segunda-feira, 18 de novembro de 2019

EXPONDO AS PERIPÉCIAS PORQUE CHISSANO PASSOU E QUE O MOTIVARAM A LUTAR PELA INDEPENDÊNCIA


Por Gustavo Mavie
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‘’Todo o sofrimento de que se possa ser sujeito resulta
na formação de um grande Homem’’, Stefan Zweigue,
scritor suíço e autor do livro ‘’ Os Homens que Mudaram o Mundo.
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O Presidente Chissano que fui gravando na minha mente ao longo dos mais de 40 anos que tive a oportunidade de estar próximo dele entanto que jornalista, é de um Homem que pensa muito mas que diz muito pouco do que vai pensando.
Ou seja, pareceu-me sempre que diz muito pouco do que lhe vai na mente. Não porque não quer dizer, mas talvez porque acha que não é preciso ou que não interessaria às pessoas a quem iria dizer tudo o que tem na sua cabeça. Os que tiram conclusões rápidas diriam que Chissano é muito reservado ou introvertido.
Para os bons falantes de português, assumo que diriam que Chissano é avaro às palavras. Pode ser que ele seja mais aberto às pessoas que lhe são muito próximos, como os seus familiares e amigos que tanto quanto sei, estes são muito poucos.
Parece ser um desses que não tem muitos amigos, provavelmente porque as tais peripécias porque passou, o ensinaram que os homens são maus até prova em contrário, como nos avisa Geovani Papini, no seu mais lido livro A Vigia ao Mundo, de leitura obrigatória para quem não quer cair em armadilhas dos maldosos que pululam neste Planeta.
Por exemplo, a primeira vez que soube que Chissano já esteve preso, por pouco tempo embora, foi me dito pelo seu melhor amigo, Dr. Pascoal Mocumbi, numa varanda de um hotel de Durban, na década de 90. Ele disse-me que foi preso quando estava a fugir de Portugal para Franca, onde havia chegado para fazer numa das universidades de Lisboa o curso de medicina. Mas ele próprio não costuma falar desse caso como seria normal para dar mais sentido ao seu heroísmo e espírito patriótico.
Pessoalmente ocorreu-me contar este episódio sobre Chissano porque tenho estado a ser impelido por alguns amigos e colegas a escrever algo sobre ele, para dar mais sentido e peso à celebração do 80.o aniversário de Chissano, que completou a 29 de Outubro passado, mas que só terá o seu ponto mais alto através realização de um Simpósio Diplomático no dia 22 deste mês na Katembe.
Mas justamente porque Chissano é o tal homem de poucas falas embora deu-me sempre a sensação de que pensa muito, não me achava tão documentado sobre ele para poder escrever sobre ele, isto é, sobre quem ele é ou qual é a sua Historia de vida, já que como politico e estadista, posso me dar ao luxo de que sei alguma coisa.
Para superar a lacuna que tenho sobre o que ele foi desde que nasceu até passar pela juventude e se tornar num Homem e numa personalidade respeitável, decidi ler o seu livro Vidas, Lugares e Tempos, que se editou em 2001. Na altura eu não pude lê-lo porque vivia na Inglaterra e não consegui ter uma cópia até que se esgotou. Somente esta semana o emprestei ao Professor Calton Cadeado e foi através da sua leitura que confirmei o tal episódio que me havia sido contado por Mocumbi em Durban.
Ler este livro é algo que nos faz descobrir outro Chissano, isto é, o Chissano pessoa normal tal como qualquer ser humano que é também. Nele ele consegue despir-se daquela sua aura de pessoal sisuda que nos dá menos confiança de nos aproximarmos dele e muito menos de o abordar.
Neste livro Chissano volta a ser aquele menino das zonas rurais que em criança comeu arreia com gosto e também saboreou fezes secos de galinhas, ao mesmo tempo que revela que caçou ratos, ratazanas e que afundou os seus pés e pernas na lama das bermas dos rios da sua terra natal como cultivador ou colhedor de arroz.
É um livro que não cansa de ler e que está escrito num português de rua como ele próprio diz. É impressionante quando nele se lê Chissano a contar as suas paixões amorosas próprias de um adolescente tímido e que teve de ser conquistado pelas meninas porque morria de amor por elas mas que não as engatava por falta de coragem.
Neste livro Chissano disserta sobre o seu primeiro amor – a Margarida de Xai-Xai e mais tarde já no então Lourenço Marques, hoje Maputo, onde viria a ser conquistado pela Cármen da família Maximiano.
Na verdade, a leitura deste seu livro é não só uma descoberta de quem é afinal Chissano mas também é uma grande REVELAÇÃO de quão bruta, desumano, diabólico mesmo foi afinal o regime colonial contra as pessoas da cor de Chissano.
Chissano ele próprio reconhece, apesar da minuciosa descrição e relato do quão mau foi o colonialismo, que mesmo assim assume que não há palavras que sejam tão suficientes e bastantes para se expor aquele sistema que acabou o forçando a desistir do curso de medicina e ter de juntar-se aos moçambicanos que já combatiam o colonialismo português sob a liderança da FRELIMO e de Eduardo Mondlane. Bem, paro por aqui prometendo dar continuidade a este artigo com que pretendo homenagear este nosso compatriota de pouca fala de muitas realizações e feitos para nós.
Chissano é pelo que fez em mais de 60 anos de carreira política e 80 de vida, prova da tese de Stefan Zweigue de que o sofrimento é a forja de grandes homens. Nos próximos artigos tentarei provar mais isto. gustavomavie@gmail.com

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