Existe algo muito esquisito no entorno do condomínio de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. O porteiro disse que foi "seu Jair" que autorizou o acesso ao condomínio de um dos suspeitos de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes no dia do crime. Bolsonaro nega estar no Rio no dia (mas não fala se recebeu ligações da portaria diretamente no seu celular). Seu filho Carlos divulgou um áudio que mostra que foi o suspeito do crime, Ronnie Lessa, que atendeu o telefone.
"Nada ficou sem se fazer diligência. Tudo foi esclarecido. E graças as todas as diligências possíveis que foram realizadas nós chegamos a conclusão técnica que aquela voz que autorizou a entrada de um dos corréus na ação penal é a voz do outro réu da ação penal", disse a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho.
Depois da entrevista da promotora descobrimos que a perícia só foi realizada após a reportagem que revelou o possível envolvimento de Bolsonaro. Descobrimos também que ela foi incompleta e não avaliou o sistema, nem se a data e o horário foram manipulados. Ontem ficamos sabendo que o porteiro que prestou o depoimento não é o mesmo que fala com Lessa.
Logo depois da entrevista das promotoras do caso fui o primeiro a reportar que Carmen Eliza é uma apoiadora feroz do Bolsonaro, fez campanha para ele nas redes sociais, usou camiseta do então candidato, celebrou sua vitória, chamou Brasil de um "cativeiro esquerdopata", tirou foto sorrindo ao lado do deputado que quebrou a placa com nome de Marielle Franco em um gesto sociopata.
Imediatamente escrevi aos nossos leitores e pedi que ligassem para a Corregedoria-Geral do MP para exigir a demissão da promotora. Muitos de vocês fizeram exatamente isso. Dois dias depois, a promotora "pediu" para ser removida do caso. Vitória!
Mas não podemos parar. Ainda existe muito para ser esclarecido no caso. No Intercept, abraçamos um lema: todos os governos mentem. Não acreditamos nas afirmações de autoridades sem provas e continuaremos desconfiando deles e cobrando a verdade neste caso e em todos os outros que cobrimos.
Bolsonaro parece ter medo desse caso e está tentando abafá-lo. Até chorou na sua live depois que a primeira reportagem saiu. Ameaçou os veículos de imprensa que investigaram o caso e exigiu que anunciantes deixassem esses veículos. O que ele pretende esconder?
Essa estratégia não funcionará com o TIB porque não temos anunciantes — temos apoiadores, pessoas como você que se juntam para nos fortalecer. Ele não pode nos intimidar.
Você sabe como o Intercept trabalha e sabe qual é a nossa missão. Se você está pensando que gostamos de vazar, investigar, importunar o poder, você está certo. Nosso objetivo é expor aqueles que corrompem, mentem, escondem interesses espúrios, utilizam seus cargos para abusar e extorquir, no governo ou fora dele.
Como editor executivo do TIB, meu compromisso com você é que nossos repórteres vão trabalhar todos os dias exaustivamente em 2020. Vão encontrar fontes que ninguém consegue acessar. Vão realizar centenas de pedidos através da lei de acesso à informação. Vão vasculhar cada linha do Diário Oficial e a agenda de cada poderoso em Brasília ou fora dela. Vamos descobrir o que eles estão tentando esconder de você.
Todos os dias recebemos dezenas de sugestões de pautas de fontes anônimas. Inúmeras dicas e documentos. E eu prometo: não vamos deixar passar nada. Foi isso que nós fizemos na cobertura das eleições ano passado. Foi isso que nós fizemos em 2019: trabalhamos como nunca, mas mexemos com as estruturas como ninguém.
Se o Brasil está em alta velocidade, nós também vamos continuar acelerados. Se é isso que você quer, considere apoiar as reportagens explosivas do Intercept. Nós precisamos bater a meta de crescimento para nosso orçamento de 2020. Sem isso, não conseguiremos manter o ritmo.
Você sabe do que somos capazes e é por isso que digo com segurança que não estou fazendo promessas vazias. Estou assumindo um compromisso: nós vamos nos manter firmes em nossa missão de investigar sem parar e focar em revelar aquilo que Bolsonaro e seu governo pretendem esconder da população.
Agora é sua vez de fazer um compromisso comigo. O seu apoio é que dá sustentação ao que fazemos. Seja cinco ou cinquenta reais por mês, ele é um sinal poderoso de que não estamos sozinhos na defesa do Brasil. Mas é também o impulso que nos falta para seguir com firmeza.
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