Cronologia dos factos ocorridos entre o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 em Portugal e a proclamação da independência em Lourenço Marques no dia 25 de Junho de 1975.
No dia 27 de abril de 1974 a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) declara que a solução para a guerra é só uma: o reconhecimento do direito à independência.
No mesmo mês, a África do Sul reconhece a Junta de Salvação Nacional (JSN), no poder em Portugal, e na mesma altura o comandante militar de Moçambique, general Basto Machado, diz identificar-se com os objetivos da JSN.
No dia 29 de abril a Assembleia Legislativa de Moçambique, em Lourenço Marques, não se reúne por falta de quórum e um dia depois registam-se as primeiras manifestações de apoio ao golpe de Estado em Portugal.
No dia 03 de maio de 1974, Jorge Jardim, político do Estado Novo e empresário com interesses na colónia, assina um editorial no jornal Notícias da Beira, intitulado “A nossa posição – atitude e programa”, propondo um “programa para a paz em Moçambique”, com a possibilidade de realização de eleições no território.
Um dia depois, Spínola escolhe Silvino Silvério Marques para o cargo de governador de Moçambique mas a proposta é rejeitada pelo Movimento das Forças Armadas (MFA).
No dia 07 de maio o Serviço de Informações Públicas das Forças Armadas comunica a morte de três militares portugueses em Moçambique.
No mesmo dia, a JSN concede um empréstimo de 300 mil contos a Moçambique para a realização de empreendimentos previstos no Plano de Fomento para 1974.
Em maio, apresenta-se em Lourenço Marques a Frente Independente de Convergência Ocidental (FICO), sigla também traduzida por “Ficar Convivendo”, organização dirigida por Velez Grilo, ex-dirigente do PCP.
Quase em simultâneo é apresentado o Movimento para a Independência de Moçambique (MIMO) que defende a independência imediata.
A 09 de maio, o general Costa Gomes inicia uma visita à colónia. No mesmo dia é comunicada a morte de dois soldados portugueses e no dia seguinte mais duas baixas em Moçambique.
No dia 11 de maio registam-se incidentes raciais na cidade da Beira. Os Serviços de Informações Militares comunicam a morte de um soldado português.
Um dia depois, Almeida Santos, líder dos chamados “Democratas de Moçambique” publica uma carta aberta na qual considera inviáveis as teses federalistas.
No mesmo mês, padres católicos de Moçambique reclamam o regresso do bispo de Nampula, colocado em residência fixa nos arredores de Lisboa, pelo regime anterior.
No regresso da visita efetuada ao território, Costa Gomes refere que a situação é “um bocadinho grave” mas manifesta convicção de que o futuro de Moçambique está “intimamente ligado à lusitanidade”.
No dia 15, um comunicado militar português publicado na Beira regista combates entre tropas portuguesas e as forças da FRELIMO nas regiões de Cabo Delgado, Niassa, Tete e Beira.
A União Democrática Africana de Moçambique (UDAMO), o Movimento dos Homens Livres de Moçambique e a União para a Paz do Povo de Moçambique surgem como forças políticas antes do final do mês de maio.
Uma delegação de antigos presos políticos, entre os quais Domingos Arouca, os poetas José Craveirinha e Rui Nogar e o pintor Malangatana, contacta a direção da FRELIMO em Dar es-Salam com vista a conhecer as condições do movimento com vista à paz.
A 17 de maio são libertados 440 presos que se encontravam na Cadeia da Machava e poucos dias depois o ministro Almeida Santos inicia uma visita a Moçambique.
No dia 22, Samora Machel, numa comunicação pela rádio, declara que a independência de Moçambique não é negociável, mas apenas “as suas formas”.
Dois dias depois, o líder da FRELIMO afirma em Dar es-Salam que a guerra será intensificada até que Lisboa dê garantias sobre a independência e antes do final do mês os primeiros-ministros da África do Sul e da Rodésia, debatem em Pretória a situação moçambicana.
No dia 30, a FRELIMO ataca uma povoação a 150 quilómetros a norte da Beira.
Em nome de uma nova organização – Grupo Unido por Moçambique (GUMO) -, Joana Simeão declara em Lisboa pretende alcançar a independência de Moçambique em “diálogo” com Spínola e em “coligação com a FRELIMO”.
Nos primeiros dias de junho, elementos da PSP cercam a embaixada do Malauí em Lisboa para impedir a fuga de Jorge Jardim, antigo secretário de Estado de Salazar e empresário em Moçambique, com ligação à Rodésia e opositor da entrega do poder à FRELIMO.
A 05 de junho, uma delegação chefiada por Mário Soares e Otelo Saraiva de Carvalho, reúne-se em Lusaca, na Zâmbia, com uma delegação da FRELIMO, chefiada por Joaquim Chissano.
Soares reafirma, após o primeiro encontro com a FRELIMO, que Portugal terá que negociar apenas com os movimentos que fizeram a guerra.
Na mesma altura, os Serviços Secretos da Rodésia (CIO) começam a acolher e a organizar graduados e agentes da PIDE/DGS fugidos de Moçambique.
No dia 08 de junho, a empresa alemã Siemens comunica em Bona que vai prosseguir a construção da barragem de Cahora Bassa no sul de Moçambique.
Em junho de 1974, surge o Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), liderado pelo dissidente da FRELIMO Uria Simango; Henrique Soares de Melo toma posse no cargo de governador de Moçambique; agentes da DGS, polícia política do Estado Novo, presos na Machava revoltam-se ao mesmo tempo que moçambicanos residentes em Lisboa ocupam as instalações da Casa de Moçambique.
No dia 13 de junho, Jorge Jardim, alvo de um mandado de captura consegue evadir-se da embaixada do Malauí em Lisboa, onde se encontrava refugiado.
Um mês depois, membros de uma associação de ex-militares portugueses, com sede em Joanesburgo, África do Sul, declaram que vai pegar em armas se a FRELIMO chegar ao poder.
Pouco depois, em Lourenço Marques, a polícia dispersa uma manifestação de desempregados.
Também em julho, a FRELIMO anuncia que abriu uma nova frente de combate na Zambézia (centro).
Registam-se a atividade de grupos de civis brancos armados que patrulham localidades no centro do território prevendo ataques de guerrilha.
Jorge Jardim visita o Malauí, a Tanzânia, a Zâmbia e a Suazilândia.
No dia 16 de julho há confrontos raciais na cidade da Beira e em Lourenço Marques. A FRELIMO corta a ligação ferroviária entre a Rodésia e a Beira, a 60 quilómetros da fronteira, e pouco depois procede à sabotagem da linha de caminho-de-ferro de Tete.
A 22 de julho, o Movimento das Forças Armadas em Moçambique ameaça decretar o cessar-fogo unilateral se a FRELIMO não for reconhecida como único interlocutor para a independência do território. Verificam-se ainda novos motins na Beira com atentados à bomba.
Perto do final do mês, uma delegação portuguesa chefiada pelo major Melo Antunes reúne-se com representantes da FRELIMO em Dar es-Salam.
Jorge Jardim propõe a Samora Machel um governo provisório liderado pela FRELIMO.
No dia 04 de agosto regista-se um comício de apoio à FRELIMO em Lourenço Marques. Ian Smith, presidente da Rodésia, diz que espera o melhor mas que está preparado para o pior em Moçambique. Morre em combate o comandante dos Grupos Especiais Pára-quedistas (GEP), major Lopes Morais.
A 05 de agosto, são embarcadas cerca de 300 viaturas pertencentes a colonos, com destino a Lisboa. Em Lourenço Marques, o contexto político continua a extremar-se com os “Dragões da Morte” a divulgarem um manifesto em que se apresentam como “organização clandestina” que tem como objetivo inviabilizar qualquer acordo com a FRELIMO recorrendo, se necessário, ao “terrorismo urbano”.
Populações das províncias de Nampula e da ilha de Moçambique refugiam-se na cidade de Nampula, após uma vaga de assaltos e outros atos de banditismo.
Em meados do mês de agosto de 1974 regista-se um atentado à bomba contra as instalações do jornal Notícias, em Lourenço Marques.
No dia 15, é anunciado que cerca de mil colonos abandonam Moçambique todas as semanas.
A África do Sul duplica as despesas militares no Orçamento do Estado. O ministro da Defesa Peter Botha afirma que se trata de um “pequeno pé de guerra”. No dia 19, o chefe do Executivo sul-africano, John Vorster e Ian Smith da Rodésia reúnem-se na Cidade do Cabo.
A 21 de agosto, Jorge Jardim encontra-se com o chefe de Estado Maior da Região Militar de Moçambique, coronel Sousa Menezes, a bordo de uma lancha no lago Niassa, sendo sondado para vir a fazer parte do Governo de Transição.
O oficial português propõe a Jardim o arquivamento dos mandados de captura em troca da entrega do “dossiê ilustrado” sobre os massacres de Wiriyamu, em 1972.
Ainda em agosto, vários movimentos moçambicanos unem-se no Partido da Coligação Nacional (PCN), presidido por Uria Simango.
No princípio do mês de setembro são libertados os últimos 21 presos da FRELIMO, elevando para 2.220 o total de presos políticos libertados na colónia após o 25 de Abril.
Em Cahora Bassa são destruídas, pelo rebentamento de cargas explosivas, duas torres de linhas de transporte de energia.
Mário Soares, à partida para a nova ronda de negociações com a FRELIMO, em Lusaca, afirma que a “independência de Moçambique não será feita contra Portugal”.
As negociações iniciam-se a 05 de setembro, no mesmo dia em que são organizadas em Lourenço Marques manifestações de apoio à FRELIMO.
Dois dias depois, a 07 de setembro, é assinado em Lusaca, entre o governo português e a FRELIMO, o acordo de cessar-fogo e a transferência de poder.
No mesmo dia, verifica-se a revolta dos colonos de Lourenço Marques, agrupados no chamado Movimento Moçambique Livre, com a ocupação durante três dias dos estúdios do Rádio Clube.
Grupos de colonos assaltam a Cadeia da Machava e libertam 80 graduados e agentes da PIDE/DGS.
Samora Machel, ainda em Lusaca, afirma que o acordo firmado no mesmo dia foi traído pelo general Spínola, devido aos factos ocorridos em Lourenço Marques.
Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial, classifica a revolta dos colonos como “uma atitude irrefletida, suicida e irresponsável”.
No dia 08 de agosto entre em vigor o cessar-fogo mas revolta dos colonos alastra-se às cidades de Quelimane, Beira e Nampula.
O primeiro-ministro Vasco Gonçalves reafirma a Samora Machel, em contacto telefónico, o propósito do governo português sobre o respeito pelo acordo de cessar-fogo, assinado em Lusaca.
No dia 09, o almirante Vítor Crespo é nomeado alto-comissário português em Moçambique.
Nos distúrbios que se seguem à revolta dos colonos em Lourenço Marques registam-se 47 mortos e 371 feridos nos subúrbios da cidade.
No dia 16 de setembro, Joaquim Chissano chega a Lourenço Marques tomando posse como presidente do Governo de Transição um dia depois.
O jornal Rand Daily Mail, de Joanesburgo, revela que dirigentes da revolta dos colonos em Moçambique encontram-se refugiados na África do Sul.
No dia 19, a FRELIMO liberta 197 militares do Exército português, dos contingentes metropolitanos e ultramarinos, aprisionados durante a guerra.
Dois dias depois verificam-se violentos confrontos entre comandos portugueses e um destacamento da FRELIMO, em Lourenço Marques.
Em outubro, Samora Machel e Agostinho Neto, presidente do MPLA, encontram-se em Lusaca. No mesmo dia é assinado um acordo de cooperação entre Portugal e a FRELIMO.
No dia 22, Joana Simeão é presa em Lourenço Marques.
Em novembro, o governo de transição define, por decreto, o âmbito do que chamou “crime contra a descolonização”.
Um mês mais tarde, uma missão das Nações Unidas elabora um relatório em que conclui que as tropas portuguesas e rodesianas chacinaram cerca de mil civis africanos na região central de Moçambique em 1972. O embaixador Veiga Simão consegue impedir que o relatório seja discutido na Assembleia Geral.
No dia 22 de dezembro de 1974, Samora Machel inicia uma visita a países do leste europeu.
No fim do ano, números disponíveis indicam que, entre abril e dezembro, abandonaram Moçambique cerca de 30 mil cidadãos portugueses.
Em março de 1975, o governo português e a FRELIMO começam a negociar a exploração futura da barragem de Cahora Bassa, assim como oito protocolos de acordos para vigorarem após a independência.
No dia 24 de maio, Samora Machel inicia, no planalto de Mueda, a viagem ao longo de Moçambique em direção a Lourenço Marques. Pelo caminho vai mudar o nome de várias cidades e vilas, a primeira das quais, Porto Amélia que passa a designar-se Pemba.
As estátuas dos colonizadores portugueses começam a ser retiradas.
A revista norte-americana Time estima que cerca de 50 mil portugueses abandonaram a colónia nos últimos 12 meses.
Em junho de 1975, o Comité de descolonização da ONU reúne-se em Lisboa. O presidente da República, Costa Gomes, consegue dissuadir o presidente da OUA, Salim Ahmed Salim, de incluir os documentos da conferência o relatório da ONU sobre massacres cometidos durante a guerra colonial em Moçambique.
No dia 18 de junho, o alto-comissário português em Moçambique deixa o palácio do Governo em Lourenço Marques e instala-se na futura embaixada de Portugal.
No dia 23, Samora Machel chega a Lourenço Marques. A cidade passa a chamar-se Maputo e no dia 25 é proclamada a independência da República Popular de Moçambique.
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