Alfred Chestnut, Andrew Stewart e Ransom Watkin eram ainda adolescentes quando foram condenados a prisão perpétua pela morte de um jovem de 14 anos. Foram agora considerados inocentes e libertados, depois de mais de três décadas na prisão.
Eram apenas adolescentes quando foram presos e condenados a prisão perpétua: Alfred Chestnut, Andrew Stewart e Ransom Watkin foram acusados de matar DeWitt Duckett, um jovem da mesma idade, com um tiro no pescoço no caminho da escola que frequentava, uma secundária de Baltimore, no Estado de Maryland, nos Estados Unidos da América. O motivo? O roubo de um casaco da Universidade de Georgetown que Duckett estava a usar naquele dia.
Na altura o caso recebeu uma atenção mediática fora do normal uma vez que este foi o primeiro tiroteio fatal numa escola pública de Baltimore. No ano seguinte, em 1984, o trio de Maryland (ou o trio de Harlem Park como também ficaram conhecidos) já estava atrás das grades onde ia, supostamente, passar o resto da vida.
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Sabe-se agora que os três homens que passaram 36 anos na prisão são inocentes e que durante as investigações a polícia ignorou e ocultou os relatos de várias testemunhas que identificavam outra pessoa como sendo o assassino. Mais, muitas testemunhas não conseguiram identificar nenhum dos adolescentes quando confrontadas com fotografias.
“Os detectives fizeram destes três jovens negros de 16 anos um alvo e coagiram outras testemunhas da mesma idade a defender a sua teoria. As provas materiais que poderiam ter libertado os adolescentes foram ocultados da defesa e do júri”, explica em comunicado o gabinete da procuradora da cidade de Baltimore, Marilyn Mosby, que ficou responsável pelo caso.
O trio foi condenado com base na versão de quatro testemunhas adolescentes que na reabertura do caso acabaram por desdizer o que tinham referido nos anos 80. Algumas disseram mesmo que foram pressionadas pela polícia a identificar os três jovens como os culpados. O outro suspeito, referenciado por várias testemunhas, morreu em 2002.
O caso foi reaberto este ano por causa de uma carta que Chestnut escreveu à advogada estatal onde garantia que o trio era inocente — ao fim de vários anos acabou por conseguir obter através de um registo público os documentos que o juiz da altura havia selado.
O tribunal de Baltimore tem um departamento que se dedica a descobrir casos de condenações injustificadas — no total, Mosby já conseguiu libertar nove pessoas condenadas injustamente desde que a unidade abriu, em 2015, e o trio de Maryland faz agora parte desses números: Chestnut, Stewart e Watkin foram esta segunda-feira libertados no que é descrito pelo gabinete da procuradora como um “anúncio extraordinário”.
Numa conferência de imprensa que contou com a presença da advogada e dos três homens, Mosby agradeceu-lhes “do fundo do seu coração" por não desistirem de afirmar a sua inocência durante décadas, sublinhando que merecem “mais do que um pedido de desculpas” e que são dignos de uma verdadeira “compensação”. “Hoje não é uma vitória. É uma tragédia porque roubaram a estes três homens 36 anos de vida. Em nome da Procuradoria, permitam-me dizer que lamento. O sistema falhou-vos e nunca deviam ter visto o interior de uma cela”, diz Marilyn Mosby, citada no comunicado do seu gabinete.
A procuradora referiu também que não existe em Maryland legislação que permita compensar aqueles que foram condenados por um crime que não cometeram, mas que essa será uma das suas batalhas daqui para a frente.
Já em liberdade, Alfred Chestnut agradeceu à procuradora por ser a pessoa que finalmente ouviu “o seu clamor” tantos anos depois. “As coisas pelas quais tive de passar foram tortura. Não há outra maneira de descrevê-lo. Nós agarrámo-nos uns aos outros, foi isso que nos aguentou até aqui”, disse Ransom Watkin também citado na mesma nota.
O caso do trio de Baltimore tem contornos semelhantes ao dos Central Park Five, os cinco jovens do Harlem, negros e latinos, que foram condenados a penas de prisão (a mais leve de cinco anos, a mais pesada de 15) por alegadamente terem atacado e violado uma jovem de 28 anos no Central Park. Anos depois, Matias Reyes, que já estava preso por violação e homicídio, confessou ter sido o verdadeiro autor do crime. Os cinco condenados foram ilibados e mais tarde, já em 2014, receberam mais de 41 milhões de dólares da cidade a título de indemnização.
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