Dois dias depois de termos iniciado as publicações da #VazaJato, o jurista Lenio Streck publicou um artigo que resumia o essencial das primeiras revelações: "O sistema de justiça brasileiro está em uma encruzilhada. Os fins justificam os meios?".
90 matérias depois, uso a mesma ideia para definir os impactos da série de reportagens baseada em material que nos foi entregue por uma fonte anônima: colocamos o sistema de justiça brasileiro em uma encruzilhada.
Depois de mostrar a total submissão da Procuradoria Federal ao ex-juiz Sergio Moro, a indicação de provas por parte do juiz, o conluio entre procuradores e magistrado, o comprometimento da autonomia da Polícia Federal, as negociatas espúrias com membros da Receita Federal, o absoluto desrespeito à Procuradoria Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, a omissão do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público que diante de flagrantes ilegalidades fecharam os olhos e taparam os ouvidos, a absurda interferência nas disputas políticas de um país vizinho, o despeito para colher provas ilegais, chantagear testemunhas e usar de qualquer expediente sujo para reunir evidências, o Intercept chega aos 5 meses de #VazaJato com a segurança de ter cumprido seu dever de revelar verdades que o poder desejava manter escondidas. É função do jornalista lutar contra as injustiças e tentar deixar o mundo um pouco melhor.
Não dá para negar que bagunçamos o tabuleiro dos consensos que estavam estabelecidos no Brasil. Essa realidade, entre outras tragédias, nos levou ao governo Bolsonaro, à consolidação de uma noção débil e antidemocrática do que é o "combate à corrupção”.
Por quase 5 anos, a força-tarefa de Curitiba navegou sob a tutela do comandante Moro em águas pacificadas, com uma imprensa dócil, instituições de controle omissas e políticos acovardados. No dia 9 de junho de 2019 nós provocamos um tsunami nesse oceano. As revelações do Intercept e seus parceiros foram essenciais para que houvesse uma transformação profunda da correlação de forças, e do entendimento público de quem de fato são personagens como Dallagnol e Moro.
Nossos problemas acabaram? Claro que não, até porque eles não se resumem à Lava Jato. Todo mundo sabe que no Brasil nunca houve devido processo legal para presos negros e pobres. Mas não me parece exagerado dizer que agora esses mecanismos estão ainda mais evidentes.
A discussão acerca da corrupção no judiciário nos interessa como jornalistas porque está no centro da nossa missão: mostrar a verdade e responsabilizar os poderosos. E a #VazaJato nos mostrou duas coisas sobre isso. A primeira delas é que é arriscado demais fazer nosso trabalho. A segunda é a fragilidade das instituições. Elas estão longe de nos garantir qualquer estabilidade.
Diante disso, não há nada mais a fazer senão continuar investigando. O maior inimigo de Bolsonaro ou Moro não é a mídia, mas a verdade. Quando a verdade vem à tona, como na #VazaJato, nós mexemos no tabuleiro. Colocamos o poder numa encruzilhada. A #VazaJato ainda não acabou e o TIB ainda tem mais para revelar.
É para apoiar esse trabalho importantíssimo que passamos nosso chapéu e pedimos que nossos leitores façam parte do TIB. Cada real é utilizado para fazer jornalismo. São pessoas como você que sustentam esse trajeto. E quanto mais formos capazes de revelar, mais rápido a conta chegará para aqueles que nos trouxeram até aqui.
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