28 Janeiro 2016
O MpD está a viver momentos de turbulência com a recente aprovação, na reunião da Direcção Nacional (DN) da semana passada, das listas de candidatos às legislativas de 20 de Março próximo. Os descontentamentos, por causa da exclusão de vários “pesos-pesados” do sistema ventoinha e da colocação de alguns dirigentes em lugares inelegíveis, têm, como se pode ver neste jornal, o seu epicentro sobretudo em Santo Antão - aqui Joel Barro já pediu a sua retirada da lista-, S.Vicente, EUA, Santiago e Fogo. Por ora, poucos dos contactados querem dar a cara, mas prometemos depois retomar esse dossier com a liderança de Ulisses Correia e Silva.
«Até antes da reunião do dia 19 da Direcção Nacional, tudo indicava que o próximo dia 20 de Março poderia ser o prelúdio de uma nova era política em Cabo Verde. Todavia, com a divulgação das listas concorrentes do MpD para os círculos eleitorais, o cenário mudou radicalmente, ao ponto de inverter os prognósticos». Esta é a leitura crítica de um apoiante e comentador firme da oposição, para quem os candidatos em lugares elegíveis em alguns círculos não caíram no agrado das bases, ao ponto de revoltar os próprios militantes e simpatizantes do partido. Isto sem contar quer com a exclusão de alguns militantes conotados como “veiguistas” quer com as dúvidas que os resultados da sondagem – realizada com vista à constituição das listas – estão a suscitar.
Este jornal sabe que a situação é explosiva nos EUA, onde ficaram excluídos da equipa o ex-cabeça-de-lista Cândido Rodrigues e outros deputados. Já avisaram que vão reagir à nomeação de Alberto Montrond.
A fonte contactada por este jornal escreve que, no Fogo, «o cabeça de lista Jorge Nogueira é contestado por não trazer qualquer mais-valia ao partido». Daí defender que «este era o momento para o substituir, depois de tantas derrotas sucessivas na ilha».
O interlocutor deste jornal diz, por outro lado, que, a nível de Santo Antão, o vaivém de Jorge Santos não cativa mais ninguém. «De Santiago-Norte, o cabeça de lista Austelino Correia é, nada mais nada menos, que um ilustre desconhecido e sem qualquer percurso político. Em Santiago-Sul, a ressurreição do José Luís «Catchupa» Livramento e a avalanche de “vices” na lista está enfurecendo os militantes. Também ninguém entende a ausência do líder histórico Carlos Veiga e de Eurico Monteiro. Isto sem contar com outros veteranos como Mário Silva e Humberto Cardoso. Do Maio, diz-se, “a histórica e esvaziada cabeça-de-lista Joana Rosa devia ceder o lugar à nova geração”.
Para a mesma fonte, a decepção maior aconteceu em S. Vicente, onde, por erro estratégico, Ulisses Correia e Silva não teve o cuidado sequer de designar um vice-presidente. «Em S.Vicente a decepção é total, com a aparição de um dirigente fantasma ( Rui Figueiredo Soares) como nº2. Este ilustre ausente veio para estragar a festa e baralhar as contas ao João Gomes que, por ser de S.Nicolau, não é visto por muitos militantes com bons olhos. Muitos o considera um tanto ou quanto pouco correcto, por ter jogado sujo com os seus colaboradores mais próximos. Por outro lado, a sucessão do António Jorge Delgado pela filha Mircéa Delgado está enfurecendo toda a gente».
O responsável que vimos citando vai mais longe, ao advertir que há um esvaziamento do Poder Local no Mindelo, por causa do chamamento de muitos eleitos locais para a lista das legislativas. «O esvaziamento do Poder Local para formatar a lista de deputados não caiu no agrado de ninguém. Esses ‘candidatos para tudo’ são politicamente fracos e não dão garantias nenhuma, e por azar são todos ‘importados’ de Santo Antão».
Diante da lista geral do MpD aprovada, a mesma fonte considera que o PAICV está em vantagem para renovar um quarto mandato para governo Cabo Verde a partir de 20 de Março próximo. «Resumindo e concluído, isto vai resultar no quarto mandato consecutivo do PAICV, não por mérito próprio, mas sim por desmérito (sic) do MpD que, teimosamente, não aprende as regras do jogo para poder concretizar a alternância democrática», lê-se no email que o referido responsável remeteu para este jornal.
Entretanto, salvo os dirigentes de Santo Antão (ver este jornal), os outros contactados por este semanário prescindiram, por ora, de pronunciar sobre as críticas referidas. Contamos, porém, retomar, numa das nossas próximas edições, esse dossier com a liderança de Ulisses Correia e Silva. Resta saber se líder do MpD tem tempo suficiente para mitigar os descontentamentos, já que a campanha eleitoral arranca no dia 3 de Março.
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