quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Problemática do Emprego e Versão Moz da Armadilha da Pobreza

A Problemática do Emprego e Versão Moz da Armadilha da Pobreza
No início dos anos 90, quando a moda dos PARPAs pegou entre as instituições de Bretton Woods, as Nações Unidas corriam também uma visão alternativa sobre o que devia ser o caminho das economias em desenvolvimento depois o ajustamento estrutural. Um ponto fundamental desta visão girava em volta das causas e consequências da pobreza e do que poderia ser o pacote de intervenção pública para a minimização do poblema. Num dos trabalhos que circulava na altura questionava-se o pobre era pobre porque não tinha educação ou saúde, ou não tinha educação ou saúde, por que era pobre.
Nos anos 90 esta pergunta era fundamental porque a resposta que fosse considerada óptima ditaria o curso de acção em relação a diferentes formas de intervenção pública, desde as políticas na educação até ao emprego e comércio com exterior. Olhando em retrospectiva, hoje sabemos o que foi a resposta dos PARPAs: Pobre era pobre, porque faltava-lhe o acesso a educação e a saúde. Dai os investimentos massivos nestes sectores.
Valeu a pena? Em parte sim, porque foi possível melhorar vários indicadores de educação e saúde. Mas os dados partilhados ontem, 21 de Novembro, na conferência do CEEG da UEM sobre transformação para melhores empregos sugerem que algo não andou bem e agora estamos a pagar o preço.
Cito alguns dados de memória: 1. Entram anualmente no mercado de trabalho cerca de 400 mil novas pessoas. 2. Dois em cada três trabalhadores encontram-se empregues no sector de serviços, com destaque para o comércio. 3. A maioria dos que procuram emprego tem o nível primário ou não terminaram. 4. A desproporção entre o número de vagas e o número de concorrentes é muito alta. Correndo o risco de pecar por defeito, nas plataformas online, há pelo menos 14 candidatos por cada vaga anunciada 5. Parte importante dos que procuram vagas de emprego nas plataformas onlines é constituída por pessoas que já trabalham. As suas decisões de procura parecem ditadas pela vontade de melhorias de condições de vida, raramente pela necessidade de desenvolvimento de carreira. O que sinaliza algum insatisfação com a sua condição presente 5. As oportunidades de emprego de curta duração para actividades semi-especializadas e especializadas não encontram resposta. 6. Maior parte dos anúncios de vagas é feita por empresas sediadas em Maputo.
Estes pontos implicam que temos em Moz um mercado de trabalho depremido e armadilhado num ciclo vicioso de pobreza. Apesar dos investimentos na educação, as oportunidades existentes(no comércio) e a pobreza das famílias não justificam a procura pelo ensino secundário e/ou técnico.
Para uma família pobre, o custo de oportunidade de investir na educação pos-primário é alto contra uma expectativa de rendimento futuro baixa, dada precariedade dos rendimentos nos empregos existentes. A entrada de 400 mil pessoas por ano no mercado do trabalho com poucos progressos na oferta de novos empregos, depremi os rendimentos reais e reforça os efeitos negativos na procura de educação. O ciclo retro-alimenta-se assim, com a pobreza alimentando a baixa escolaridade. Esta, por seu turno bloqueia o acesso aos segmentos rentáveis da economia. Nesse processo precariza-se os rendimentos e aumentam os incentivos para a Produção de filhos como principal investimento contra a insegurança na velhice.
Quebrar o ciclo é claramente um desafio. Cruzando os números de MITRAB sobre novos empregos criados (1500000) e os número de novos ingressos por ano, pode-se deduzir que a economia adicionou ao stock de desempregados cerca de um milhão de pessoas nos últimos cinco anos. Sem falar dos que perderam empregos e que as estatísticas nacionais fazem pouca referência, parece claro que esta batalha na melhor das hipóteses não foi ganha.

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