terça-feira, 19 de novembro de 2019

Cartas a um futuro jornalista (I)

Cartas a um futuro jornalista (I)
O jornalismo tem a particularidade de viver no justo equilíbrio entre a precisão da matemática e a liberdade criativa da arte. Há um pouco de um e de outro campos em cada frase ('frame' ou som) que escrevemos. No caos, em cada artigo, o jornalista procura ordem.
Compromissos e regras. O título, o lead, o corpo. O contexto, fontes, as citações.
Estou do lado dos formalistas, daqueles que gostam de previsibilidade na estrutura da notícia. E se por vezes me permito a derivações outras, quem nunca?, nem aí abdico de deixar claro a quem lê - vê ou ouve - o que é o quê. Faço-o porque a técnica é, a par da ética, a melhor defesa do jornalismo, mas faço-o, acima de tudo, por acreditar na importância das coisas simples.
Quando o imediatismo exacerbado não nos empurra para a urgência descuidada, devemos ser particularmente meticulosos na escolha das palavras, no diálogo que estabelecemos entre elas. Respeitar as palavras é respeitar o tempo que o leitor nos ofereceu.
Devemos também estar do lado dos detalhistas, dos que cuidam dos pormenores, que procuram sinónimos, que perdem 'horas' à procura da fotografia 'perfeita', que refazem frases uma e outra vez.
Finalmente, valerá a pena estar entre aqueles que pensam o jornalismo para lá do imediato. Aqueles que percebem a indústria nos seus desafios imensos, na convergência de meios e escassez de recursos.
Na minha carreira, e sempre são 19 anos, foi fazendo assim - tentando, pelo menos - que me dei bem uma série de vezes. Mas também foi assim, e sempre são 19 anos, que tropecei e dei valentes trambolhões.

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