quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Vinte longos anos do “HÁ Mar Há Terra” (I)

Texto de João Cardoso
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Em: http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=37541&idSeccao=527&Action=noticia

1. Tenho os meus gavetões cheiinhos de apontamentos, e, o meu terraço está sem qualquer malmequer, nem girassol, e, nem se quer espécies vegetal endémica, apesar do bom tempo que se faz sentir esses dias pelo lado do meu estimado bairro da Terra Branca.


2. Por causa da minha grande paixão por Novembro, lembrei-me dos vinte longos anos passados do programa “Há Mar Há Terra”. Hoje, é bom falar da razão que esteve por detrás da criação do programa de maior “longevidade” na história da televisão cabo-verdiana. O programa estava associado a uma nova visão e abordagem do desenvolvimento rural em Cabo Verde, a partir de 1992. Neste sentido, senti-me, profundamente, obrigado a reler - na diagonal - uma das mais emblemáticas obra do filósofo e sociólogo alemão Jurgen Habermas “Teoria da ação Comunicativa”, para refrescar as minhas dúvidas a respeito das relações entre a linguagem e a sociedade (realidade social). E, encontrei respostas por que não é do meu feitio dizer: És um Pinóquio. Não percebes nada de malmequer ou nada de girassol ou nada de espécies vegetal endémica, ou, nem tão pouco de couves-flor.

3. Há Mar Há Terra foi lição que nunca esqueci. Tem mais anitos do que meu rebento: Mário João. Cresceu… cresceu e etcetera… Recordo-me de ter partilhado aos meus colegas sobre os ingredientes que podiam condimentá-lo, em termos de conteúdo, que torná-lo-ia mais atrativo e apelativo, enfim, mais visível aos olhos do público-alvo, em especial, e de grande público, em geral. Houve. Sim. Muitas discussões à volta do nome de batismo. A superstição era enorme. E… o dilema, ainda, maior (!) Com o seu nome de batismo porque senão a morte seria fatal. É verdade. Havia muitas e muitas razões do meu lado.

4. Passou-nos pela cabeça muito epíteto duma forma sublimar. Naquela altura, encontrava-me, animadamente, a reler as refletidas e dialéticas obras de Edgar Morin. Eram três os métodos: Método 1 – A Natureza da Natureza; o Método 2 – A Vida da Vida e o Método 3 – O Conhecimento do Conhecimento. Era tanto e tanto lirismo (!) Comecei a gostar desse inteletual e génio a partir de um debate que vi na TV Francesa na década de 1980 sobre o fim da modernidade, juntamente, ao Jurgen Haberman. Pura coincidência (!) Logo, pensei num nome com um forte simbolismo e com as suas raízes na natureza cabo-verdiana, e ainda, com a dimensão e com a abrangência do ex-MPAAR (Ministério das Pescas Agricultura e Animação Rural). Pronto. O nome foi mobilizador, significativo e profundo. Despertou uma consciência pró-ativa na mulher e no homem do meio rural, perante, os desafios e as expetativas do desenvolvimento e crescimento. Nunca. Conteúdo eivado duma mentalidade ancorada numa cultura assistencialista e doentia e no espírito da pobreza, ou melhor, dizendo no discurso “di coitado”. Isto é, apesar da condição de pobreza latente da mulher e do homem do meio rural e dos bairros peri-urbanos. Acreditávamos e acreditamos, sempre, que poderão e deverão mudar as suas condições de vida, através, de iniciativas empreendedoras.

5. Neste sentido, soubemos., sobretudo, dizer para amarmo-nos a terra num ecossistema frágil e arquipelágico como Cabo Verde, que teremos de pensar num desenvolvimento sustentável, onde, existe o mar e a terra para que possamos dizer: “Há Mar Há Terra”, com musicalidade, com linguagem simples, com participação, e porque não poesia?! Um programa que espelha o labor intenso da mulher e do homem cabo-verdiano. Mas, os conteúdos das mensagens teriam que ser educativos para a mudança de atitudes e comportamentos. Tudo. Mensagens que veiculam e associam imagens, palavras e intenções, enfim, linguagens que valorizam as pessoas humanas.

JOÃO CARDOSO |Jornalista




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