quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O feiticeiro do Phombe




As amostras do conteúdo venenoso do frasco azul encontrado num dos tambores da fabriqueta de dona Olívia foram enviadas para o estrangeiro porque cá ainda não temos laboratórios capazes. Enquanto ainda não chegam as análises que identificarão a droga venenosa, as autoridades policiais estão mudas quanto ao estado da investigação no terreno. Este silencio é daquelas falhas grosseiras que se tem perpetuado quando acontece um crime violento ou se abre uma comissão de inquérito em Moçambique. 


Mas uma coisa é a investigação laboratorial e outra é a policial. Uma tem por finalidade responder a uma questão central: a natureza do veneno. Outra visa solucionar outra questão crucial: quem foi o seu autor. E, segundo me consta, esta última questão já tem resposta. Pelo menos há um suspeito que está no “encalço” da Polícia: um curandeiro malawiano que, para mim, virou feiticeiro. 

Dona Olívia queria aumentar as vendas e cumprir metas. Encomendou-lhe a “poção mágica”, mas acabou errando no modo de administração. Disseram-lhe para colocar o remédio “debaixo do tambor”, mas ela meteu “no fundo do tambor”, lá bem em baixo. Falha em procedimentos que, dizem, estão bem enraizados entre a concorrência por aquela e outras bandas. Seja como for, a pista do feiticeiro malawiano foi comunicada a Afonso Dhlakama, quando este visitou hospital de Chitima. Uma das vitimas contou a história a DHL porque, alegou ele, estirado no leito, não confiava nas pessoas do Governo. Espero que a nossa Polícia localize o homem, agora que a caçada está aí.

Mas o que aconteceu em Chitima ao nível da reacção das autoridades do Governo merece outro tipo de respostas. Ontem, o Bastonário da Ordem dos Médicos, o Dr Zacarias, deu o mote, na STV, relevando que a Medicina Legal não foi envolvida. Zacarias disse isso com um ar pesaroso. Eu recordei-me nas mortes na incubadora de Quelimane, na senhora que despertou na morgue em Manica, na mãe que perdeu o bebé por negligência em Nampula, nas filas intermináveis do Centro de Saúde do Xipamanine, etc. 

Despertei-me também para memórias de um tempo em que o sector da Saúde em Moçambique estava a ser reconstruído fruto do voluntarismo de um homem chamado Paulo Ivo Garrido. Ele tentou inculcar a ética, a pontualidade e a eficiência no serviço de Saúde; entricheirou-se contra o despesismo antes de isso ser chavão eleitoral; e combateu o “deixar andar” de Chissano, pese embora a prática de Guebuza contrariou o seu discurso. O afastamento de Garrido arruinou a Saúde nesses aspectos. Na fase de transição em que estamos, talvez precisássemos de outros “Ivos Garridos” para dar conteúdo concreto à nossa cartilha de princípios e fazer reformas verdadeiras. Duvido que com algumas das pedras escolhidas isso aconteça.

Sem comentários: