Passamos 2019 ouvindo que o Intercept é ligado a partidos, que fazemos um jornalismo parcial ou que nem mesmo fazemos jornalismo. É o preço que nossa equipe paga por ser corajosa e ousada.
Numa coisa nossos críticos têm razão: o TIB não é neutro. Para usar algo que está na moda: na atual polarização, temos um lado. E eu não estou falando da polarização que alguns enxergam na política. Estou falando da verdadeira polarização que há no Brasil hoje. De um lado, aqueles que querem destruir o país, desmontar o sistema de seguridade social, legalizar os assassinatos cometidos pela polícia, acabar com a liberdade de expressão; de outro, quem está disposto a barrar esse processo.
Com a chegada do fim do ano, resolvemos fazer uma série de artigos e enviar para vocês um balanço do nosso 2019. Este é o primeiro e quero discutir o que realmente somos. Dizem que gostamos de "polêmicas". Às vezes somos classificados como “informais” demais. “Agressivos”, afirmam alguns.
A essas perguntas, gosto de responder com algumas outras: Quantos veículos no Brasil fazem jornalismo realmente independente como o nosso? Quantos estão dispostos a enfrentar interesses, se expor, correr riscos, conviver com ameaças? E quantos conseguem causar impacto hoje como o Intercept?
Quer um exemplo? Há alguns dias brincamos na redação que deveríamos fazer um Derrubômetro do TIB. Apenas em 2019, nosso saldo está assim:
- A matéria da Amanda Audi com um documento vazado por uma fonte anônima que revelava a pressão da Embratur sobre a Funai para transformar terras indígenas em hotel de luxo na Bahia causou um tremendo efeito. Depois da reportagem, a obra não foi apenas cancelada, também duas pessoas da Funai diretamente envolvidas no processo foram exoneradas. É claro que o governo não confirma a relação entre as demissões e nossa investigação. Mas as exonerações aconteceram na semana seguinte à publicação. Dá pra considerar que ajudamos, não?
- Amanda também noticiou uma gravação do jornalista Denian Couto que mostrava ameaças de morte à sua ex-noiva. Denian foi demitido pelo grupo RIC, que controla as afiliadas da Record TV e da rádio Jovem Pan no Paraná.
- O caso mais emblemático, sem dúvida, foi o da promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, uma das responsáveis pela investigação do assassinato de Marielle Franco. Demos em primeira mão as fotos que mostram o alinhamento dela com Bolsonaro - que agora aparece envolvido no caso - e defendemos seu afastamento do processo. Afinal, como alguém que disse publicamente acreditar que o Brasil vivia (antes da eleição de Bolsonaro) em um “cativeiro esquerdopata” poderia conduzir essa investigação com isenção justamente sobre o assassinato de uma "esquerdeopata"?
Se isso é ser controverso e agressivo, queremos continuar assim.
Olho para o trabalho do Intercept e sei que não há nenhum outro lugar investindo tempo, dinheiro e pessoal como a gente em jornalismo de impacto real. Não fazemos jornalismo para jornalistas. Não fazemos jornalismo para a elite intelectual. Ninguém investiga, derruba e briga como o TIB. Chame isso do que quiser.
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