segunda-feira, 8 de julho de 2019

AVALIACÃO DE ELISIO MACAMO DO NYUSI É PRÓPRIO DUM COLONIZADO MENTAL Por: Gustavo Mavie


A avaliação negativa ou depreciativa feita pelo Elísio Macamo em torno da reacção tempestiva do Presidente Nyusi durante a entrevista inquisicionista que lhe foi por duas jornalistas portuguesas da RTP e RDP, respectivamente, é, quanto a mim, própria dum colonizado mental, salvo melhor explicação.
Muito embora admita que possa estar errado, julgo que é dum colonizado mental porque vale-se do facto de Nyusi nem sempre ser eloquente e fluente em português para concluir que ele não pode ser um bom presidente, e que é por isso que ele se irritou porque não podia dar respostas à altura das perguntas que lhe foram feitas em Portugal – portanto a terra-mãe da paridade da língua portuguesa. Para quem sabe ler as mentes, ’’viu nas mentes’’ daquelas duas jornalistas que desqualificaram mais Nyusi pelo seu ‘’português não polido’’. Vendo no vídeo, apercebe-se que Nyusi ele próprio deu-se conta dessa desqualificação e terá sido mesmo isso que mais lhe irritou. Ninguém gosta de ser tratado com desdém, com desprezo. E um facto que o racismo está ainda nas mentes de algumas pessoas.
Ora, esta sua avaliação através da sua proficiência e fluência linguística não é correcta, porque não ter o domínio duma certa língua estrangeira, como é o português para Nyusi e para a maioria dos moçambicanos da idade dele, não é sinónimo de incapacidade de pensar correctamente e muito menos de ser ignorante. Neste Mundo houve e há muitas pessoas, incluindo estadistas que não têm o domínio da língua veicular, mas que nem com isso são menos capazes ou os faz não serem bons líderes. Mandela em vida e mesmo morto agora foi e é um dos mais aclamados e admirados líderes do Mundo, e no entanto não era fluente nem eloquente em inglês, como ele próprio o reconhece no seu famoso livro A Longa Marcha Pela Liberdade.
Madiba, como era também conhecido Mandela, diz o seguinte na página 64 da Edição que cito: ‘‘Nesses dias, eu acreditava que a proficiência em inglês e sucesso nos negócios eram o resultado directo de ter feito altos estudos académicos e assumi como questão dessa minha percepção, que Walter Sisulo era um graduado universitário. Fiquei grandemente surpreendido ao vir saber mais tarde do meu primo que Walter Sisulo nunca havia estudado para além da sexta classe (Standard VI). Foi para mim outra lição que aprendi (na Universidade) de Fort Hare que acabou desfazendo-me dela em Joanesburgo. Lá em Hare havia sido ensinado que ter um Bacharelato significava ser um Líder, e que ser um Líder alguém precisava ter um Bacharelato. Mas em Joanesburgo pude ver que muitos dos líderes bem sucedidos nunca tinham estado em nenhum momento numa universidade. Apesar de que eu próprio havia estudado todos os cursos de inglês que eram necessários para um Bacharelado, o meu inglês não era tão fluente nem eloquente quanto o de muitos que eu conheci em Joanesburgo que nunca tinham conseguido obter um certificado duma escola’’. Mas Mandela já chegou a fazer o PhD mas nunca chegou a ser fluente nem eloquente em inglês. Isto tem a ver com o facto de que não é a sua língua materna, tal como o português não é do Nyusi.
Mas Mandela foi um grande líder. Como vê, caro Elísio, para se ser bom líder não é necessariamente sinónimo de ter o domínio duma certa língua, quanto mais quando é uma língua estrangeira como o português que só é oficial e não língua nacional. Se é um dos que acredita que Mandela foi de facto um grande Líder, então está errado ao concluir que Nyusi não é bom presidente porque mal domina português, como o diz no artigo em que tenta prova que foi por isso que ele se irritou diante daquelas duas jornalistas. ‘’A coisa começa com o domínio da Língua Portuguesa’’ diz nesse seu artigo que intitulou ‘’O Presidente que Mal nos Representa’’. Nele tudo faz para provar que Nyusi se irritou porque ele é o SOMATÓRIO DE TODAS AS FRAQUEZAS que se podem encontrar num só homem.
‘’Por isso, compatriotas, decidi mudar da forma de bater. Não mais me vou chatear com as suas gaffes. Vou transforma-las em momentos privilegiados de introspecção para não perder de vista o País que é muito maior do que as fraquezas dum único homem’’, dizes para a minha tristeza porque neste seu artigo te revelas tão elitista e contra a maioria dos moçambicanos que não dominam o tal português que para si é a língua que nos incute um bom raciocínio e domínio de tudo que precisamos para um homem expressar o que quer dizer correcta e inteligentemente.
Só não lhe chamo de racista contra pessoas da sua própria cor ou raça porque sei que na arte de escrever podemos fazer asserções atropeçadas, tal como tropeçamos mesmo num caminho que já percorremos milhentas de vezes. Mas mesmo assim acho que ainda sofres duma mentalidade colonial, a tal que levava os colonialistas a dizerem que as nossas línguas eram ‘’línguas de cães’’. Mas como sou Professor como é o compatriota Elísio, não duma Universidade como a que te paga ai na Alemanha por dar aulas, mas da Escola ou Universidade Aberta que é o Jornalismo que eu uso para dar as minhas aulas nem sempre pagas, que Nyusi irritou-se não porque não tem o domínio da língua portuguesa nem porque não é homem culto como insinua no seu artigo, mas apenas e unicamente porque a maneira como lhe fizeram as perguntas não foi nada cortês.
Reitero o que disse no artigo anterior, que é que aquelas jornalistas fizeram-lhe uma INQUISIÇÃO ou JULGAMENTO desapropriado com carga desrespeitosa, e isso o levou a reagir como reagiu. Já a Física diz que Acção provoca Reacção. Porque é que não se pergunta porque é que só nesta entrevista se irritou quando vem falando a jornalistas desde que assumiu o leme do Pais há quase cinco anos? No artigo que escrevi antes deste, digo e provo que Nyusi não é e não será o único estadista moçambicano ou estrangeiro que se irritou durante uma entrevista – eu vi, entanto que jornalista, os seus antecessores perderem a cabeça quando foram ‘’pontapeados’’ com perguntas estúpidas. Vi Samora, Chissano e Guebuza se irritarem, alguns deles mais do que se irritou Nyusi.
Vi os eloquentes Barack Obama, Robert Mugabe e Paul Kagamé irritarem-se perante jornalistas que os fizeram perguntas que feriram as suas mentes, apesar do seu grande domínio de inglês e outras matérias do conhecimento. VI Mandela irritar-se. Irritaram-se porque se sentiram psicologicamente feridos, ofendidos e verbalmente maltratados. Por isso não pode ser simplista senão começa-se a duvidar-se da sua capacidade académica. Eu não duvido mas acho que tropeçaste desta vez, se bem que tem sido quanto a mim, sua tendência dar-se por sabe-tudo. Ninguém sabe tudo. Todos somos professores e alunos ao mesmo tempo. Seja humilde e ter mente aberta. Vi como li também sobre estadistas doutros países com ou sem domínio das suas línguas veiculares se chatearem contra jornalistas inquisicionistas. Como tem acesso ao Google faça por si próprio uma busca sobre Quem são os Estadistas que se irritaram durante entrevistas, que verá que a lista é bem longa e que Nyusi não pode ser tido como um irreverente e muito menos um mau presidente.
gustavomavie@gmail.com

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