terça-feira, 13 de novembro de 2012

Uma guerra nossa

Por Machado da Graça

Mais uma semana passou e, que eu tenha dado por isso, nada foi feito para diminuir o ambiente de tensão armada que se vive na zona da Gorongosa. Pelo contráro, o que se diz é que as forças estão a crescer, dos dois lados, em termos de número de homens e equipamento bélico.
E é minha convicção que ninguém põe em pé de guerra um exército de milhares de combatentes para depois, num dado momento, lhes dizer que acabou tudo e podem voltar para casa. Infelizmente isso não costuma acontecer. A despesa de manter e alimentar, vestir e armar, milhares de homens e mulheres é enorme e quem paga a factura normalmente quer algo em troca.
Continuo, portanto, extremamente preocupado com o evoluir da situação. E há aspectos que me parece que devemos abordar desde já. O primeiro é que, se acabar por acontecer o pior, se desatar toda a gente aos tiros, esta será uma guerra unicamente nossa, entre moçambicanos. Não haverá a desculpa da agressão externa do tabaqueiro Smith ou do regime do apartheid. Será uma guerra entre um Governo moçambicano, no poder, e cidadãos moçambicanos, armados, que não gostam da forma como esse Governo dirige o país.

Não será, portanto, uma guerra de agressão externa mas sim uma guerra provocada pela falta de diálogo, pelo funcionamento incorrecto e desviado de todo um sistema de instituições que deveram servir para albergar o confronto de ideias e de opiniões, de forma justa e sem desiquilíbrios que façam alguém sentir-se injustiçado e sem meios para restabelecer a Justiça.

Diz quem tem andado por aquelas zonas que a grande maioria dos combatentes, reunidos à volta da direcção da Renamo, seja ela formada por quem for, neste momento, é constituida por jovens. E eu pergunto: Quem são esses jovens? Porque se foram eles apresentar lá, voluntariamente? Porque a verdade é que, dum lado da barricada, estão militares e polícias militarizados, de carreira, que estão ali a cumprir ordens dos seus superiores hierárquicos. Mas, do outro lado, estão pessoas que para lá foram sem receber ordens de ninguém. Que para lá foram porque quiseram ir.

Não serão estes combatentes da Renamo aqueles que provocam os altíssimos índices de abstenção nas eleições, porque não acreditam na honestidade dos processos eletorais e, por conseguinte, na possibilidade de haver mudanças na direcção do país por meios constitucionais?
Não serão eles os que estão fartos de não conseguir trabalho, ou qualquer outro benefício do Estado, se não tiverem no bolso o cartão vermelho do partido Frelimo?

Tudo isto para dizer que, na minha opinão, a resposta por parte do Governo a esta crise não deve consistir em mais militares e polícias, e mais blindados, mas sim na credibilização das nossas instituições democráticas. Quem pode acreditar que a Comissão Nacional de Eleições é um órgão imparcial depois de ver uma foto do seu Presidente, o Dr. João Leopoldo da Costa, ostentando uma camiseta e um boné do partido Frelimo?

Quem pode aceitar a enorme desproporção de deputados das três bancadas na Assembleia da República depois de ter assistido a todo o tipo de tropelias nas eleições que conduziram ao actual mandato, incluindo o impedimento do MDM de concorrer em grande parte do país?

Terá que ser, portanto, por essa credibilização que se começa o desarmamento das mentes para, depois, se passar ao desarmamento militar. Se isso não for feito tenho muito medo que aconteça o pior. Para todos nós.
 
SAVANA - 13.11.2012

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