terça-feira, 13 de novembro de 2012

José Dirceu foi condenado e a realidade é esta, sem qualquer ilusão | Jornal Correio do Brasil

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Dirceu, vítima do conservadorismo e da velha mídia
Ilude-se quem pensa que um protesto aqui e outro ali, pelas redes sociais, barzinhos do Leblon ou nas quebradas de São Paulo mudarão em alguma coisa a verdade que o Supremo Tribunal Federal (STF) produziu ao julgar a Ação Penal 470. Os réus condenados à prisão vão para a prisão; além de pagar as pesadas multas pecuniárias impostas após a publicação do acórdão sobre o caso que ficará conhecido como ‘mensalão petista’. O ex-ministro José Dirceu será, provavelmente, encarcerado por algum tempo. Sabe-se lá, ainda, quanto tempo. Mas voltará a experimentar a deprimente sensação de viver em um presídio, entre a escória, os desvalidos. Idem o velho guerrilheiro José Genoíno, que já passou por agruras piores na vida.
Mas são homens de fibra e coragem, não se deixarão abater. O máximo que um julgamento como este será capaz de produzir em carcaças vincadas pelas lutas de tantas décadas é elevar Dirceu e Genoíno ao patamar onde outros grandes homens se encontram. Ao longo da História brasileira, Prestes, Lamarca, Marighella e tantos outros heróis de uma República surda, com ouvidos apenas para o noticiário de uma mídia vendida aos interesses corporativistas, também passaram anos exasperantes atrás das grades. Escreveram longas cartas. Amargaram dissabores, a distância da família, a incompreensão de grande parte das pessoas. Mas dessa vez é diferente.
Em tese, a nação vive uma de suas mais vigorosas fases democráticas. Os eleitores acabaram de deixar, nas urnas, a impressão de que um novo país existe, cresce, transforma-se em uma das nações reconhecidas no mundo por sua força de vontade, espírito empreendedor e com alguns dos mais ambiciosos programas de distribuição de renda em curso no mundo, em plena crise. A economia brasileira resiste bravamente aos efeitos dos desmandos produzidos por Wall Street & Co., sem abandonar os programas vitais a uma condição mais digna dos trabalhadores. É certo que segue, ainda, ancorado nas docas do capitalismo mais extremado, sob o aparente controle da Avenida Paulista, em sua vertente ultraconservadora. O STF está aí para demonstrar isso. Para não deixar dúvidas de quem manda no Brasil.
Com ou sem ‘domínio do fato’, provas ou in dubio pro réu, a realidade é que Dirceu foi condenado a uma década na prisão. O tempo, aí no caso, será mero referencial. A realidade é que Dirceu foi condenado. Entregou o passaporte, como mandou a Justiça, e irá subir cada degrau desse calvário com a cabeça erguida. Sabe que não é hora de se deixar abater. Nem mostrar um sinal de fraqueza qualquer para que as trevas se animem a impedir o raiar de um novo tempo. Tem certeza de que mais e mais brasileiros começaram a entender que outro país é possível, apesar do que diz o noticiário naquele canal de TV, ou bem diferente da manchete que o jornalão estampou nas bancas.
A velha mídia, aliada do dinheiro quatrocentão, apesar dos laços bem amarrados com o capital internacional, apresenta traços inequívocos da fadiga de material. Não conseguiu reverter a eleição da esquerda nos principais centros urbanos. Fechou alguns títulos antigos. Vê os caraminguás do estrangeiro cada vez mais raquíticos, abalados com o deserto que se instala no Hemisfério Norte. Está cada vez mais dependente da fonte de recursos fáceis que brota no Planalto e esta, até agora, tem sido um maná para as corporações que condensam a comunicação no país a um grupelho de oportunistas. A presidenta Dilma, nesse ponto, tem sido uma verdadeira mãe.
Certos que seu poder é sólido e implacável, os jornalões e megatevês seguem como principais aliados daqueles que, da forma eficaz, condenaram Zé Dirceu. Defenderam a ditadura militar. Libertaram o assassino da irmã Dorothy Stang. Apoiaram e seguem apoiando o establishment.
Para um país que experimenta a sua mais plena democracia, vista uma realidade destas, um parafuso está claramente fora do lugar na engrenagem. Ou serão a velha mídia e os barões que a sustenta, ou aqueles homens condenados às penas privativas de liberdade. Logo esta, pela qual sempre lutaram.
Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.

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