sábado, 27 de outubro de 2012

Carta Aberta ao Moçambicano-4

 

by Esaúú Cossa on Wednesday, 8 August 2012 at 21:13 ·
Carta Aberta ao Moçambicano-4

A Felicidade é frágil, e se não são os fantasmas do passado que a assombram, são as circunstâncias do presente que a destroem” – Margaret Yourcenar

Na senda das cartas anteriores, esta surgiu como uma espécie de autocrítica, um acotovelar ao meu, ao teu, ao nosso conceito de amor, de amar, de ser amado, de viver as relações afectivas, esta carta dedico aos eternos sonhadores de uma felicidade plena. Não começo estas epopeias lusíadas sem deixar de inspirar-me numa outra frase célebre de Gandhi, “ Viva como se fosses morrer amanhã, aprende como se fosses viver para sempre”, trago esta frase a ribalta pelos últimos eventos no país, que sem qualquer pudor ou decência, vão penetrando e cortando como bisturi na epiderme social das vidas pessoais e sociais do moçambicano.

O primeiro acto será caracterizar epistemologicamente o amor, a palavra amor vem (do latim amor) e presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atracção, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objecto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação. É tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser.

E no sentido de autocrítica devo confessar que temos andado embriagados e perdidos por entre estes vários sentidos e significados, porque seja qual for o sentimento que nos guia, todos os moçambicanos amam, querem amar, são amados e vivem de forma intensa as suas relações afectivas.

O problema e nisso reside a luta diária de todos, mas devido a minha falta de mundividência, vou somente centrar-me no moçambicano, esta em saber que tipo de amor guia a pessoa que nos circunda, que amor nos inspira, acima de tudo qual é o sentimento que nos tolda as ideias e nos aquece o sangue.

É importante perceber que para o amor ocorrer, não importando a tipologia que nos guia, é obrigatório que o mesmo sejapermitido. E esta permissão não deve ser entendida numa perspectiva de norma, de contrato é algo tão natural que passa despercebido, esta permissão atribui-se a um comportamento natural do ser humano e quiçá de outros seres vivos. Ela toma por base um sentimento de reciprocidade capaz de dar início e alargar as relações de afectividade entre duas ou mais pessoas ou seres que estão em contacto e que por ventura vêm a nutrir um sentimento de afeição entre si.

Esta aceitação ocorre a um nível natural, mental ou físico, no qual o ser dá abertura ao outro sem que sejam necessárias quaisquer obrigações ou atitudes demeritórias ou confusas de nenhuma das partes.

A realidade manda dizer que todos moçambicanos carecem de amor e querem reconhecer esse sentimento em si e nos outros, não importando a idade ou sexo. O amor é vital para nossas vidas como o ar, e é notoriamente reconhecido que sem amor a criatura não sobrevive conquanto o amor equilibra e traz a paz de espírito quando é necessário.

Mas o que me preocupa e incentivou este desabafo escrito e olha que dedilhei e pesquisei, conceito a conceito, é tipo de amor que caracteriza a maioria do moçambicano/a é o Pragma (do grego, “prática”, “negócio”) - seria uma forma de amor que prioriza o lado prático das coisas. O indivíduo que avalia todas as possíveis implicações antes de embarcar num romance. Se o namoro aparente tiver futuro, ele investe. Se não, desiste. Cultiva uma lista de pré-requisitos para o parceiro ou parceira ideal e pondera muitos antes de se comprometer. Procura um bom pai ou boa mãe para os filhos e leva em conta o conforto material. Está sempre cheio de perguntas. O que será que a minha família vai achar? Se eu me casar, como estarei daqui cinco anos? Como minha vida vai mudar se eu me casar? É um amor interessado em fazer bem a si mesmo, um amor que espera algo em troca.

Se não acordamos iremos passar uma vida inteira infeliz. É preciso cultivarmos a liberdade de amar, o sentimento que preenche de alguma forma a alma e o corpo e não somente por alguns minutos, dias ou meses, mas por muitos anos, quiçá eternamente, enquanto dure e mais nas lembranças e memórias.

É preciso que não deixemos que a mesquinhice e a pobreza tolde os nossos comportamentos, que a violência simbólica do luxo, da riqueza, das coisas não mate lentamente a nossa capacidade amar o próximo despido dos seus algozes, dos seus vestes, dos seus bens. É preciso moçambicanos/as alcançar de forma desinteressada a reciprocidade de amar para sermos amados.

Esaú G. Cossa

Maputo, 08 de Agosto de 2012

2 comentários:

Anónimo disse...

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