Todos pensarão, assim, em primeiro lugar, no PR, pelo cargo eleito, pelas funções simbólicas e constitucionais, pela experiência, e até pela tradição! Porém, Cavaco Silva parece ter esgotado a sua vontade e energia durante o primeiro mandato, e em algumas advertências mais venenosas no início do segundo. O seu último ato digno de registo foi o de ter enviado, em janeiro, para fiscalização constitucional sucessiva, algumas normas do OE, cujas inconstitucionalidades tenta agora atenuar com a promulgação, demasiado rápida e imponderada, do orçamento retificativo. O PR deixou de assumir o papel, de que tanto gostava e que não deixava de ser útil, de protetor dos cidadãos.
Depois de passar em revista Cavaco Silva, os nossos olhos viram-se para o líder do outro partido da coligação, Paulo Portas, há meses a organizar ofensivamente o terreno das diferenças narcísicas com Passos Coelho. E ei-lo que brilha, na apresentação da moção ao congresso, iluminado em direto por três canais noticiosos durante mais de uma hora sem interrupções nem perguntas, numa ode à audácia comunicacional do ex-jornalista. Mais dado à fórmula, e aqui e ali ao conceito, do que a atual equipa de Belém, Portas não fez mais do que duplicar a posição de Cavaco Silva sobre as razões do apoio ao governo Passos-Gaspar, mais crítica menos crítica, enquanto durar o "protetorado", esta figura semicolonial que prescindia de qualquer política externa. Até à restauração da independência, o patriotismo de Portas leva-o a manter este governo no poder. O líder do CDS encara-se a si próprio como um estadista atribuindo-se o papel de um putativo presidente da República.
Passos pode pois respirar até às autárquicas com esses dois vigilantes parados à porta de uma troika que lhes serve de álibi para um colaboracionismo a termo incerto.
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