segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vários jornais voltaram as costas a Obama para apoiar Romney

                          
05.11.2012 - 20:50 Por Cláudia Sobral
Obama e Romney durante o segundo debate desta campanhaObama e Romney durante o segundo debate desta campanha (Spencer Platt/AFP)
Ao longo das últimas semanas os jornais norte-americanos foram declarando o seu apoio a um ou a outro candidato às presidenciais norte-americanas desta terça-feira. E as contas são fáceis de fazer: Obama continua a reunir, como há quatro anos, muito mais apoio entre a imprensa do que o seu rival republicano, Mitt Romney (em 2008, John McCain). Mas o desgaste de quatro anos de mandato manchados por uma crise e uma taxa de desemprego elevadíssima levaram muitos jornais a voltar as costas a Obama e a apoiarem – nalguns casos pela primeira vez em décadas – um republicano.
Até à véspera das eleições, entre os cem jornais de maior circulação nos Estados Unidos, 41 tinham apoiado Obama e 34 Romney, segundo uma recolha feita pelos investigadores do Projecto Presidência Americana, da Universidade da Califórnia. A diferença torna-se ainda abismal quando se comparam tiragens: mais de 10 milhões para Obama, 6,4 para Romney.

Números impressionantes, mas que mostram, por outro lado, que o eleitorado pouco se deixa influenciar por estes apoios. Se assim não fosse, o Presidente democrata não estaria, num estudo publicado pela CNN um dia antes das eleições, empatado com o seu rival republicano, Mitt Romney, com 49% dos votos. Nem com uma vantagem muito curta, ou até em empate técnico, noutras três importantes sondagens de domingo.

Um jornalista da NPR entrevistou uma dúzia de eleitores e concluiu que a importância que os leitores dão ao posicionamento dos jornais durante uma campanha presidencial é muito pouca. “O apoio não tem qualquer impacto nas minhas ideias – ou em quem vou votar”, respondeu-lhe um consultor informático que, a menos de duas semanas das eleições, ainda não se tinha decidido.

“A minha opinião é tão válida como a do director de um jornal, e o voto é meu, por isso eu é que vou decidir”, completou. O texto cita outras reacções muito semelhantes a esta e uma das explicações que avança para esta tendência é o declínio da importância dada à imprensa. De acordo com um estudo do Pew Reseach Center, as fontes de informação dos eleitores sobre os candidatos são cada vez mais os sites das próprias campanhas, em detrimento dos media.

Grandes jornais como o New York Times, o Washington Post, o Los Angeles Times ou o Chicago Tribune mantêm o apoio de 2008 ao actual Presidente – ainda que desta vez o entusiasmo não seja tanto. Outros como o New York Post permanecem fiéis aos republicanos, com o apoio a Romney, como deram a John McCain, em 2008, e a George W. Bush, quatro anos antes.

De Obama para Romney
Mas vários dos que tinham estado do lado do actual Presidente há quatro anos – 12 entre os cem da mesma lista – torcem desta vez pelo candidato republicano à Casa Branca. E apenas um jornal, o San Antonio Express-News fez o movimento contrário. Da primeira vez que Obama entrou na corrida à Presidência eram 65 os jornais a apoiá-lo, apenas 25 do lado de McCain.

Em vésperas das presidenciais de 2004, em que George W. Bush concorria a um segundo mandato contra John Kerry, o jornalista Tim Porter escrevia na American Journalism Review que poucos eleitores se deixam influenciar pelas escolhas dos jornais.

A NPR lembrava até, há semanas, que vários jornais – o Atlanta Journal-Constitution, o St. Paul Pioneer Press, o Milwaukee Journal Sentinel – deixaram de apoiar candidatos. Tem havido uma tendência nesse sentido “provavelmente por os jornais estarem mais preocupados com a perda de audiência”, explica Paul Beck, professor de ciência política no Ohio, citado pela revista Businessweek. O USA Today e o Wall Street Journal, por exemplo, não o fazem. Ainda assim, continua a haver uma espécie de “batalha” de apoios entre campanhas, conforme noticiava o Washington Post por estes dias.

Apesar de os números mostrarem que estes apoios não se traduzem em votos na mesma proporção na noite eleitoral, os candidatos continuam a dar-lhes importância, como se viu pela polémica que envolveu Obama e o Des Moines Register, o jornal com maior circulação no Iowa, um dos swing states.

“Quero o vosso apoio. Vão sentir-se melhor quando o declararem”, disse o Presidente no final de uma conversa com o director do jornal. Na altura disse-o off the record, mas recentemente essa declaração acabou por vir a público. Ao fim de 40 anos do lado dos democratas, o jornal apoia desta vez o candidato republicano na corrida à Casa Branca (a última tinha sido em 1972, com Richard Nixon, que venceria as eleições). Não é o único desiludido. O Daily Herald, um jornal da zona suburbana de Chicago, cidade de Obama, anunciou recentemente que apoia Mitt Romney, depois de em 2008 ter apoiado o actual Presidente.

“Quatro anos depois, onde está a esperança? Onde estão a vaidade confiante e a liderança para levantar o moral da nação?”, questionava o jornal num destes domingos. “Um republicano moderado como Mitt Romney oferece uma nova abordagem que todos nós podemos abraçar – a política da esperança, de trabalharmos juntos para o bem comum. Desta vez, acreditamos que ele oferece a melhor esperança a todos os americanos.”

Também o Daily News de Nova Iorque, o quarto diário com maior circulação no país, trocou Obama por Romney – em 2004 tinha apoiado Bush e em 2008 o candidato democrata. “Mitt’s the man” (Mitt é o homem) era a capa do sábado passado.

Nenhum britânico apoia Romney
À semelhança daquilo que acontece nas sondagens de popularidade, também entre a imprensa Obama é mais bem visto no exterior do que nos Estados Unidos. Ainda que o entusiasmo não seja igual ao de há quatro anos, a Economist e o Financial Times, mantêm o apoio a Obama. Entre todos os títulos da imprensa britânica, nenhum apoiou o candidato republicano, conforme noticiou a revista New Statesman.

Em Espanha, o El País escreveu um editorial em defesa da reeleição de Obama. Título: “Mais quatro anos”. Para Obama, que, argumenta o jornal, devolveu aos Estados Unidos a qualidade de potência respeitada, mais do que a ideia de potência temida, que George W. Bush foi construindo ao longo dos seus dois mandatos.

Em Israel, o Haaretz anunciou que apoia Barack Obama. Ninguém esquece a visita de Romney a Jerusalém, incluída num périplo pela Europa no Verão que ficou marcado por uma série de comentários infelizes. Referiu-se à cidade como a “capital de Israel”, comparou o país com “as áreas geridas pela Autoridade Palestiniana” para concluir que “a cultura faz toda a diferença” e que o sucesso de Israel se deve a isso e “à mão da providência”. Tão óbvio quanto aquele jornal de esquerda estar do lado de Obama é o primeiro-ministro, o conservador Benjamin Netanyahu, estar a cruzar os dedos para que na terça-feira o vencedor seja Mitt Romney.

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