Canal de opinião
Mais uma do pato nacional (#canalmoz)
Beira (Canalmoz) – Antes, porém, um pequeno esclarecimento: a classe rica nacional é estratificada. Tem a sua hierarquia: ao cimo o pato nacional, Abaixo os patinhos e “patozinhos”.
Cada vez que o pato fala todos encostamos os nossos ouvidos à televisão, para captarmos o som da sua voz monocórdia, que o deixa a falar com os próprios botões....
Todos nós fomos educados para ouvir. É preciso respeitar a regra da audição, precisamente sabendo a sua soberana importância: quando um pato grasna temos que baixar as orelhas para o ouvirmos falar. A desdobrar as suas falas e teorias sobre a revolução verde, combate à pobreza, patriotismo, nacionalismo, auto-estima, de que ele é exímio entendido e afortunado.
Nas suas frequentes aparições ouvimo-lo interessados as lucubrações das suas acessórias. O país não perde um minuto do que ele fala, ávido que todos andamos das suas fórmulas para nos tornarmos ricos como ele e a sua prole de patinhos e “patozinhos”, pois neste que é um dos países mais pobres do mundo o anormal seria recusar uma consultoria gratuita.
E não seja senão por isso que afinamos todos pelo movimento compulsivo, aumentando o volume do aparelho da televisão para ouvir o pato grasnar, alto e a bom-tom aquelas palavras suas que caíam como migalhas na gola da camisa de design “Madiba” que envergava. Ficamos eu, o meu amigo, a Nação e ele sintonizados até que, por fim, ele sai do écran, eclipsado pela sua voz monocórdia.
O pato é frequentador das câmaras e holofotes televisivos. Enquanto isso, o meu amigo é-o do telemóvel. Os dois coincidem na conversa: falam da riqueza nacional absoluta.
Na sua última aparição, do que apreendi das palavras clarividentes e luminosas dele – digo, do pato, é que o pato numa de generoso fez as suas pesquisas e descobriu calcário algures em Chibabava (Para quem não sabe, Chibabava é a terra que está no mapa político moçambicano da actualidade, pois nele está sediado o Posto Administrativo de Muxúnguè, onde começou a crise político-militar que devasta o país).
Portanto, o pato acabadinho de constituir “joint venture” com que se dedica à “exploração mineira de pedra calcária e outros minerais”, através da sua famosa e superpoderosa holding, descobriu uma forma luminosa e engenhosa de resolver a crise político-militar e “cuá-cuá-cuá-cuá” (é o som do telefone do meu amigo a grasnar) prepara-se para empregar os antigos guerrilheiros do primo perdiz que não o deixam dormir confortavelmente no Palácio da Ponta Cheia, lá em Dilagoa Bay.
Desde 2003, a partir da Associação Comercial da Beira, que deixo os meus afazeres quando se trata de ouvir o pato doméstico. Tal é a expectativa que temos todos dos virtuosos sucessos do seu nacionalismo económico. E não foi sem senão que na altura a classe empresarial local também deixou tudo e fomos todos ouvidos a ouvi-lo a sua aula de sapiência, que durou para ali quase duas horas ... “Cuá-cuá-cuá-cuá” (o telemóvel do meu amigo volta a grasnar –o coitado arranjou esse tom acreditando que o grasnar do pato resolve a sua expectativa de tornar-se rico).
Não há algo ofensivo nesta de ser pato, pois não há ninguém neste país que não quer ser pato. Estamos no processo avançado de metamorfose progressiva para sermos patos, símbolo doméstico e nacional de riqueza. Por isso, tirando o meu acompanhante do serão televisivo, há cada vez mais gente que tem preferência no couro cabeludo acinzentado, pois a antiguidade é um posto. Imitação pode ser a chave. Também eu estou neste processo, irreversível de muda de pele, que vai de pelos pretos à penugem acinzentada. Sinal de que qualquer jovem na casa dos trinta anos, daqui a quarenta anos, o mais tardar, terá o auditório garantido. E lá estarão como mestres para os discípulos. “Cuá-cuá-cuá-cuá”... (o telemóvel do meu hóspede grasna que grasna e dono faz-se todo um pavão a mostrar que fala com o patinho do chefe).
O país tinha definido a década 80/90 como a da vitória sobre o subdesenvolvimento. Mas retardou-se na consumação. A década 2004/2004 é definitivamente e historicamente a década de prosperidade.
Para se ser pato doméstico já não precisaremos de fazer esquemas. Nem desenrascar. Só temos que aceitar pacificamente este processo de metamorfose, de transmutação natural ou de clonagem.
Uma simples operação cirúrgica. Dizem que a origem da burguesia nacional é a capoeira. O candidato a pato só tem que se desdobrar e habilitar-se a comer milho, de “batuque e maçaroca” ao alto, de braço direito levantado ao alto até deixar ver a sovaqueira barbeada e suja. E quando estiver devidamente domesticado lhe dispensam a capoeira. Lhe vão mostrando a machamba de milho que é o país. Sim, disse-o bem: este país é uma machamba de milho. E vai dali que ao pato emergente se lhe oferece, se lhe dispõe umas coutadas. Como Tete, que é a maior e melhor coutada de milho verde. Agora se rivaliza com Cabo Delgado, em termos de qualidade. Já se vê porquê nos símbolos de alguns dos partidos domésticos reinam aves. É porque todos querem comer o milho, esse ícone de riqueza absoluta.
Ainda assim, o pato doméstico toma um grau de milho aqui, ali, além, acolá. E “cuá-cuá-cuá-cuá”... Grau a grau o pato enche a bolsa.
Tomando o fio à meada. Falava da televisão, onde o pato-chefe, afinal na capoeira há sempre um pato chefe, e neste em que vivemos não poderia ser excepção, dizia, o pato doméstico que é muito astuto afirmou que quer se encontrar rapidamente com o primo perdiz, para resolverem o assunto de segurança. Fez a restrição à paridade que o primo perdiz exige à mesa de refeições da Sala de Conferência Joaquim Chissano. Paridade, já se vê, quer dizer comer e desfrutar do milheiral nacional em igualdade. A intenção do pato é de que o primo perdiz o ajude a criar os seus “patozinhos”, no processo que ele está de acumulação. E “cuá-cuá-cuá-cuá”... (outra vez o telemóvel do meu amigo).
O pato-chefe que descobriu o calcário e que condicionava a cimeira com o primo perdiz ao desarmamento prévio, lá vão dois meses, agora diz que os paus-mandados do primo perdiz, filho do régulo Mangunde, lhe estão a dificultar o encontro com aquele.
O pato-chefe, que ao écran da “TEVÊ” se mostrou visivelmente impaciente, fez um sermão em nome do ovo -a classe social que pertence o povo, que, segundo ele, não pode continuar a viver na incerteza de segurança. O ovo disfarçado em mais um das suas pretensões ambiciosas, escondido debaixo da manga da camisa.
Eis como interesses individuais se sobrepõem ao interesse da nação aqui nesta machamba ou milheiral que persistimos a chamar país.
E “cuá-cuá-cuá-cuá”... (é o pato do meu amigo de novo a falar ao telemóvel e a falar de riqueza absoluta a uma donzela que ele convidou para jantar no Clube Náutico).
A minha expectativa é que o pato e o primo perdiz resolvam suas makas, deixando o ovo a viver na sua rica paz de que tem perdida a esperança. (Adelino Timóteo)
Mais uma do pato nacional (#canalmoz)
Beira (Canalmoz) – Antes, porém, um pequeno esclarecimento: a classe rica nacional é estratificada. Tem a sua hierarquia: ao cimo o pato nacional, Abaixo os patinhos e “patozinhos”.
Cada vez que o pato fala todos encostamos os nossos ouvidos à televisão, para captarmos o som da sua voz monocórdia, que o deixa a falar com os próprios botões....
Todos nós fomos educados para ouvir. É preciso respeitar a regra da audição, precisamente sabendo a sua soberana importância: quando um pato grasna temos que baixar as orelhas para o ouvirmos falar. A desdobrar as suas falas e teorias sobre a revolução verde, combate à pobreza, patriotismo, nacionalismo, auto-estima, de que ele é exímio entendido e afortunado.
Nas suas frequentes aparições ouvimo-lo interessados as lucubrações das suas acessórias. O país não perde um minuto do que ele fala, ávido que todos andamos das suas fórmulas para nos tornarmos ricos como ele e a sua prole de patinhos e “patozinhos”, pois neste que é um dos países mais pobres do mundo o anormal seria recusar uma consultoria gratuita.
E não seja senão por isso que afinamos todos pelo movimento compulsivo, aumentando o volume do aparelho da televisão para ouvir o pato grasnar, alto e a bom-tom aquelas palavras suas que caíam como migalhas na gola da camisa de design “Madiba” que envergava. Ficamos eu, o meu amigo, a Nação e ele sintonizados até que, por fim, ele sai do écran, eclipsado pela sua voz monocórdia.
O pato é frequentador das câmaras e holofotes televisivos. Enquanto isso, o meu amigo é-o do telemóvel. Os dois coincidem na conversa: falam da riqueza nacional absoluta.
Na sua última aparição, do que apreendi das palavras clarividentes e luminosas dele – digo, do pato, é que o pato numa de generoso fez as suas pesquisas e descobriu calcário algures em Chibabava (Para quem não sabe, Chibabava é a terra que está no mapa político moçambicano da actualidade, pois nele está sediado o Posto Administrativo de Muxúnguè, onde começou a crise político-militar que devasta o país).
Portanto, o pato acabadinho de constituir “joint venture” com que se dedica à “exploração mineira de pedra calcária e outros minerais”, através da sua famosa e superpoderosa holding, descobriu uma forma luminosa e engenhosa de resolver a crise político-militar e “cuá-cuá-cuá-cuá” (é o som do telefone do meu amigo a grasnar) prepara-se para empregar os antigos guerrilheiros do primo perdiz que não o deixam dormir confortavelmente no Palácio da Ponta Cheia, lá em Dilagoa Bay.
Desde 2003, a partir da Associação Comercial da Beira, que deixo os meus afazeres quando se trata de ouvir o pato doméstico. Tal é a expectativa que temos todos dos virtuosos sucessos do seu nacionalismo económico. E não foi sem senão que na altura a classe empresarial local também deixou tudo e fomos todos ouvidos a ouvi-lo a sua aula de sapiência, que durou para ali quase duas horas ... “Cuá-cuá-cuá-cuá” (o telemóvel do meu amigo volta a grasnar –o coitado arranjou esse tom acreditando que o grasnar do pato resolve a sua expectativa de tornar-se rico).
Não há algo ofensivo nesta de ser pato, pois não há ninguém neste país que não quer ser pato. Estamos no processo avançado de metamorfose progressiva para sermos patos, símbolo doméstico e nacional de riqueza. Por isso, tirando o meu acompanhante do serão televisivo, há cada vez mais gente que tem preferência no couro cabeludo acinzentado, pois a antiguidade é um posto. Imitação pode ser a chave. Também eu estou neste processo, irreversível de muda de pele, que vai de pelos pretos à penugem acinzentada. Sinal de que qualquer jovem na casa dos trinta anos, daqui a quarenta anos, o mais tardar, terá o auditório garantido. E lá estarão como mestres para os discípulos. “Cuá-cuá-cuá-cuá”... (o telemóvel do meu hóspede grasna que grasna e dono faz-se todo um pavão a mostrar que fala com o patinho do chefe).
O país tinha definido a década 80/90 como a da vitória sobre o subdesenvolvimento. Mas retardou-se na consumação. A década 2004/2004 é definitivamente e historicamente a década de prosperidade.
Para se ser pato doméstico já não precisaremos de fazer esquemas. Nem desenrascar. Só temos que aceitar pacificamente este processo de metamorfose, de transmutação natural ou de clonagem.
Uma simples operação cirúrgica. Dizem que a origem da burguesia nacional é a capoeira. O candidato a pato só tem que se desdobrar e habilitar-se a comer milho, de “batuque e maçaroca” ao alto, de braço direito levantado ao alto até deixar ver a sovaqueira barbeada e suja. E quando estiver devidamente domesticado lhe dispensam a capoeira. Lhe vão mostrando a machamba de milho que é o país. Sim, disse-o bem: este país é uma machamba de milho. E vai dali que ao pato emergente se lhe oferece, se lhe dispõe umas coutadas. Como Tete, que é a maior e melhor coutada de milho verde. Agora se rivaliza com Cabo Delgado, em termos de qualidade. Já se vê porquê nos símbolos de alguns dos partidos domésticos reinam aves. É porque todos querem comer o milho, esse ícone de riqueza absoluta.
Ainda assim, o pato doméstico toma um grau de milho aqui, ali, além, acolá. E “cuá-cuá-cuá-cuá”... Grau a grau o pato enche a bolsa.
Tomando o fio à meada. Falava da televisão, onde o pato-chefe, afinal na capoeira há sempre um pato chefe, e neste em que vivemos não poderia ser excepção, dizia, o pato doméstico que é muito astuto afirmou que quer se encontrar rapidamente com o primo perdiz, para resolverem o assunto de segurança. Fez a restrição à paridade que o primo perdiz exige à mesa de refeições da Sala de Conferência Joaquim Chissano. Paridade, já se vê, quer dizer comer e desfrutar do milheiral nacional em igualdade. A intenção do pato é de que o primo perdiz o ajude a criar os seus “patozinhos”, no processo que ele está de acumulação. E “cuá-cuá-cuá-cuá”... (outra vez o telemóvel do meu amigo).
O pato-chefe que descobriu o calcário e que condicionava a cimeira com o primo perdiz ao desarmamento prévio, lá vão dois meses, agora diz que os paus-mandados do primo perdiz, filho do régulo Mangunde, lhe estão a dificultar o encontro com aquele.
O pato-chefe, que ao écran da “TEVÊ” se mostrou visivelmente impaciente, fez um sermão em nome do ovo -a classe social que pertence o povo, que, segundo ele, não pode continuar a viver na incerteza de segurança. O ovo disfarçado em mais um das suas pretensões ambiciosas, escondido debaixo da manga da camisa.
Eis como interesses individuais se sobrepõem ao interesse da nação aqui nesta machamba ou milheiral que persistimos a chamar país.
E “cuá-cuá-cuá-cuá”... (é o pato do meu amigo de novo a falar ao telemóvel e a falar de riqueza absoluta a uma donzela que ele convidou para jantar no Clube Náutico).
A minha expectativa é que o pato e o primo perdiz resolvam suas makas, deixando o ovo a viver na sua rica paz de que tem perdida a esperança. (Adelino Timóteo)
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