sábado, 11 de abril de 2015

Carta aberta ao Ministro da Educação, Jorge Ferrão


Nós, os professores, não queremos ser milionários
Senhor Ministro, tenho acompanhado atentamente o seu trabalho, desde que ascendeu ao cargo de Ministro de Educação e Desenvolvimento Humano. Diga-se, tem sido um trabalho, até agora, excelente. Há, de facto, necessidade de reflectirmos sobre o rumo que a nossa Educação está a tomar. Tenho aplaudido bastante algumas conclusões a que tem chegado sobre os problemas que enfermam a Educação, daí que tenho sido o seu fã incondicional.
Na quinta-feira, acompanhei atentamente o seu discurso no Parlamento. E como de costume, fiquei emocionado ao ouvir que sabe falar com propriedade sobre os problemas que enfermam a nossa Educação. Mas também ouvi, com muita tristeza, a firmação de que “em nenhuma parte do mundo o professor é milionário”.
Ora, o Senhor Ministro, sendo professor, sabem que o problema do professor Moçambicano não é ter um salário milionário. Não sei por que motivos, este infeliz enunciado, atravessou o seu discurso, que estava a ser magnífico. É possível, é o que penso, que um dos seus assessores, mal-intencionado, é claro, tenha colocado este enunciado sem a sua anuência, porque não o vejo como um pensamento genuíno seu, mas de uma pessoa que nunca foi professor de verdade, de uma pessoa que nunca soube o que é deixar crianças em casa, para ir trabalhar, sem pão. De uma pessoa que nunca sentiu a dor de ver um homem da EDM a vir corta-lhe a energia o da FIPAG a cortar-lhe água por não ter conseguido pagar estas despesas no tempo previsto. A pessoa que atravessou este enunciado no seu discurso, não sabe a dor de um professor que vê a sua casa de adobe a cair por causa da chuva; não entende a humilhação que passa o professor ao ir a um agiota comprar dinheiro para conseguir viver com a família até ao fim do mês; nunca passou a noite sem dormir por pensar onde conseguir um dinheirozito, para levar o seu filho, enfermo, a um bom hospital a um bom médico; não sabe o que é pedir a um aluno 50.00MT para apanhar táxi-mota, para voltar a sua casa, no dia em que a sua aula termina as 22:55 H, enfim, a pessoa que colocou este trecho no seu discurso, não nos conhece, não nos entende.
Senhor Ministro, nós os professores, quando falamos que o nosso salário é baixo, não queremos, com isso, dizer que queremos ser milionários. Estamos, isso sim, Senhor Ministro, a dizer que o nosso salário não nos permite ser bons educadores; o nosso salário não nos permite ter uma vida descente; não nos permite que trabalhemos tranquilos. Não pedimos o muito, estamos a pedir o suficiente. Não queremos ser milionários Senhor Ministro, queremos, apenas, ter uma casa e alimentação condignas, queremos dar uma educação condigna aos nossos filhos, queremos conseguir pagar a água que bebemos e a energia que usamos para planificar as aulas anoite. Os que nasceram para ser milionários, que continuem a ser milionários, nós só queremos uma vida condigna, só isso.




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