Consciente da ameaça
Cameron revela que o país travou "qualquer coisa como sete atentados" em seis meses. Londres duplica também gastos com segurança aérea.
O Reino Unido vai contratar 1900 novos agentes para os seus serviços de informação, no âmbito de um reforço das capacidades nacionais para responder à ameaça do extremismo islâmico – “o combate da nossa geração”, chamou-lhe David Cameron. Sublinhando a dimensão da ameaça, o primeiro-ministro britânico revelou que só nos últimos seis meses terão sido travados “qualquer coisa como sete atentados” no país, “ainda que de menor envergadura” dos que visaram Paris.
Cameron, que ordenou um reforço da segurança no rescaldo dos ataques de sexta-feira, reconhece que o que se passou em Paris “poderia ter-se passado” em Londres ou em qualquer outra cidade da Europa. “Estamos cientes de que há células a operar na Síria que se dedicam a radicalizar pessoas nos nossos países, enviando potencialmente pessoas para perpetrar esses ataques”, explicou, numa entrevista à BBC Radio a partir de Antalya, na Turquia, onde participa na cimeira do G20.
Os ataques desmantelados e a certeza de que há indivíduos radicalizados em território europeu dispostos a passar à acção “são algumas das razões” que levaram o Governo britânico a decidir reforçar os seus serviços de informação interna (MI5) e externa (MI6), bem como a agência de vigilância de comunicações, GCHQ, com quase dois mil novos agentes – o que, segundo a imprensa britânica, representa um acréscimo de 15% face ao actual número de funcionários dos três organismos.
Londres decidiu também duplicar, ao longo dos próximos cinco anos, as verbas disponibilizadas para o sector da segurança aérea, um montante que ronda actualmente os nove milhões de libras. Dinheiro que será dedicado à contratação de peritos para avaliar, de forma regular, a segurança dos aeroportos para onde voam as companhias aéreas britânicas, e para desenvolver tecnologia mais sofisticada para controlo de passageiros e bagagem nos terminais aéreos.
A decisão acontece pouco mais de duas semanas depois de um avião russo com 224 pessoas a bordo se ter despenhado na península do Sinai, no Egipto – tal como em Paris, o Estado Islâmico reivindicou a acção e, depois do cepticismo inicial, os serviços secretos ocidentais privilegiam a tese de queuma bomba terá explodido a bordo. O Governo britânico, que suspendeu as ligações aéreas para Sharm el-Sheik, de onde partira o avião acidentado, decidiu enviar especialistas para averiguarem a segurança de vários aeroportos para os quais voam as companhias aéreas britânicas, em particular em África e no Médio Oriente.
“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a segurança dos nossos cidadãos. Mas vivemos num mundo que é muito, muito perigoso”, admitiu Cameron, sublinhando que nenhum esforço deve ser poupado para reforçar a segurança do país e dos seus cidadãos. “Este é o combate da nossa geração. O vírus da violência do extremismo islâmico é um desafio que devemos enfrentar por todos os meios.”
Sobre a possibilidade de levar essa luta até à Síria, onde o Estado Islâmico controla uma vasta faixa de território, o primeiro-ministro britânico afirmou que não hesitaria em ordenar o bombardeamento do grupo terrorista naquele país se “houvesse interesses britânicos em causa”. Cameron diz-se convicto que os caças britânicos não devem limitar as suas operações ao Iraque – onde estão a operar com autorização do governo de Bagdad –, sublinhando que se os jihadistas “não reconhecem as fronteiras da Síria e do Iraque”, os países que os combatem não devem estar limitados por elas. Admitiu, porém, que têm ainda de convencer a maioria do Parlamento britânico, não tendo ainda agendado uma data para levar o tema a discussão.
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