Luanda - As afirmações lacónicas e atabalhoadas de José Eduardo dos Santos, na qualidade de antigo Presidente da República, só vieram confirmar que o cidadão já não mandava no circo, fazia tempo. Depois de os seus acólitos colocarem o maná na boca dos filhos – basta ver que a Isabel partilha investimentos com a Sonangol em quase todas as empresas -, José Eduardo dos Santos acomodou-se na sua poltrona de Arquitecto da Paz, estando o poder a pairar entre a Segurança e a prole. Com efeito, tinha acesso ao maná quem se aliasse aos filhos. Que o digam Carlos Alberto Lopes e Armando Manuel que tiveram destino “amargo”, depois de terem tentado travar a insaciável fome dos filhos pelo maná.
Fonte: Club-k.net
Se fosse o José Eduardo dos Santos, o enérgico que conhecemos entre os finais dos anos 70 e 80 e o sereno e ponderado da década de 90, o cidadão que ressurgiu ontem nos ecrãs da Televisão não cometeria monumentais erros nem muito menos seria induzido em trazer mentiras tão montanhosas. José Eduardo dos Santos tornou-se um controlo remoto das suas filhas que, inconsoláveis, vão lançando farpas a partir do exterior do país.

Os mais atentos perceberam que o “Arquitecto da Paz” usou as mesmas palavras que as suas meninas gestoras dos “ovos de ouro” disparam para as redes sociais, com arrepiantes erros de conceitos. Se, em termos de economia, a Isabel é uma fraude, a Tchizé é uma lunática. Se não fosse assim, antes de qualificarem as Reservas Internacionais Líquidas - já estiveram próximo dos 30 mil milhões de dólares no auge do banquete -, como o dinheiro deixado pelo papá nos cofres de Estado, deveriam ter uma aula de um bom macroeconomista do nível de Alves da Rocha ou mesmo de Yuri Quixina. Assim, evitariam introduzir disparates na boca do mais velho que já foi ministro do Plano e presidiu ao país durante 38 anos.

Uma pesquisa ao Google também já seria útil para evitar o ridículo. Reservas Internacionais Líquidas não podem ser confundidas com o dinheiro disponível nos cofres de Estado para ser aplicado de imediato. RIL são um tipo de reserva em Dólar, Euro ou Ouro com proveniência de superavits primários sucessivos de balanços de pagamentos. Os saldos positivos são “reservados” para serem utilizados quando necessários, normalmente, em cenários de profunda crise.

Maior parte dessa “retenção” é investida em títulos da dívida norte-americana, simplesmente pelo facto de ser este o activo considerado o mais seguro do sistema financeiro mundial, além de possuir uma alta liquidez. Ou seja, liquidez e segurança é o que é buscado pelo governo no que diz respeito à aplicação dessas reservas financeiras. O Governo utiliza esses recursos como uma forma de proteção em momentos de crises, derivados de factores como a saída de capital do país, queda nas exportações, desvalorização do kwanza, diminuição dos investimentos. Ou seja, as reservas ajudam o país a honrar as suas obrigações em dólar, tanto quanto a importar produtos e pagar os juros da dívida externa. No caso do valor mencionado (15 mil milhões de dólares) pelo “Arquitecto da PAZ, se fosse utlizado pelo actual Executivo, Angola tinha apenas nove meses de importações.

A grande validade das RIL consiste em transmitir uma sensação de segurança para os investidores e, por consequência disso, quanto maiores os níveis das reservas internacionais, maiores podem ser as garantias disponibilizadas para enfrentar possíveis e eventuais cenários de défices futuros que venha a se tornar reais no decorrer do tempo. Uma outra grande utilidade, bastante usual, é o facto de que as reservas tendem a diminuir grandes variações no câmbio, isto por que o banco central pode usar essas reservas para intervir no mercado de câmbio, evitando, assim, possíveis oscilações bruscas no valor de outras moedas – principalmente o Dólar – frente ao kwanza.

É verdade que as reservas internacionais apresentam um papel relevante dentro da conjuntura macroeconômica e, certamente, compreender bem a sua definição pode contribuir para os resultados dos investidores no que diz respeito às suas aplicações de longo prazo, ao mesmo tempo que contribui para a amenização do impacto do cenário económico internacional e do risco país. Contudo, não corresponde aos valores provenientes das receitas fiscais, de empréstimos e de outras prestações.

JES entregou a chave do Palácio a João Lourenço no nono mês do ano, o que quer dizer que estava também obrigado a dizer ao seu sucessor o quanto o país tinha arrecadado e o que existia nos cofres de Estado. Mas, ao invés, remete (u) tudo ao então governador do BNA, Walter Filipe, o mesmo que se encontra atrás das grades com o Zenu, por tentarem “esvaziar ainda mais os cofres” com a transferência de 1,5 mil milhões de dólares para uma empresa fantasma. Terá JES reflectido mesmo sobre o que iria dizer a este povo altamente politizado e que aprendeu a viver de alternativas, enquanto os filhos exibiam riqueza em Cannes?

José Eduardo dos Santos, para irritar ainda mais o povo com feridas frescas da miséria, fala do controlo macroeconômico pela sua equipa predadora. Será que o ditado segundo o qual “na boca do mais velho saem dentes podres mas não saem palavras poderes” já foi invertido? JES tem a dentição bem cuidada e nem sequer usa óculos, mas parece-nos que o cérebro não está em boas condições higio-sanitárias.

Senão vejamos: o mais velho disse que, no último ano da sua governação, o Kwanza esteve tão estável, que os angolanos mantinham o poder de compra. Os salários eram pagos a tempo e actualizados ao ritmo da inflação. Ó mais velho, pela idade até podes estar sofrer de amnésia, mas não nos leve para este insulto.

Em 2016, os cemitérios de Luanda recebiam mais de 500 corpos por dia, devido a uma febre-amarela que não se conseguiu controlar, com a abundância de lixo em todos os cantos de Luanda. Nesse mesmo ano, a sua primogénita desfilava com o diamante gigante na velha Europa, como do ovo da galinha da avó se tratasse.

Nos três últimos anos da sua governação, centenas de angolanos morreram em casa por não terem conseguido espaço nos hospitais nem divisas para o tratamento no exterior do país.

Nos seus três últimos anos de governação, estudantes angolanos no exterior enveredaram pela prostituição e outros abandonaram os cursos, por os seus tutores não terem podido transferir divisas para os respectivos países. A comunicação social foi proibida de noticiar todos esses casos que envergonhavam o país e revoltava a sociedade.

Percebe-se agora que o mais velho vivia num outro mundo de fantasia. O mundo que os seus filhos pintavam através do Grecima e do canal 2 da TPA e as informações dos generais ao seu serviço certamente não lhe permitiam encarar a realidade. É uma pena que continue a confiar nessa corja que pôs abaixo o edifício que o transformaram em arquitecto da paz. Se não agisse com o instituto da leoa que protege os filhos a qualquer custo; se não agisse como pai galinha, Angola prestar-lhe-ia o maior tributo pela conquista da paz e promoção da reconciliação nacional.

Lamentavelmente, enveredou pelo caminho espinhoso, julgando que era momento de recompensar os filhos que, durante muitos anos, ficaram privados do afecto do papá. Há certa altura JES terá pensado que o dinheiro uniria a família extensa, feita com diversas mães. Foi puro engano. É, pois, injusto e imprudente que, aconselhado pelas filhas raposas, enverede por uma campanha baixa de tentar ridicularizar o actual PR que, apesar de ser vítima do vosso comportamento voraz, reconhece o seu papel na manutenção da integridade territorial deste país e no reencontro dos irmãos antes desavindos.

Não é por acaso que JES está protegido pelo Estatuto dos Antigos Presidentes da República, sendo também ele e o seu vice impedidos, por esta lei, de prestar declarações sobre a sua governação, durante cinco anos.

Agora, abre um precedente perigoso. Com a sua última aparição ao público para prestar esclarecimentos, José Eduardo dos Santos já pode prestar declarações sobre a tentativa do rombo dos cofres do Estado pelo filho e por Walter Filipe. Afinal, os supostos documentos falsificados por estes tiveram a assinatura do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos. JES está a usar um caminho de corta mata bastante escorregadio. Mastigou muito bem a isca de João Lourenço que o desafiou a denunciar os traidores da Pátria e, pelos vistos, está disposto a fazê-lo.