Os preços de petróleo são uma força motora não apenas da economia, mas também da geopolítica, capazes provocar profundas mudanças no mundo que conhecemos hoje. A revista Politico reuniu comentários de alguns grandes especialistas sobre as possíveis consequências da desvalorização do ouro negro para o cenário global.
O professor de Ciência Política na Universidade de Stanford, Terry Lynn Karl, acredita que o atual excesso de oferta de petróleo está na base das bruscas mudanças nos preços da commodity. Para ele, apesar de provavelmente os preços se manterem baixo ao longo de 2016, a presente situação é apenas uma calmaria antes de uma tempestade.
"Apesar de todo o alarde envolvendo os baixos preços de petróleo, é preciso entender que um limite muito pequeno separa o excesso do défice. A produção mundial de petróleo já diminuiu significativamente, chegando a cair nos EUA até níveis registrados em 2008. Já os conflitos e as divergências das regiões produtoras, acentuadas pelos baixos e instáveis preços de petróleo, podem a qualquer momento provocar perturbações no fornecimento" – explica Karl.
Na opinião do chefe do Instituto para a Análise de Segurança Global, Gul Luft, a atual situação não poderá se sustentar por muito tempo. Ele explica que enquanto os transportes mundiais dependerem do petróleo e a maioria das reservas de commodities estiverem concentradas nas mãos de regimes repressivos, a volta dos preços a valores de três dígitos será somente uma questão de tempo.
O presidente da Eurasia Group, Ian Bremmer, destaca que a atual conjuntura nos mercados representa um grande perigo para a região do Oriente Médio. No âmbito geopolítico os baixos preços de petróleo têm maior impacto sobre países do Oriente Médio, onde as estruturas políticas são mais frágeis e sustentam principalmente no petróleo.
"Apesar de existirem ameaças imediatas e diretas à segurança global em toda a região, os governos locais não promovem quaisquer reformas sociais, econômicas ou políticas para reagir aos problemas encontrados. Portanto, como resultado do colapso de suas economias de petróleo, em breve não restarão fatores que liguem os países da região e os impeçam de entrar em conflitos" – acredita o especialista.
O Irã é punido porque se recusa a se submeter à ordem mundial determinada pelo governo dos EUA, disse o ativista político e ex-marinheiro norte-americano, Ken O'Keefe, à Sputnik.
"A história mostra claramente que esta nação teve muitas oportunidades de entrar em guerra ao longo dos séculos e sempre optou por não entrar em guerra, exceto uma vez, e foi uma guerra que nós fomentámos, no Ocidente, através do nosso ‘cão de ataque’, Saddam Hussein", disse O'Keefe.
O especialista destacou que há muitos exemplos de situações em que o Irã foi um abrigo para judeus e cristãos ao longo dos milênios.
O'Keefe comparou a reação da comunidade internacional ao programa nuclear do Irã com a reação às ações de Israel, que "tem roubado os segredos nucleares e fabrica secretamente bombas desde os anos 1950", de acordo com o The Guardian.
"O Irã teve a coragem de chutar para fora o nosso fantoche, o Xá, que era apenas um lacaio da política ocidental, ele transformou a embaixada em Teerã em um ninho de espiões da CIA, ele torturava pessoas através da SAVAK [Organização de Segurança e Inteligência Nacional] das maneiras mais cruéis", assinalou O'Keefe.
Quanto às relações tensas entre o Irã e alguns dos seus vizinhos, O'Keefe respondeu que o governo de Teerã não pode negociar com os governos que não representam as suas populações.
"A única maneira de o Irã poder desempenhar um papel construtivo [nas relações] com todos os seus vizinhos é se os seus vizinhos tiverem realmente governos soberanos que refletem de alguma forma os pontos de vista e a vontade dos seus povos".
No entanto, O'Keefe observou um declínio no poder dos EUA na região, especialmente desde os ataques terroristas de 9/11, quando a sua política externa parecia todo-poderosa. Em sua opinião, os EUA vão em breve enfrentar um ajuste de contas porque o sistema global que estabelece o preço do petróleo em dólares está prestes a entrar em colapso.
"Nenhuma nação ousava contradizer os Estados Unidos, e vimos uma mudança drástica. Agora as pequenas nações desafiam abertamente os EUA de forma regular; as alianças são feitas sem o consentimento ou a vontade dos EUA", observa o especialista.
"Dia a dia, o poder dos EUA está diminuindo a um ritmo tão dramático que eu tenho poucas dúvidas de que em breve iremos ver o colapso do sistema de petrodólares", concluiu Ken O'Keefe.
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