EDITORIAL
28/04/2015 - 20:45
Numa semana tudo mudou. Até podemos vir a ter programas eleitorais quantificados e auditados.
Não há dúvida de que o cenário macroeconómico elaborado por 12 economistas, que servirá de base ao programa eleitoral do PS, agitou a maioria governamental. Desde logo pelo método. Um conjunto de especialistas, uns mais técnicos, outros mais políticos; uns mais liberais, outros mais sociais-democratas; uns com expectativa de ir para o governo, outros sem qualquer apetite pelo poder, estudaram as contas e apresentaram um conjunto de medidas alternativas às actuais políticas. Tudo foi feito by the book, ou seja, dentro das regras e dos constrangimentos impostos pela União Europeia, baseado em documentos e dados oficiais e sem violar quaisquer tipo de compromissos assumidos pelo Estado português. Independentemente da bondade ou não das propostas apresentadas – e algumas delas são muito controversas e até contrariam políticas sempre defendidas pelo PS –, a seriedade do processo atingiu em cheio os partidos do Governo que, de repente, ficaram sem discurso. Agora, será mais complicado seguir um guião construído em função do passado e cuja perspectiva era um futuro sem alternativa credível, quando em cima da mesa está um documento com propostas para suavizar a austeridade, sem radicalismos ou promessas megalómanas, muito mais difíceis de descredibilizar perante o eleitorado.
Apanhado em contramão, o PSD começou por reagir recorrendo ao velho guião para qualificar de “caminho miraculoso” o cenário apresentado pelos 12. Mas rapidamente se recompôs. Em quatro dias, resolveu o último tabu da política à portuguesa, que era saber se ia haver coligação ou divórcio entre os partidos do Governo. De um momento para o outro caíram por terra todas as "teorias" sopradas por quem queria vender caro uma nova aliança, arrastando especulações e fazendo de conta que tinha sondagens, essas sim, miraculosas, sobre hipotéticas vitórias a solo. A pressa foi tanta que a coligação acabou por ser decidida no segredo dos deuses entre Passos Coelho e Paulo Portas, sujeitando os dois partidos ao papel de meros espectadores de um facto consumado.
A rapidíssima formalização da coligação é reveladora de uma outra preocupação por parte da maioria. PSD e CDS perceberam que vão ter de se esforçar muito mais para poderem disputar as eleições taco a taco com o PS. Não basta agarrar no borrão do PEC e do Plano Nacional de Reformas e mais uns pozinhos tirados daqui e dali para construir um programa eleitoral. O método utilizado pelos socialistas teve o condão de elevar a fasquia e a carta agora enviada por Marco António Costa, vice-presidente do PSD, ao líder do PS, pedindo-lhe para sujeitar o documento dos 12 ao crivo da Unidade Técnica de Apoio Orçamental, consolida a certeza de que as campanhas eleitorais nunca mais serão as mesmas. Propostas políticas quantificadas e auditadas são um luxo que não se imaginava possível há uma semana. E, se assim for, vai ser cada vez mais difícil enganar os portugueses.
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