Base política do líder da oposição venezuelana é abalada por revelação de vínculos entre um grupo de deputados e um esquema de corrupção no programa de alimentos subsidiados
Um grupo de pressão formado por deputados opositores venezuelanos para limpar a imagem de um dos empresários vinculados ao esquema de corrupção dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), o programa de alimentos subsidiados de Nicolás Maduro, abalou a base política do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó. O escândalo foi revelado em detalhes nesta semana pelo portal venezuelano de jornalismo investigativo Armando.Info. As denúncias atingem os deputados Luis Parra, José Brito e Conrado Pérez Linares, do partido Primeiro Justiça; Adolfo Superlano (expulso há algumas semanas do Mudemos); Richard Arteaga e Guillermo Luces, do Vontade Popular (VP); Chaim Bucaram e William Barrientos, do Um Novo Tempo (UNT); e Héctor Varga, do Avanço Progressista. A maioria deles integra a Comissão de Controladoria do Parlamento.
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O grupo, segundo essa investigação, fez gestões informais na Procuradoria da Colômbia, em Washington e em Bruxelas, em defesa do colombiano Carlos Lizcano, proprietário da Salva Foods. Esta é a empresa que administra as Lojas dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção, que absorveram a extinta rede estatal de supermercados Bicentenário. Lizcano trabalha para os também colombianos Álvaro Pulido e Alex Saab, sancionados pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por serem supostos testas de ferro de Maduro em negócios ilegais.
Diante do escândalo, revelado no domingo, Juan Guaidó, chefe do Parlamento e presidente interino do país desde janeiro, reconhecido por mais de 50 países, anunciou a intervenção da Comissão de Controladoria da Assembleia, a suspensão dos deputados e o início de uma investigação independente. “Não permitiremos que a corrupção de ninguém prejudique o que custou tanto para construir”, declarou. Ele disse que levará as denúncias à próxima reunião dos chanceleres do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), para que sejam adotadas medidas regionais contra os envolvidos. Os partidos Primeiro Justiça, Vontade Popular e Um Novo Tempo afastaram de seus cargos seus membros envolvidos nas denúncias. Por sua vez, Parra, o principal acusado, fez ameaças contra o jornalista Roberto Deniz, do Armando.Info, por meio das redes sociais.
Esta não é a única frente interna com que Guaidó tem tido de lidar nos últimos dias. No início da semana, ele anunciou a destituição de Humberto Calderón Berti, que era seu representante diplomático na Colômbia — país que se tornou um dos principais aliados do líder oposicionista para uma transição política na Venezuela. Depois de sua demissão, o ex-embaixador disse que houve irregularidades na administração dos fundos destinados à fracassada tentativa de entrada de ajuda humanitária de Cúcuta, na Colômbia, para a Venezuela em fevereiro. Esse caso já está sendo investigado na Colômbia e provocou fortes críticas à equipe de Guaidó e ao líder do Vontade Popular, Leopoldo López. Ao mesmo tempo, o presidente da Comissão de Controladoria, Freddy Superlano, renunciou ao seu cargo para permitir que sejam feitas as investigações.
A oposição venezuelana, bastante desmobilizada depois de quase um ano tentando tirar Nicolás Maduro do poder, está atravessando novamente águas turvas que evidenciam suas fraturas. A onda de denúncias abala o controle de Guaidó sobre a Assembleia exatamente no momento em que se aproxima outra meta na corrida de longa distância de sua luta política: a renovação da direção do Parlamento, prevista para 5 de janeiro, que por um acordo político é alternada entre os partidos desde 2016.
Em setembro, os parlamentares concordaram em cerrar fileiras em torno de Guaidó — e da estratégia que ele tem usado para forçar a mudança de Governo — e ratificá-lo em janeiro como chefe do Parlamento em seu último ano de legislatura. Os partidos minoritários, aos quais corresponderia assumir as rédeas da instituição em 2020, também deram seu apoio. Mas a composição do Legislativo mudou nos últimos meses.
A maioria oposicionista na Assembleia Nacional, a única instância considerada legítima por grande parte da comunidade internacional, foi afetada pelo exílio de cerca de 20 deputados ameaçados pela Justiça de Maduro, pelas divisões ocorridas depois que um grupo iniciou negociações com o chavismo em paralelo às conversações patrocinadas pela Noruega — o que levou à incorporação da bancada do Partido Socialista Unido da Venezuela, de Maduro, às sessões após dois anos de ausência — e pelas suspensões anunciadas após as recentes denúncias de corrupção. Isso complica o tabuleiro político de Guaidó, que já adiantou sua posição nas declarações que fez no domingo sobre o caso dos deputados: “Não seremos vítimas de um processo de corrupção e conspiração que tem a ver com o 5 de janeiro. Não vão conseguir. Vamos manter a união, a unidade para fazer com que o povo da Venezuela seja respeitado. A corrupção não ganhou nem vai ganhar”.
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