sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Surpreendido, talvez não...





Por Adelino Correia



Com uma certa surpresa, li e reli o artigo do Jornal A Semana, que nos dá conta, num extenso e excelente trabalho jornalístico, que o nosso Prime, José Maria Neves, doravante JMN, irá candidatar-se para mais um mandato, à frente dos destinos do PAICV.

No entanto, a surpresa foi diluindo, à medida que fui reflectindo sobre a verdadeira motivação para se continuar a liderar um partido ganhador, com o historial do PAICV. E a motivação na minha estranha forma de ver é só uma. CABO VERDE.

Em tempos de crise, julgo ser uma decisão correcta, embora tenha uma certa reserva, porquanto JMN está à frente daquele partido, há mais de 12 anos. E o factor tempo e o apego ao poder, como sabemos, é o pior inimigo dos grandes líderes.

Digo isso porque tinha ficado com a sensação de que JMN, ao anunciar, que não seria candidato ao cargo de Primeiro Ministro em 2016, estaria, de igual modo, a abandonar a liderança partidária, o que deveria acontecer já em 2013.

Enganei-me. Profundamente, admito.

A final, o grande Zé, menino da Assomada, terra do visionário Norberto Tavares e do museu de tabanca, que um dia se inspirou na música do Gil Semedo, para se transformar num grande líder, vai continuar. Pelo menos é esse o desejo.

A Moção de Estratégia, de leitura obrigatória, que vem aí, irá nos dizer se valerá a pena deixa-lo sonhar. Para já, entendo, que a decisão de se recandidatar, poderá querer dizer uma de duas coisas.

Primeiro. Que a cisão interna no seio dos tambarinas foi mais profunda do que se pensava. A politica de dividir para reinar definitivamente não produziu os efeitos políticos desejados.

Segundo. Que no interior do partido de Cabral, contrariamente ao que acontece no Movimento para a Democracia (MPD), não existe muitos nomes, com perfil adequado para assumir a liderança politico-partidária, dum grupo com a dimensão do PAICV. Digo isso, sem menosprezar, históricos do partido, como sejam Aristides Lima, Felisberto Vieira, Rui Semedo, entre outros, pessoas integras e que me merecem o maior dos respeitos.

Daí o anúncio da recandidatura de JMN, à liderança partidária, por mais dois anos, procurando, com isso, sarar internamente feridas abertas, a quando dos últimos actos eleitorais no país, e, ao mesmo tempo, preparar o futuro líder partidário, cujo nome aposto desde já. Humberto dos Santos Brito, esse mesmo. O crânio de Veneza que um dia deixou a sua Calheta natal para se instalar confortavelmente na Cidade da Praia e que tanta confiança inspira nos nossos parceiros chineses.

Uma referência a ter em conta e a seguir com atenção, até porque, poderá e tem todas as condições para empolgar os nossos jovens, tirando-os do marasmo a que se votaram, ultimamente, envirando, muitos deles, por caminhos poucos desejáveis e dignos. O da criminalidade, quer seja de grande dimensões ou das chamadas bagatelas penais.

A virtude do anúncio da recandidatura de JMN é enorme, tendo em conta, o timing escolhido e bem assim, a estabilidade politica que trará ao país.

Desde logo, no seio partidário, permitirá a JMN, preparar o PAICV de forma que o partido de Cabral possa continuar a ser um partido forte, de referência e, sobretudo vencedor. Com isso, ganhará seguramente Cabo Verde e as suas gentes.

Por outro lado, virá facilitar a escolha, na maior das tranquilidades, do futuro líder do partido, que terá a responsabilidade de preparar o PAICV para as legislativas e que seja capaz de entusiasmar o eleitorado cabo verdiano, na exacta medida, em que o fez, o actual líder, ganhando de novo Cabo Verde.

Que vantagens para Cabo Verde, então? A primeira que me salta a vista, é a da estabilidade politica e social. Quer queiramos, quernão, o povo cabo verdiano conferiu um mandato à JMN, na sua qualidade de líder do PAICV e de um projecto político que apresentou ao país na sua qualidade de líder.

Deixar de o ser, continuando como primeiro ministro, seria, de facto, uma traição a um povo e a um eleitorado que sempre lhe foi fiel. Já lá vão três mandatos seguidos...

Além de que, ficava no ar, a sensação, pouco agradável, de se vir a repetir, um filme já visto por todos nós, a fuga para a presidência, protagonizado pelo Dr. Carlos Veiga, com danos inequívocos para o país, como se recordam.

Como tudo na vida haverá um contra. A recandidatura poderá simbolizar o querer continuar no Palácio da Varzea. Dir-me-ão, que JMN, já anúnciou publicamente, que não é candidato para 2016. Mas, como dizia um grande amigo, de boas intenções está o inferno cheio e mais vale prevenir do que remediar.

Por outro lado, a segunda leitura possível é a que, ao fim de 12 anos, JMN se lembrou do quão importante seria ter um espaço próprio, para promover debates de ideias e com isso, decide criar ou propor a criação do Instituto da Democracia e Progresso, um fórum de debates e produtor de eventos de natureza política, que poderá vir a ficar, para sempre, associado ao seu nome.

Daí o ter de ficar, querendo partir, uma máxima muito querido ao povo das ilhas que, poderá criar alguns danos à imagem do JMN, um homem integro e que nunca nos transmitiu a ideia de querer aproveitar do estatuto de líder para tirar vantagens de natureza pessoal. Diria que com JMN Cabo Verde esteve sempre a ganhar. No entanto, diz-se, a mulher do César não basta parecer...

Macau, 06/02/2013

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