40 anos apalpando difere de governar
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Agora que se mostra relevante manter e consolidar a paz duramente conseguida através do AGP de Roma, são poucas as ideias que nos apresentam a maioria dos protagonistas. Chegou-se a uma situação de “barco encalhado” e com fortes ameaças de inclinação, que pode pôr em perigo a vida de toda a “tripulação”.
De maneira recorrente, quando falam, demonstram um claro esgotamento de ideias. Mantêm-se repetindo o que diziam quando chegaram ao poder. Para eles, tudo se resume à sua continuação no poder, como se este fosse uma dádiva divina que lhes foi entregue para sempre.
Quem tem de recorrer a teses de “imperativos” falsos para se manter no poder possui uma agenda sinistra.
Quem parte de posições completamente inclinadas, utilizando abusivamente recursos públicos para fabricar resultados eleitorais, isso, pediu tempo para analisá-lo.
“A pedido da bancada da Renamo, a Comissão Permanente vai debruçar-se amanhã [hoje, quarta-feira], às 17:00 horas, sobre o rol de matérias, uma vez que os colegas pediram tempo para se debruçarem não se deveria arvorar em democrata ou patriota. Quem precisa de “arrancar vitórias” obtém como um dos resultados ilegitimidade e falta de credibilidade. Quem finge que não se apercebe da insustentabilidade de governar pela força e de elaborar estratégias de manutenção do poder através da repressão policial e da perseguição dos opositores políticos só pode estar criando condições para a eclosão de mais uma guerra.
E quando grande parte das chamadas forças vivas da nação se calam e fingem que não estão vendo, é grave e sintomático de que o temor de represálias existe e está vingando.
Como agravante, o país tem grande parte da sua juventude envenenada pela fraude académica, que se propaga para outras situações e acaba propiciando o seu recrutamento para executores de fraudes político-eleitorais.
E temos de reconhecer que a lavagem cerebral atinge as confissões Religiosas.
Com a proliferação de seitas de todo o tipo e com a chegada de elementos radicais de algumas religiões, seria de esperar que a moral e a ética se vissem beneficiadas.
Mas é o contrário que está acontecendo.
As seitas proliferam como os partidos políticos porque existem questões de enriquecimento que lhes são adjacentes. Ter uma igreja ou partido político é como ser fundador de ong’s que se dedicavam a projectos de combate ao HIV/SIDA.
Os doadores entregam os fundos que são geridos de maneira pessoal e sem auditoria. O fundador enriquece, e as causas ficam esquecidas.
E como para obter autorização legal de funcionamento é preciso ter sancionamento do Governo, aqui intervém o partido de suporte do Governo, para assegurar que tanto seitas como confissões religiosas se conformam com a “ordem do dia” decretada.
Não pode ser só teimosia e arrogância o que alimenta as posições de alguns dos protagonistas. Deve haver uma agenda prévia e entendimentos nesse sentido entre os pares que pontificam e ditam regras no seio da sua formação política.
Há como que uma decisão irredutível de que o poder é para manter por todos os meios.
Basta observar as manobras dilatórias do Governo central quando se coloca a necessidade de cumprir a lei e entregar pelouros como transporte, saúde e educação aos municípios. Quando o presidente do município é membro da Frelimo, cumpre-se a lei e com rapidez. Na Beira, Nampula, Quelimane, a lei não se cumpre ou é atrasada continuamente sob pretextos e alegações falsas de que ainda não existe capacidade de gestão nestes municípios.
Quando se procura um meio-termo para aliviar a tensão política, surgem ideias e propostas que são liminarmente chumbadas pela Frelimo. De mentor e executante de fraudes, este partido transforma-se em doutor especializado em Direito Constitucional.
E como o PR está como que sujeito a um colete-de-forças, não é de esperar que ele tenha iniciativas de abertura e negociação produtiva do principal “dossier” político nacional.
Mesmo a esperada reunião do CC da Frelimo em Fevereiro de 2016 não deverá alterar as posições deste partido quanto à sua postura no debate político. Poderão mudar pessoas nos órgãos, mas não a posição.
Moçambique é um Estado no concerto das nações, mas daí a ser um Estado viável está longe de acontecer por questões ligadas à sua liderança ao longo dos tempos. O que parecia contemporizador e exímio diplomata apresenta sua cor e natureza real de “produtor de adiamentos”. O que lhe cabia resolver jamais foi, e o seu sucessor entrou com um forte dinamismo, mas que foi de sol de pouca dura. No fim, feitas as contas, não fugiu à sua génese de comissário político, e o seu partido agradece, porque agora tem células em tudo o que é aparelho de Estado, num processo que fere a Constituição, que sempre foi guardada na gaveta durante os seus 10 anos de governação.
Governação que, convenhamos, significou ele governar-se. Se agora há algum barulho nas hostes da Frelimo, com velhos camaradas lavando a roupa na praça pública, pode ser devido à leitura de esquecidos, abandonados, desprezados. Não é uma contradição nos conceitos. É mais uma guerra de egos que antes aparentavam um alinhamento ideológico consistente e apresentavam em público uma áurea de coesão.
Infelizmente não se avizinham bons tempos. O céu está nublado.
O vento é forte e com rajadas. Os discursos endurecem a olhos vistos, e métodos de luta política estão ultrapassando o lícito, a aceitável e desembocando no assassinato político como forma de lidar com a situação.
Em geral, quando um PR deixa o poder, reforma-se e escusa-se de mandar recados, o que não se verifica entre nós. Quem esteve dez anos à frente dos destinos da nação não deve mandar instruções subliminares ao novo PR. E quando este ex-PR fala de “eliminação dos últimos obstáculos à paz”, que nos quer realmente dizer?
Assiste-se à execução de políticas atabalhoadas que misturam preparação da guerra com despesismo paranóico.
Tão próximos que estavam do povo que dizem defender, mas agora se verifica que estão efectivamente afastados desse povo sofredor.
Construíram silos que estão vazios.
Compraram tractores que não se fazem aos campos porque os supostos beneficiários não têm dinheiro para pagar o seu aluguer. Perderam doadores de fundos directos ao OGE porque não tinham austeridade e recusavam-se a prestar contas.
Agora que os cofres estão vazios retomaram o pedido de crédito ao FMI.
Nem ouro negro nem branco vingam, e as expectativas que alguns tinham não se concretizam.
Transformar Moçambique num país com presente e futuro de dignidade para os seus filhos vai requer que se abandonem os tráficos de influência que definiram a governação nos últimos anos. Nepotismo, compadrios delinquentes, clientelismo, açambarcamento dos negócios do Estado levaram à presente situação, que urge de maneira corajosa e patriótica alterar.
Agir com sentido patriótico e urgente para travar quem quer esconder-se através da guerra é o imperativo do momento.
“Calar será consentir”, e isso será fatal para as aspirações legítimas de milhões de moçambicanos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 27.01.2016
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