03.10.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
1A Igreja tem, por estes dias, uma rara oportunidade para dar um sinal de abertura ao Mundo. E espera-se que da reflexão das 400 pessoas presentes no Sínodo dos Bispos, que decorrerá no Vaticano até 25 de outubro, emane a coragem para quebrar um ciclo vicioso que afasta a família do seio da fé em vez de a aproximar.
Verdadeiramente, as conclusões sobre "A vocação e a missão da família na Igreja e no Mundo contemporâneo" só terão impacto social se responderem a uma simples pergunta: como é que os bispos vão conciliar a prescrita indissolubilidade do matrimónio com os divorciados recasados?
Simplificando os processos de nulidade, o Papa Francisco já obrigou os padres sinodais a concentrarem-se nesta questão. Resta perceber o que também eles, e são muitos, defenderão no Sínodo. Porque não ser sensível ao sentimento de marginalização sentido pelos fiéis recasados só por não poderem comungar é não entender os dias de hoje.
Há ainda o tema sensível do acolhimento dos homossexuais. Que os bispos não resolvem fazendo de conta que não existe.
2Os portugueses compreenderão que, em dias agitados como este, Cavaco Silva se recolha a um momento de simplicidade no dia em que se comemora a instauração da República. Compreenderão menos que não faça nada, sobretudo vindo de um institucionalista como ele. Por três ordens de razão:
- A reflexão que se impõe não impede uma forma alternativa de assinalar a data e de fazer uma breve aparição, que em nada o desviaria das soluções para o futuro do país. Basta olhar para o passado e para as suas próprias opções: em 2009, por as comemorações se realizarem em vésperas de eleições autárquicas, optou por não se deslocar à Câmara de Lisboa, mas abriu ao público os jardins do Palácio de Belém, onde proferiu uma curta intervenção.
- Foi Cavaco Silva a marcar as eleições e o calendário não mudou desde então. Quando escolheu o dia 4 de outubro, sabia que o dia seguinte seria 5.
- A questão de fundo é sobretudo política. Soube-se que o presidente da República iria estar ausente das comemorações um dia apenas depois de ter dito que sabia "muito bem aquilo que irá fazer" no pós-eleições. Foi, de resto, mais longe e garantiu ser "totalmente insensível a quaisquer pressões". Ora, se é tão claro na sua cabeça o que se segue ao 4 de outubro, que concentração tão necessária é essa que não permite sequer uma aparição de dez minutos, que permita dignificar uma data que perdeu já suficiente dignidade com a eliminação do feriado?
*DIRETOR-EXECUTIVO
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