OPINIÃO
09/06/2015 - 05:55
A vaidade incontida é um tique transversal aos presidentes dos três grandes.
Só há uma razão para as saídas de Jorge Jesus e Marco Silva: o ego desmesurado dos presidentes do Benfica e do Sporting. Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho querem ser as principais figuras dos seus clubes e alcançar a suprema adulação dos adeptos, e isso não é compatível com a existência de treinadores demasiado populares.
É por isso que Pinto da Costa, apesar de ter perdido dois campeonatos seguidos e estar a perder tracção competitiva, é o grande vencedor espiritual deste combate: ele conseguiu impor um estilo de presidente que todos – incluindo os que o odeiam – ambicionam seguir.
Amarrados à angústia da influência, Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho querem ser os novos Pintos da Costa da Segunda Circular. Tal como os maus escritores macaqueiam de forma desajeitada o estilo dos mestres, Vieira e Carvalho têm passado boa parte das suas existências desportivas a tentar replicar o estilo do presidente do Porto, ainda que disso pareçam não ter consciência – o que apenas torna a coisa mais patética.
Bruno de Carvalho, na sua excitação juvenil, acaba de mandar borda fora um dos mais promissores treinadores portugueses, e o primeiro a conquistar uma taça para o clube após sete anos de jejum, com uma equipa que está muito atrás de Porto e de Benfica em termos de qualidade. Pior: Carvalho esperou pelo final da época para lhe interpor um processo disciplinar capaz de envergonhar o próprio Jorge Gonçalves, ao mesmo tempo que fazia implodir todo o discurso do clube responsável e poupadinho. E tudo isto porquê? Pelo prazer de sacar o treinador do Benfica (como Pinto da Costa saca jogadores), de exibir internamente a sua autoridade (idem idem) e de abastecer o tanque da ironia e dos innuendos (aspas aspas). Não é de estranhar: o presidente do Sporting tinha 10 anos quando Pinto da Costa se tornou presidente do FC Porto e, para ele, ser um presidente de futebol bem-sucedido é aquilo.
Mas Luís Filipe Vieira, presidente do meu clube, tem mais uns aninhos do que Bruno de Carvalho e deveria aspirar a um pouco mais do que a emulação de Pinto da Costa. Vieira teve o enorme mérito de aguentar Jesus quando ninguém o queria, após dois anos de derrotas com o Porto de Vítor Pereira, e tem agora o enorme demérito de o ter empurrado para fora da Luz, convencido de que ninguém em Portugal teria dinheiro para o contratar. As contas saíram-lhe furadas, e é bem feito: nenhum bom homem de negócios despede um treinador vencedor com a desculpa de que ele não aposta na formação. A verdade é que, se não apostava na formação de portugueses, apostava na formação de brasileiros, argentinos, belgas ou sérvios.
O problema de Luís Filipe Vieira é outro: se Jorge Jesus ficasse e fosse tricampeão, o tricampeonato seria de Jorge Jesus e não de Luís Filipe Vieira. E a vaidade incontida é um tique transversal aos presidentes dos três grandes. Vieira quer demonstrar que as vitórias são, em primeiro lugar, mérito seu e da estrutura que ele montou na Luz – não de Jesus e do seu talento. Por isso, contra todas as expectativas, arriscou perder o melhor treinador dos últimos 30 anos. Vieira teria sempre um lugar na história do Benfica pelo excelente trabalho de reconstrução do clube – só que isso não lhe chega. Luís Filipe Vieira quer ser o nome mais aplaudido pelos adeptos quando sobe a um palco. Ele não quer perder para Jorge Jesus. Ele não quer perder para Luisão, Jonas ou Gaitán. Mas, sobretudo, ele não quer perder para Jorge Nuno Pinto da Costa.
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