Lisboa - Indústria da construção nacional continua a sofrer duramente os efeitos da crise do petróleo no mercado angolano. O presidente do Sindicato da Construção Civil, Albano Ribeiro, garante que há cerca de 80 mil trabalhadores portugueses com salários em atraso em Angola e que, pelo menos, mil destes operários que virão passar o Natal a casa “já não regressarão” a África. Números que Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), diz não ter condições de confirmar, embora admita que a situação em Angola é muito complicada. “O mais grave é o arrastar desta crise no tempo, com o desgaste que isso causa às empresas e aos seus trabalhadores”, frisa.
Fonte: Lusa
Albano Ribeiro reconhece o problema da crise do petróleo, mas diz que a questão vai muito além disso. E dá o exemplo do Gana e do Senegal, mercados onde os trabalhadores do setor estão também a enfrentar dificuldades.
“Há 200 mil trabalhadores portugueses a trabalhar na fileira da construção em Angola e cerca de 40% têm entre dois e seis meses de salários em atraso”, garante o dirigente. O sindicato já tem sido requisitado para dar apoio a algumas das famílias “que atravessam situações muito complicadas”.
Albano Ribeiro assegura que “há muitas empresas com obras paradas” e que não faltam casos de abandono. “Há muitos trabalhadores que querem regressar a Portugal e nem dinheiro para o avião têm”, diz. A Soares da Costa é um dos casos conhecidos de salários por pagar. “Estão com dois ou três meses em atraso e têm 400 trabalhadores em Portugal que estão em casa. Uma situação que nos preocupa muito, porque é insustentável.”
Mas o dirigente sindical reconhece que a maioria dos vencimentos em dívida é de “angariadores de mão de obra que, quando a crise se agudizou, desapareceram de cena”. Pelo contrário, as grandes empresas “apostaram em novos mercados, seja em África, seja na Europa, e estão a deslocalizar para lá os trabalhadores que tinham em Angola”.
E, com a aproximação do Natal, Albano Ribeiro acredita que muitos dos que virão passar a época festiva com a família, já não regressarão a Angola. “Não tenho dúvidas nenhumas. Há, de certeza, mais de mil trabalhadores da construção que já não tencionam regressar. E sei-o pelos contactos que estou a receber das famílias”, frisa o presidente do sindicato. Albano Ribeiro reconhece que a tendência “não é para as coisas melhorarem”.
Reis Campos admite que a situação “tem vindo a piorar”, mas garante que nada disto significa que as empresas de construção deixem de acreditar no mercado angolano. Pelo contrário. “As dificuldades conjunturais existem e certamente serão feitos ajustamentos. Mas o papel das nossas empresas no desenvolvimento da economia angolana não será ignorado e continuará a ser extremamente relevante”, diz Reis Campos, garantindo que “as empresas continuam a manifestar confiança neste mercado que a esmagadora maioria dos empresários portugueses assume numa ótica de longo prazo”.
O presidente da CPCI reafirma, ainda, a sua confiança no próprio Estado angolano. “Estamos certos de que as autoridades conhecem bem a importância das nossas empresas para o desenvolvimento daquele país e esperamos que as consequências desta conjuntura possam ser minimizadas”, diz.
De qualquer forma, Reis Campos lembra que há outros mercados que se apresentam como boas oportunidades para o futuro. “Não podemos ignorar que, por exemplo, na Europa, a estratégia económica de dinamização e melhoria da competitividade passa pelas apostas na construção de infraestruturas, pela política de reabilitação urbana e pela sustentabilidade, domínios onde o setor exerce um papel determinante”. E lembra o Plano Juncker e os seus 315 mil milhões de euros para investimentos estratégicos.
Gana e Senegal são novas preocupações para a construção
Nem só em Angola as coisas correm mal para os trabalhares portugueses da indústria da construção civil. O presidente do sindicato garante que há situações “muito mais graves”, embora de dimensão menor, em países como o Gana e o Senegal. “Há trabalhadores que estão a ser contratados por uma empresa de Famalicão com a promessa de ganharem 2500 euros por mês. Quando chegam, têm excelentes condições de alojamento e alimentação, mas quando começam a reclamar aquilo a que têm direito, deixam de lhes pagar e abandonam-nos”, garante Albano Ribeiro, que promete pedir, “de imediato”, uma audiência ao novo secretário de Estado das Comunidades para apresentar a situação e pedir a intervenção do Estado. “São mais de mil trabalhadores em dificuldades nestes dois países”, assegura.
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