A Amnistia Internacional diz que os raptos e agressões a comentadores políticos estão a provocar uma "cultura do medo", depois de o jornalista Ericino de Salema ter sido raptado.
A Amnistia Internacional (AI) defendeu esta quarta-feira que os casos de raptos e agressões de analistas políticos em Moçambique revelam o surgimento de uma sociedade que não respeita a liberdade de pensamento, alertando para a instalação de uma “cultura de medo”.
“Temos vindo a acompanhar os sequestros e torturas de pessoas que defendem os direitos humanos e a posição da Amnistia Internacional é a mesma: isto é a indicação de uma sociedade que não tem respeito pelos direitos humanos”, declarou à Lusa David Matsinhe, investigador Lusófono para a África Austral da AI, à margem de um evento da organização em Maputo.
O último caso de rapto e agressão envolvendo um comentador televisivo ocorreu na terça-feira e a vítima foi o jornalista Ericino de Salema, que foi encontrado gravemente ferido numa mata no distrito de Marracuene, a oito quilómetros do centro de Maputo.
Para a Amnistia Internacional, a recorrência de casos de raptos e agressões de defensores de direitos humanos em Moçambique está a instalar uma cultura do medo e a falta de uma resposta por parte do Governo torna a situação mais grave e imprevisível.
“O que aconteceu com o jornalista Ericino de Salema é uma tendência do que se tem praticado no país.”, observou David Matsinhe, reiterando que as pessoas devem ser livres para expressar as suas opiniões e a responsabilidade de garantir a segurança de todos é do Governo.
“Nós sempre advogamos para uma sociedade em que as pessoas podem falar e criticar. Sem isso, nós não estamos a ver nenhum país a desenvolver”, concluiu investigador Lusófono para a África Austral da AI.
Ericino de Salema, comentador do “Pontos de Vista”, um programa de análise política muito visto em Moçambique, foi raptado à saída do Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ), onde se deslocou para almoçar no restaurante do local. O jornalista foi encontrado no mesmo local em que o politólogo e também comentador do programa “Pontos de Vista”, José Macuane, foi abandonado em 2016, após ser raptado e baleado nas pernas também por desconhecidos.
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