"Julgo tratar-se de diferendos entre os principais grupos tribais, dado que a influência dos macondes, agora no poder no país, são um grupo minoritário de cerca de 300 mil pessoas, mas que tem vindo a exercer muita influência na tomada de decisões políticas em seu favor, e por isso o surgimento de uma resistência à influência maconde que não está a contribuir para a estabilidade daquela região", afirmou à Lusa Johann Smith.
Segundo o antigo oficial militar das Forças de Defesa da África do Sul (SADF, na sigla em inglês), a origem do conflito naquela província no extremo norte de Moçambique, vizinha à Tanzânia, "começou por ter uma motivação criminosa", mas neste momento "ninguém tem o controlo dos vários grupos que se encontram ativos na insurgência em Cabo Delgado", salientou.
"Do ponto de vista militar, a importância estratégica de Cabo Delgado foi elevada consideravelmente com a descoberta do gás natural, sendo o terceiro maior jazigo jamais descoberto e julgo que é por isso que a zona se encontra tão militarizada neste momento", declarou.
Johann Smith adiantou que "infelizmente, devido à incapacidade das autoridades em lidar cabalmente com a problemática, o recurso à intervenção militar não resolverá a situação", antecipando, por isso, que a situação no terreno "irá agravar-se antes de melhorar".
Nesse sentido, o antigo militar defendeu à Lusa que a resolução da problemática de insegurança em Cabo Delgado passa pelo "diálogo comunitário" e pelo reconhecimento da situação no terreno "tal como ela é" pela atual liderança política moçambicana.
O antigo general disse que desde 01 de outubro já houve 308 incidentes naquela região nortenha de Moçambique.
Numa conferência de ontem, em Pretória, sobre o extremismo violento em Cabo Delgado, o investigador sul-africano em questões militares e de segurança, disse também que a insurgência naquela província do norte de Moçambique "sofisticou-se ao ponto de terem conseguido infiltrar-se nas Forças de Defesa de Moçambique".