Alguns países vitais para a nossa retaguarda logística ainda não estavam independentes ou mal acabavam de aceder à independência, quando se formou a FRELIMO e se desencadeou a luta armada. A Zâmbia embora houvesse acedido ao estatuto de colónia com governo próprio, continuava com a Polícia, as Forças Armadas e a Segurança sob o controlo britânico, até que a UDI em 1965, forçou o Governo a afastar os elementos próximos da rebelião rodesiana.
O Malawi com Banda jamais procurou alienar-se das tutelas colonialistas e racistas. Moçambique existia como uma ilha no meio da anglofonia e tudo se direccionava para lá, emigração, relações, formações políticas, inspirações. Angola e Luanda estavam mais viradas para o Norte, os dois Congos e a francofonia. Esta situação levou à implantação inicial do MPLA no Congo e Zaire.
Basicamente, em 1969-1970, três Presidentes dos países fronteiriços com o colonialismo e os regimes racistas, Julius Nyerere da Tanzânia, Keneth Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama, do Botsuana iniciaram um processo de consultas informais, sobre as estratégias e tácticas para enfrentarem os inimigos da África.
Daí nasceu a chamada Declaração de Lusaca para a III Cimeira dos Não-Alinhados, em Setembro de 1970, que insistia no imperativo de negociações e brandamente afirmava que, face a um fracasso de um processo negocial, apoiar-se-ia a luta armada. Para a FRELIMO e outros movimentos de libertação, como o PAIGC e o MPLA, a SWAPO, a ZAPU e a ZANU, o ANC empenhados na via da luta armada, a Declaração surgiu como um balde de água fria, pois, ignorava que já estávamos em guerra há nove anos, no caso angolano e do PAIGC, e no moçambicano seis anos. Enfrentávamos, nesse momento, a ofensiva dita Nó Górdio. Alvitrar-se que a recusa de negociação levaria ao apoio da luta armada não fazia sentido, quando ela se desenvolvia e com o apoio de vários dos signatários.
A Declaração de Lusaca,preparada pela Zâmbia, resultava dos contactos e da estratégia diplomática que ela levara a cabo com Portugal de Marcello Caetano e a África do Sul de Vorster, em busca do desanuviamento.
Não existe propriamente uma data do nascimento da Linha da Frente, não há um documento normando e estruturando, apenas comunicados após as cimeiras. Reuniam-se os Chefes de Estado, isso não significava que existisse uma organização como tal. A partir de finais de 1974 integraram Samora. A partir de 1976 Angola já fazia parte da OUA, então o Presidente Neto juntou-se à Linha da Frente. A OUA, desde basicamente 1976, começou a responsabilizar os Estados da Linha da Frente, para as questões pertinentes à libertação da Namíbia, Zimbabué e África do Sul.
Havia apenas reuniões entre os Chefes de Estado, sublinho. Mesmo os ministros não participavam, como regra. Não se secretariavam as reuniões. Quando havia pontos a que se devia dar seguimento, Nyerere chamava os ministros e sumarizava o que haviam concertado, para que organizassem a implementação.
Por vezes chamavam-me a mim e ao Fernando Honwana para interpretarmos. Noutras sessões, e porque se queria um comunicado público, os Presidentes instruíam a alguns ministros e a um grupo de colaboradores, de que eu fazia normalmente parte, para redigirem. Muito excepcionalmente, os ministros preparavam, em comum, alguns tópicos para os encontros.
A Tanzânia desempenhou, neste período, o papel de país determinante para a causa da libertação de Moçambique, do mesmo modo que para o reconhecimento e triunfo do governo angolano.
A escolha deliberada de Lusaca, por Samora, para palco das conversações com Portugal, visava garantir prestígio para a Zâmbia e Kaunda e, de algum modo, comprometê-los com o nosso roteiro. A Zâmbia sempre praticou uma política de hesitação, com a COREMO, com os planos de Jorge Jardim e outras manobras. Houve sucesso no travar-se as inconstâncias zambianas em relação a Moçambique. A partir das primeiras conversações com o governo português, em Lusaca, em Junho de 1974, estabilizaram-se as relações bilaterais entre a FRELIMO e a UNIP, e entre o nosso Estado, que nascia, e a Zâmbia, embora surgissem tensões sobre Angola e o Zimbabué.
Durante as vicissitudes que atravessou a luta de libertação do Zimbabué, e o combate pelo reconhecimento do governo angolano do MPLA, novas crises surgiriam com a Zâmbia e entre esta e a Tanzânia.
Enquanto a Tanzânia com Nyerere prosseguia uma linha política clara e não hesitava no apoio à causa da libertação do Zimbabué, quer a Zâmbia quer o Botsuana, estavam condicionados pela dependência económica em relação aos estados racistas. Mesmo depois de construída pela China a via-férrea que ligava a Zâmbia à Tanzânia, interesses de vários grupos internos e de elites do poder continuavam a pressionar a manutenção da dependência zambiana às ligações ferro-portuárias com Moçambique e a África do Sul. Por absurdo o Botsuana embora encravado mas onde não existiam elites ligadas aos sistemas racistas mostrava-se mais flexível e livre.
Se divergíamos nas preocupações imediatas não se criaram antagonismos e, a tempo, superávamos qualquer desacordo surgido.
Criaram-se entre os Estados e os homens que os serviam ligações que muito contribuíram para a harmonia que até hoje existe. Um abraço a isso,
Sérgio Vieira
P.S. O Estado sancionou e bem uma empresa por vender produtos alimentares fora de prazo ou com falsificação da data de expiração.
A imprensa independente ou dependente não deu grande destaque ao evento e muito menos se esforçou por indagar o que acontece com essa multidão de empresas que entendem que o nosso país não passa dum anexo de bantustão ou dependenciazinha das transnacionais.
Até os representantes de diversas marcas de veículos vivem das peças que importam da metrópole do antigo apartheid. Os produtos alimentares de lá vêm. Como é?
Talvez a imprensa dependa das publicidades e para garantir o bónus, bico calado!
Um abraço à independência que muitos apregoam e queremos real,
SV
R.P.S. Que as nossas meninas do basquete cubram Moçambique de ouro e que em Luanda os nossos jovens do hóquei subam ao pódio.
Um abraço ao sucesso para a Pátria,
SV
JORNAL DOMINGO – 29.09.2013
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