31.10.2012 - 13:01 Por Ana Gomes Ferreira
Barack Obama (AFP)
Nos EUA as mulheres e os homens não se entendem na hora de votar. Quanto mais os candidatos às eleições presidenciais se afastam na ideologia, mais se polarizam eles e elas.
As mulheres vão decidir se Barack Obama é reeleito Presidente dos Estados Unidos da América, ou se será Mitt Romney o novo homem da Casa Branca, lia-se no site Politico, no início deste ano. Durante meses, o texto manteve-se actual. Hoje, talvez já não seja assim.
O número de eleitores de cada género que exerce o direito de voto é idêntico. Não há mais homens ou mais mulheres a votar. Culturalmente - a diferença está registada nas sondagens desde a década de 1970 -, as mulheres americanas votam no Partido Democrata e os homens no Republicano. A escassos dias das eleições (6 de Novembro), as sondagens não mostram que exista um vencedor claro. Pelo que a diferença de género poderá ser determinante. E sendo o eleitorado masculino menos volátil, os candidatos, o democrata Obama e o republicano Romney, apelam para elas.
A última sondagem de género, publicada na semana passada pela Associated Press, dizia que Obama, que passou o ano com 16 pontos de vantagem sobre o adversário junto das mulheres, perdeu, no último mês, muito terreno.
"À medida que a eleição se aproxima - explica a AP - Romney tentou desvalorizar as questões sociais e projectar uma imagem de moderado em questões como o aborto, na tentativa de captar os votos femininos". Terá tido sucesso, pois, de acordo com a sondagem, os votos das mulheres repartiam-se na quinta-feira passada igualmente entre os dois candidatos, 47% para cada um.
Durante o resto da campanha, não foi assim. E basta abrirmos os sites femininos de apoio aos candidatos para percebermos o que separa as mulheres de um e de outro lado.
Em Women for Obama estão as grandes referências dos chamados temas femininos. O aborto e a saúde reprodutiva, a igualdade salarial, o acesso à educação e ao trabalho (o desemprego feminino foi o que mais aumentou em quatro anos). A par da explicação da política do candidato para cada tema, o grupo das Mulheres Por Obama argumenta que estes não são apenas "temas de mulheres". São, dizem, temas socio-económicos.
Se Romney ganhar, explicam as democratas, o aborto será ilegalizado (o candidato defende que sejam os estados a legislar sobre esta matéria, não o Governo federal). Não será aprovada uma lei que garanta pagamento igual para trabalhos iguais. As empresas passarão a ter o direito de retirar a saúde reprodutiva (os contraceptivos) dos seguros de saúde. A reforma de saúde, que garante assistência médica a mais gente e maior acesso a medicamentos, será anulada. Os incentivos aos empréstimos bancários para pagar as propinas (taxas de juro mais baixas e condições de pagamento especiais) desaparecerão.
O que é um tema femino?
O Women for Romney é um site diferente, escrito na primeira pessoa e sempre em género de comentário. Um textos recente fala da quantidade de recados que recebem de democratas a perguntar por que não falam dos temas que interessam às mulheres. A resposta é dada com um inquérito às mulheres republicanas em que lhes foi perguntado o que as preocupa e o que defendem. Preocupa-as que os EUA já não sejam uma potência mundial forte, que não haja investimento militar, que o Governo gaste cada vez mais e se imiscua na vida das pessoas. Defendem "menos Governo", o Estado de Israel e os valores tradicionais. E como temas mais pertinentes elegem o desemprego e a degradação da educação.
Os republicanos insistiram que os "temas de mulheres" não interessam, realmente, às mulheres. O que as preocupa, sublinham, é o desemprego, a economia.
"Os republicanos tentaram aprovar uma cláusula de excepção na lei da saúde que discrimina as mulheres ao permitir que os empregadores se recusem a incluir os métodos contraceptivos nos seguros", dizia a Slate. "Ora isto é uma questão económica. Quando Mitt Romney, falando sobre mães solteiras (num discurso em que praticamente as acusou da violência com armas de fogo), sugeriu que a solução para os seus problemas seria encontrarem um homem com quem casarem, em vez de oferecer soluções políticas para os seus problemas, isso é uma questão económica".As mulheres são mais sensíveis do que os homens às questões sociais. Porque - outro dado histórico -, há mais mulheres dependentes do serviço nacional de saúde (Medicare), e há cada vez mais mulheres que têm de assumir sozinhas os encargos com os filhos. E as mulheres optam mais do que os homens por voltar à escola para melhorar a sua vida ou progredir no trabalho. "Romney tem razão. As mulheres consideram que o emprego e a economia são o mais importante. Acontece que há muitas mulheres que acham que Romney não as vai ajudar. É aqui que temos de perceber o fosso entre homens e mulheres na altura de votar", explicava a Slate.
E o que levou os homens a aproximar-se mais dos republicanos? Analistas políticos dizem que têm uma atitude diferente sobre o Estado-providência, ou social. Rejeitam-no mais, aliando-o a outro papão masculino: o Governo grande, gastador, que se intromete na vida dos cidadãos. Rejeitam aumentos de impostos para sustentar este Estado social. E é assim desde 1948, quando a América se tornou o grande país perante o resto do mundo arrasado pela II Guerra Mundial.
Obama é, portanto, de Vénus, e Romney é de Marte, como dizia o best-seller em que o americano John Grey explicava que os grandes problemas entre mulheres e homens (entre Vénus e Marte, entre a sensualidade e o amor físico, entre a deusa do amor e o deus da guerra) se devem a profundas diferenças de género.
Romney demarcou-se, por exemplo, do candidato ao Senado que disse que se uma mulher ficar grávida após uma violação, é porque foi a vontade de Deus. Mas não foi pela moderação de última hora que houve uma erosão na margem de votos femininos de Romney e Obama. Nada disso, diz a AP. O que aconteceu foi que boa parte do eleitorado masculino que abandonou Obama após a vitória de 2008 está a regressar.
Seis em casa dez americanos que disseram ir votar estão muito optimistas sobre o crescimento da economia no próximo ano; 42% dizem estar convencidos de que o desemprego vai diminuir substancialmente (em Janeiro só 32% acreditavam nisso). Subitamente, uma classe especial de homens, os empreendedores da classe média, gosta de Obama. Acreditam que o Presidente pode reanimar a economia. Perante esta mudança de campo, talvez não sejam, afinal, as mulheres, a decidir a eleição.
Obama está a recorrer a todas as armas para convencer mais mulheres a ir votar. Um governador republicano deu-lhe mais uma. Num comício com Romney, falou do papel da mulher republicana - e, por inerência, do papel de alguns homens republicanos: "Não é fácil para elas, ficam em casa a lavar a roupa... Suportam as nossas constantes viagens, têm de ficar em casa a cuidar dos filhos".
O número de eleitores de cada género que exerce o direito de voto é idêntico. Não há mais homens ou mais mulheres a votar. Culturalmente - a diferença está registada nas sondagens desde a década de 1970 -, as mulheres americanas votam no Partido Democrata e os homens no Republicano. A escassos dias das eleições (6 de Novembro), as sondagens não mostram que exista um vencedor claro. Pelo que a diferença de género poderá ser determinante. E sendo o eleitorado masculino menos volátil, os candidatos, o democrata Obama e o republicano Romney, apelam para elas.
A última sondagem de género, publicada na semana passada pela Associated Press, dizia que Obama, que passou o ano com 16 pontos de vantagem sobre o adversário junto das mulheres, perdeu, no último mês, muito terreno.
"À medida que a eleição se aproxima - explica a AP - Romney tentou desvalorizar as questões sociais e projectar uma imagem de moderado em questões como o aborto, na tentativa de captar os votos femininos". Terá tido sucesso, pois, de acordo com a sondagem, os votos das mulheres repartiam-se na quinta-feira passada igualmente entre os dois candidatos, 47% para cada um.
Durante o resto da campanha, não foi assim. E basta abrirmos os sites femininos de apoio aos candidatos para percebermos o que separa as mulheres de um e de outro lado.
Em Women for Obama estão as grandes referências dos chamados temas femininos. O aborto e a saúde reprodutiva, a igualdade salarial, o acesso à educação e ao trabalho (o desemprego feminino foi o que mais aumentou em quatro anos). A par da explicação da política do candidato para cada tema, o grupo das Mulheres Por Obama argumenta que estes não são apenas "temas de mulheres". São, dizem, temas socio-económicos.
Se Romney ganhar, explicam as democratas, o aborto será ilegalizado (o candidato defende que sejam os estados a legislar sobre esta matéria, não o Governo federal). Não será aprovada uma lei que garanta pagamento igual para trabalhos iguais. As empresas passarão a ter o direito de retirar a saúde reprodutiva (os contraceptivos) dos seguros de saúde. A reforma de saúde, que garante assistência médica a mais gente e maior acesso a medicamentos, será anulada. Os incentivos aos empréstimos bancários para pagar as propinas (taxas de juro mais baixas e condições de pagamento especiais) desaparecerão.
O que é um tema femino?
O Women for Romney é um site diferente, escrito na primeira pessoa e sempre em género de comentário. Um textos recente fala da quantidade de recados que recebem de democratas a perguntar por que não falam dos temas que interessam às mulheres. A resposta é dada com um inquérito às mulheres republicanas em que lhes foi perguntado o que as preocupa e o que defendem. Preocupa-as que os EUA já não sejam uma potência mundial forte, que não haja investimento militar, que o Governo gaste cada vez mais e se imiscua na vida das pessoas. Defendem "menos Governo", o Estado de Israel e os valores tradicionais. E como temas mais pertinentes elegem o desemprego e a degradação da educação.
Os republicanos insistiram que os "temas de mulheres" não interessam, realmente, às mulheres. O que as preocupa, sublinham, é o desemprego, a economia.
"Os republicanos tentaram aprovar uma cláusula de excepção na lei da saúde que discrimina as mulheres ao permitir que os empregadores se recusem a incluir os métodos contraceptivos nos seguros", dizia a Slate. "Ora isto é uma questão económica. Quando Mitt Romney, falando sobre mães solteiras (num discurso em que praticamente as acusou da violência com armas de fogo), sugeriu que a solução para os seus problemas seria encontrarem um homem com quem casarem, em vez de oferecer soluções políticas para os seus problemas, isso é uma questão económica".As mulheres são mais sensíveis do que os homens às questões sociais. Porque - outro dado histórico -, há mais mulheres dependentes do serviço nacional de saúde (Medicare), e há cada vez mais mulheres que têm de assumir sozinhas os encargos com os filhos. E as mulheres optam mais do que os homens por voltar à escola para melhorar a sua vida ou progredir no trabalho. "Romney tem razão. As mulheres consideram que o emprego e a economia são o mais importante. Acontece que há muitas mulheres que acham que Romney não as vai ajudar. É aqui que temos de perceber o fosso entre homens e mulheres na altura de votar", explicava a Slate.
E o que levou os homens a aproximar-se mais dos republicanos? Analistas políticos dizem que têm uma atitude diferente sobre o Estado-providência, ou social. Rejeitam-no mais, aliando-o a outro papão masculino: o Governo grande, gastador, que se intromete na vida dos cidadãos. Rejeitam aumentos de impostos para sustentar este Estado social. E é assim desde 1948, quando a América se tornou o grande país perante o resto do mundo arrasado pela II Guerra Mundial.
Obama é, portanto, de Vénus, e Romney é de Marte, como dizia o best-seller em que o americano John Grey explicava que os grandes problemas entre mulheres e homens (entre Vénus e Marte, entre a sensualidade e o amor físico, entre a deusa do amor e o deus da guerra) se devem a profundas diferenças de género.
Romney demarcou-se, por exemplo, do candidato ao Senado que disse que se uma mulher ficar grávida após uma violação, é porque foi a vontade de Deus. Mas não foi pela moderação de última hora que houve uma erosão na margem de votos femininos de Romney e Obama. Nada disso, diz a AP. O que aconteceu foi que boa parte do eleitorado masculino que abandonou Obama após a vitória de 2008 está a regressar.
Seis em casa dez americanos que disseram ir votar estão muito optimistas sobre o crescimento da economia no próximo ano; 42% dizem estar convencidos de que o desemprego vai diminuir substancialmente (em Janeiro só 32% acreditavam nisso). Subitamente, uma classe especial de homens, os empreendedores da classe média, gosta de Obama. Acreditam que o Presidente pode reanimar a economia. Perante esta mudança de campo, talvez não sejam, afinal, as mulheres, a decidir a eleição.
Obama está a recorrer a todas as armas para convencer mais mulheres a ir votar. Um governador republicano deu-lhe mais uma. Num comício com Romney, falou do papel da mulher republicana - e, por inerência, do papel de alguns homens republicanos: "Não é fácil para elas, ficam em casa a lavar a roupa... Suportam as nossas constantes viagens, têm de ficar em casa a cuidar dos filhos".
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