A ilha sengalesa de Gorée, Património da Humanidade, está em perigo com o avanço do mar provocado pelas mudanças climáticas. A UNESCO e os residentes estão preocupados com o futuro deste memorial à escravatura.
A pequena ilha de Gorée, ao largo da costa do Senegal, foi declarada Património da Humanidade pela agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1978, a primeira vez que o título foi dado a uma localidade africana. Mas agora a ilha está em grave perigo por causa das mudanças climáticas. No norte, os diques de proteção colapasaram há dois anos na sequência de chuvas torrenciais. Todos os anos o mar avança 17 centímetros. Os residentes e a UNESCO procuram por todos os meios travar a erosão e proteger o memorial ao comércio de escravos na África ocidental.
200 mil pessoas visitam Gorée anualmente
O barco que faz a ligação entre a capital senegalesa Dacar e a ilha leva apenas 20 minutos a chegar a Gorée. Os 200 residentes recebem cerca de 200.000 visitantes por ano. Não há carros na ilha. É o lugar perfeito para passear e admirar as fachadas das casas coloridas que datam do século 18. Mas agora a ilha tem um problema existencial.
O nível da água está a subir a um ritmo alarmante. Residentes como Emilie, de 50 anos, dizem que não estão assustados. Mas concordam que a situação é perigosa. Ao longo dos anos, Emilie viu cair no mar partes dos rochedos ao pé da mesquita. Há dois anos, um enorme dique de proteção no norte desapareceu após chuvas torrenciais
"Foi no meio do dia, caiu tudo ao mar. As autoridades têm que agir. Tudo ao longo da costa está arruinado, é muito mau", afirma Emilie.
Museu ao ar livre
A ilha é um enorme museu ao ar livre. Gorée foi o infame ponto de transição do comércio de escravos no Atlântico. Por ali passaram muitos dos 12 a 20 milhões de escravos vendidos na Europa e nas Américas.
Annie Jouga, a co-presidente da Câmara Municipal de Gorée, diz que quando chegou à ilha há 15 anos plantou coqueiros. No ano passado, os coqueiros estavam na água do mar. Todos os anos, a ilha perde 17 centímetros de superfície e o nivel de água sobe 2,32 milímetros, segundo um estudo da Universidade de Dacar. Jouga acrescenta que "o antigo hospital de Gorée, que era o hospital de Dacar, está na água. Como a construção é sólida ainda não ruiu, mas notamos novos sinais de deterioração todos os dias".
Em Gorée várias agências internacionais e a União Europeia esforçam-se por salvar a ilha, restaurando partes negligenciadas da cidade. A agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) lançou um projeto de renovação na linha costeira que almeja reforçar a sustentabilidade e proteger este local único, explica Guiemo Alonso, director cultural da representação em Dacar.
"Não sabemos ao certo como renovar tendo em conta a mudança do clima. Estamos a lidar com uma situação nova. Sabemos que vai custar muito dinheiro e não conhecemos ainda as soluções".
As dificuldades são muitas. Por exemplo, alguns materiais de construção, como a madeira, já não podem ser usados hoje, porque a as árvors estão está protegidas. Nem sempre é possível respeitar as técnicas de construção e os materiais originais. O que gera alguma discussão e controvérsia. Mas há medidas consensuais, como o tratamento de águas residuais e lixo, a plantação de novas árvores e a criação de áreas verdes para limitar a erosão, tudo para garantir a sustentabilidade.
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- Data 01.03.2018
- Autoria Emmanuelle Landais
- Assuntos relacionados Gana, Mali, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Costa do Marfim, Gâmbia, Libéria, Níger, Senegal, Serra Leoa, Clima
- Palavras-chave Gorée, ilha, Senegal, Dacar, UNESCO, Património da Humanidade, mudanças climáticas, erosão costeira, deterioração, África Ocidental
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