Li, no mais recente boletim da AIM, uma notícia sobre uma visita duma "brigada" parlamentar da Frelimo a Maputo. Verónica Macamo, é citada como tendo dito, a propósito da reprovação das "autarquias provinciais", o seguinte: "A RENAMO queria que violássemos a Constituição da República. Isso é o mesmo que exisitirem livros eclesiásticos que violam a Bíblia...".
Fiquei estupefacto. Comparar a Bíblia com a Constituição? A questão é a seguinte: só faz sentido comparar quando existe um termo de comparação relevante. Suponho que ela tenha partido do princípio segundo o qual a defesa de certos princípios fundamentais fosse esse termo de comparação. Mas isso é problemático. A Bíblia, seja qual for o seu mérito como documento de referência, é um documento zelosamente protegido por fanáticos ou dogmáticos que se consideram mais próximos do Criador. É um documento que se presta ao dogmatismo. A Constituição, porém, é um documento vivo que vale o que vale pela possibilidade de ser alterado. Quando vira dogma, a política morre.
A rejeição das "autarquias provinciais" não se pode justificar por serem (apenas) contrárias à Constituição. Elas eram uma solução para um problema completamente diferente. Festejei a sua reprovação por essa razão. Parece-me, contudo, politicamente insensato usar o argumento da inconstitucionalidade para justificar a rejeição porque isso faria da Constituição letra morta como a Bíblia. Aliás, mesmo a Bíblia tem sido objecto de várias interpretações, razão pela qual a Renamo, o MDM e a própria Frelimo se reclamam religiosos, mas mesmo assim se batem sem tréguas.
Gostava de saber quando este pessoal todo virou cristão que até irrita. Que saudades do ateísmo lá dos tempos..
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