Foto: AP/David Vincent
O Brasil reagiu aos atentados em Paris com uma nota oficial da presidente Dilma Rousseff e com o envio do embaixador, José Bustani, à capital francesa, onde participou na Marcha Republicana. O país vizinho, a Argentina, também expressou as suas condolências, expressas pelo chanceler, Héctor Timerman. Mas o que seguiu pode ser caraterizado como um escândalo midiático.
Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da Argentina criticou o jornal argentino Clarín de “mentir” sobre a sua atitude para com a Marcha Republicana. Segundo o jornal, depois de escrever as suas condolências no livro especial no Ministério das Relações Exteriores da França, Timerman pediu autorização à presidente Cristina Fernández de Kirchner para participar também da Marcha em Paris, mas a dignitária não permitiu.
Timerman, que chegou à capital francesa no regresso da China, confirmou que, efetivamente,escreveu no livro de condolências, mas depois não foi consultar a presidente. Segundo ele próprio disse em um , quanto à Marcha, preferiu “ficar junto ao cidadão comum”, e não em companhia de políticos. Por isso, não foi uma participação oficial.
O Clarín insiste que houve uma conversa com a chefe de Estado e que a ausência da Argentina das fileiras oficiais é condenável e que o culpado é precisamente Timerman, que “deveria rebelar-se” contra o governo. Já a recusa de Kirchner de ver o seu país representado em um evento que fez de Paris a “capital do mundo”, conforme a expressão usada pelo ministro do Interior francês, Manuel Valls, dever-se-ia à posição não oficial do governo argentino de considerar a França um país “colonial”.
Segundo o Clarín, tal posição é publicamente expressa pela líder do movimento Madres de la Plaza de Mayo, Hebe Bonafini, e ela “diz publicamente nos últimos anos aquilo que o governo não quer expressar oficialmente”.
Timerman foi o único político argentino de alto cargo a comentar “offline” os ataques contra a revista Charlie Hebdo e contra o supermercado de produtos judaicos. O governo argentino publicou diversos tweets sobre o tema, mas ainda não houve um pronunciamento oficial fora da Internet. Houve também um comunicado divulgado na da presidente, onde ela “condena energicamente o bárbaro ataque terrorista” perpetrado na sede do Charlie Hebdo e “reitera o seu inalterável compromisso com a paz e com a luta contra o terrorismoem todas as suas formas, assim como a vontade e a decisão políticas de continuar fortalecendo os mecanismos de cooperação internacional”.
Segundo a jornalista do Clarín María Laura Avignolo, que foi a primeira a culpar o ministro Timerman, isso é pouco. Já outro colega dela, também do Clarín, Juan Carlos Algañaraz, que “a América Latina parece ter cometido um gigantesco erro diplomático porque foi a única região que não esteve presente nesses cinco dias que comoveram o mundo”.
A discussão pode ter a ver com as eleições presidenciais que serão celebradas na Argentina em outubro de 2015. A polêmica se limita à mídia argentina e quase não teve repercussão no Brasil, que parece que inicia este ano de 2015 com uma série de desafios domésticos e aguarda atentamente as ações do governo.
Contudo, há países que não tiveram representação oficial completa na Marcha. Esta lista é liderada pelos EUA, país que atrai a atenção internacional. Na segunda-feira passada, o secretário de Estado desse país, John Kerry, emitiu, através do seu Twitter, um comunicado em que declarava que pretendia visitar a França no final da semana em curso para “demonstrar o respeito ao povo francês” e talvez expressar a solidariedade dos EUA com a França.
Os dirigentes norte-americanos também foram alvo de acusações por parte da imprensa nacional pelo fato de não terem estado presentes em um evento dedicado a um tema extremamente sensível, inclusive para os próprios EUA, ou seja, a luta contra o terrorismo.
Resta acrescentar que nem a França ficou completamente unida na Marcha. As forças conservadoras de extrema-direita, representadas pelo movimento Frente Nacional (FN), liderado por Marine Le Pen, recusaram-se a participar do evento parisiense, tendo organizado marchas separadas em outros locais.
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