Saturday, October 5, 2013

PERCA DE EXPECTATIVAS DE CHEGAR AO PODER EXPLICA MUSCULATURA BELICISTA DA RENAMO

 

À medida que se aproximava o dia Quatro de Outubro, em que os moçambicanos assinalam o 21º aniversário dos acordos de Roma que determinaram o fim da guerra que devastou Moçambique durante 16 anos, muitos deles multiplicaram as suas interrogações sobre o que terá acontecido de errado para que a Renamo volte a ensaiar a sua musculatura belicista.
Neste artigo, irei tentar dar uma resposta, baseando-me mais na ciência política, mormente na conceptualização analítica de Hans Morganthau, um grande cientista político alemão-americano, mais em torno do que ele chama de impacto ou efeito do fracasso das expectativas.
Ele vinca que quando as expectativas de alguém não são correspondidas, ocorre logo uma frustração e que, caso essa não correspondência seja por muito tempo, o frustrado passa a odiar a pessoa ou entidade que encara como responsável pela não concretização dessas suas expectativas. E caso essa falta de correspondência dar sinais de se tornar irreversível, aí o frustrado desemboca na violência.

Esta fase de odeio como catalisadora da violência é, a meu ver, a que está a afectar a Renamo neste momento, pelo menos no que tange a alguns dos seus dirigentes, como o próprio Afonso Dhlakama, e vários outros que gravitam à sua volta, como Fernando Mazanga, só para citar os que mais se evidenciam.
É claro que há muitos mais que detestam todos os que possam se apresentar como frelimistas, porque já não os encaram como rivais políticos, mas sim inimigos.
Para confirmar que estão fortemente assanhados ou repossuídos pela ira e odeio, basta ver o semblante das suas faces nos écranes dos televisores quando fazem intervenções, principalmente quando estão em debates políticos. Numa das últimas vezes que vi Fernando Mazanga em debates, cheguei a pensar que iria explodir. Quem esteja em dúvida do que aqui digo, que peça a TOP TV, por exemplo, as cópias de alguns desses debates que verá que não estou a exagerar.
Nesses debates, fica mais do que claro que ele e outros colegas estão mais do que zangados. A prova de que perderam a esperança está na sua opção de não mais participar em eleições, disfarçados, como sempre, com a tradicional desculpa de maus pagadores, de que não há condições políticas e de exigirem uma paridade na CNE que a ser aceite lhes daria um poder de vetar todas as deliberações que lhes fossem desfavoráveis.
AS VITÓRIAS ESMAGADORAS DA FRELIMO ESFUMARAM AS EXPECTATIVAS DA RENAMO
Para que não seja mal-entendido ou visto como quem faz leituras politicas erradas, ao dizer que a Renamo está a ensaiar o retorno à guerra porque perdeu a esperança que era única razão que mantinha os seus líderes abraçados à paz ao longo destes últimos 20 anos.
A perca dessas expectativas ou esperança de dias melhores começou a ocorrer ou a ganhar mais corpo e intensidade, a partir do momento em que a Frelimo passou a ter vitórias eleitorais mais expressivas ou esmagadoras, principalmente nas gerais de 2004, que resultaram na eleição folgada, mas surpreendente para a Renamo, de Armando Guebuza como terceiro Presidente de Moçambique em que a Perdiz viu a sua bancada parlamentar que formou em coligação com vários partidos reduzida de 117, na eleição de 1999, para apenas 90 deputados, contra 160 da Frelimo. Há que notar que nas primeiras de 1994, a Renamo teve 112 deputados contra 129 da Frelimo, o que obviamente teria alimentado muitas expectativas aos renamistas e à sua liderança.
Mas o que veio matar de vez as expectativas da Renamo e todos os que gravitavam à sua volta, e induzir neles o tal ódio pela Frelimo que agora está degenerando em violência, foi nas gerais da 2009, em que a Frelimo elegeu 191 deputados, contra apenas 51 da Renamo e 8 do MDM, e em que Armando Guebuza conseguiu uma reeleição ainda mais folgada que a de 2004. Esta perca em massa de assentos foi tão chocante que levou Dhlakama a ordenar que os seus deputados não tomassem posse, alegando que tinha havido fraude. Só que eles desobedeceram-no e foram tomando posse um atras do outro.
Na verdade, os resultados das últimas duas eleições, atiraram no desespero, num ápice, muitos dos deputados da Renamo que não conseguiram a reeleição, pior para aqueles que tinham nesta função parlamentar o seu único ganha-pão, do mesmo modo que matou as expectativas dos que estavam a concorrer pela primeira vez, e que viram goradas as suas expectativas de ter também, diga-se em abono da verdade, um bom ganha-pão porque os salários na AR não são nada irrisórios, para não falar de um rol de outras regalias que concorrem para uma paz de espírito.
Ora, não terem conseguido renovar ou a eleição é muito frustrante para qualquer ser humano e, para quem se acha munido de outros meios para conseguir o que pela via legal não consegue, pode ser tentado a optar pelos ilegais, porque para eles o que conta são os fins. É o que, a meu ver, a Renamo está a ensaiar a partir do momento que o seu líder voltou a se instalar nas matas de Santhunjira.
É preciso notar que a redução drástica dos seus deputados, reduziu também drasticamente o valor monetário que agora é canalizado à Renamo pelo tesouro moçambicano, porque é proporcional ao numero de deputados que cada partido tem no Parlamento. Os que estão dentro do esquema dizem que, neste momento, a Renamo recebe do Tesouro pouco mais de três milhões de meticais pelos 51 deputados que tem agora. Este valor é dado à Renamo directamente, para além dos salários que são pagos aos seus deputados. Como se pode ver, este valor pode ser muito pouco para uma formação política que já teve 117 deputados.
Tudo isto mostra claramente que estes resultados eleitorais de 2004 e 2009, causaram choques eléctricos nas hostes da Perdiz e em todos aqueles que ainda perfilhavam em torno desta ave indomesticável como é indomesticável a própria Renamo criada pelos então regimes racistas de Ian Smith, na então Rodésia do Sul, e do apartheid, na Africa do Sul.
A RENAMO TEM TENTADO FORÇAR O GOVERNO A DAR-LHE MAIS DINHEIRO
O que me leva a concluir que o único problema que leva a Renamo agora a sacudir de novo o seu machado de guerra, é que na carta que endereçou ao Governo em Abril deste ano, solicitando uma audiência que agora se transformou num Dialogo prolongado, contém um capítulo designado Questões Económicas, em que está tão claro mesmo para os leigos que o que nela se exige é que Guebuza dê mais dinheiro à Renamo.
Nela queixa-se em como o que lhe tem sido dado não lhe permite que se transforme de movimento militar para partido político. Nesse parágrafo, não se faz menção dos milhões que a Renamo recebeu e esbanjou, como os 300 mil dólares mensais que as Nações Unidas deram a Dhlakama entre 1992 a 1994, nem mesmo os milhões que recebeu do Tesouro moçambicano quando tinha mais de 120 deputados. Fazer tudo para que volte a receber mais dinheiro, é a questão central que impera o Diálogo entre as duas partes.
O que mostra que a Renano não queria sequer que se perdesse tempo em reuniões do tipo das que tem tido lugar agora, é o facto de se ter recusado que a audiência fosse no luxuoso Hotel Indy Village, alegando ser um restaurante indecente, ao mesmo tempo que recusou que fosse no Ministério da Agricultura, dizendo que era ninho do chefe da Delegação do Governo, José Pacheco, para depois aceitar o Centro de Conferencias Joaquim Chissano, que é uma instituição tão do governo como aquele ministério.
Na verdade, a Renano está neste diálogo a queimar tempo para ver se o Governo acabará cedendo e dar-lhes o que de facto quer, dai que alega agora que os seus peritos militares não vêm a Maputo por razões logísticas, quando há uns dois meses atras levou para a mesma Santhunjra mais de 300 delegados que foram lá se reunir com o seu líder.
Tudo isto que acabo de resumir mostra e prova que todas estas alegacões são para ganhar tempo até que o Governo moçambicano assuma a mesma lógica ou algo parecido que o MPLA adoptou para Angola, em que para ganhar o apego eterno à paz dos dirigentes da UNITA, teve que dar-lhes alguns cargos governamentais, ao mesmo tempo que se passou a pagar salários chorudos para os que integraram o Parlamento, a tal ponto que já eram os próprios unitas que tanto se diziam amantes da democracia, que já nem queriam sequer ouvir mais falar-se de mais nova eleições no pais, porque temiam que fossem perder os seus assentos (fim).
gustavomavie@gmail.com
AIM – 04.10.2013

Comments

1
ZACARIA said...
Boa tarde .,
Não penso que seja séria uma noticia que fala "A Renamo recebeu milhoes deste e mais milhoes daquele organismo" e omite que a Frelimo "recebeu milhoes 10 vezes mais ou ate 100 vezes mais "
Quanto ao citado esbanjamento o que se vê aqui no Ocidente são membros dos governos africanos e suas familias a esbanjarem , e, note-se,nunca ouvi ou vi falar de politicos da oposição a esbanjarem....

Saudações Cordiais.,
2
noe nhantumbo said...
De tudo o que este senhor disse se esqueceu de dizer " vitorias esmagadoras, retumbantes, conzinhadas eem fogo lento na CNE e no STAE". Quem tem medo de cumprir na integra o AGP, quem nao reconhece os herois dos outros, quem mesmo sabendo que KGB, CIA, BOSS-NIS,influiram nos processos politicos internos e se llimita a acusar uma parte continua intolerante e Indisposto a uma reconciliacao dos mocambicanos, a uma paz activa, a um desenvolvimento inclusivo. Querem Mocambique com todos os seus recursos so para eles... Falemos simples e concreto sobre o que separa os mocambicanos neste momento... as teorias prescritas nos manuais de ciencia politica sao importantes mas nao sao para aqui chamados. muitas vezes oferecem solucoes indigestas para os repirmidos e oprimidos... produzamos nossa ciencia que traga a paz e o entendimento... atiremos o egoismo doentio para o lixo... ha espaco e recursos para todos... encontrar uma formula de equilibrio e de consenso e possivel... mesmmo que seja necessario trazer todos oos actores do passado para a mesa... Joaquim Chissano e Raul Domingos voltam a ser necessarios...

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