Aung San Suu Kyi foi a Haia defender os militares birmaneses, acusados de genocídio.
“Nas palavras de Edmund Burke: ‘A única coisa que é necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada’”, declarou esta segunda-feira ministro da Justiça do Gambia, Abubacarr Marie Tambadou, na abertura do julgamento do Myanmar (antiga Birmânia) por genocídio. Tinha perante si a líder birmanesa Aung San Suu Kyi, que em tempos recebeu um Nobel da Paz. Nos bancos do Tribunal Internacional de Justiça, Suu Kyi assistiu impávida à descrição detalhada de violações em massa, mutilações e homícidio de crianças, cometidos por soldados do exército que tem sobre a sua alçada.
Tudo isto com “intenção genocida” contra os rohingya, uma minoria muçulmana do Myanmar, assegurou a acusação. O processo é encabeçado pelo Gâmbia, um pequeno país da África Oriental de maioria muçulmana, que conta com as evidências reunidas pelos investigadores das Nações Unidas. Mais de 700 mil rohingya já sairam do país, para escapar a uma campanha coordenada, para “instilar medo e trauma, profundo e generalizado”, lê-se no relatório de 2017. “Não pertencem aqui. Vão para o Bangladesh. Se não partirem, vamos incendiar as vossas casas e matar-vos”, anunciavam os soldados através de megafones - muitas vezes cumpriam a sua promessa, verificaram os investigadores.
Agora, apesar de toda a condenação internacional, o risco de genocídio no Myanmar é cada vez maior, lê-se num relatório de setembro deste ano. Algo em completa violação da convenção contra o genocídio, assinada em 1948, depois do Holocausto, assegurou Tambadou. “75 anos após a espécie humana se comprometer com as palavras ‘nunca mais’, outro genocídio está a desenrolar-se perante os nossos olhos”, alertou.
É difícil compreender o apoio de Suu Kiy às forças armadas birmanesas, que a mantiveram em prisão domiciliária durante anos. A intervenção da prémio Nobel da Paz está marcada para quarta-feira, e prevê-se que seja a última machadada numa reputação internacional já manchada.
Contudo, boa parte da população do país parece apoiar Suu Kyi - dezenas de milhares manifestaram-se antes da partida da líder. Por todo Myanmar surgiram cartazes, onde se vê Suu Kiy acompanhada de generais, com a legenda: “Estamos ao teu lado”.
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