Confiança política
Há cargos que exigem lideranças da confiança política de quem governa. São cargos estratégicos e que, por definição, desempenham um papel importante na operacionalização do projecto político do governo. Teoricamente, estes cargos deviam estar concentrados no próprio conselho de ministros, em algumas embaixadas e uma ou outra área estratégica. Quando, porém, a noção de confiança política passa a significar apenas a prerrogativa que o governo tem de nomear, correm-se muitos riscos.
O primeiro risco é de transformar o Estado num património dos governantes, isto é fazer daquilo que é de todos nós propriedade de quem governa. Isso é mau e corrompe o Estado. O segundo é de encorajar a lealdade cega e acrítica, o que priva o governo do benefício da diversidade de opiniões. O terceiro é de minar a confiança não só nas instituições como também nas pessoas a quem se confia cargos já que muitos dirão, e não sem razão, que não é a sua competência técnica que está a ser recompensada, mas sim a sua subserviência.
Cargos técnicos de alto nível deviam, por uma questão de transparência e de eficácia governativa, ser preenchidos por concurso público. O governo não pode partir do princípio de que conhece toda a competência que existe no país. Em 1975 fazia sentido partir desse princípio. Hoje não. Há muita gente competente por aí e fora do radar do governo. Governar de forma autista como a gente tem feito prejudica o próprio governo e a todos nós.
Quando o governo “reconhece” a competência técnica de indivíduos com um entendimento problemático do civismo, decência e respeito pelo outro ele mostra o seu compromisso com o aproveitamento dos recursos e talentos existentes no país. Mas mostra também que ele próprio tem um entendimento problemático do civismo, decência e respeito. Isso, política e eticamente, é grave. Na verdade, é vergonhoso.
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