o que se pratica no mercado, criando-se as condições para o seu (da barragem)normal funcionamento e retomando assim o seu desígnio inicial».
E assim vemos que Cahora Bassa teria de pagar-se em 20 anos, o que não aconteceu. Foi o POVO PORTUGUÊS que, pagando cerca de 3 milhões de contos anuais, liquidou aos credores a dívida existente. E um dos principais credores era a Suécia, também apoiante da Frelimo. Um dos motivos da sua não nacionalização?
A partir de 2004 passou a Hidroeléctrica a dar lucro.
Ninguém ainda explicou concretamente como as contas foram feitas para a "reversão" de Cahora Bassa para Moçambique. E qunto é que isso custou a cada português.
Recomendo pois a leitura do livro de A. Santos Martins para se compreender como o "elefante branco", até agora existente, não foi obra de Salazar mas de outros, devidamente identificados.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Morte de Mondlane e os livros escolares
(Maputo) “Existe uma comissão para prestar esclarecimentos” sobre as circunstâncias do assassínio do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, disse ao Canal de Moçambique o Ministro da Educação, Aires Aly.
“Tenho estado a acompanhar as notícias no vosso jornal”, disse o ministro momentos antes de embarcar por um périplo pelas províncias “em missão de serviço”.
Os curricula escolares apontam como local da morte de Mondlane os escritórios da sede da Frente de Libertação de Moçambique.
(L. Nhachote) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 13.02.2006
NOTA( Em repetição): É uma tristeza que a juventude moçambicana esteja a ser deliberadamente enganada acerca da verdadeira HISTÓRIA de Moçambique. É o caso de Mueda, do Chai, de Uria Simango, etc.etc.
E acrescento agora: guias de marcha, campos de reeducação, lei da chibatata, etc.etc. Quem se lembra?
Fernando Gil
12-02-2006
Cahora Bassa - "Processo complexo" atrasa acordo
O director de Energia de Moçambique considerou ontem que o atraso na
assinatura do acordo com Portugal sobre a Hidroeléctrica de Cahora
Bassa (HCB) "reflecte a complexidade do processo", ressalvando
a "grande preocupação" dos governos na sua resolução.
Em declarações à agência Lusa, Pascoal Bacela disse que os governos
de Portugal e Moçambique têm "uma grande preocupação" em ver
rubricado um acordo final sobre a reversão da HCB para Moçambique,
inicialmente previsto para 17 de Dezembro, mais tarde adiado para 31
de Janeiro último e actualmente sem data. "Mas", assinalou, "o
processo é complexo, pois quando é traduzido em acordo torna-se um
instrumento que deve ser articulado numa base legal a ser definida
pelos dois Estados".
O ministro moçambicano de Energia, Salvador Namburete, e o ministro
das Finanças de Portugal, Fernando Teixeira, assinaram a 2 de
Novembro último um memorando de entendimento que estabelece condições
para o controlo de 85 por cento das acções pelo governo moçambicano.
O memorando preconiza que Portugal reduza sua participação na HCB
para apenas 15 por cento, contra os actuais 82, mas tornando-se
num "accionista de referência e parceiro estratégico" de Moçambique.
PÚBLICO - 11.02.2006
NOTA: Então para que foi aquela pressa em assinar o "memorando de entendimento"? Quere-me parecer que "há gato escondido com o rabo de fora".
11-02-2006
Ao Encontro dos Mambos - Autoridades tradicionais vaNdau e Estado em Moçambique
Fernando Florêncio
O Estado moçambicano, à semelhança do Estado colonial, invoca as autoridades tradicionais vaNdau como veículo de penetracão, controlo da população rural, e de legitimação do próprio Estado. Processo esse que se institucionalizou em 2000. As autoridades tradicionais participam assim activamente no processo de formação do Estado distrital, que se constitui como uma arena política local, onde interagem diferentes actores. A tese desenvolvida nesta obra pretende sublinhar que as autoridades tradicionais vaNdau desempenham uma pluralidade de papeis sociais, políticos, administrativos, jurídicos, simbólicos. É nessa multidimensionalidade de papéis que se joga a legitimidade das autoridades tradicionais, face às populações que representam.
Data de Publicação: 01-11-2005
Nº de Páginas: 298
ISBN: 972-671-160-6
10-02-2006
RSA: Entrevista com P.W. Botha
SABC baniu transmissão
(Joanesburgo) O canal televisivo estatal, SABC, retirou da sua grelha de programas uma entrevista com o antigo presidente sul-africano, P.W. Botha, que em princípio deveria ter ido para o ar por ocasião do 90° aniversário natalício do antigo chefe do regime do “apartheid”, no dia 12 de Janeiro. A entrevista foi conduzida por Cliff Saunders, antigo jornalista do mesmo canal de televisão e conotado com o então governo sul africano de minoria branca. Saunders acusou a actual direcção da SABC de ter “anulado o
contrato que havia assinado com a empresa produtora da entrevista” e de ter “privado milhões de telespectadores de uma entrevista de grande importância histórica e política.”
Um porta-voz da estação emissora estatal declarou ao “Sunday Times” de Joanesburgo que a SABC apenas pretendia adquirir direitos sobre a entrevista para uso como “material de arquivo”.
O semanário sul-africano refere que, na entrevista, Botha negou ter sofrido um derrame cerebral tal como o seu sucessor, Frederick de Klerk e diversos membros do seu governo alegaram, na altura em que foi substituído na chefia do regime segregacionista a que o termo do “apartheid” pôs fim.
Na entrevista de 60 minutos, Botha afirma que “a África do Sul teria ido por água abaixo caso um governo de maioria tivesse tomado o poder nos anos 60 ou 70.”
Para Botha, a política de “acção afirmativa seguida pelo governo do ANC é uma forma de apartheid que tem feito com que o pessoal especializado sul-africano abandone o país.”
Ainda sobre a questão do “apartheid”, Botha é citado como tendo declarado a Saunders que “os ingleses
foram os que inventaram o sistema do apartheid” e que “os Afrikaners apenas o haviam ‘herdado’ de Lord Milner e Cecil Rhodes.”
Botha disse ainda que “pessoalmente nunca havia considerado os negros como uma raça inferior ou uma espécie subhumana”, frisando que “muitos negros e mestiços colaboraram connosco (o seu regime).”
Na entrevista, o antigo presidente sul-africano comenta o papel desempenhado por individualidades influentes tais como o antigo primeiro-ministro rodesiano, Ian Smith, o Presidente Samora Machel, Jonas Savimbi (UNITA) e Henry Kissinger, secretário de estado norte-americano durante as administrações Nixon e Ford.
No tocante a Angola, Botha afirma que a decisão da África do Sul em retirar as suas forças da antiga colónia portuguesa após a declaração da independência pelo MPLA em Novembro de 1975 foi devida ao facto “do Congresso dos Estados Unidos ter proibido o Presidente Ford de cumprir com o que havia
prometido.” De acordo com Botha, o antigo secretário de estado norte-americano Kissinger viria a apresentar desculpas à África do Sul pelo facto dos Estados Unidos “não terem cumprido com a promessa feita.”
(J.M.C.) – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 08.02.2006
Alguém tem que chamar atenção a Marcelino dos Santos
Tentou censurar o antigo PR em público?
A ser verdade o que acabo de ler esta manhã, o caso Marcelino dos Santos merece reflexão séria dos órgãos de soberania deste País.
Diz o número 1 do Canal de Moçambique, novo jornal por fax produzido em Maputo que quando esta publicação estava a entrevistar o antigo Presidente da República Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos interrompeu a entrevista e disse a Chissano “não responda”.
Isso aconteceu na Praça dos Heróis, portanto numa cerimónia pública e não privada e o assunto que estava em discussão entre o jornalista e o antigo estadista moçambicano é de interesse público.
O jornalista pretendia saber de Chissano se era verdade que Mondlane fora assassinado fora dos escritórios da Frelimo na capital tanzaniana e o antigo PR estava a confirmar que sim, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique fora morto na residencial de Betty King e não nos escritórios.
Achando que isso ( a confirmação de Chissano) bradava os céus, Marcelino dos Santos em tom arrogante gritou: “não responda” e acto contínuo, ordenou um segurança a agir, de maneira a impedir a normal continuação do trabalho.
Sendo que Joaquim Chissano é antigo Presidente deste País, independentemente dos laços de camaradagem que unem os dois, este gesto é de uma gravidade tal que a ser verídico, exige a intervenção de quem de direito, para que chame à atenção do velho camarada para que páre com os seus maus exemplos que começam a enjoar as pessoas civilizadas.
Estamos recordados todos do mau exemplo que deu em plena cerimónia na casa de todos (a Ponta Vermelha), com o seu famoso gesto indigno e mau para a reconciliação nacional.
E agora, acabamos de saber que em público interrompeu o antigo Chefe de Estado de falar à comunicação social, num gesto de autêntica censura a Chissano e ao jornal.
Repito aqui o que escrevi na semana passada: os dirigentes devem dar exemplo na sua conduta pública, sobretudo porque há gerações jovens que devem aprender do seu exemplo. As querelas internas na Frelimo, sobretudo em véspera de Congresso, não têm nada que nos perturbar cá fora, nós que não pertencemos ao grande partidão.
Se abundam por lá, anarquistas e indisciplinados, arrogantes e arruaceiros, isso não tem que se reflectir em actos de Estado, sob pena de banalizá-los e ir dar razão aos que boicotam tais actos de Estado.
Por outro lado, Marcelino dos Santos não pode continuar a dar exemplo de intocabilidade, sob pena de cair por terra a famosa música do Dr. Joaquim Madeira de que “ninguém está acima da Lei”.
Ora impedir uma entrevista ao antigo PR afigura-se uma violação da Lei, nomeadamente a Lei de Imprensa. Também afigura-se uma aguda falta de educação para quem o faz. E calha mal que seja Marcelino dos Santos, velho intelectual e libertador cujos pregaminhos de nacionalista reconheço e são inquestionáveis.
PS 1 e longo: No passado sábado, acabamos de ver mais uma lição de grandeza dos nossos presidentes. O antigo PR, recebendo os hóspedes também como anfitrião de Chaimite, perfilou durante largos minutos ao sol à espera da chegada do Presidente Armando Guebuza.
Com a humildade que lhe caracteriza, Joaquim Chissano cumprimentou Guebuza como seu chefe e acompanhou, no meio de outros sequazes, o actual PR nas cerimónias que se seguiram.
Na hora do almoço, foi bonito ver os dois líderes em animada cavaqueira, saboreando o ucanho em copo típico e tradicional, durante largos minutos.
E foi a pensar nisto que desde o oitavo Congresso eu venho escrevendo em público que bem precisávamos nós de termos um antigo presidente vivo, a cruzar connosco em cerimónias públicas ou privadas e a ser nosso património.
E depois da partida de Guebuza, em grande como PR, Chissano ficou alguns minutos em bate-papo com a gente e também partiu.
E devia ser assim de cima para baixo. Os cessantes conviverem com os que estão no activo e juntos e publicamente trocarem experiências. Infelizmente, há quem jura que não quer ver o seu antecessor nem morto. E a gente pergunta onde foram eles buscar tanto ódio, uma vez que os seus chefes não aparentam isso pelo menos publicamente?
PS2 e curto: Numa das raras vezes em que a Justiça actua de forma rápida, o juiz Dário Ossumane da 3ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo interditou a produção e distribuição em Moçambique da Revista “Nova Mais” por razões que o leitor encontrará expostas e fundamentadas noutro espaço desta edição.
Para além de tudo o que na deliberação vem dito, a medida dá um claro sinal de que apesar da lentidão normal, a porca está a acordar nestas terras e os moçambicanos tendem a despertar ante a ameaça do regresso dos antigos patrões.
O sinal foi bom sobretudo para o nosso Gabinete de Informação, na pessoa do Director Ricardo Malate, que afirmou por mais de uma vez que para eles, a revista Mais e a revista Nova Mais eram coisas diferentes.
Pensar é muito difícil senhor Director substituto do Gabinfo. Não custava nada, antes de se pronunciar nestes termos, ouvir a gente da praça ligada ao assunto. Ai compreenderia certamente que o público, ficava defraudado com a “Nova Mais” que então foi autorizada e que o tribunal, em boa hora, decidiu banir, por enquanto.
Assim, não se encorajarão futuras burlas nem com “renovadas” nem com “novas ou velhas”...
Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 10.02.2006
Adelino Gwambe é herói nacional?
- “Eu não sou juiz” Armando Guebuza, PR | |||||||||||||||||||||||||||||
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CANAL DE MOÇAMBIQUE - 08.02.2006
'Cabora Bassa - A Última Epopeia' (2)
CABORA BASSA - A ÚLTIMA EPOPEIA será lançado no próximo dia 16, em Coimbra, pelas 18 horas, no histórico Café Santa Cruz.
Veja:
09-02-2006
Assassinato de Mondlane
O Livro escolar da 5ª Classe | |||||||||||||
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CANAL DE MOÇAMBIQUE - 09.02.206
NOTA: É uma tristeza que a juventude moçambicana esteja a ser deliberadamente enganada acerca da verdadeira ´HISTÓRIA de Moçambique. É o caso de Mueda, do Chai, de Uria Simango, etc.etc.
Fernando Gil
07-02-2006
Eduardo Mondlane morreu em casa de Betty King
A história “oficial” não é verdadeira
- O assassinato não teve lugar nos escritórios da Frelimo em Dar-es-Salam
- Joaquim Chissano e Janet Mondlane destapam a mentira perante Marcelino dos Santos
(Maputo) O Dr. Eduardo Chivambo Mondlane não foi assassinado no seu escritório em Dar-es-Salam. A história que há 37 anos se ensina oficialmente aos moçambicanos e faz parte dos curricula escolares é falsa.
É mentira. A verdade é outra. O primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique morreu num edifício da secretária da esposa, em Oyster Bay, na capital tanzaniana. Janet Mondlane encontrava-se na Suiça e só soube do crime, à noite. O caso registou-se às 9 horas da manhã de 3 de Fevereiro de 1969 na Residencial/Bar da americana Betty King.
Na Praça dos Heróis, nas cerimónias centrais do 37.º aniversário da morte de Mondlane, na última sexta-feira, Joaquim Chissano confirmou o facto ao repórter do “Canal de Moçambique”.
Marcelino dos Santos, outro histórico, estava presente. Ficou histérico. Muito nervoso por não ter ido a tempo de impedir que a verdade fosse finalmente confirmada a tão alto nível, tentou, chegou mesmo a ordenar a um agente da sua segurança para actuar contra o jornalista. E o jagunço actuou mesmo, a tal ponto de o diálogo com o ex-Presidente da República ter ficado por concluir.
“Reza a história oficial que Eduardo Mondlane morreu no seu escritório na sede da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), mas dados em nossa posse indicam que morreu em casa de Betty King, em Oyster Bay...”, pergunta o repórter do “Canal”, de chofre, a Joaquim Chissano.
“Sim. Confirmo que foi em casa de Betty King. Fui lá para ver o corpo”, respondeu Chissano que se encontrava ladeado pela sua esposa, por Marcelino dos Santos. A viúva, Janete Mondlane, e dois dos três filhos do casal, Edy e Nyelete Mondlane estavam atrás.
De recordar que Joaquim Chissano, quando se deu o assassinato, era o secretário particular do presidente da Frente de Libertação de Moçambique.
Ao confirmar que Mondlane foi assassinado numa residencial da americana Bettty King e não na sede da Frelimo, Chissano levantou o véu que cobriu uma mentira que durava há 37 anos, mais precisamente desde 3 de Fevereiro de 1969, cerca das 9 horas da manhã, quando Mondlane tombou.
Está por ser explicado aos moçambicanos e ao mundo porque razão a Frelimo e os sucessivos governos de Moçambique andaram, até hoje, a propalar uma falsidade crassa.
A versão “oficial” da história de Moçambique, escrita pelos “historiadores” que se têm vindo a julgar a si próprios indesmentíveis e a acusar os outros que a questionam de charlatães tem sido ensinada nas escolas a partir de livros oficiais aprovados pelo Ministério de Educação e Cultura de Moçambique.
Mondlane foi de facto assassinado por um livro-bomba, mas não no seu escritório. Antes, sim, na casa/restaurante de Betty King, que era secretária da esposa da vítima, Janet Mondlane, no Instituto Moçambicano, em Dal-es-Salam. O local onde pereceu era predilecto do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique nas horas de lazer.
Na fatídica segunda-feira em que se deu o atentado, a residencial que normalmente era muito movimentada, sobretudo devido ao restaurante, encontrava-se deserta. Nem Betty King, nem a maioria dos empregados, estavam lá. Apenas estava o cozinheiro que serviu um chá a Mondlane.
A casa residencial/bar tinha 12 empregados. Poucas horas depois do livro bomba explodir, Marcelino dos Santos, sua esposa Pamela dos Santos, Joaquim Chissano e Betty King, foram detidos pela Polícia tanzaniana para averiguações.
À margem das cerimónias do 37.º ano da morte de Mondlane, na Praça dos Heróis, onde anualmente a nata da Frelimo cumpre o seu ritual de deposição da coroa de flores aos seus heróis, o antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, apesar de ter confirmado a versão que o “Canal de Moçambique” lhe colocou, escusou-se a clarificar as razões da sua alegada detenção.
Marcelino dos Santos irritado
Marcelino dos Santos ficou nervosíssimo quando a pergunta do Canal foi dirigida a Chissano. “Não responde!” disse, dos Santos a Joaquim Chissano, ao mesmo tempo que, virado para o repórter, dizia repetidamente: “O senhor não brinca comigo!”. Depois fez sinal a um latagão e disse: “Actua!”. E ele pôs mesmo termo ao interessante diálogo com Joaquim Chissano que, apesar do incidente, acabou deixando, finalmente, a verdade abafar a mentira que perdurava há 37 anos.
Janet Mondlane
A viúva Janet, que se encontrava acompanhada de dois dos três filhos do casal, Eduardo Mondlane Jr. e Nyelete Mondlane, diz que soube da morte do marido, só à noite, no dia do crime.
Encontrava-se na Suiça.
“Eu estava em Genebra quando recebi a informação” contou ela ao “Canal de Moçambique”.
Janet disse ainda que chegou a Dar-Es-Salaam dois dias depois. Segundo ela circulavam muitos rumores sobre o assassinato do seu marido.
“A minha preocupação naqueles dias eram os meus filhos”.
Janet também confirma que Eduardo Mondlane não morreu no escritório da Frelimo como há 37 anos se propala. “Sim, ele morreu em casa da Betty King. Era lá onde ele ia passar os seus momentos de lazer”.
A casa de Eduardo Mondlane estava localizada em “Msasani Bay” (Baía Msassani) e não era muito distante da Residencial de Betty King, em Oyster Bay (Baía das Ostras).
A versão “oficial”, segundo a qual Mondlane encontrou a morte nos escritórios da Frelimo cai por terra, e encontra aconchego no pantanoso charco da história recente do país. Resta-nos aguardar o que irá fazer a partir de agora o Ministério da Educação para que a falsa história não continue a ser ensinada às crianças de Moçambique.(Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 07.02.2006
Veja
20 anos depois - África Sul quer divulgar este ano investigação à morte de Machel
O governo sul-africano vai tentar divulgar este ano as conclusões da investigação à morte de Samora Machel, o primeiro presidente moçambicano, ocorrida num acidente aéreo, em 1986, assegurou o ministro da Segurança sul-africano, Charles Nqakula.
A garantia foi dada no fim-de-semana, em Maputo, durante a cerimónia que marcou o 25º aniversário do assassínio de 12 membros do Congresso Nacional Africano (ANC), na cidade da Matola, durante um ataque realizado da força aérea sul-africana do regime do "apartheid". "O presidente sul-africano, Thabo Mbeki prometeu tentar resolver o assunto (sobre a morte de Samora Machel) durante o presente ano", disse Nqakula, que acrescentou ser necessário "descobrir quem é que cometeu este vil crime". "Esta é a dívida que temos com o povo moçambicano. É uma dívida que vamos pagar", sublinhou o governante.
Na sexta-feira, o presidente sul-africano Thabo Mbeki, fez inesperadas referências ao desastre aéreo de Mbuzini que matou Machel, durante o discurso que proferiu sobre o estado da nação, em Pretória. Na ocasião, Mbeki referiu-se à "misteriosa queda do avião" de Samora Machel, na zona de fronteira entre os dois países e reiterou que o caso "continua a exigir uma explicação satisfatória".
Machel morreu quando o avião em que seguia, transportando outras 33 pessoas da comitiva presidencial, embateu contra os montes Libombos, na região de Mbuzini, na África do Sul, no regresso de uma reunião na Zâmbia.
As causas do desastre foram atribuídas ao regime do "apartheid", mas resultados preliminares de um inquérito efectuado, à margem, por peritos russos, que cederam a aeronave ao governo moçambicano, indicam o envolvimento de moçambicanos na morte de Machel.
Graça Machel, viúva do ex-presidente moçambicano, também acusou, há anos, que "do lado de Moçambique, alguém facilitou o processo" que conduziu ao desastre do avião "Tupolev"-134A. Após a tomada de posse, no ano passado, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, que chefiou a comissão de inquérito da parte moçambicana, assegurou a publicação dos resultados, mas não avançou qualquer data.
LUSA - 07.02.2006
06-02-2006
Recama lança “História de Moçambique”
Um resumo de diferentes obras
Um manual intitulado “História de Moçambique, de África Universal”, da autoria de Dionísio de Recama, licenciado em Administração pública pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), foi recentemente lançado em Maputo.
“História de Moçambique, de África e Universal” consiste em resumos de diferentes obras historiográficas, abrangendo temas abordados ao longo das classes com a disciplina de história nos currículos educacionais moçambicanos até 12ª classe. A obra é editada pela Plural Editores.
ZAMBEZE - 05.02.2006
05-02-2006
No bicentenário da morte de Gonzaga
“O autor de Marília de Dirceu escreveu a coleção de poemas líricos mais popular da língua portuguesa, com um número de edições só superado por Os Lusíadas, de Camões”
ADELTO GONÇALVES - Especial para o Jornal Opção
TOMÁS GONZAGA: EM BUSCA DA MUSA CLIO, de Danyel Guerra. Porto, Armazém Literário, com apoio da Legião da Boa Vontade, de Portugal, 189 págs., 2004. E-mail: danyelguerra@hotmail.com |
Daqui a quatro anos, entre 25 de janeiro e 1º de fevereiro, será assinalada a passagem do bicentenário da morte do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), nascido em Miragaia, no Porto, e falecido na Ilha de Moçambique, na costa oriental da África. Embora Gonzaga tenha sido um dos maiores poetas da língua portuguesa — capaz de se rivalizar em vida com Bocage (1765-1805) em citações na Gazeta de Lisboa, embora estivesse bem longe do Reino —, a levar-se em conta algumas experiências recentes, não se pode esperar grandes comemorações para a data.
Faz-se este aviso com tanto tempo de antecedência com a esperança de que as forças vivas da Invicta e, quem sabe, do Estado de Minas Gerais, onde fica a cidade de Ouro Preto, a antiga Vila Rica, da qual Gonzaga foi ouvidor antes de se envolver na conjuração mineira de 1789, deixem de lado a indiferença que tem marcado o seu relacionamento com a figura do autor de Marília de Dirceu, a coleção de poemas líricos mais popular da língua portuguesa, com um número de edições só superado por Os Lusíadas, de Camões, como assinalou o poeta Manuel Bandeira (1886-1968).
Só um fato dessa envergadura, estivesse em causa um poeta de língua inglesa ou espanhola, já seria suficientemente forte para que fossem realizadas festividades da maior repercussão em ambos os lados do Atlântico. Infelizmente...
Seja como for, da direção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, por ocasião do Colóquio Internacional Leituras de Bocage nos séculos XVIII-XXI, ao final de novembro, que marcou o bicentenário da morte do poeta, este historiador literário trouxe para o Brasil a promessa da realização de um congresso similar em 2010. Conhecendo-se a garra das docentes da faculdade, sob a direção da professora Maria de Fátima Marinho, pode-se confiar que pelo menos esse colóquio haverá de ser realizado.
Também se pode esperar da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto, que, por iniciativa do historiador Luiz Carlos Villalta, venha a dar a sua contribuição, promovendo colóquio e outros eventos em homenagem ao poeta.
Gonzaga no supermercado — No que respeita a este articulista, já dei a minha contribuição com o livro Gonzaga, um Poeta do Iluminismo, biografia do vate, a primeira desde que o professor M. Rodrigues Lapa publicou um ensaio biográfico há mais de meio de século. E que assinalou o meu doutoramento em letras na área de Literatura Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1997, sob a orientação do professor Massaud Moisés e com o apoio do professor Fernando Cristóvão, da Universidade de Lisboa.
Lançado em 1999, pela Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, pelo empenho do poeta Alberto da Costa e Silva, ex-embaixador do Brasil em Portugal e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, autor do prefácio, não se pode dizer que o livro tenha constituído um êxito de livrarias, embora tenha sido largamente citado em ensaios acadêmicos e resenhado em periódicos do Brasil e Portugal.
Nos últimos dias, talvez porque estivesse ocupando espaço em seu depósito, a Nova Fronteira vendeu o resto da primeira edição, com outros tantos livros encalhados, para a rede de supermercados Extra, do Grupo Pão de Açúcar. Assim, os exemplares, que inicialmente custavam 44 reais cada, estão sendo liquidados nestes primeiros dias de 2006 pela bagatela de 9,90 reais, em meio a beterrabas, chuchus, bananas, cocas-colas e bugigangas chinesas. Como as pilhas de livros decrescem a cada dia, conclui-se que a pouca cultura do povo brasileiro está diretamente ligada à falta de dinheiro no bolso.
Diante disso, parece claro que a Nova Fronteira não deve estar muito animada a discutir uma segunda edição. Mas, como detém os direitos exclusivos para a língua portuguesa, se alguma editora portuguesa quiser aventurar-se a uma edição terá de chegar a um acordo com a sua congênere carioca, o que, convenhamos, é sempre um obstáculo a mais.
Pouco ânimo — Aparentemente, porém, nem mesmo a proximidade do bicentenário da morte do poeta parece animar as editoras portuenses a colocar no mercado a biografia de um ilustre filho da cidade: pelo menos a Campo das Letras e a Edições Caixotim, ambas do Porto, já declinaram gentilmente o oferecimento, tendo em conta as atuais circunstâncias do mercado livreiro em Portugal, sobretudo nas áreas de ensaísmo, biografia literária etc. Pelo jeito, o bicentenário da morte de Gonzaga passará sem que sua nova biografia ganhe edição portuguesa.
Aliás, antes da assinatura do contrato com a Nova Fronteira, o original havia sido aprovado para publicação pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, de Lisboa. Depois, com o interesse da Nova Fronteira, houve até a possibilidade de uma edição conjunta, mas a oferta que partiu do Rio de Janeiro não animou a IN-CM, que desistiu de vez.
Em razão disso, em Portugal, quem quiser conhecer o livro terá de consultá-lo na Biblioteca Pública Municipal do Porto, na Biblioteca Nacional de Lisboa ou na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra — para onde enviei, à época, exemplares de minha cota de autor. No Porto, o interessado pode também passar pela Livraria Nova Fronteira, na Galeria Brasília, na Rotunda da Boavista, que lá, até dois meses atrás, havia alguns raros exemplares em exposição.
Em busca da Musa Clio — A outra alternativa, mais fácil porque em edição portuguesa, é adquirir o livro Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, de Danyel Guerra, em que Gonzaga, um Poeta do Iluminismo está fartamente citado e elogiado. Trata-se de um belíssimo ensaio de um jornalista brasileiro, nascido em Bangu, no Rio de Janeiro, radicado no Porto e licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
O principal objetivo desse trabalho de divulgação histórica, segundo seu autor, é tornar conhecido (e reconhecido) o homem oculto sob o criptônimo Dirceu, antes de mais, na sua cidade natal. Com isso, por meio de Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, o autor procura iluminar a história pessoal e evocar a memória dessa figura tutelar da poesia neoclássica luso-brasileira, cujo estro antecipou o Pré-Romantismo.
Vivendo há mais de 20 anos no Porto, Guerra surpreendeu-se com o desconhecimento que o portuense dedica a seu conterrâneo, cuja memória está preservada numa ruela de Miragaia e numa placa afixada no prédio onde nasceu. “Muitos portuenses julgam-no nascido em Coimbra ou em Lisboa. (...) Alguns arriscam o Brasil como país natal. Hipótese que, ainda hoje, é aventada pela maioria dos brasileiros”, lamenta-se Guerra. Não é só. Como lembra Guerra, um autor brasileiro, Júlio José Chiavenato, no livro Inconfidência Mineira: As Várias Faces, publicado em 2000, teve a desfaçatez de admitir que Gonzaga nasceu em Moçambique.
Não é o caso de repetir aqui dados biográficos do poeta, mas apenas lembrar que, para Guerra, Gonzaga, um Poeta do Iluminismo é um sólido contributo para o que designa de “processo de dessacralização dos inconfidentes”, que, de certa maneira, foi iniciado pelo historiador inglês radicado nos Estados Unidos Kenneth Maxwell, autor de A Devassa da Devassa (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977).
Já que elogio em boca própria soa como vitupério, passamos ao leitor a incumbência de tirar as suas próprias conclusões, inteirando-se cada vez mais da história de vida e da obra do poeta que sonhou transformar-se no paladino daquela que teria sido a primeira república da América do Sul.
Sem assumir-se como uma ação investigativa, Tomás Gonzaga: Em Busca da Musa Clio, segundo seu autor, constitui “um ensaio historizante, a vocação mágica de agir como um fósforo que, repentinamente aceso, “com’on baby and light my fire” está fadado para deflagrar um fogo intenso, duradouro e purificador”. Que ajude a despertar instituições públicas e privadas, editoras, universidades e, principalmente, estudantes para a importância da obra de Gonzaga é também o que esperamos. 2010 logo chega.
ADELTO GONÇALVES é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br
-Saiu hoje no Jornal Opção, de Goiânia (wwww.jornalopcao.com.br)
Os pais da mascote de guerra estão vivos
Com a ajuda dos fuzileiros e do CM, moçambicano concretiza sonho de 43 anos
João Sabadino Portugal estremeceu. A notícia caiu como as bombas que ouviu há muitos anos em África, de onde foi trazido ainda criança por soldados portugueses. Tinha mais esperança em ganhar o Euromilhões do que em ouvir o que o amigo João Serra tinha para lhe dizer: "Encontraram os teus pais!" Sabadino ficou incrédulo. "Não, não pode ser, isso é impossível! Disseram que eu era órfão", diz ainda espantado, antes de arrancar a carta das mãos de João Serra. Tinha que ver com os próprios olhos para acreditar.
Não é para menos. Até ontem à noite João Serra, um antigo fuzileiro de guerra, anunciar a boa nova, João Sabadino Portugal julgava que os seus pais estavam mortos. Agora, aos 43 anos, a ex-mascote que os militares portugueses trouxeram menino de África, recebeu a novidade que sempre sonhou ouvir. "É o dia mais lindo da minha vida", repetiu vezes em conta, invadido pela emoção.
A notícia chegou directamente de Moçambique, de onde João Sabadino é natural. Veio em forma de resposta a um apelo de João Serra ao Governo de Cabo Delgado e de uma reportagem da revistaDomingo do CM, na procura de algum familiar de Sabadino. Ontem, chegou a resposta. E logo que a recebeu, o antigo fuzileiro preparou uma surpresa ao amigo. Quando se encontraram, leu-lhe a carta em alto e bom som, fazendo nascer lágrimas contidas nos seus olhos. "Isto é melhor do que ganhar o Euromilhões", desabafou João Sabadino, nervoso, surpreendido, feliz.
Agora, o seu maior desejo passa por poder legalizar-se e partir rumo a Moçambique ao encontro dos pais. Enquanto o sonho não se concretiza, olha embevecido para as fotografias que viajaram lá de longe, juntamente com a carta e brinca "a minha velha, é mesmo velha", diz, já mais descontraído. "Este é mesmo o meu pai, tens a certeza?", questiona, ainda desconfiado.
Com esta notícia, João Sabadino descobriu também o seu verdadeiro nome. Coincidentemente o João mantém-se, mas em vez de Sabadino Portugal - como foi baptizado pêlos fuzileiros portugueses - é Lourenço Gonçalves Muicumba. E ao contrário do que pensava, também não nasceu a 24 de Junho de 1962, mas a 12 de Julho desse ano.
MENINO SEM IDENTIDADE
” A história de João Sabadino Portugal foi divulgada pela revista Domingo a 17 de Setembro de 2005. Na altura, esta antiga mascote do Destacamento de Fuzileiros Especiais portugueses em Moçambique lutava por conseguir a sua identidade. Capturado em pleno mato pelas tropas portuguesas, quando ainda era uma criança, foi adoptado pelos militares como mascote e, mais tarde, trazido para Portugal. Anos depois, já adulto, descobriu que estava ilegal devido a uma questão burocrática. Apesar dos esforços, ainda hoje a situação não está resolvida. »
JANETE FRAZÃO CORREIO DA MANHÃ – 04.02.2006
Recorde em:
Inconfidentes e traficantes negreiros
Adelto Gonçalves
De um tempo a esta parte, historiadores brasileiros e portugueses estão cada vez mais integrados no seu ofício com uma troca constante de experiências e visões que só têm contribuído para o crescimento dos estudos sobre a história comum dos países de língua portuguesa. Um exemplo disso é o livro Modos de Governar: idéias e práticas políticas no Império português — séculos XVI a XIX (São Paulo, Alameda Casa Editorial, 2005), organizado pelas professoras Maria Fernanda Bicalho e Vera Lúcia Amaral Ferlini.
A obra é produto dessa troca de experiências que vem desde Julho de 2001, quando foi organizado o grupo de trabalho “Modos de Governar: política, negócios e representações do Império Português ao Império do Brasil”, surgido no âmbito do XXI Simpósio Nacional de História da Associação Nacional de Professores Universitários de História (Anpuh), realizado na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, com a presença de historiadores brasileiros e portugueses. ...
Leia o texto completo em:
04-02-2006
Pachinuapa lança livro sobre Machel
Antigo combatente
Um livro sobre Samora Machel, Primeiro Presidente da República de Moçambique, é o tema da obra de estreia de Raimundo Pachinuapa.
O livro tem como título "Do Rovuma ao Maputo, a Marcha Triunfal de Samora" e é da autoria do antigo combatente e tenente general na reserva, Raimundo Pachinuapa.
ZAMBEZE - 01.02.2006
Dia dos heróis marcado pela polémica sobre atribuição do título
Moçambique assinala hoje o dia dos seus heróis, data em foi assassinado o primeiro presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, enquanto se intensifica a discussão sobre o critério de atribuição do título de herói nacional.
Passados 37 anos sobre a morte de Mondlane, atribuída à PIDE, a polícia política da ditadura portuguesa, o país que, entretanto se tornou independente e passou pelas experiências do regime de partido único, da guerra civil e do multipartidarismo, continua dividido sobre quem deve ter o estatuto de herói nacional.
Até agora, no panteão do regime apenas estão destacados dirigentes da FRELIMO, como os seus primeiros presidentes, Mondlane e Samora Machel, ou 'compagnons de route' do partido que lançou a luta anti-colonial contra Portugal, como o poeta José Craveirinha e o maestro Justino Chemane.
Da RENAMO, o principal partido da oposição que reclama que a guerra civil de 16 anos que lançou em 1976 resultou na actual situação de liberdade e democracia, não há nenhum representante no monumento aos heróis na capital moçambicana.
Recentemente, o governo criou uma comissão, presidida pelo ministro da Educação, Aires Aly, para apurar os critérios de atribuição do estatuto de herói nacional, que é da competência do Presidente da República.
Mas várias vozes criticam a partidarização dessa comissão, apontando o facto de não integrar nenhum representante dos partidos da oposição, nomeadamente da RENAMO.
O principal partido da oposição considerou errada a criação pelo governo da comissão, defendendo que essa responsabilidade deveria caber ao parlamento.
"A Assembleia da República é um órgão que representa o povo, por isso que deve caber a esta instituição estabelecer os critérios para o debate. Não se deve enveredar por um pseudo-debate público à semelhança do que, alegadamente, aconteceu com os símbolos nacionais", disse o porta-voz da RENAMO, referindo-se à discussão, no
último ano, sobre a bandeira e emblema nacionais, que acabou por deixar tudo na mesma.
"O título de herói não pode ser atribuído somente àqueles que pegaram em armas para lutar contra o colonialismo português, mas aos que lutaram e sofreram pela democracia", acrescentou Fernando Mazanga.
Há muito que a RENAMO pretende, sem êxito, que entre os "novos" heróis, esteja André Matsagaíssa, fundador do partido e morto em combate em 1979.
Mas o porta-voz do principal partido da oposição moçambicana acrescentou agora novos candidatos ao estatuto de "legítimos heróis", como o jornalista Carlos Cardoso, assassinado em 2000, e a ex-campeã mundial do atletismo Lurdes Mutola.
Estes terão mais hipóteses de serem consagrados do que nomes geralmente associados à oposição moçambicana, como Joana Simeão e Uria Simango que a FRELIMO continua a considerar traidores.
Intervindo no debate, que se arrasta desde meados de 2005, o reverendo Dinis Matsolo, do Conselho Cristão de Moçambique e o líder muçulmano de Maputo, xeque Abdul Carimo, defenderam que o estatuto de herói "tem de estar acima dos interesses partidários".
"Um herói é uma pessoa que contribuiu de forma significativa e singular para o desenvolvimento do país ou a sua acção é notória e reconhecida como tendo contribuído para o bem de todos", frisou Matsolo.
"O perfil e a dimensão do herói nacional não devem ser politizados", porque "os heróis não são somente aqueles que combateram de armas na mão", juntou Abdul Carimo.
Por seu lado, o escritor Mia Couto descreveu a discussão em curso como "uma tentativa de apropriação por parte de forças políticas" e defendeu "um debate aberto" sobre a questão.
O ministro da Educação e Cultura de Moçambique, que preside à comissão encarregue de receber propostas, reconheceu a pertinência de uma "discussão aberta sobre a matéria também a nível das localidades, distritos ao invés de se centrar nas cidades".
"Seria proveitoso também ouvir o parecer das instituições, tais como escolas, locais de trabalho, corporações da polícia e demais organizações", disse Aires Aly.
Enquanto não se chega a uma conclusão definitiva, permanece apenas a certeza de que as comemorações, hoje, do Dia dos Heróis, não vão contar com a presença do presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, à semelhança do que sempre aconteceu desde a assinatura dos Acordos de Paz, em 1992.
Dhlakama acusa a FRELIMO de usar a data de hoje "para tirar proveito", enquanto o partido no poder responde que a RENAMO "não tem heróis" para apresentar.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 03.02.2006
03-02-2006
'Cabora Bassa - A Última Epopeia'
Tal como Sofala - onde os Portugueses instalaram a sua primeira Capitania de Moçambique (em 1505) - Cabora Bassa mereceu novo livro de A. Santos Martins neste início de 2006, servindo-lhe de pretexto o facto de o Governo de Lisboa ter decidido entregar aquele majestoso empreendimento hidroeléctrico (um dos maiores do mundo) ao Governo de Maputo.
Para o autor, Sofala foi o 'Alfa' da presença portuguesa em Moçambique; e Cabora Bassa o 'Omega', donde lhe chamar«a última epopeia, o derradeiro esforço entre os actos mais sublimes dos Portugueses no meio milénio que passou desde as Descobertas marítimas que deram 'novos mundos ao mundo' até à chamada 'Revolução dos Cravos' (1974) e à política seguida pelos seus responsáveis, civis e militares, de entrega das Províncias Ultramarinas a movimentos ditos 'de libertação'».
Com o livro 'Cabora Bassa - a última epopeia' - que será lançado em Coimbra no decorrer do mês de Fevereiro -, o autor pretende homenagear todos aqueles que resistiram em Moçambique aos chamados 'ventos da História'. Mas com ele também se dirige às novas gerações de portugueses e moçambicanos, tratando do que foi o grandioso Plano do Zambeze, esse 'pinhal de naus por fazer' com que gente lusa, nas últimas décadas da sua presença naquele novo país do Índico, tentou fazer nascer «uma nova Civilização» que libertasse os povos da vasta região - e outras regiões da África Austral - do subdesenvolvimento que continua a fustigar, da forma mais atroz, os povos do Continente Negro.
Para que o Plano do Zambeze chegasse onde chegou e Cabora Bassa nascesse, milhares de portugueses e moçambicanos deram o melhor do seu esforço e muitas vidas se perderam, sobretudo depois de a Frelimo para ali dirigir o seu esforço de guerrilha, com o objectivo de impedir - o que não conseguiu! - a monumental barragem hidroeléctrica e a formação da sua imensa albufeira.
'Cabora Bassa - a última epopeia' é fruto do trabalho de um jornalista instalado em permanência naquela região moçambicana, durante alguns anos, precisamente para acompanhar o Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze. Mas há capítulos sobre a presença portuguesa ao longo de quase meio milénio, onde se revela um empenhado estudioso da História de Moçambique.
NOTA: Pedidos à Feira Permanente do Livro, com sede no Arco de Almedina, 33-35, 3000 COIMBRA (telefone 351.239 838 192)
'Sofala - O primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental Portuguesa'
Mais um livro do jornalista e historiador conimbricense A. Santos Martins, desta vez um livro (lançado em finais de Novembro de 2005) contra o esquecimento a que foi votado, em Portugal, o Quinto Centenário (1505-2005) do estabelecimento da primeira Capitania portuguesa em Moçambique (a feitoria fortificada de Sofala) e do primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental. E sobre esse esquecimento o autor faz uma 'provocação' à hierarquia da Igreja, ao Poder Político e às autoridades académicas do seu país.
Porque foi, pura e simplesmente, ignorada a efeméride, o autor - que viveu 13 anos em Moçambique - passa a livro todo o seu trabalho de investigação histórica de muitos anos sobre a instalação dos portugueses em Sofala, a progressão de agentes do Estado, aventureiros, comerciantes e missionários para o Alto Zambeze moçambicano, o que se passou com o Islão - que «estava lá» - e tanto mais que ocorreu, ao longo de quase cinco séculos, desde aquela primeira Feitoria até a região do interior africano onde ficava a Corte do Monomotapa.
Breve biografia do Autor
Armando dos Santos Martins (A. Santos Martins) nasceu em Coimbra de família com fortes raízes nos contrafortes da Serra da Estrela e no Baixo Mondego. Depois dos seus estudos como Aluno Salesiano, ingressou na Força Aérea Portuguesa e partiu para Moçambique, com 19 anos de idade, integrado nas forças expedicionárias que foram combater a subversão armada naquela antiga Província Ultramarina. Ali nasceram três dos seus quatro filhos. Já como profissional da Imprensa (e Rádio), foi Correspondente de Guerra nos distritos flagelados pelo conflito. Deslocado em permanência, pelo 'Notícias' de Lourenço Marques, para a cidade de Tete, exerceu aqui também as funções de director do Emissor Regional do Rádio Clube de Moçambique. Acompanhou como jornalista os últimos anos do Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze e a construção da barragem hidroeléctrica de Cabora Bassa. Regressado a Portugal em 1976, nesse ano trabalhou como redactor no 'Diário de Coimbra'. Ingressou nos quadros de 'O Comércio do Porto' em 1977, onde permaneceu até 1999, com funções de chefia e direcção. Entretanto, fundou e dirigiu na sua cidade natal o semanário 'Jornal Vale do Mondego'. Estudioso da Epopeia lusa, tem numerosos trabalhos publicados sobre a Expansão Marítima e a presença dos Portugueses no Índico. Em 2005 foram editados os seus livros 'História da Casa do Minho' (2º. volume), 'Santa Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado' (já traduzido em Espanhol), 'Os 5 Papas que peregrinaram em Portugal', 'João Paulo II em Coimbra' e 'Sofala - o primeiro templo da Igreja Católica na África Oriental Portuguesa'.
NOTA:
Pedidos à Feira Permanente do Livro, com sede no Arco de Almedina, 33-35, 3000 COIMBRA (telefone 351.239 838 192)
02-02-2006
PR “caça” voto nas cerimónias do Gwaza Muthini
PRESENTE, HOJE, EM MARRACUENE
Supostamente fazendo jus à teoria de Maquiavel de que os fins justificam os meios, o Presidente da República, Armando Guebuza, vai presenciar hoje, no distrito de Marracuene, Maputo, as cerimónias tradicionais de Gwaza Muthini, evento celebrado todos os anos a dois de Fevereiro, e que marca a revolta do povo moçambicano contra o jugo colonial português, ocorrido em mil oitocentos noventa e cinco.
A participação de Guebuza naquele evento (é a primeira vez como PR) é vista, por alguns renomados analistas políticos da praça, como uma “maneira antecipada de persuadir o eleitorado”, dado que nos anos que se avizinham haverá eleições das assembleias provinciais,
autárquicas e legislativas e presidenciais, sendo estas últimas as que vão fechar o ciclo em dois mil e nove. Sendo assim, este consitui o “momento oportuno para o partido pedir o voto”.
Aliás, durante a Quinta Sessão do Comité Central da FRELIMO, realizada a dezoito de Dezembro do ano findo, Armando Guebuza, presidente deste partido, teria dado aos filiados instruções claras sobre o que deviam fazer para se alcançar a vitória no ciclo eleitoral retrocitado.
Todavia, a presença de Guebuza no evento de hoje, além de outras tantas que se sucederão, é vista como “estratégica”, pois resume-se, única e exclusivamente, à conquista do eleitorado para que, no momento crucial, dedique o seu voto à FRELIMO.
Na mesma senda, explicam as nossas fontes, está o maior partido da oposição no País: a RENAMO, cujo líder visitou semana pretérita a província de Inhambane para se “inteirar” do quotidiano dos locais, bem como para “fiscalizar” as actividades desenvolvidas pelo novel executivo, desde a tomada de posse no ano passado.
Contudo, devassámos a batalha de Marracuene, ou Gwaza Muthini. Ela deu-se dez anos depois da Conferência de Berlim, a qual determinou a “ocupação” efectiva de África pelas potências colonizadoras. Os portugueses, comandados por Caldas Xavier, envolveram-se numa sangrenta
batalha com os guerreiros de Nwamatibyana.
De recordar que, anualmente, as celebrações do Gwaza Muthini são presididas por anciãos, e estes evocam os espíritos através do “kupahla”, e, para além de altos membros do Governo, têm acorrido ao evento numerosos populares vindos de diversos cantos do País.
Laurindos Macuácua – DIÁRIO DE NOTÍCIAS(Maputo) – 02.02.2006
Renamo distancia-se do dia 3 de Fevereiro
Oficialmente a Renamo não vai participar amanhã nas cerimónias de 3 de Fevereiro, dia dedicado aos heróis Moçambicanos. A data segundo Fernando Mazanga, porta-voz da organização peca por ser discriminatória, ou seja, por considerar a uns de heróis e outros não quando tanto uns como outros deram a si a bem deste país.
"Temos heróis que lutaram pela libertação Nacional. Mas também temos heróis que lutaram pela democracia. Temos heróis na cultura, na economia, no desporto e noutras esferas de actividades que não são consideradas como tal.
Logo, não faz sentido para a Renamo participar num acto discriminatório quanto este", disse Fernando Mazanga.
Instado de dar exemplos sobre quem são essas figuras, cujos feitos não são reconhecidos a fonte deu exemplo de figuras como o jornalista Carlos Cardoso, o economista Siba Siba Macuácua e a desportista Lurdes Mutola que tanto fizeram por este país mas cuja heroicidade não lhes é reconhecida.
Comentando tal ausência Edson Macuácua, Secretário do Comité central para a Mobilização e Propaganda do Partido Frelimo, disse que a auto-exclusão da Renamo só prejudica a ela própria, pois se marginaliza cada vez mais da vida política Nacional.
O secretário da Frelimo elucidou ainda que qualquer povo, em qualquer parte do mundo, tem a sua história, os seus valores, os seus heróis e suas referências sobre os quais se inspira toda sociedade.
NOTÍCIAS - 02.02.2006
01-02-2006
COMBATE de MARRACUENE
crónica ilustrada em texto de João Craveirinha
«…Fambane Pambene va-Landííí – Nhimpííí…»Tradução: - «para a frente gente da terra – guerra – ataque» (Em Guaza Muthine, voz de comando do jovem príncipe Ronga, nuã-Matidjuana caZixaxa iMpfumo, chefe da revolta contra as forças coloniais Portuguesas saídas da cidade de Lourenço Marques (caMpfumo), na Terra dos Rongas em Moçambique, actual Província de Maputo).
As forças coloniais (militares portugueses e praças “indígenas” de Angola e da ilha de Moçambique), entrincheiradas num “Quadrado militar clássico”, conseguiram rechaçar os assaltos dos revoltosos Rongas que por duas vezes romperam o “Quadrado” com...
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Nota: Texto sem fotos
JEZEBELA:
MOÇAMBIQUE Feitiços, cobras e lagartos
31-01-2006
Reconhecido contributo negro para a nação francesa
10 de Maio «Dia em Memória da Escravatura»
O Presidente Jacques Chirac anunciou ontem que de agora em diante, todos os anos, a França invocará a «memória da escravatura, longamente abafada, honrará as vítimas deste comércio ignóbil» e celebrará a sua abolição a 10 de Maio. Em 2001, nesta data, a França tornou-se o primeiro pais do mundo a considerar a escravatura como um «crime contra a humanidade».
Numa mensagem à nação, Chirac convidou os franceses a «olhar para a história do seu país tal como ela aconteceu» e a «assumir tanto as páginas sombrias como as páginas gloriosas». Apelou, ainda, para que o período da escravatura ocupe um «justo lugar» nos programas de ensino público.
O Presidente francês anunciou, também, a criação de um Centro Nacional de Investigação sobre a Escravatura e o Comércio negreiro e prometeu apadrinhar uma iniciativa europeia e internacional na luta contra o trabalho forçado, forma moderna de escravatura.
Recorde-se que foi o próprio Chirac quem, por iniciativa pessoal, conseguiu eliminar um artigo de uma lei de 2005 que aconselhava os docentes a destacar «o papel positivo da presença francesa no Ultramar, nomeadamente na África do Norte».
Passados alguns meses desde a «crise des banlieues» e dos incêndios em automóveis e prédios degradados - que puseram em evidência os problemas de integração que enfrentam os franceses descendentes de imigrantes árabes e africanos - o presidente francês propõe agora o reconhecimento do «o contributo cultural considerável dos escravos e seus descendentes» para a formação da nação francesa.
Um dos representantes do CRAN foi recebido ontem no palácio presidencial. Segundo dados demográficos há cerca de cinco milhões de negros em França mas esta minoria é ainda menos representada politicamente que os magrebinos apesar de ser numericamente equivalente.
Chirac condenou o racismo, «crime do coração e da mente», que «suja e destrói». Uma tomada de posição importante face a subida do racismo e da xenofobia em França e na Europa. Segundo uma sondagem recente um francês em cada três se declara racista e seis em cada dez considera excessivo o número de estrangeiros.
AFRICAEXPRESSO - 31.01.2006
EFEMÉRIDES no Espaço GRAFITTI Multicultural (Portugal)
Sexta-feira, 03.02.2006, Início 18:30hs – Olival de Basto
INTERVENÇÃO MUSICAL E GASTRONOMIA AFRICANA
(organização Mick Trovoada – mick_trovoada@hotmail.com)
Rua ilha da Madeira nº 16 – Olival de Basto 2675 – Portugal
Telefone: 219371948 (Transportes: Metro Lisboa - Sr. Roubado – linha amarela Odivelas; próximo Teatro Malaposta, a descer – autocarro 7 – Mapas -http://www.metrolisboa.pt/sr_ai.htm
MASSACRE de BATEPÁ - São TOMÉ (e Príncipe), - Efeméride de 3 de Fevereiro de 1953
Data em que proprietários coloniais portugueses reprimiram violentamente uma manifestação da população africana contra as condições de vida na colónia africana de Portugal. Na Enciclopédia Wikipedia consta em mais de 1.000 (Mil) mortos as vítimas da violência nesta data.
(Alocução – Prof. Dra. Inocência Mata)
Dia dos HERÓIS MOÇAMBICANOS 3 Fevereiro 2006.
Data Comemorativa do Sacrifício dos Moçambicanos pela Independência de Moçambique.Efeméride do assassinato a 03.02.1969 em Tanzânia, do Doutor EDUARDO MONDLANE, Alto Funcionário da ONU e Professor Universitário.
(Alocução - João Craveirinha)
30-01-2006
O GENERAL CATEDRÁTICO A METER ÁGUA...
Na memória do General Catedrático Sérgio Vieira, parece que estou nos primeiros lugares. É logo no primeiro bosquejo dos seus “Testemunhos da Memória”, publicado a 16 de Setembro de 2005, no “Boletim Informativo do Partido FRELIMO”, que ele se lembrou da minha humilde pessoa. Será uma homenagem, que presta a virtude ao vício, ou o vício à virtude?
Depois de muito matutar, assim espero que seja e, por isso, me senti com a responsabilidade moral de vir ajudar o General Catedrático, esta verdadeira “biblioteca viva” ambulante, “corrigindo, acrescentando”, afastando alguma “inverdade” indeliberada ou sem intuito, assim o espero também, porque não quero, aqui, arquitectar processos de intenções, só desejo lembrar factos.
Queria só cingir-me à minha “parte limitada do todo”, até, porque uma velha camaradagem me liga ao General Catedrático. Camaradagem que nasceu, no verão de 1963, quando, aos 18 anos de idade, desembarquei do cargueiro “África Ocidental” da CUF, em Casa-Branca, para pedir asilo político às autoridades marroquinas...
Veja o texto completo em
Artur Janeiro da Fonseca
23 de Janeiro de 2005
NOTA: Para compreender este texto não deixe de ler
com o texto de Sérgio Vieira.
29-01-2006
ALFARRABISTAS E LIVREIROS ANTIQUÁRIOS EM PORTUGAL
Embora não exaustiva, junto uma listagem dos principais alfarrabistas de Portugal.
Veja em:
24-01-2006
MAAC e UP rubricam acordo de cooperação
O Ministério para os Assuntos dos Antigos Combatentes (MAAC) e a Universidade Pedagógica (UP) acabam de rubricar um formulário de cooperação com vista a investigação, tratamento, elaboração e divulgação dos factos, fenómenos e processos da Luta de Libertação Nacional.
Assinado na passada segunda-feira, pelo Ministro do pelouro do (MAAC), Feliciano Gundana e pelo reitor da UP, o Professor Doutor Carlos Machili, igualmente constitui objecto do presente protocolo, a realização de estudos, assessoria e/ ou consultoria sobre eventuais projectos económicos de enquadramento de Combatentes da Luta de Libertação de Moçambique.
Conforme a cláusula segunda do acordo, os elementos acima descritos serão realizados sob forma de projectos em que cada uma das partes, através do seu pessoal especializado, será competente para propor matérias passíveis de investigação, publicação, assessoria e consultoria.
O mesmo objecto será pesquisado por docentes/investigadores da UP e por investigadores do MAAC, onde serão privilegiados projectos de investigação que nas equipas de pesquisa incluam estudantes de cursos afins da UP.
O reitor da UP considerou que pouco mais de 50 por cento dos documentos são branqueados, dai a falsidade da história.
O protocolo determina como obrigações do MAAC a entrega à UP da lista de assuntos e matérias que pretende ver pesquisados e publicados com cientificidade, assim como a colocação à disposição da UP os “dossiers” que directa ou indirectamente estejam ligados à luta de libertação.
Por outro lado, a MAAC terá como obrigação facilitar o acesso à recolha e tratamento de dados às equipas de pesquisa e, estar disponível a esclarecer dúvidas e fornecer dados complementares solicitados por equipas de investigação.
Relativamente aos fundos para a prossecução das pesquisas, caberá as partes diligenciar a criação dos fundos de pesquisa destinados a suportar os encargos com a investigação e publicação da História de Libertação.
No que concerne a formação profissional, a UP vai realizar cursos de formação profissional de curta duração para os Combatentes da Luta de Libertação Nacional envolvidos nos projectos económicos e sociais.
Conforme o documento em nosso poder, enquanto perdurar o presente protocolo, a UP reservará anualmente, em cada uma das suas delegações o mínimo de cinco vagas para frequência de cursos superiores de que serão beneficiários os combatentes da luta de libertação de Moçambique e seus descendentes.
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 11.01.2006
20-01-2006
A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (3)
TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Gwambe aliou-se, ou vivia às expensas do Bureau, Mondlane com realismo e nisso apoiado por Ahmed Ben Bella e a Argélia, entendeu que o Tanganhica e a Rodésia do Norte (mais tarde Zâmbia), com o Niassalândia (depois Malawi), constituíam as retaguardas geográficas da causa da libertação da África Austral.
A decisão da OUA de fixar a sede do Comité de Libertação em Dar Es Salaam, encerrou um debate bem falso. George Magombe dirige o Comité de Libertação, no início dos anos 70 substituído por Hashim Mbita até ao final da existência útil do Comité, com a independ6encia da Namíbia e a queda do apartheid.
Em 1963 Mocumbi e Chissano são chamados para Dar Es Salaam e eu enviado para Marrocos.
Em Rabat estava a Amália (Maya) da Fonseca (PAIGC) e o seu esposo, o médico Africano Neto (MPLA) e Aquino de Bragança, com a Mariana sua mulher, a Maya e Aquino ligados à CONCP a quem me juntei no trabalho. Lá vivia, mas na UGEAN (União Geral dos Estudantes da África Negra Sob Domínio Colonial Português), encontrava-se o Belli Bello e dois companheiros da Guiné Bissau.
O Aquino, a Mariana e os filhos, pouco depois partem para a Argélia, para o Aquino trabalhar no semanário argelinoRévolution Africaine e a Mariana leccionar.
Mário de Andrade vivia em Rabat, assim como a primeira esposa de Amílcar e a filha mais velha. Connosco e em Rabat estavam ainda o João Mungwambe e o Joel Maduna, Ambos haviam sido expulsos da FRELIMO pelas manobras do agente Léo Aldridge Milas, desmascarado por Mondlane. Mondlane recupera os dois camaradas, que viviam no Cairo, e envia-os para Rabat.
O Jorge Rebelo junta-se a nós pouco depois. Mungwambe irá abrir a representação na Argélia, em 1964 e Maduna vai treinar na Argélia, é enviado para abrir a frente sul, onde a PIDE o assassinou na cadeia em Lourenço Marques, privando-o totalmente de comida e água, quando capturado. Rebelo segue para a Argélia e daí para Dar Es Salaam.
A saída dos caciques da MANU, da UDENAMO e da UNAMI, embora criando tensões diversas, libertou a FRELIMO das visões tribais e regionais e das expectativas vãs que a ONU ou a OUA nos trouxessem a independência numa salva de prata.
Diga-se de passagem, que o saudoso Diallo Telli, primeiro Secretário Executivo da OUA também entretinha esse mito e, formada a OUA pediu a Mondlane que se instalasse com a direcção da FRELIMO em Addis Abeba, pois a África libertariaMoçambique e nos instalaria no governo.
Mondlane respondeu que a tarefa dos moçambicanos era lutar e regar com sangue a libertação e a da OUA apoiarnos logisticamente.
Desde o início Mondlane leva a FRELIMO a agir em três direcções distintas:
Preparação da luta armada. Dois grupos seguem para a Argélia, o último dirigido por Samora, o primeiro creio encabeçado pelo Filipe Magaia. Um segue para o Egipto, dirigido pelo Lopes Tembe. Outro com Samuel Dlhakama e Sumbane para Israel, onde vão receber formação em enfermagem. Mais tarde José Moiane, Sebastião Mabote, Francisco Langa e mais camaradas vão treinar em Nanquim e Joaquim Chissano na URSS.
A organização clandestina, que Jaime Rivaz Sigaúke, dirige, coadjuvado por Mariano Matsinhe. Sigaúke que fazia demasiado confiança a elementos suspeitos de colaboradores da PIDE, é raptado e assassinado pela PIDE, substituindo-o o Mariano.
A formação escolar dos jovens, iniciada no Instituto Moçambicano, construído com o apoio da Fundação Ford. Numa primeira fase os alunos apenas viviam no Instituto e frequentavam as aulas no Kurasini International School, criado pelo African American Institute.
Curiosamente, a decisão de criarmos o nosso próprio sistema de ensino, com as aulas em português, com professores nossos, livros de ensino nossos torna-se, já na segunda parte dos anos 60, uma dos pretextos para o ataque contra a FRELIMO pelo grupo Gwenjere, Simango, Nkavandame.
Após o assassinato do Presidente Kennedy, a administração Johnson devido ao seu envolvimento no conflito do Vietname (o desfolhante Agente Laranja foi experimentado em Cabo Delgado) e aos compromissos com Israel aceita as pressões de Lisboa e leva a Fundação Ford a cortar os apoios ao Instituto Moçambicano.
Tentando prevenir o seu desaparecimento um grupo ligado aos velhos caciques da MANU assassinam um sacerdote estrangeiro em Cabo Delgado em Junho ou Julho de 64.
Continua...
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 173 – 28.11.2005
A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (2)
TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Como moçambicano e em contacto com o país e os colegas que estavam em Poitiers, Joaquim Chissano e Pascoal Mocumbi, havendo já falado com Marcelino dos Santos, não partilhava da desconfiança dos colegas angolanos, em especial. Conhecia também o papel de Mondlane para a promoção da nossa fuga colectiva.
Eduardo Mondlane falou comigo à parte, levou-me a almoçar num restaurante, que embora sem luxos, sempre me libertava da rotina dos restaurantes universitários, frequentava então o Mabillon e o restaurante dos estudantes muçulmanos, em Saint Michel.
Contou-me a sua visita a Moçambique, deu pormenores sobre o Massacre de Mueda. Falou, depois do imperativo da unidade e das causas dos fracassos anteriores da luta pela independência, mencionou-me o dilaceramento de Angola, onde a UPA mais que combater os colonialistas, procurava aniquilar o MPLA.
Explicou-me, detalhadamente, a situação da UDENAMO e da MANU. Não me recordo de haver mencionado a UNAMI.
Sobre a UDENAMO e a MANU alertou-me sobre o facto de ambos movimentos lhe parecerem padecer de grandes tendências tribais, muito embora houvesse gente sã no seio deles.
Marcelino dos Santos já nos havia contado estas situações preocupantes.
Entre os poucos moçambicanos, ora em Poitiers onde estudavam Chissano e Mocumbi, ora em Paris, onde me encontrava, com o Ganhão, o Almeida Matos, a Elisabete Sequeira, o Américo e o Walter Leitão, o Rui Nogueira e a Isabel Brito (estes quatros últimos abandonaram-nos aos poucos), discutimos e decidimos fazer funcionar a UNEMO, criada pouco antes em Moçambique pelo Chissano e Mocumbi e alguns outros companheiros.
Em coordenação com o pequeno grupo que estudava na Suíça, o Valeriano Ferrão e a Ana Simeão Neto, e com os que estavam nos Estado Unidos decidimos, em bloco, não aderir a nenhum partido e exigir a unidade.
Não me recordo se o Mocumbi, se o Chissano, mas um deles deslocou-se a Dar-Es-Salaam e transmitiu a nossa posição a favor da unidade. A 25 de Junho de 62 todos nos tornamos membros da FRELIMO, como acordado.
Para o I Congresso da FRELIMO creio que foi o camarada Chissano.
Em Maio de 1962, através do Marcelino que estivera em Acra, tomámos nota do protocolo assinado entre a MANU e a UDENAMO, com a sequência no acordo de fusão, assinado a 25 de Junho em Dar-Es-Salaam e marcando o nascimento da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO-, com Mondlane na direcção. AUNAMI assinou posteriormente.
Considerámos que desde esse dia fazíamos parte da FRELIMO.
Aparentemente, durante o encontro de Acra, quando se tratou de discutir o nome da nova organização, Gwambe sugerira o nome, Frente de Libertação de Moçambique e a sigla FRELIMO. Durante toda a sua vida política pouco mais fez do que criar nomes de organizações e siglas, que tão depressa se formavam como se esvaíam. Assinou o Acordo, não secara a tinta e já criara uma NOVA UDENAMO, seguida duma FUNIPAMO, transformada em MORECO e depois COREMO, etc.No fundo almejava mais presidir do que fazer e, motivado pela ambição, estava pronto a toda e qualquer aliança e mesmotraição.
Pouco depois encontrei-me com Adelino Gwambe em Helsínquia, no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Rapidamente me explicou que não apoiava a FRELIMO porque dominada pelos imperialistas americanos e porque recusava a luta armada, o contrário da informação de que eu dispunha. Abstive-me de o contrariar.
Confesso que na conversa, deambulávamos pelas ruas de Helsínquia, fiquei estarrecido quando me confessou receber revelações do espírito de Lumumba e, por duas vezes, interrompe o que me dizia, fica hirto e diz-me que se está a comunicar com Lumumba! Este primeiro encontro foi o último, nunca mais o vi.
Durante este período inicial da vida da FRELIMO, Gwambe que gozava de apoios no Bureau for African Affairs, no Ghana, lança campanhas de imprensa muito violentas contra Mondlane e a sua esposa, Janet, acusados de agentes do imperialismo americano. O Spark e a sua edição em português A Faúlha são os grandes veículos da campanha anti FRELIMO e anti Mondlane. Lembro-me de na época haver escrito uma carta ao jornal denunciando as falsidades e calúnias propaladas.
Surgia uma certa rivalidade entre o Ghana e o Tanganhica, o Ghana querendo o papel de protagonista na causa da libertação, o Tanganhica, por força das circunstâncias geográficas impondo-se com um real protagonismo.
Continua...
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 172 – 16.11.2005
A ROTA EXTERNA PARA A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA FRELIMO (1)
TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Sérgio Vieira
Em princípios de 62, possivelmente finais de Janeiro, Mondlane vem a Paris.
Arranjou-me uma bolsa da CIMADE, organização do Conselho Ecuménico que apoiava os estudantes refugiados.
Em Sèvres, nos arredores de Paris, onde se encontrava o lar, estavam dois moçambicanos, o Américo e eu, numerosos angolanos, congoleses (k), argelinos que saiam das cadeias francesas e alguns húngaros que vieram para França na sequência dos eventos de Budapeste em 56. Em Poitiers estavam o Pascoal Mocumbi e o Joaquim Chissano, ambos estudando medicina. Na Suíca a Ana Simeão, nos Estados Unidos já se encontrava o João Nhambiu e o António Butsha Kashiputo, creio que no mesmo momento no Reino Unido estudava o Pastor Mabunda.
Dirigia o Lar da Cimade o Pastor ortodoxo, russo branco, Edvokimov e a sua esposa, uma franco-vietnamita, Therèse. Edvokimov, eminente teólogo, homem de coração grande e sabedoria, impunha a não discriminação entre todos que acolhia. Rezava no início das refeições, mas a ninguém obrigava a benzer-se ou com ele orar.
Quando o Presidente Mondlane chegou a Paris promoveu um encontro com os
estudantes das colónias que aí se encontravam. De Moçambique, nesse momento participaram no encontro apenas o Mocumbi e Chissano e eu, não me recordo se o Ganhão já havia chegado.
Porque estudara nos Estados Unidos e aí leccionara, muitos estudantes das restantes colónias olhavam para Eduardo Mondlane com alguma suspeita. A UPA,
ainda não se tornara FLNA, beneficiava dum grande apoio americano.
Os eventos do Congo (K), a guerra do Vietname, o anti cubanismo da administração Kennedy tornavam odiosa a política americana para uma juventude generosa, solidária com a causa da libertação. Qualquer associação com a América tornava-se suspeita.
Esta desconfiança se agravava pelo facto de que, no segundo semestre de 1961, a convite de Adriano Moreira, Mondlane visitara Moçambique, a imprensa local e portuguesa destacaram o evento. Adriano Moreira, homem de grande lucidez e visão que nesse momento dirigia o Ministério do Ultramar, procurava a todo o custo prevenir que a guerra se estendesse às demais colónias.
Por isso retirara a Comissão Administrativa da Casa dos Estudantes do Império, imposta pelo então Comissário Geral da Mocidade Portuguesa, Silva Cunha. Recebia os estudantes das colónias, multiplicando os gestos de apaziguamento.
Abolira o Estatuto do Indígena e o Código de Trabalho para o Indígena, actos na
sequência esvaziados de conteúdo, pela pressão dos colonos e das companhias
coloniais. Nomeara Sarmento Rodrigues para o governo de Moçambique. O Almirante, tal como Adriano Moreira, sentia-se próximos dos círculos das altas
patentes militares que haviam tentado, em Março de 61, o golpe palaciano falhado
contra Salazar e a guerra.
As ideias de Adriano Moreira não diferiam das de Marcello Caetano, já em rota de
colisão com Salazar. Portugal e o Futuro, do General Spínola, publicado nos
princípios de 1974, reflectiam essas perspectivas, mas com 13 anos de atraso,
com a guerra em três frentes e o exército saturado delas e mais que desmoralizado. Marcello Caetano no poder jamais se esforçou de aplicar o que sonhara e capitulou diante dos ultras, arrastando ainda mais o seu país para a guerra.
Com o seu convite a Mondlane Adriano Moreira prosseguia o duplo objectivo de,
forçar a evolução conducente à autonomia e independência e prevenir a guerra. Ele desejaria fazer de Mondlane o Secretário Geral dum governo colonial de Sarmento Rodrigues em Moçambique. Na sequência e face a delicada recusa de Eduardo Mondlane, buscou a participação de Domingos Arouca.
As lutas entre os grupos ultras e mais liberais do regime saldam-se com a derrota dos liberais e Domingos Arouca pagará com longos de ano de cadeia os sonhos de Adriano Moreira. A factura jamais poderia ser saldada por Sarmento, Moreira ou os liberais, mais do que as conspirações Salazar abominava os escândalos.
No final da história, Adriano Moreira fracassou pois que o regime não estava pronto a qualquer mudança ou sinal de mudança. Adriano Moreira foi afastado do Governo pouco depois, os ultras e colonos não o prezavam.
Mondlane aproveitou o convite para reforçar a ligação interna, escamoteando a manobra de Moreira. Mondlane avaliara correctamente a correlação de forças prevalecente em Portugal e estava mais que consciente de que na melhor das hipóteses lhe reservavam o papel de pretinho de alma branca e bem comportado.
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 171 – 04.11.2005
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