segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sobre o VII Congresso da JPAI



Caido o pano sobre o VII Congresso da Juventude do PAICV acho que eu devo esclarecer alguns mal entendidos, mormente agora que, eventualmente, os ânimos já deverão estar mais serenados.

Sobre a “falácia”

Em nenhum momento eu chamei os delegados da JPAI presentes no Congresso de “falácias”. As minhas palavras foram deturpadas deliberadamente com o fito de botar todos os delegados do Congresso contra mim. O que eu disse é que considerava o processo da organização do Congresso, principalmente, no que tange á escolha/indicação/eleição dos delegados como uma grande falácia, protagonizada por um pequeno grupo dentro da Jota, cujo objectivo é “assaltar” e “sequestrar” a Jota. Aliás, depois dessa minha afirmação, esse pequeno grupo, com Nuias Silva á cabeça, reagiu violentamente ás minhas afirmações, cuspindo fogo pela boca, o que só veio reforçar a minha convicção de que afinal eu estava certo. Aliás Nuias Silva já deu provas de que se “afoga em pouca água, coitado”!

Acrescentei ainda que a
Democracia é um regime de competição e, sendo assim, devemos estar sempre preparados para a competição quer elas existam ou não. As regras do jogo devem ser claras e transparentes, deve haver livre entrada e saída de agentes no “mercado” competitivo. Lamentei o facto de não ter havido competição neste VII Congresso, que daria mais vida, confronto de ideiais e projectos, visões alternativas, enfim mais debate e mais democracia.

A leitura que eu faço é que esse pequeno grupo é avesso á competição, ao dissenso e ao livre pensamento dentro da Jota. Por isso, obstaculizam a entrada de Jovens que tem um perfil de pensamento livre e que não alinham pelo diapasão deles. Na Política não devemos subtrair, mas sim multiplicar. Não devemos ter medo de competir e aos adversários políticos deve-se dar combate político e não eliminá-los. Eu, por exemplo, não tenho lugar nesta Jota, porque não alinho na estratégia de poder desse grupinho e, por isso, bloquearam completamente a minha participação e deixaram-me de fora. O Black disse-me que não fui “escolhido”, para participar no Congresso como Delegado por Santa-Catarina, porque ELE decidiu dar prioridade aos Jovens “ki ta trabadja, ki trabadja tcheu na últimos tempos, pa pode motivas, ki sta la Santa catarina td dia ta trabadja e ma mi nem di Santa-Katrina nka é, nem nka sta la”. Ah Black, quem te viu e quem te vê!

Só me resta pedir as minhas mais sinceras desculpas a todos os delegados que se sentiram ofendidos quando eu proferi a palavra “falácia”. Nunca me quis dirigir a eles mas sim ao processo.

Sobre as redes sociais

Discordei de vários colegas que criticaram as discussões que se travam no Facebook, sobre o Partido, sobre a Jota. A minha opinião é a de que as Organizações Partidárias deverão tomar as redes sociais como um dado adquirido no jogo Político actual, um espaço de debate e escrutínio das acções dos Partidos e das Jotas, uma variável que não está sob o controle de ninguém e a qual cada vez mais essas organizações estão mais expostas. Considerei a ideia dos “fóruns próprios” uma falácia. Nos dias que correm todas as organizações devem estar preparadas para os “fóruns impróprios”.

Critiquei duramente aqueles militantes que vão nas redes sociais acusar membros do Governo de utilizar recursos do Estado para favorecer uma ou outra candidatura no Partido ou na Jota. Eu considero que não há campanha mais erosiva e corrosiva contra o Partido e o Governo do que pessoas da casa proferirem essas acusações. Não devemos ter medo do Facebook, do Twitter ou de outra dede social qualquer. Mas devemos ter a capacidade de debater abertamente e com elevação as questões que são levantadas sobre os Partidos. Normal em democracia e nos dias que correm. O PM está no Facebook e fá-lo todos os dias, expõe-se, discute, responde, analisa. O Partido está, a Jota também está. Por que é que nós os outros não podemos fazê-lo!?

É claro que devemos ter calma e elevação quando discutimos, quando somos confrontados, mesmo quando somos duramente ofendidos. A elevação e a calma exige-se com mais acuidade quando desempenhamos altos cargos neste País. Por exemplo, condenei e condeno a forma como o José Maria Veiga (Black), militante do PAICV e Director do Gabinete do Primeiro - Ministro protagonizava no Facebook, por altura das últimas presidenciais e autárquicas, uma lavagem de roupa suja sem precedentes , com uma linguagem baixa e rasca. A postura do José Maria Veiga (Black) não dignificou em nada o alto cargo que ocupa, nem o Primeiro-Ministro e nem a República. Se fosse eu punha o cargo á disposição. Mas pronto! É preciso “Olhar em frente”!

Sobre o meu percurso na Jota e no Partido

Falamos ainda do Percurso dos membros da Jota e este foi o momento que me deixou mais triste, porque houve deliberadamente manipulações dos factos por parte de colegas que conhecem bem o meu percurso dentro da Jota e do Partido, como forma de vender aos membros mais recentes da Jota a ideia de que eu sou um jovem fino, que não vai ao terreno, “kopu leti”, “ki ka ta subi e nem dixi ladera” e, por isso, não fui escolhido delegado por Santa-Catarina, porque deu-se prioridade a “kes jovens ki ta trabadja, ki ta da kabidal, ki ta fazi kampanha”. Nada mais falso! Não completam os dedos de uma mão Jovens que estavam neste VII Congresso com um percurso igual ou melhor ao meu.

Entrei na JPAI em 1996, quando eu tinha 16 anos. Fui convidado pelo então Presidente da Jota de Santa-Catarina a fazer parte das estruturas locais da Jota. Participei no Congresso que elegeu Camilo Gonçalves como PR da Jota, em 1997/98. Em 2000 participei activamente na campanha eleitoral que permitiu ao PAICV ganhar a Câmara Municipal de Santa-Catarina, sob a liderança de JMN. Em 2000 fui eleito Presidente da Concelhia da Jota em Santa-Catarina e no Congresso de 2000 que elegeu Emanuel Furtado como PR da Jota, fui eleito membro do Conselho Nacional do PAICV em representação da Jota, tinha eu 22 anos. Em 2001, participei activamente na Campanha eleitoral que permitiu ao PAICV regressar ao poder depois de 10 anos de oposição. Lembro-me que juntamente com a Crisálida (Totinha), que hoje é uma grande referência na Jota, e outros camaradas, deslocavamos á noite aos locais mais recônditos do Concelho com Cassetes de Vídeo e retro – projectores e motores para projectar imagens de campanha e mensagens do Líder JMN, ás populações das localidades onde ainda a energia elétrica não tinha chegado. Foi assim em Palha-Carga, Entrepicos de Reda, Mato Gegê e Chã de Lagoa.

Regressávamos ás vezes perto do amanhecer, em autênticas aventuras naquelas estradas íngremes e perigosas. Uma vez quase o nosso carro caía encosta abaixo.
Naquela época não conhecia a Vanusa, não sei por onde andava, se calhar andava a construir-se. Quanto ao José Maria Veiga (Black) desde sempre tinha-lhe convidado várias vezes para fazer parte da Jota, mas recusou-se sempre dizendo-me que não queria meter-se com a Política e os Partidos. A Vanusa começou o seu percurso no Partido e na Jota nas legislativas de 2006 quando fez parte da lista de Candidatos a Deputados e foi eleita Deputada. O Black entrou no Partido e na Jota por volta de 2008. Será que lhes posso chamar de “Jotas de Poder”? Se fosse pelo percurso ou pela antiguidade dentro da Jota ou do Partido, a Vanusa entrava logo como Deputada e o Black hoje era Director do Gabinete do PM? É claro que não! Eu não sou paladino da antiguidade como critério de prioridade de acesso aos lugares nas litas ou a cargos públicos. A política não é uma corrida de velocidade, não é quem chegou primeiro. Há muitas outras variáveis relevantes a levar em conta. É claro que a Vanusa tinha outros méritos que lhe fez ter uma ascenção meteórica dentro do Partido e da Jota. Os Partidos devem ser sistemas abertos á sociedade. Vejam que os Partidos vão buscar á Sociedade Civil personalidades independentes, sem percurso Partidário, mas com mérito em outras vertentes, social, económico, cultural e Político para darem a sua contribuição.

Depois segui para Portugal para frequentar o ensino superior na Capital Portuguesa. Em lisboa fiz campanha nas eleições legislativas de 2006. Encontrei a JPAI-PT completamente desestruturada. Juntamente com outros colegas trabalhei activamente na sua reestruturação, que veio a culminar com a eleição de uma nova Direcção, na qual desempenhei as funções de Vice-Presidente. A JPAI Portugal é uma das estruturas mais dinâmicas de toda a Jota actualmente e foi de capital importância na reanimação de outras Jotas da Diáspora. Nuias Silva apresentou a reestruturação da Jota Portugal e da Diáspora como uma grande bandeira do seu mandato, mas mesmo assim, no Congresso fustigou-me com frases do tipo “ nunca fez nada para a juventude”, “só diz frases de cor”, “é comentador de televisão armado em politólogo e a dar lições de política na televisão”, “ntene falácias ta sain pa nariz”. Lamentável! Logo tu Nuias, que entramos juntos para a Jota e estamos nisso juntos até hoje…! Até digo-te meu Caro amigo e camarada: espero que os jovens cabo-verdianos possam orgulhar-se de ti e tendo as oportunidades que tiveste possam crescer, vicejar e dar bons frutos e possam ser felizes como tu! Porque tu és um caso de sucesso, uma referência!

Participei activamente na campanha eleitoral para as legislativas em 2011. Nas últimas presidenciais é o que se sabe! Nas últimas autárquicas a minha participação em Santa-Catarina foi por iniciativa própria longe das Sedes de Campanha. Mas é claro que eu gostaria de participar mais, entrar nas listas, ser Deputado Municipal, mas tal não foi possível.

Sobre a Organização Juvenil Partidária

No Congresso falei ainda da minha visão sobre a JPAI, e dos grandes anseios e desafios que a Juventude cabo-verdiana enfrenta. Disse que gostaria de ver uma JPAI mais activa, mais interventida e mais ousada. Uma Jota que discute com o Partido e com o Governo, que não seja mera caixa de ressonância do Partido, do Governo ou de JMN. Lamentei o facto de não ter ouvido uma única palavra de Nuias Silva, enquanto PR da Jota, quando o Governo decidiu suspender o Crédito Bonificado Habitação Jovem. Não uma Jota que faz oposição ao Governo e ao Partido. Porque esta é tarefa da JPD. Mas sim uma Jota que “pensa pelas suas próprias cabeças”.

Disse que gostaria de ver uma Jota que travasse as lutas do seu tempo e não as lutas do Dirigentes actuais do PAICV. Para dizer que não gostaria de ver os tentáculos das lutas pelo poder dentro do Partido dentro da Jota com efeitos nocivos na unidade e coesão entre nós os Jovens. A minha visão é a de que nós devemos em qualquer circunstâncias defender os interesses da Organização e dos Jovens Cabo-Verdianos. E no momento de decidir que posição tomar em relação ás lutas pelo poder no Partido a Jota posicionava-se em bloco ou dando liberdade de cada membro ter a sua preferência, sempre pondo em causa os interesses do Partido e os superiores interesses dos Jovens cabo-verdianos e do País. Ingenuidade da minha parte? Que seja!

Sobre a formação profissional e o emprego

Falei da formação profissional e do seu financiamento e do emprego e do empreendedorismo e do seu financiamento. A Juventude cabo-verdiana quer qualificar-se para poder competir num mercado de trabalho cada vez mais global e competitivo. Falei da criação de mecanismos de facilitação do financiamento para que todo o jovem cabo-verdiano possa realizar o seu sonho de qualificar-se. Falei da transparência e do mérito no acesso ao mercado de trabalho, do combate de quaisquer sinais de compadrio, amiguismo e nepotismo no acesso ao emprego.

Temos de eliminar de vez essa desconfiança que existe em CV em relação ao sistema de acesso ao emprego e aos cargos. Temos de separar claramente os cargos que são de confiança e podem ser acedidos sem concurso e submeter a concursos rigorosos e transparentes todos os outros cargos, para que, estereótipos do tipo “ es fazi concurso mas djes tene ses alguém pes poi la” ou “djan concorre, mas dan expediente la pmd abo bu tem conhecimento” acabem de vez. Sim, porque o Estado empregador chegou ao fim; o perfil dos desempregados está a mudar em CV, estamos a passar de desempregados inqualificados e desencorajados para desempregados altamente qualificados. Uma coisa é ter desempregados inqualificados e desencorajados e outra bem diferente é ter desempregados altamente qualificados que investiram fortemente na sua formação e frustrados porque não tem oportunidade de emprego. Propus á Vanusa que exigisse do Governo medidas concretas e urgentes para promover o emprego e o empreendedorismo e o seu financiamento, um “choque empresarial” em CV.

Enfim falei de muitas outras coisas. Acabei por sair do Congresso rotulado de arrogante, “incendiário”, “armadu em más bom ki tudu alguém”, “malandro, pmd ka ta subi e ne dixi ladera na campanha” e “trivido”…
Uma coisa eu vos garanto: arrogante eu não sou. Todos os que me conhecem bem sabem que de arrogante não tenho nada. Sabem de onde vim, sabem que não nasci no berço de ouro. Apenas sou um jovem de convicções fortes e procuro defendê-las com garra, tendo sempre como limite o respeito pelo outro e pelo direito de outros possuirem também as suas convicções fortes. Já dizia o outro: se não queres que falem mal de ti ,que te critiquem “não digas nada, não faças nada e não sejas nada”.
Uma coisa é certa: a sociedade cabo-verdiana está a mudar, a transformar-se.

Estamos a caminhar paulatinamente e a passos largos para sermos uma verdadeira República, com universidades, mais sociedade civil, mais espírito e consciência críticos, mais ousadia, mais igualdade de oportunidades, menos dependência do Estado, mais inquietude, mas irreverência da parte dos jovens, mais espaços de participação, mais debate, mais escrutínio….Por conseguinte, todo aquele que pensar que através de manobras pode enganar as pessoas estão condenados ao fracasso. Podem até conseguir enganar a alguns durante um certo tempo. Podem até conseguir vitórias internas e efeméras! Mas nunca ganham a sociedade.

E mais não digo!

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