terça-feira, 18 de outubro de 2016

Samora Machel: as raízes do homem do povo


Samora Machel: as raízes do homem do povo

Primeiro Presidente da República morreu há 30 anos

Passados 30 anos da sua morte, Moçambique celebra a vida e obra de Samora Machel, o primeiro Presidente de Moçambique, aquele que ergueu a bandeira da independência do país, em 1975, e liderou a construção dos fundamentos da nação. Hoje, se torna um mito. Sua memória é activada a todos os níveis em Moçambique e além-fronteiras. Para entender como se forma este homem revolucionário, o jornal O País foi a Chilembene, um posto administrativo que fica no distrito de Chókwè, na provincia de Gaza.
A figura do avô paterno, Malengani, teve uma influência muito grande no seu carácter. O curioso nisto é que este morreu 11 anos antes do nascimento de Samora Machel, mas foram as suas memórias muito bem passadas pelo pai, a ponto de o inspirarem desde a infância. Malengani, que ganhou o nome de Maghivelane, foi guerreiro de Ngungunyane. Fez parte de uma operação de transferência de 50.000 habitantes da zona norte do Save para mais a sul e morreu em 1922.
Um dos últimos filhos de Malengani era Moisés, pai de Samora Machel, nascido quando já era de idade avançada, muito provavelmente 60 anos. Moisés Mandhande Machel, pai de Samora, era um dos últimos filhos do avô, nascido quando este já tinha uma idade avançada, provavelmente 60 anos. Moisés era membro da Compound Mission, fundada por um advogado sul-africano, Custer, que actuava nos dormitórios das minas sul-africanas e fundava comunidades de crentes nas suas zonas de origem dos mineiros. Moisés foi baptizado e seguia princípios cristãos na condução de sua família, nomeadamente, na educação, relações humanas e código de ética. Sabia ler moderadamente Tsonga, pois tinha estudado até segunda classe. Apesar de não ter prolongado os estudos, nas décadas de 30 e 40, Moisés era um homem abastado, que utilizava várias charruas.
Sua esposa, Gugiye Thema Dzimba teve o primeiro filho na década de 1920. Mas alguns dos seus filhos seguintes morreram cedo, entre eles um a quem se tinha dado o nome de Samora. Gugiye, tenta e consegue  ter um filho a 29 de Setembro de 1933. O casal deu o nome do filho ora falecido, Samora. Este era o terceiro de cinco irmãos, dos quais apenas um está vivo - Orlando Machel - o mais novo. Reza a história que Samora Machel tinha uma afeição especial por sua mãe. Alberto Mathonga Dzimba, primo de Samora Machel, conta-nos, em Chilembene, que a ligação entre Samora e Gugiye era muito forte. “Esta atenção manteve-se mesmo depois da morte da mãe. Ele nunca nos abandonou, sempre veio cá visitar” comentou o primo de Samora.
Antes dos seus 8 anos Samora Machel era pastor de gado. Não escapou às peripécias dos meninos da sua idade, na altura. Para chegar aos pastos tinham de atravessar cursos de água. O régulo de Chilembe, Ernesto Mutui, lembra-se de um insólito em que Samora atacou um crocodilo no rio. “Ele já se mostrava um grande herói desde miúdo. Entrou na água para salvar um boi do ataque de crocodilo, correndo enormes riscos. Salvou o animal com um pau e saiu da água ileso”, confirma o régulo.
Em 1941, já com oito anos, Samora, começa a frequentar a escolar número 21 de Uamexinga, construída pelo Estado português e gerido mais tarde pela missão de São Paulo de Messano. Depois de uma interrupção devido a perseguição aos movimentos protestantes, Samora volta à escola. Em 1950, com 17 anos, foi o único do grupo de quatro colegas, que tinha atingido a quarta classe. Era o topo do que era o sistema escolar vigente para os africanos na altura.
Numa altura em que Eduardo Mondlane, dez anos mais velho, tinha seguido caminho diferente, a universidade, Samora Machel escolhia a profissão de enfermeiro. De 1951 a 1955 esteve na formação, onde os últimos dois anos foram ministrados no Hospital Miguel Bombarda (hoje Hospital Central de Maputo). Nessa altura conhece um colega e amigo, Albino Maheche, que nos conta que “Samora era um colega de formação que sempre nos mobilizava para discutir assuntos do país, numa altura em que estava sob dominação do regime colonial.” A intolerância, a injustiça e a desigualdade salarial entre profissionais de saúde da mesma área negros, mulatos e brancos foi, seguramente – segundo Maheche – a primeira manifestação pública contra o regime. Diz o amigo de Samora que “da Administração do Conselho de Lourenço Marques veio a resposta de pagamento de salários exigidos por Samora e alguns colegas, salaries justos.
Depois da formação foi destacado para Ilha de Inhaca, sede da Circunscrição de Maputo (actual distrito de Matutuíne). É lá onde conhece Sorita Chaiankomo, com quem teve quatro filhos: Joscelina, Edelson, Olívia e Ntewane, os últimos dois nasceram depois do seu regresso a Lourenço Marques, quando pediu transferência para poder estudar, três anos depois de ter trabalhado em Inhaca.
Vive numa casa de madeira e zinco na Mafalala, enquanto vai fazendo o segundo até o quinto anos do liceu. Começou a construir uma casa própria em Xipamanine. “Samora levou-me a conhecer a sua obra perto do Bairro Indígena. Fomos ver a casinha dele e explicou-me como estava a aplicar as suas poupanças que ganhava trabalhando na casa mortuária do Hospital Miguel Bombarda”, disse Maheche, com o rosto alegre.
Além de Joscelina, Edelson e Ntewane, Machel teve mais filhos. Do relacionamento que teve com Irene Buque, nasce Ornila. Em 1969, casou-se oficialmente com Josina Muthemba, uma guerrilheira de quem teve um filho, Samora Machel Jr.  Após a morte de Josina, casa-se oficialmente, em 1977, com Graça Simbine, com quem teve dois filhos: Josina Machel e Malenga.

Sem comentários: