Monday, November 5, 2018

GUEBUZA TINHA RAZÃO: O NOSSO MAIOR PROBLEMA COMO PAÍS É A POBREZA MENTAL


Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
Onde está a fome, as moscas estão sempre presentes. Martín Caparrós – A Fome, Lisboa: Temas e Debates – Círculo de Leitores, 2016, p. 140
Esta centelha não pretende, contra a grande maré de opiniões, ilibar erros de governação do presidente Guebuza. Terá razão a multidão para o endemoniar já que, filosoficamente, as dores da alma não emitem recados, são de quem são. Eu, confesso, não quero assumir o cobarde papel de Pilatos. Sou apenas alguém com opinião própria.
Nesta lógica, a presente Centelha corrobora com o pensamento guebuziano, segundo o qual a pobreza está nas nossas cabeças. Não foi compreendido. Tem merecido a sentença que tiveram os grandes pensadores da antiguidade: uma coroa de espinho, apesar de grandes revelações e obras feitas.
A ideia de que a pobreza está nas nossas cabeças evidencia-se, no país, pela incapacidade que temos de combatê-la. Custa sempre dizer, mas a verdade é uma: o país apresenta algum défice de competência. Temos muita gente formada mas deformada no carácter. E isto é notório quando olhamos para a fragilidade das nossas instituições, que são “vítimas” da fraca qualidade dos nossos dirigentes. O Presidente Nyusi, nas visitas que tem efectuado por diversas instituições públicas, tem constatado casos de dirigentes que são uma nulidade de tanta incompetência demonstrada em governar. A qualidade, disse eu repetidas vezes nestas minhas centelhas, é o único garante da nossa sobrevivência colectiva como país.  
A ascensão de dirigentes medíocres preocupa-me, porque aumenta a pobreza. Quando chegam ao poleiro, comportam-se semelhante aos touros, antes de lutar comem o capim, depois lutam e quando lutam estragam o pasto. Depois precisam de comer o mesmo capim. A grandeza do estômago diminui-lhes a visão. Refiro-me, para ser mais conciso, à visão estratégica e empresarial, associada a inovação, como alavancas das instituições do Estado que parecem estar condenadas ao parasitismo em todos os sentidos.
Vamos aos factos (os mais periclitantes).
  1. Porque é que há falta de água potável em Tete quando tem um dos maiores rios de África?
  2. Porque é que o preço do cimento é caro em Nampula quando existe mais de uma fábrica?
  3. Como é que se explica que haja fome severa em Nampula, uma das províncias mais bafejadas em terra arável?
  4. Com riqueza em todo o seu subsolo, o desenvolvimento tarda em chegar à Niassa, tida como uma “província esquecida.”
  5. Com paisagens deslumbrantes, paleta cultural, fauna rara, praias lindíssimas, gente humilde, mas o turismo em todo o país não é potenciado.
Tudo isto tem que ver com a pobreza mental e não o contrário. Este país precisa de ser educado. Não é só o problema dos dirigentes que mina o desenvolvimento do país, mas também dos empresários nacionais que andam a reboque da política.
Se os empresários nacionais tivessem a coragem de inovar, de reinventar e de aperfeiçoar às técnicas, ser cada vez melhor e vencer a concorrência, não duvido que o país teria um grande caminho de sucesso a sua frente. Infelizmente, a maioria dos empresários é ainda dependente e submisso do poder político.  
De visita a Joanesburgo, na semana passada, fomos ao parque dos leões (Lion & Safari Park). O que é isso? Um parque onde estão dezenas de leões e outros animais “selvagens” que fazem a delícia e “matam” a curiosidade de centenas de turistas estrangeiros. E fiquei a pensar, porque é que no coração de Maputo, Tete, Manica, Pemba, Quelimane, etc., não temos um parque de leões, de crocodilos, de girafas? Quantos milhões de rands encaixam as finanças sul-africanas em turismo?
A nossa juventude não fica isenta de culpa, pois em vez de apostar no conhecimento, abarrotando as livrarias que andam às moscas, são campeões da ociosidade, do consumo de bebidas alcoólicas e os maiores frequentadores dos prostíbulos e das barracas. Este é o Moçambique que não devemos construir NUNCA. Zicomo e um abraço nhúngue aos produtores e organizadores do Festival Ndzumba, pela homenagem à música moçambicana.  
WAMPHULA FAX – 05.11.2018       

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